Lodo Agora É Produto Que Atende Diversas Aplicações, Reduzindo Impactos Ambientais
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 49 - junho/julho de 2019 - Ano 9
Lodo são sedimentos gerados nos tratamentos de água e/ou de esgotos domésticos e industriais. Como a geração de lodo cresce cada vez mais, a saída é a reutilização desses resíduos, o que muitas indústrias já estão fazendo, valorizando o lodo como produto
Lodo são sedimentos gerados nos tratamentos de água e/ou de esgotos domésticos e industriais. Como a geração de lodo cresce cada vez mais, a saída é a reutilização desses resíduos, o que muitas indústrias já estão fazendo, valorizando o lodo como produto, por exemplo, fertilizante. O biossólido pode ser reaproveitado de forma sustentável por incineração, disposição oceânica e florestal, recuperação de áreas degradadas, conversão em óleo combustível, na construção civil e uso agrícola1. Existem hoje muitos processos de recuperações de produtos neles contidos com alto valor comercial. Sua disposição em aterro sanitário pode provocar poluição visual, contaminação do ar, das águas superficiais e subterrâneas, do solo e da população2. A legislação ambiental é complexa, inclusive, a da indústria. Os padrões para lançamento de efluentes industriais são monitorados pelos orgãos estaduais, como é o caso da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) em SP e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
O tratamento do lodo tem uma série de desafios. Samuel Santos, coordenador comercial da Allonda, cita o que diz o artigo 7º da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que tem por objetivo: "a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos." "Notamos avanços em várias aplicações, na fabricação de tijolos e cerâmicas, produção de agregado leve para construção civil, produção de cimento, reaproveitamento agrícola e no uso de fertilizante orgânico e compostagem. E o maior benefício é a redução dos impactos ambientais por destinação e no uso de recursos naturais" – avalia.
Biomassa agressiva
Os novos métodos e tecnologias e as ações de avanço no atendimento às exigências das leis e da preservação do meio ambiente trazem mudanças reais e benefícios. O contato próximo ao ser humano pode provocar enfermidades e contaminação do lençol freático. "Uma gestão empresarial e industrial do lodo, com investimentos em tecnologias que o convertam num produto reutilizável, é condição primária para evitar agressões ao meio ambiente, por seu simples descarte, sabendo que se trata de uma biomassa altamente agressiva em vetores, odores e até periculosidade sanitária" – alerta o engenheiro Marco Vezzani, da Vomm do Brasil.
Quando o lodo é desaguado e seco, o resíduo que vai para o aterro ou outro destino é reduzido em até 98%, pois todo o líquido do produto será retirado. "O impacto ao meio ambiente, o custo do transporte e o volume/peso a ser transportado serão menores, e o tempo de vida útil do aterro será maior devido à menor quantidade de resíduos lançada" – salienta Luiz Ramos, gerente de mercado da Andritz.
Uso controlado do lodo
Quando disposto de modo inadequado, o lodo causa danos ao meio ambiente e à saúde humana3 porque é constituído por microrganismos patogênicos, metais pesados e compostos tóxicos. Já quando processado e tratado, seus nutrientes e propriedades são aproveitados4. "Para o lodo biológico ser usado em aplicações agrícolas, é preciso que uma empresa especializada realize um estudo de sua composição e valide, visto que o lodo pode apresentar patógenos e metais pesados acima do limitado pelo Conama. Se a classificação for adequada, pode reduzir custos e trazer grande vantagem ambiental" – explica Carlos da Silva Paranhos Neto, gerente comercial de óleo e gás e energia da Enfil Controle Ambiental.
Paranhos Neto cita a norma P4230 da Cetesb, que determina máximas concentrações de patógenos e metais pesados para uso agrícola do biossólido5. "A compostagem é um dos métodos econômicos e ambientais corretos para tratamento do lodo biológico. Ela se baseia na elevação da temperatura e desinfecção do resíduo, permitindo seu aproveitamento como fertilizante6" – diz.
Os biossólidos são ricos em nutrientes, como nitrogênio, fósforo, potássio e matéria orgânica7. Eles melhoram a produtividade de solos degradados e dos cultivos agrícolas, como cana-de-açúcar, milho, entre outros. Mais de 50 mil artigos científicos apontaram que nenhum efeito adverso do uso controlado do lodo foi encontrado8.
O lodo precisa ser desidratado, processo chamado de desaguamento, para que seu transporte seja mais barato e tenha destinação nobre. A desidratação é um processo mecânico que retira a maior quantidade possível de água do lodo. Após desidratação, é classificado como efluente sanitário ou industrial, composto por água, cujo sólido é orgânico ou inorgânico. A água pode ser reaproveitada e o volume a ser transportado – parte sólida umedecida – diminui. Após o deságue, é realizada a secagem, feita por calor solar ou outra fonte térmica, reduzindo o volume do resíduo já desidratado.
No tratamento da água para abastecimento público, é gerada parte de sólidos, que, após separação física, geram lodos para desidratação. Após conhecer o perfil do lodo, sua decantabilidade e capacidade de adensamento, são analisados quais melhores equipamentos para desidratação: centrífugas; filtros prensa; filtros a vácuo; parafusos de secagem e leitos de secagem.
Métodos modernos
Lodo Classe A
Os sistemas de secagem solar geram 95% da energia para secar o lodo e são uma solução para obter um lodo Classe A, que pode ser reutilizado como fertilizante, por exemplo, e o baixo consumo energético. "O lodo é colocado dentro de estufas onde o processo de secagem será acelerado por mecanismos de ventilação e mistura. O resultado é uma redução significativa dos custos operacionais em comparação com secadores a gás ou a óleo" – ressalta Bruno Dinamarco, gerente de contratos da B&F Dias. Ele cita a tecnologia da empresa, o Thermo-System®, da Parkson, sistema de secagem solar automatizado de lodo. Um controlador lógico programável (PLC) tem programa que controla e monitora todo o processo de secagem do início ao fim, necessitando de atenção mínima do operador.
A operação de mistura pode ser feita por batelada ou alimentação de fluxo contínuo. Por batelada, a mistura é realizada por carrinho elétrico, chamado de Electric Mole®, que transforma, distribui e areja o lodo para aumentar o desempenho de secagem. "Por meio dele, obtém-se o lodo classe A de forma simples, robusta e automatizada. Do ponto de vista ambiental, é um benefício significativo" – afirma Dinamarco. Já na mistura de forma contínua, são usadas pontes misturadoras.
Esse sistema da empresa é usado em ETAs e ETEs, variando de 0,008 m3/s até a maior instalação de secagem solar do mundo de 3,5m3/s. Dinamarco compara o consumo energético. "Processos onde a secagem é feita com energia elétrica, são necessários 25 kWh a 35 kWh para evaporar 1 tonelada de água, enquanto nos processos térmicos, 100% é feito com energia solar" – explica.
Blocos drenantes
Uma alternativa para desaguamento de lodo são os blocos drenantes plásticos em leitos de secagem. Não são usados enchimento de brita, areia e tijolos e os custos operacionais são bem reduzidos em relação ao desaguamento mecânico, as centrífugas. Vantagens em relação aos leitos convencionais:
• Menor requisito de área e facilidade na operação e limpeza;
• Secagem rápida, não colmata e tem ausência de odores e vetores;
• Grande durabilidade e não demanda pessoal especializado;
• A única energia consumida é a dos equipamentos auxiliares;
• Baixo custo em relação aos métodos mecânicos de remoção de umidade;
• Utiliza a força da gravidade no desaguamento.
Resumo da operação:
1) O lodo é descartado com dosagem de polímero em linha para os leitos.
2) A água livre percola pelos blocos e retorna o tratamento nas primeiras 24 horas com uso de polímero.
3) O lodo segue no piso secando até o teor de sólidos desejado, mais rápido que no leito convencional.
4) Para acelerar a secagem, pode ser feito o revolvimento periódico.
5) Raspagem do lodo seco.
A capacidade de drenagem do bloco é regenerada a cada ciclo, permitindo o uso de maquinário para revolvimento e remoção.
"O uso da cobertura plástica tipo Estufa Agrícola é opcional, torna a operação de secagem independente da chuva e aumenta a temperatura interna, acelerando a secagem" – salienta o engenheiro Dr. Marcelo Pohlmann, diretor técnico-comercial da Brasworld Engenharia.
Torre de desidratação
Segundo Santos, da Allonda, estes três métodos se destacam devido ao retorno bioenergético e à capacidade de reaproveitamento, que podem gerar receita e reduzir o custo energético e operacional:
Digestão anaeróbia: tratamento por decomposição que gera biogás, sendo as sobras de resíduos sólidos tratadas para formar composto orgânico.
Digestão aeróbia: para pequenas instalações, onde as bactérias aeróbicas sofrem fermentação, transformando-se em acetato, que irá produzir metano.
Desidratação por geotube: desaguamento por gravidade com baixo custo energético que consiste por barreira física e com capacidade de segregação de grandes volumes.
Para desidratação e secagem do lodo, a Allonda Ambiental dispõe da Torre de Desidratação. Enquanto os sistemas de desaguamento de lodo, como prensa, centrífuga e screw press, consomem, em média, 19.627 kW de energia/ano, a Torre de Desidratação de lodos e sedimentos contaminados reduz o consumo energético para cerca de 100 kW/ano. Compacta e vertical, de estrutura metálica, a torre usa a desidratação por Geotube®. Exerce a contenção da massa de sólidos, porque armazena grandes volumes; e drenagem de líquidos, eliminando ou minimizando tratamentos adicionais.
A mesa adensadora tem controle computadorizado, de simples operação e compatível com o sistema automatizado de plantas existentes. Já o secador térmico reduz ao máximo o volume do lodo, obtendo altos teores de secos. As tecnologias podem ser combinadas e existem rotas já conceituadas, como centrífugas, filtros prensas, adensadores e prensa rotativa. "Estas tecnologias têm conceito clean tech e resposta rápida na valoração ambiental, algo muito importante para fechar o ciclo de economia circular e fomentar o conceito de aterro zero" – diz Santos.
De acordo com Daniel Barreto, gerente executivo de propostas da Allonda, existem secadores de alta performance, e todos buscam o menor consumo energético e o lodo como combustível para a geração da energia calorífica. Como exemplo, os secadores com sistemas centrífugos têm mais eficiência que os rotativos. Quanto à desidratação, existem os desaguadores de diversas formas e eficiências: tubos geotêxteis, centrífugas, filtros prensa, entre outros. "Todos têm seus prós e contras e precisam ser adaptados para cada projeto. Uma rota muito explorada, fomentada pela Allonda, é a valoração do resíduo para transformá-lo em outro subproduto" – ressalta.
Filtros prensa
Os sistemas de filtro prensa, antes complexos na operação, hoje, têm, com novos mecanismos automáticos de retrolavagem, alimentação e descarregamento contínuos, reconquistando espaço nas ETEs e ETAs, ao lado de centrífugas de alto rendimento. "Ambos conseguem, em teste, teores de sólidos próximos ou superiores a 30%, tornando toda a gestão dos lodos mais compacta e econômica. Como a desidratação opera por meios mecânicos e físicos, é uma etapa fundamental de eficiência em função da eventual secagem posterior, que utiliza uma fonte térmica, portanto, mais onerosa" – afirma Vezzani, da Vomm do Brasil.
De acordo com o engenheiro Simão Fernandes, do desenvolvimento e vendas técnicas da Tecitec, a empresa possui filtros prensa para atender lodos das diferentes estações de tratamento. Para lodo de ETE e ETA, o desaguamento feito por filtro prensa reduz até 98% do volume de lodo e gera torta de lodo desaguado com até 40% de sólidos secos.
O filtrado fica com características semelhantes ao efluente ou água tratada sem retorno para tratabilidade. Ele desagua o lodo nas condições físicas que sai do tratamento sem precisar adequar por condicionamento químico ou adição de auxiliar de filtração.
O equipamento opera intermitente e com pressão de até 16 bar. O tempo de cada ciclo é de 1h30 a 3h, conforme as características do lodo.
Para lodo de efluentes industriais especiais, como oleoso e de cosméticos, dependendo, é necessário adequação física preliminar com auxiliar de filtração do tipo diatomácea para desaguamento e taxa de filtração normal.
O auxiliar de filtração mais usado é a adição direta no lodo em tanque de mistura com agitação mecânica lenta. Para lodo de tratamento biológico (ETEB), é preciso adequação física preliminar por condicionamento químico com três tipos de reagentes em tanques de mistura.
Desaguadora
Hoje os clientes precisam de tecnologias que reduzam ao máximo os custos operacionais do consumo de energia, custo e frequência de manutenção. A Andritz possui o C-Press, rosca desaguadora de baixa rotação para aplicações em Estações de Tratamento de Água, Esgoto e Efluentes Industriais com baixos custos operacionais. É um equipamento de baixa rotação (máx. 2 rpm) automatizado que dispensa a presença permanente do operador, com baixo custo de manutenção devido ao menor desgaste de peças e tamanho de motor reduzido (máx. 3kW) com baixo consumo de energia.
Secadores térmicos
Para secagem de lodo, a Andritz tem secadores térmicos de diversos tipos, Padle, Belt e Leito Fluidizado, que operam com vários combustíveis, vapor, óleo combustível e gás, dependendo da necessidade. "Do combustível disponível do cliente, podemos selecionar a melhor opção para o processo de secagem térmica, atendendo às suas expectativas" – diz Ramos.
O secador térmico de contato indireto HUBER Belt Dryer BT usa a energia térmica para aquecer a água que esquentará o ar de circulação para remoção da umidade do lodo. Opera apenas com água quente sob pressão, o que elimina riscos de explosão. Além disso, alcança teor de sólidos de até 95%, transformando rejeito em produto com alto valor comercial. O sistema de aquecimento indireto do ar permite o reaproveitamento tanto da água como do ar, reduzindo custos com tratamento e consumo, por não precisar de reposição. Principais etapas:
Prensa parafuso
Para desidratação de lodo, a prensa parafuso de baixa rotação substituiu as centrífugas.
As etapas de tratamento envolvem a preparação e a dosagem de polímero, mistura e floculação, adensamento e o desaguamento.
Sua baixa rotação, de apenas 2 rpm, reduz os custos com consumo elétrico, desgaste de peças e dosagem de polímero. O ruído quase imperceptível na operação melhora as condições de trabalho dos operadores. As prensas desaguadoras operam praticamente 24 horas por dia, sem acompanhamento, com funcionamento automático.
Secador solar
Os secadores solares com estufas de vidro HUBER Solstice SRT utilizam a energia dos raios solares para aquecimento do ar e remoção da umidade do lodo. Processo otimizado pelo revolvimento, mistura e transporte das pás revolvedoras, cuja tecnologia é da HUBER SE. Principais etapas:
Prensa a pistão
A Suez dispõe do DehydrisTM Twist (veja esquema), prensa a pistão de performance similar aos filtros prensa em obter teores de sólidos, que ocupa menos espaço e tem flexibilidade na operação, trabalhando com ciclos mais curtos de tempo funcionando contínuo ou semicontínuo. O investimento de aquisição fica entre centrífuga e filtro prensa e seu consumo de energia é entre 20% e 50% menor.
Conversão de despesa em receita
Paranhos Neto, da Enfil, cita a planta de Itatiba/SP de uma empresa em que a coleta de efluentes, a separação e o tratamento do lodo químico e biológico foram analisados. A água é reaproveitada e o excedente descartado no Rio Atibaia. A proposta é transformar parte da despesa em renda, ou seja, do lodo biológico em fertilizante agrícola em cana-de-açúcar e eucaliptos nas fazendas da empresa. A capacidade da ETE é de 7 mil litros de água/hora. O efluente entra com tratamento físico-químico e depois passa por tratamento biológico. Esses efluentes têm origem na Onduladeira, que produz chapas de papelão, resultante da ondulação de bobinas de papel, onde se aplica cola, com goma de amido de milho, o excedente segue para a ETE; e a segunda linha é da Conversão, de corte, vinco e impressão flexografia das caixas de papelão, cujo efluente é a tinta, com pH alto de 9 a 9,5. Esses dois efluentes líquidos se encontram na ETE. A partir daí, começa o tratamento físico-químico.
O efluente vai para reservatório, onde é misturado com ar comprimido, polímero e floculante, que separam a água do lodo, formando camada espessa de lodo. O líquido vai para a bomba com pás giratórias que raspam a camada superior e retiram grande parte do lodo, que segue por tubulação específica. A água vai por outro caminho, onde é adicionada soda cáustica (NaOH), aumentando o pH. O lodo do tratamento físico-químico é enviado aos leitos de secagem. O lodo químico é despejado, junto com areia, e permanece ali por 5 dias, até secar. Toda a água resultante vai à linha, que se mistura com a saída do físico-químico, finalizando esta etapa.
A água do tratamento físico-químico segue à linha de esgoto e é misturada com o efluente biológico. A linha de esgoto percorre toda a empresa e se encontra em enorme caixa central, onde toda a água é misturada e bombeada para a estação de tratamento. O primeiro tratamento biológico é feito no tanque de equalização, que recebe o resíduo bruto e o armazena em recirculação por bombas para evitar que decante. Todo o efluente segue para o tanque de aeração, onde a água fica em movimentação.
As bactérias e microrganismos fazem o tratamento. A água leva 20 dias para chegar à outra extremidade do tanque, onde já está relativamente limpa. Para que as bactérias trabalhem, é necessário luz e oxigênio. Por isso, o tanque fica exposto ao ar livre e o oxigênio é monitorado. Antiespumantes evitam que a espuma atrapalhe a incidência do sol no tanque. Após o trabalho das bactérias, a água segue para decantação. Nessa etapa, o líquido fica em maior repouso. O lodo restante decanta para o fundo do tanque, e os resíduos mais leves flutuam e são descartados por raspadores. O lodo passa pelas bombas de recirculação e é reprocessado no tanque de aeração. Após ficar espesso, é descartado nos leitos de secagem. Esse processo é igual ao físico-químico, entretanto, o tempo para secagem é maior (25 dias).
Toda a água tratada sai do tanque de decantação. Uma de suas vertentes vai para o Rio Atibaia, essa água não tem cheiro e, apesar de avermelhada, é limpa. A saída da água tratada vai para a estação de reúso, que filtra e deixa a água incolor, com carvão especial e adição de cloro. Esta água não é potável, sendo usada para caldeira, lavagem de caminhões e jardinagem. Para a qualidade do tratamento, são realizados testes e medições, como análise do pH e temperatura.
A empresa busca harmonia entre danos ao meio ambiente e recuperação, prevenção e preservação dos recursos renováveis. O lodo biológico representa 10% do total de resíduos sólidos e tem custo de descarte significativo. A empresa produz papel com bagaço de cana de açúcar. A substituição parcial de fertilizantes com lodo biológico reduz custos não só no descarte, mas também na compra dos adubos. Além do plantio da cana, a empresa tem cinco fazendas com 540 hectares de eucalipto. A base florestal supri a reserva energética.
Problemas na desidratação e secagem
A desidratação e a secagem são essenciais para o menor manuseio de lodo, tanto a quantidade a ser descartada quanto a transportada, e menor redução de CO2. "É importante que, independentemente do processo escolhido, o produto final seja estável, sem odores, sem risco de autocombustão, fácil de transportar e reutilizável" – enfatiza Dinamarco, da B&F Dias. Segundo ele, o aterro sanitário é o destino mais comum para a eliminação de lodo, mas, em alguns lugares do mundo, como nos Estados Unidos, está sofrendo restrições devido à redução dos espaços hoje disponíveis e ao incremento de preço de descarte nesses locais.
No desaguamento, pode ocorrer do equipamento não atingir o teor de sólidos esperado, inviabilizando o envio do lodo desaguado ao aterro, ou alguma falha mecânica/manutenção. De acordo com a disponibilidade de área, nem sempre é viável os leitos de secagem serem usados. "O desafio está em desaguar e secar o lodo com o menor gasto de energia possível, utilizando a energia do sol a favor do processo" – aponta Pohlmann, da Brasworld. Outra questão, segundo ele, é que quanto mais seco o lodo, menor o custo de transporte e disposição do material, ocupando menos espaço em aterros.
Se não houver caracterização adequada do lodo industrial, a má escolha da tecnologia poderá provocar problemas operacionais e ambientais. "Já no âmbito geral, com o crescimento exponencial do avanço do saneamento nos grandes centros e a entrada das concessões privadas, os principais problemas estão ligados ao correto gerenciamento do lodo, adequação dos principais sistemas de tratamento, segregação e posterior valoração ou destinação final" – avalia Santos, da Allonda.
Para Barreto, da Allonda, a análise deve ser macro e não apenas financeira. "Seguramente surgem oportunidades para melhorar a performance e atender às exigências legais. As técnicas atuais já são suficientes para preservação do meio ambiente, desde que usadas de forma correta. As novas tecnologias, sem dúvida, reforçam isso" – afirma. Um desafio constante, conforme Barreto, é o consumo energético, que encarece e gera outros poluentes. "No entanto, o problema mais frequente é o descarte. Mesmo desidratando o lodo, ele precisa ser destinado. Portanto, o maior desafio é a transformação deste material desidratado" – aponta.
As tecnologias de desidratação mais indicadas são aquelas que fazem a mais eficiente separação de água no meio. Vezzani, da Vomm do Brasil, explica que o volume de lodo a destinar é inversamente proporcional ao teor de sólidos: o volume de lodo com teor de sólidos de 10% é o dobro do que com 20%, e o triplo do que com 30%. "Aparentemente óbvio, este cálculo ainda é tabu para a maioria dos operadores de ETEs e ETAs. Deveria ser fator determinante para a escolha da melhor tecnologia de desague ou desidratação, mas, na maior parte dos casos, apenas o investimento inicial é levado em conta, afetando os custos operacionais posteriores, Opex, tanto na hipótese de destinação em torta, como no uso de sistemas de secagem" – afirma.
Segundo ele, a secagem permite a estocagem do lodo por longos períodos, sua estabilização e sanitização, tornando-o menos agressivo do ponto de vista sanitário. "Mais uma vez, a escolha, neste caso, deveria ser pelo sistema mais eficiente, limpo e de fácil operação" – enfatiza.
Muitas vezes, os equipamentos são mal dimensionados ou não aplicáveis para o produto. "Para evitar estes riscos, a Andritz possui em Pomerode/SC um laboratório onde os lodos/produtos especiais são testados a fim de se definir qual a melhor tecnologia e prever quais os resultados esperados. Com isso, o cliente pode optar pela melhor solução do seu problema" – destaca Ramos. Segundo ele, o maior desafio de hoje tem sido a escassez de investimentos no setor.
Nos sistemas de desidratação de lodo, os principais problemas, segundo Elaine Conchon, diretora executiva, e o engenheiro Lucas Funari, ambos da equipe técnica da Huber do Brasil, se referem à dosagem e preparação do polímero usado na floculação do lodo, o que impede a formação de flocos estáveis e dificulta a separação da água, diminuindo a eficiência do processo. Enquanto para os secadores, é o problema da variação do teor de sólidos do lodo desaguado, o que prejudica a distribuição do lodo ao longo do equipamento. Para os sistemas funcionarem corretamente, o teor de sólidos na entrada dos secadores deve estar próximo de 15%.
Existem ainda problemas de desgaste mecânico de equipamentos. "Eles ocorrem devido às partículas, como areia; ou pequenos sólidos, caso das pedras e plásticos, que vêm das linhas de água residual ou de tratamento de lodo. Portanto, preconizam-se etapas de gradeamento avançado nestas linhas" – aponta Cedric Watrigant, diretor de propostas da Suez América Latina.
Custos e benefícios
Para os sistemas de secagem de lodo, o fim útil do lodo que gere renda e seja sustentável é o caminho. "O foco da economia é reduzir custos de descarte e disposição e transformar rejeito em produto com valor comercial, com aproveitamento energético do lodo para queima em caldeiras ou como fertilizante, por exemplo" – dizem Elaine e Funari.
Por isso, a necessidade da percepção do processo a longo prazo, vislumbrando melhor custo-benefício. "O grande desafio é quebrar a cultura de custo imediato e analisar o custo total a longo prazo" – analisa Barreto, da Allonda. Ele fala das vantagens: redução de volume, aplicação dos lodos e sua valoração, uso como biomassa ou coprocessamento, transformação em fertilizantes ou outros insumos. Santos cita: "As principais vantagens das novas tecnologias são redução do passivo ambiental, otimização do processo, controle operacional e possível valoração ambiental."
Nesta visão de longo prazo, tem o fator de que, com o tempo, as tecnologias de separação sólidos/água sofrem melhorias e os custos diminuem com a escolha pelos sistemas mais eficientes. "Em saneamento, é importante ter visão de médio e longo prazo que leve em conta o custo da gestão e operação. A secagem fecha o ciclo da operação na medida que o lodo pode ser embalado, estocado e preparado para a melhor destinação final, não necessariamente, o Aterro Sanitário ou a Incineração" – ressalta Vezzani, da Vomm do Brasil.
Referências: citadas por Carlos da Silva Paranhos Neto, gerente comercial de óleo e gás e energia da Enfil Controle Ambiental:
1, 2 e 3 (LESSA, 2005; RIGO et al., 2014) 3 e 7 (RIGO et al., 2014) 5, 6 e 8 (PAREDES FILHO, 2011).
Contato das empresas
Allonda: www.allonda.com.br
Andritz: www.andritz.com
B&F Dias: www.bfdias.com.br
Brasworld: www.brasworld.net
Enfil: www.enfil.com.br
Huber: www.huberdobrasil.com.br
Suez: www.suez.com
Tecitec: www.tecitec.com.br
Vomm do Brasil: www.vomm.com.br