Cuidados Em Leitos De Secagem Requer Conhecimento Do Lodo Gerado
Por Dayane Cristina Da Cunha Fernandes
Edição Nº 32 - agosto/setembro de 2016 - Ano 6
Dados da Sabesp mostram que só na Região Metropolitana de São Paulo, existem 30 estações de tratamento de esgotos com capacidade instalada de 18,9 m3/s. A vazão média do ano de 2015 foi de 14 m3/s
Dados da Sabesp mostram que só na Região Metropolitana de São Paulo, existem 30 estações de tratamento de esgotos com capacidade instalada de 18,9 m3/s. A vazão média do ano de 2015 foi de 14 m3/s. O período "seco" do ano chegou, e com ele chega também o momento ideal para a secagem de lodo, atividade que além de respeitar o meio ambiente, pode trazer lucros para as empresas.
Embora ainda exista o transporte deste material, o que pode ocasionar contaminação do solo, além de exalar um odor desagradável, muitas empresas já tem implantado os sistemas de secagem de lodo. Esses sistemas permitem um melhor manuseio da substância e respeitam os padrões ambientais. Outra vantagem para a empresa é a diminuição dos custos com o transporte e com a disposição final.
Como acontece a secagem do lodo?
A secagem do lodo é um processo que envolve várias etapas: adensamento, desaguamento, estabilização, higienização e secagem. No entanto, é preciso verificar a origem e característica do lodo, pois cada etapa vai depender disto para ser executada de maneira adequada. Também é preciso levar em consideração o destino final escolhido para a substância.
Por exemplo, se um lodo possui 4% de sólidos, ele precisará passar por um processo de desaguamento. Já um lodo com 30% de sólido necessitará apenas ser secado. A escolha do tratamento, portanto, depende da quantidade de sólido presente no lodo.
Pode-se destacar como as principais fases a estabilização e a remoção da umidade.
A primeira envolve processos químicos, físicos e biológicos, a fim de reduzir características negativas do lodo, como odor. Pode ser realizada através de digestão aeróbia e anaeróbia.
Já a etapa de remoção de umidade é o processo de secagem do lodo propriamente dito, de maneira que ele se torne um sólido (pode ser em pó, granulado, etc.).
A Huber do Brasil destaca sua solução Huber Solstice que consiste na secagem de lodo de esgotos urbanos em estufa, alinda o príncipio de leito de secagem com tecnologia para agilizar o processo. Quem explica sobre o processo de secagem é Cláudio Hira, engenheiro da empresa "Enquanto o lodo permanece na estufa, a água evapora por meio do calor irradiado pelo sol e pelo vento produzido artificialmente por meio de ventiladores. Um dispositivo revolvedor especialmente concebido encarrega-se de granular e revolver a mistura do lodo, bem como transporta e faz a mistura de retorno do lodo", e complementa "O processo Huber Solstice permite uma operação contínua, ou seja, o leito de lodo permanece constante, cobrindo toda a área de secagem. Por meio das diferentes funções do revolvedor, especialmente da mistura de retorno, é criado um leito de lamas ligeiramente úmido e com poros abertos sobre a maior parte da superfície. Por um lado o lodo já está suficientemente seco, de modo que os processos biológicos, que possam criar odores, são praticamente eliminados de forma significativa e por outro lado, o lodo ainda está com uma condição característica que não deixa criar poeira durante o esforço mecânico.
Secar para que?
Segundo Cláudio Hira existem muitas razões para secagem do lodo, dentre elas: redução da massa e consequentemente redução de custos de disposição, capacidade de armazenamento e fácil manuseamento de lodo seco e novos rumos na desidratação de lodo.
"A Secagem solar significa maior compatibilidade ambiental, aliado a uma fácil e segura operação", complementa Cláudio.
Além da preocupação com o meio ambiente, secar o lodo produzido pode ser um bom negócio, gerando economias significativas no processo, sendo que o volume do lodo é reduzido significativamente com sua secagem, e consequentemente o volume a ser descartado. Outro exemplo de sua aplicação é o uso agrícola de lodo de esgoto gerado em estações de tratamento sanitário, desde que as substâncias cumpram alguns critérios e requisitos, como submissão a tratamentos de redução de patógenos. Afinal, diversos estudos comprovaram o poder orgânico e nutritivo do lodo, o que permite que ele seja usado como adubo.
Outra finalidade, ainda pouco divulgada no Brasil é a fabricação de tijolos utilizando o lodo gerado em fábricas de papel.
No estado de São Paulo, também já existem leis que autorizam o uso do lodo como combustível de caldeiras devido ao seu grande poder calorífico. Algumas empresas, como a Ambev, chegaram a adotar essa prática.
Todo cuidado é pouco
Como todo investimento, para um bom retorno ambiental e financeiro na secagem do lodo das estações de tratamento de esgoto, é necessário tomar alguns cuidados nos leitos de secagem.
Para Eduardo Rotta, engenheiro do Departamento de Soluções Ambientais da Maccaferri, o principal cuidado no que diz respeito aos leitos de secagem é o dimensionamento do local, que deve estar em acordo com a quantidade de logo gerado, além das características climáticas do local e o tipo de lodo.
Tomando-se como base e referência a Norma Técnica nº 230/2009, da Sabesp, para o caso da secagem de lodo ser feita no próprio local, deve ser prevista a instalação de pelo menos duas unidades de lagoas para o uso alternado, sendo que o período para o armazenamento e remoção de lodo não deve ser inferior a 5 anos. O lançamento de lodo deve ser interrompido pelo menos um ano antes da remoção. No caso da lagoa com remoção periódica, o volume da lagoa deve ser previsto com TDH superior a 30 dias.
Outro cuidado indicado pela norma é com a altura da lâmina da lagoa de lodo, que deve ser entre 3m e 6m, com solos compactados internamente, podendo ser utilizadas mantas sintéticas para impermeabilização complementar.
Para a secagem na própria lagoa, a norma determina que devem ser previstos dispositivos de drenagem do líquido, que devem ser verticais para drenagem de líquidos de profundidade e horizontais para a drenagem de sobrenadantes superficiais. A norma determina que para a secagem de lodo na lagoa devem ser previstos os dois tipos. Já para as lagoas com desidratação externa, somente os horizontais.
Como remover o lodo do leito?
A Norma determina que a retirada de lodo da estação deva ser feita por pressão hidráulica através de tubos ramificados e instalados no fundo dos reatores. A quantidade de bocais para a captação de lodo deve ser metade dos bocais utilizados para o esgoto afluente, tanto no reator quanto no filtro anaeróbico. Todo lodo retirado deve ser conduzido em tubulação contínua até o local de desidratação.
Para as lagoas de lodo com secagem, a remoção de lodo pode ser feita utilizando tratores ou equipamentos tipo clam shell. Antes da remoção devem ser retiradas diversas amostras de lodo em profundidadoe distintas para a verificação do grau de umidade do lodo. Os dispositivos de drenagem, assim como a impermeabilização da lagoa, devem ser feitos após a remoção de lodo.
Para lagoas com retirada periódica e desidratação externa, devem ser previstos diversos pontos de retirada no fundo da lagoa, não se admitindo tipo "espinha de peixe".
Para os leitos de secagem, recomenda-se também a cobertura com material translúcido.
Como lidar com os períodos chuvosos
Embora a maior parte do país enfrente seca neste período, uma estação de tratamento produz lodo o ano inteiro. E para lidar com os períodos chuvosos e os locais naturalmente mais úmidos do país, alguns cuidados podem ser tomados.
Segundo Eduardo Rotta, engenheiro do departamento de soluções ambientais da Maccaferri, os leitos de secagem não operam com boa eficiência em regiões com alto índice de umidade, isso porque sua eficiência está muito ligada à evaporação.
Para sanar este problema, é possível criar uma cobertura móvel que poderá ser utilizada para garantir que o leito não receba água da chuva. O engenheiro também afirma que é importante garantir que o material granular de filtragem do fundo seja compatível com o tipo de lodo para que ele não encha.
O engenheiro defende que neste tipo de local, seja utilizado "geoformas lineares" dentro dos leitos, para evitar problemas com a chuva, já que a pressão interna é maior que a externa e por isso não penetra água. Além disto, segundo ele, evitam-se problemas com sistema de drenagem do fundo do leito.
Contato da empresa:
Huber: www.huberdobrasil.com.br
Maccaferri: www.maccaferri.com.br