O Brasil Da Dessalinização

Não é de hoje que a falta de água é uma preocupação mundial. No Brasil, a crise hídrica de alguns anos atrás deixou um alerta, e nesse cenário novos métodos, parcerias e tecnologias estão sendo desenvolvidos para oferecer a população água potável


O Brasil Da Dessalinização

 

Não é de hoje que a falta de água é uma preocupação mundial. No Brasil, a crise hídrica de alguns anos atrás deixou um alerta, e nesse cenário novos métodos, parcerias e tecnologias estão sendo desenvolvidos para oferecer a população água potável. Um deles é a dessalinização que pode ser aplicada no tratamento de água para condicionamento de qualquer processo industrial e/ou para consumo humano. Entre os processos disponíveis no mercado, os mais utilizados são o de Evaporação e Osmose Reversa. No primeiro, a água salgada é colocada em um tanque com fundo preto e teto de vidro transparente, permitindo que o calor do sol evapore a água e em seguida é transferida para outro tanque.
A luz solar incidente, na parte superior, faz com que a água salgada se evapore. O vapor passa por um resfriamento e se converte em líquido por condensação. O produto líquido é a água já no estado puro, que será recolhida por canaletas e então armazenada no próximo tanque. O processo é simples, mas vale ressaltar que os tanques ocupam extensas áreas e estas precisam receber iluminação solar satisfatória para que a evaporação ocorra com sucesso.
Na osmose reversa, também conhecida como Osmose Inversa, é onde se exerce forte pressão em uma solução salina. Como o próprio nome já diz, esse processo é o inverso da osmose natural (passagem de uma substância pura para uma solução através de uma membrana semipermeável). Para dessalinizar a água é preciso que esta passagem ocorra inversamente: da solução (água e sal) para água pura. O processo consiste em realizar a passagem da água salgada por membranas de fibra oca. Estas fibras contêm poros microscópicos e todo o sal e impurezas presentes na água ficam retidas nestes pequenos poros.
O principal problema das tecnologias de dessalinização é conseguir diminuir o custo final da produção de água doce, para que esta possa estar disponível em quantidades suficientes até nas regiões onde é escassa. A dessalinização em grande escala, tipicamente, consome grande quantidade de energia e depende de plantas de produção caras e específicas. Portanto, é sempre mais cara, em relação a água doce de rios ou subterrânea.
De acordo com Luiz Felipe Cerceau Guimarães, representante de Veolia Water, existem também os processos de dessalinização térmica, congelamento e eletrodiálise. "Em relação ao custo-benefício, a dessalinização por osmose reversa apresenta grandes ganhos se comparada aos demais sistemas dessalinizadores, pois no processo de separação por membranas, a quantidade de energia necessária para extrair os sais é menor, o que representa redução de custos e diminuição da exploração dos recursos naturais. No entanto, o segredo para o sucesso de um projeto de dessalinização está na forma de captação e descarte e, principalmente, o pré-tratamento bem dimensionado" – destaca Guimarães.

 

O Brasil Da Dessalinização

 

Projetos no Brasil
Uma das primeiras missões dada pelo atual governo brasileiro foi na busca por soluções para a seca do Nordeste, como por exemplo, a implementação de usinas de dessalinização que pudessem tratar a água salobra da região. O direcionamento foi para que buscasse parcerias em Israel, que é pioneiro no uso dessa técnica e já é parceiro estratégico do Brasil há décadas com projetos e tecnologias inteligentes na área da irrigação e gotejamento.
Desde 2004 está em atividade o Programa Água Doce (PAD), ação do Governo Federal, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com instituições federais, estaduais, municipais e sociedade civil, que visa estabelecer uma política pública permanente de acesso à água de qualidade para o consumo humano, incorporando cuidados técnicos, ambientais e sociais na implantação, recuperação e gestão de sistemas de dessalinização de águas salobras e salinas. O PAD foi concebido e elaborado de forma participativa durante o ano de 2003, unindo a participação social, proteção ambiental, envolvimento institucional e gestão comunitária local.
A partir de 2011, o Programa Água Doce assumiu a meta de aplicar sua metodologia na recuperação, implantação e gestão de 1.200 sistemas de dessalinização até 2018, com investimentos de cerca de R$ 258 milhões, beneficiando, aproximadamente, 500 mil pessoas.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, que coordena o projeto, 924 desses dessalinizadores já foram contratados. Desses, há 575 em funcionamento, 147 em obras e 202 estão prestes a iniciar o processo de implantação. Hoje, o projeto atende 230 mil pessoas.
Os sistemas implantados pelo projeto captam água subterrâneas salobras e salinas, que após o processo, é distribuída para comunidade. Os efluentes gerados pela dessalinização são encaminhados para tanques de evaporação, em algumas comunidades estes resíduos já são reutilizados.
O Programa tem em seu conceito a desmineralização de poços salobros/salinos da região NE, além de outras regiões de estados como norte de Minas Gerais, tem uma abordagem muito interessante, na qual, tem como objetivo, a produção água potável para uma população em áreas carentes de oferta, além de incentivar outros cultivos como peixes e erva-sal para alimentação de caprinos e ovinos.
O dessalinizador utiliza o processo de osmose inversa no qual membranas semipermeáveis, que funcionam como um filtro, conseguem retirar da água salobra ou salina a quantidade de sais imprópria para consumo humano, produzindo dois efluentes, o permeado (água dessalinizada) e o concentrado.
Os principais componentes do sistema de dessalinização são: poço tubular profundo, bomba do poço, reservatório para água bruta (água do poço), abrigo de alvenaria, dessalinizador, reservatório para o permeado, chafariz para distribuição da água potável (água dessalinizada clorada), reservatório e tanque de contenção para o concentrado (água concentrada em sais), chafariz para distribuição da água bruta e do concentrado e bebedouro para os animais (cocho).
O abrigo é o local onde o dessalinizador se encontra instalado, o qual sempre deve ser mantido limpo e em bom estado de conservação. Próximo ao abrigo se encontra os reservatórios de água bruta, do permeado e do concentrado.
A água salobra do poço é bombeada para o reservatório de água bruta para em seguida ser bombeada para o dessalinizador passando antes por filtros que removem partículas maiores (areia, barro, argila, etc) que causam o entupimento das membranas. Este é o chamado Pré Tratamento Físico da água de alimentação do dessalinizador.
Este tratamento prévio é complementado com a adição de um produto que evita que os sais se depositem prejudicando as membranas e o tratamento da água salobra do poço. Este é o chamado Pré Tratamento Químico da água de alimentação do dessalinizador.
Depois de tratada, a água de alimentação é bombeada para os vasos de pressão com auxílio de uma bomba que gera uma pressão suficiente e necessária para que o processo de osmose inversa aconteça.
A água dessalinizada deve ser tratada com cloro para garantir que sua qualidade biológica seja mantida até a hora do consumo. Este é o chamado Pós Tratamento. Somente após a Cloração do Permeado é que teremos a Água Potável para consumo humano.
A distribuição da água potável para a comunidade é realizada próxima ao abrigo do dessalinizador através de um chafariz construído em alvenaria com revestimento em cerâmica, iluminação, portão, conjunto de torneiras para distribuição da água ou equipamento eletrônico instalado dentro do chafariz onde as pessoas da comunidade têm acesso à água através de fichas ou cartões magnéticos. O Programa Agua Doce prevê o acesso mínimo de 10 litros de água potável por pessoa/dia nas localidades atendidas.
De acordo com os costumes locais e a qualidade do concentrado produzido, parte desse efluente pode ser utilizado em bebedouros para animais ou para uso secundário doméstico. Em localidades que atendam aos requisitos técnicos estabelecidos pelo programa, esse concentrado pode ser utilizado no sistema produtivo integrado sustentável.
No entanto, apesar de centenas de sistemas instalados, poucos estão em funcionamento hoje. "A principal razão para isso é que foi negligenciada a manutenção destas unidades e, sem manutenção não é possível continuar operando o sistema e, consequentemente, o equipamento para de produzir. Uma forma de aperfeiçoar o programa seria modelos de negócios/contratos diferentes, nos quais estariam inclusos, por exemplo, a gestão da unidade por certo período e/ou contratos de O&M para estes sistemas" – destaca Guimarães.
Em linha com as informações de Guimarães o Ministério do Meio Ambiente ressalta que um dos maiores desafios do Programa Água Doce é contribuir com a criação de estruturas permanentes de gestão dos sistemas de dessalinização, tanto nos estados quanto nos municípios e nas comunidades. A experiência de programas anteriores ensinou que instalar ou recuperar sistemas de dessalinização não é suficiente para garantir a oferta continuada de água de boa qualidade para as famílias do semiárido. É preciso, também, investir na organização de mecanismos de gestão que viabilizem o funcionamento dos sistemas de dessalinização a médio e longo prazo.
Segundo a Associação Internacional de Dessalinização (IDA), o tratamento já é utilizado em 150 países, como Austrália, Estados Unidos,
Espanha e Japão, mas ainda é considerada uma aplicação cara, principalmente pelo consumo de energia. Para produzir mil litros é necessário, em média, de oito quilowatts-hora, equivalente ao consumo diário de uma casa de três quartos no Brasil. Sem falar nos investimentos para construção das plantas.

 

O Brasil Da Dessalinização

 

Usinas de dessalinização
O arquipélago de Fernando de Noronha é um expoente em dessalinização no Brasil, com uma usina instalada há alguns anos. Cerca de 60% da água consumida atualmente pela ilha vem dos sistemas de dessalinização, sendo que os outros 40% da água consumida na ilha vêm de açude e de poços de água das chuvas.
Como processo de melhoria contínua a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), responsável pela usina implantará na unidade de Fernando de Noronha a primeira unidade a operar com geração de energia solar fotovoltaica.
O projeto-piloto no Chafariz e Dessanilizador da Vila do Trinta deverá possibilitar uma compensação de cerca de 70% da energia consumida pelo sistema.
Outra iniciativa nesta área veio da cidade de Caucáia no Ceará, que será uma das primeiras cidades brasileiras a receber uma usina de dessalinização e até então a maior a ser instalada, aprovada no final de 2018 pelo Ministério da Integração Nacional receberá investimentos de cerca de R$ 15 milhões, sendo investidos cerca de R$ 15 milhões em recursos federais para a execução da obra. A iniciativa do projeto é da Prefeitura de Caucaia, através da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) e da Defesa Civil.
O empreendimento será erguido numa área de 1.450 m² na Praia do Pacheco. Para o prefeito Naumi Amorim o momento é de comemoração. "Seremos pioneiros no país com este importante e inovador equipamento que vai ajudar no abastecimento de água da região e beneficiará diretamente mais de 12 mil famílias de Caucaia", ressalta.
Mais de 40.000 habitantes serão beneficiados com abastecimento de água potável. O equipamento será do tipo "plug&play", cuja vazão é de 1.200 m³/dia, ou seja, o equivalente a 1.200.000 l/dia.
O processo de dessalinização será feito por osmose reversa e quando estiver em operação, o dessalinizador da água do mar será uma alternativa à escassez de recursos hídricos. A água tratada seguirá para a rede de distribuição da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
Durante muito tempo, o processo de dessalinização foi considerado uma ação muito distante para as necessidades brasileiras, mas mesmo com todas essas dificuldades, a técnica está chegando ao país e veio para ficar. As empresas privadas de saneamento, pioneiras na utilização dessa tecnologia, estão investindo em sistemas para tornar o processo viável economicamente, reduzir o custo com energia e com menos impacto para o meio ambiente. E assim, se tornando uma opção para combater a escassez de água e promover a segurança hídrica.

 

O Brasil Da Dessalinização

 

Contato da empresa
Projeto Água Doce:
www.mma.gov.br/agua/agua-doce.html
Veolia Water: www.veoliawaterst.com.br

Publicidade