Fazer Análises Da Água Impulsiona Transformar Água Poluída Em Água Limpa
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 52 - dezembro de 2019/janeiro de 2020 - Ano 9
A análise bem-feita e o tratamento adequado transformam a água em um líquido precioso para a nossa saúde e a saúde do meio ambiente. Esta é a grande questão. “Sem fazer o devido tratamento, a água bruta contaminada é transformada em um vetor poderoso
A análise bem-feita e o tratamento adequado transformam a água em um líquido precioso para a nossa saúde e a saúde do meio ambiente. Esta é a grande questão. "Sem fazer o devido tratamento, a água bruta contaminada é transformada em um vetor poderoso de doenças e impactos socioambientais" – adverte, com propriedade, Caroline Malaguti Liberalino, consultora de projetos da Allonda Ambiental. São dois lados díspares. Se não for cuidada, a água pode veicular grande número de doenças. "E o mecanismo de transmissão mais comum das doenças se dá pela ingestão: quando uma pessoa toma água que contenha algum componente que faz mal à saúde" – alerta a consultora.
Quando a água bruta não é tratada de forma apropriada para o consumo humano, os riscos de contaminação por microrganismos aumentam, o que causa doenças em pessoas e animais. As doenças provocadas devido à ingestão de água poluída e contaminada sem tratamento são: a leptospirose, meningite, amebíase, cólera, infecção de intestino, febre tifoide, hepatites A e B, disenteria e pólio. Se a contaminação for por metais pesados, a água causa tumores hepáticos e de tireoide, rinites alérgicas, dermatoses e alterações neurológicas.
"A presença de contaminantes químicos ou de um componente em excesso, como o sódio, por exemplo, que portadores de hipertensão arterial não devem consumir em altas doses, causa sobrecarga ou danos a longo prazo, tendo efeito cumulativo no organismo" – esclarece Jackeline Stoski, analista de desenvolvimento tecnológico e químico do Tecpar – Instituto de Tecnologia do Paraná.
Segundo Roberto Thomé, diretor da área técnica da Microambiental, a água contém agentes etiológicos que entram no nosso organismo, por ingestão direta de água, alimentos e via cutânea. Dentre esses agentes, estão bactérias e vírus, conhecidos por causar as tão frequentes doenças diarreicas, como a Escherichia coli. Dentro dos sistemas hídricos, conforme explica, também existem as bactérias oportunistas, como a Legionella, pseudomonas e Mycobacterium, que não causam doenças, mas, sim, infecções graves em pessoas com o sistema imune enfraquecido. Caso dos idosos, dos que sofrem de Síndrome de Imunodeficiência (Aids) e daqueles que passaram por transplantes e quimioterapia.
Há uma problemática ambiental e de Saúde Pública muito grande quanto às contaminações inorgânicas, que são os metais pesados presentes na água, como arsênio, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, prata, cobre e zinco. Além de altamente tóxicos, estes compostos não são degradáveis e se acumulam no ambiente e no organismo humano. "Esse cenário se complica quando falamos em portadores de doença renal crônica que necessitam passar por hemodiálise. Na hemodiálise, a água é o insumo mais consumido, e a presença mesmo que ínfima desses compostos gera grandes complicações para esses pacientes" – ressalta Thomé.
Para a engenheira sanitarista e ambiental e de segurança do trabalho Ana Paula Bortoloso, diretora da Ecológica Engenharia, a maioria da população brasileira tem pouca informação sobre a qualidade das águas e os impactos por consumir água imprópria. A água deve atender aos parâmetros de potabilidade da Portaria de Consolidação nº 5, do Ministério da Saúde, Anexo XX, de 3 de outubro de 2017, que atua sobre o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano. "O homem necessita de água de qualidade e em quantidade suficiente para atender às suas necessidades. Precisamos rever nossa crença de que a água é abundante e que estará sempre disponível, pois isso depende de como utilizamos e preservamos este recurso" – afirma Ana Paula.
Um dos maiores impactos é, com certeza, em relação à saúde humana. "Por isso, é preciso investigar a região onde será coletada a amostra da água para fazer a análise e as influências industriais e agrícolas. Há pouco conhecimento na população e quando se tem interesse em avaliar a qualidade da água, o valor investido é alto" – alerta Lauren Crippa, gerente comercial da Acquaplant.
Impactos na natureza
Além de comprometer a Saúde Pública, o lançamento de efluentes sanitários ou industriais sem tratamento provoca desequilíbrio no meio ambiente e a água contaminada causa impactos negativos, resultando em sérios prejuízos à fauna e à flora. "Dependendo do tipo e gravidade da contaminação, pode vir a matar a vida no corpo d´água, caso dos rios de grandes cidades, como o Pinheiros" – avalia Fabio Bellotti, gerente geral do Laboratório Bachema.
Um exemplo é a eutrofização de lagoas e represas. "A eutrofização se caracteriza pela presença excessiva de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, causando a proliferação de algas e cianobactérias. Além disso, com a contaminação das águas, a biodiversidade é afetada, levando à morte de animais e plantas de extrema importância para o equilíbrio do nicho ecológico" – aponta Caroline, da Allonda.
Thomé, da Microambiental, explica que as contaminações orgânicas aumentam a concentração de nutrientes na água e criam ambiente propício para as cianobactérias e bactérias aeróbias, causando a eutrofização. "O aumento de matéria orgânica em corpos hídricos colabora para o processo de eutrofização, que faz com que haja perda da qualidade da água devido ao forte odor, alterações na cor e turbidez. Em níveis mais altos, diminui o oxigênio diluído na água, comprometendo todo o ecossistema hídrico e gerando a morte da fauna aquática por asfixia" – relata.
A água bruta contaminada com o descarte inadequado de águas industriais, esgoto sanitário e outros resíduos precisa ser tratada. "Nesse caso, é necessário tratá-la para corrigir a química de oxigênio alterada, os excessos de nutrientes e a alteração do pH. Para isso, é feito o monitoramento na própria estação de tratamento, observando os parâmetros exigidos pela Portaria nº 5/MS para nos certificarmos da qualidade e confiabilidade de nosso produto e da eficiência do tratamento" – explica Gustavo Borim, coordenador de produção da Samar – Soluções Ambientais de Araçatuba.
Contaminantes
"A contaminação de águas brutas está totalmente relacionada com o nível de respeito que o ser humano tem com o meio ambiente" – afirma Bellotti, do Laboratório Bachema.
Ele cita que nas águas contaminadas é encontrado todo tipo de contaminantes biológicos ou químicos: cianobactérias, coliformes fecais, coliformes termotolerantes, grande quantidade de matéria orgânica, metais pesados, agrotóxicos e compostos voláteis e semivoláteis. Por isso, a presença ou não de contaminantes e as quantidades/concentrações na água bruta dependem de vários fatores: local geográfico, tipo de atividade econômica em torno dos corpos d´água, correto tratamento ou não de águas residuárias antes de despejo nos rios, despejo direto/correto, tratamento de esgotos urbanos etc.
Segundo Thomé, da Microambiental, pode-se classificar os contaminantes em orgânicos, microbiológicos e inorgânicos. "Os contaminantes orgânicos se dão tanto pelo depósito natural de matéria orgânica daquele ambiente no corpo hídrico como pela sua poluição direta por despejo de esgoto, efluentes industriais e agrotóxicos" – explica.
A água contém agentes etiológicos separados em microrganismos patogênicos e oportunistas que vivem em comunidades que se formam nos sistemas de água chamadas de biofilmes. "Os problemas com contaminação orgânica se agravam por conta de fatores ambientais, caso dos períodos longos de estiagens, como os da crise hídrica de 2014. Isso porque o baixo volume de água nos reservatórios e mananciais leva a uma maior concentração de poluentes, dificultando seu tratamento" – analisa Thomé.
Os contaminantes inorgânicos têm origem na geologia de cada local. As águas subterrâneas que abastecem os mananciais e poços se deslocam por um longo caminho através de rochas e solos e captam diversos compostos, tais como magnésio, cálcio, cloreto, fluoreto, nitrato e ferro. "Um importante fator que incrementa a concentração destes compostos na água são atividades, como a mineração, indústria ou agricultura. Dois casos emblemáticos da interferência do homem na dispersão de poluentes inorgânicos são de Brumadinho e Mariana, em que o rompimento das barragens contaminou diversos rios com minérios de ferro e manganês" – exemplifica Thomé.
Devido à sua maior disponibilidade, as águas tratadas para a distribuição na rede pública são coletadas em corpos superficiais. "Estas águas de rios, lagos e represas têm quantidade significativa de materiais orgânicos e inorgânicos em suspensão e microrganismos patogênicos que precisam ser removidos. Sua composição físico-química se altera devido à chuva e a outros fatores que devem ser monitorados para que não se excedam os limites de concentração definidos" – explica Jackeline, Stoski do Tecpar.
Em águas de rios da Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, são encontrados altos índices de poluição de origem doméstica e industrial com elevados valores de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), como óleos dissolvidos, nitrogênio, fósforo e microbiológicos, como Escherichia coli, entre outros.
"Os índices dos parâmetros são variáveis e dependem da localização do rio, ou seja, a área verde e a urbana nas margens e pontos de lançamentos irregulares de efluente industrial" – diz Caroline, da Allonda. Já os principais contaminantes em água de poço são: ferro dissolvido, sódio, alumínio, zinco, manganês e, em alguns casos, coliformes totais.
Ciclo da água
Os contaminantes dependem da origem da água bruta, por isso, os encontrados em águas superficiais diferem dos contaminantes de águas subterrâneas. Ana Paula, da Ecológica Engenharia, diz que é possível entender melhor observando o ciclo hidrológico ou ciclo da água: movimento contínuo da água nos oceanos, continentes e atmosfera gerado pela força da gravidade e energia do Sol. Na atmosfera, forma as nuvens que provocam chuva, granizo, orvalho e neve. Nos continentes, infiltra, percola no solo, forma aquíferos subterrâneos, nascentes e fontes ou alimenta rios e lagos através do escoamento superficial.
Durante o ciclo hidrológico, a água recebe contaminantes das atividades humanas e/ou de processos naturais. Fontes mais comuns de poluição e contaminação: deposição de resíduos sólidos no solo; efluentes e esgotos sanitários; fertilizantes e agrotóxicos; extração de minérios; vazamento de substâncias tóxicas de tanques de combustíveis, oleodutos e gasodutos e acidentes no transporte de substâncias tóxicas, combustíveis e lubrificantes; cemitérios; transformação química e dissolução de minerais, por exemplo, presença de ferro, manganês, carbonatos e outros minerais associados à formação rochosa.
Equilíbrio ambiental
O tratamento de águas e efluentes influi diretamente no equilíbrio do meio ambiente, na qualidade da água e no atendimento dos parâmetros de água de processos industriais, entre outros. Por isso, é preciso medir a eficiência de remoção dos contaminantes dos sistemas de tratamento de água e efluentes e os meios usados para garantir sua eficácia são as análises laboratoriais feitas antes, durante e depois do tratamento. "Equipamentos que fazem monitoramento online são instalados na entrada, saída e durante o sistema de tratamento para controlar em tempo real os parâmetros analisados, permitindo rápida reação na operação das ETAs e ETEs" – aponta Ana Paula, da Ecológica Engenharia.
Para garantir água apropriada para o consumo humano, é preciso inspecioná-la em frequência adequada e a qualidade final é verificada com análises físico-químicas e microbiológicas conforme parâmetros da Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017. Para isso, a Microambiental cita duas situações:
• Quando o cliente quer validar a qualidade da água da concessionária ou localizar pontos de contaminação, a Microambiental faz apenas as análises físico-químicas e microbiológicas da água tratada.
• Quando for para avaliar a eficácia do tratamento de uma ETA, é necessário realizar as análises físico-químicas e microbiológicas da água bruta antes e depois do seu tratamento.
Tecnologias de ponta monitoram de forma automática e contínua parâmetros de qualidade da água, tais como pH, temperatura, nível de cloro, condutividade elétrica, entre outros, geram relatórios online e notificam irregularidades em tempo real. "Hoje existe grande oscilação no teor de cloro na água por conta de diversos fatores ambientais, como irregularidade das chuvas e despejo de efluentes sem tratamento em mananciais" – diz Thomé.
E hoje os sistemas inteligentes regulam automaticamente a concentração de cloro na água, monitoramento feito por sensor acoplado a um computador e bomba dosadora. "O sensor comunica as leituras realizadas ao computador que vai processá-las e mandar um sinal regulando a quantidade de cloro liberada pela bomba dosadora no sistema.
A manutenção da quantidade correta de cloro evita tanto as contaminações microbiológicas quanto a geração de subprodutos advindos do excesso de cloro" – explica Thomé.
"Quando controlamos os parâmetros, otimizamos o sistema de tratamento de água como um todo porque tanto os parâmetros microbiológicos quanto os físico-químicos têm íntima conectividade, por exemplo, quando nos referimos à qualidade física" – esclarece
Thomé. Vamos analisar a concentração de sólidos suspensos e dissolvidos na água. "Esse parâmetro indica a qualidade das propriedades organolépticas da água, ausência de cor, odor e gosto, mas quando temos uma água com alto teor de sólidos, a eficiência da desinfecção fica comprometida, favorecendo a presença de microrganismos" – cita.
O objetivo do uso da água é o que determina o que analisar. Caso a água seja para consumo, a Acquaplant orienta os clientes a seguir os parâmetros da Portaria de Consolidação 5, do Ministério da Saúde. A Acquaplant analisa a amostra e emite o relatório conclusivo. "Encaminhamos os clientes para que, se necessário, procurem especialistas na área para orientá-los" – diz Lauren.
Bellotti explica que o Laboratório Bachema analisa uma amostra de água antes e depois do tratamento para auxiliar o cliente na eficácia de processos de descontaminação/tratamento de água. As amostras são comparadas com legislações que definem limites máximos para cada contaminante. Outra forma do laboratório ajudar o cliente é realizar ensaios de tratabilidade, que podem ser químicos (Jar Test) ou biológicos, ou fazer testes de bancada para simular as melhores condições de tratamento.
"Estes ensaios são fundamentais para estabelecer o melhor reagente e as melhores condições para sua aplicação, otimizando sua quantidade para obter resultados mais eficientes em escala – em campo – para a degradação total dos contaminantes" – afirma. Diversas técnicas analíticas para acompanhar a degradação dos contaminantes, VOC, SVOC, TPH etc. podem ser associadas, dependendo das características do site em estudo. "Essa ação resulta numa completa avaliação do sistema, gerando estimativas de custos e potenciais efeitos adversos" – complementa Bellotti.
Prevenção e correção
Para ser distribuída no sistema público, a água tratada deve atender aos requisitos da Portaria de Consolidação n° 5/2017, que avalia mais de 100 parâmetros impactantes para a saúde humana, confirmando que a amostra é apropriada para o consumo. Segundo
Jackeline, do Tecpar, quando o corpo d’água é fixo, estas análises são feitas somente após o tratamento, a não ser que haja suspeita de contaminação pontual.
Para avaliação da eficácia do tratamento, conforme Jackeline, são elegidos parâmetros indicativos da qualidade geral da água, como a determinação da turbidez, que evidencia a redução dos materiais em suspensão e pode ser facilmente avaliada antes e após o tratamento. Outro parâmetro é o cloro livre após o tratamento, que garante a desinfecção da água até o momento do consumo pela população em suas residências.
Desde 1974, a Cetesb monitora a qualidade das águas superficiais doces no Estado de São Paulo e possui mais de 240 pontos de coleta de água. Segundo Caroline, da Allonda, o objetivo das análises é o diagnóstico da qualidade das águas de rios, córregos, lagoas e reservatórios de água, comparando com a legislação ambiental atual. "Com esses relatórios, é possível identificar as áreas mais poluídas das cidades, onde a qualidade de água está comprometida para uso, vida animal e vegetal, possibilitando ações preventivas e corretivas de outros órgãos ou empresas privadas" – diz.
A Samar realiza todas as análises exigidas pela legislação tanto para água bruta quanto para água tratada. "Monitoramos a qualidade da água desde a entrada na estação até ela chegar ao cavalete dos imóveis. São feitas, em média, 8.500 análises por mês em cada uma das três Estações de Tratamento de Água de Araçatuba. Temos equipamentos nas estações que monitoram on-line a qualidade da água tratada, garantindo ainda mais a eficiência do sistema" – afirma Borim. Além disso, a Samar obedece aos indicadores previstos no contrato de concessão e os reporta mensalmente à agência reguladora DAEA, que fiscaliza o cumprimento dos padrões legais.
Análise da água
Em resumo, Bellotti, do Laboratório Bechama, explica que primeiro é elaborada a proposta técnica e comercial para definir:
• O tipo de água bruta a ser analisada – se superficial ou subterrânea.
• As análises laboratoriais que serão realizadas.
O cliente informa quais análises serão realizadas ao laboratório, que podem ser:
Análises específicas: compostos voláteis ou semivoláteis, hidrocarbonetos totais de petróleo, metais pesados etc.
Análises de conformidade: legislações/resoluções de órgãos reguladores, como Conama (leis federais), Cetesb (Estado de São Paulo), Anvisa (para a potabilidade de água) etc.
Depois de aceita a proposta, a próxima fase é fazer a correta amostragem da água bruta. E na etapa seguinte, é realizada a análise laboratorial para determinar a existência e a quantidade de cada contaminante definido na proposta comercial e emissão de relatório de análises.
Mas vamos destrinchar um pouco mais o processo de análise e depois ver o passo a passo. Antes de tudo, é preciso identificar qual é a origem da água bruta: de poço, abastecimento público, mineral, lago, rio, água pluvial ou outra fonte. Em seguida, é feito um planejamento de amostragem e análise especificando o objetivo da análise, além do padrão de análises adotado. Depois, é definido o desenho amostral: local, período e frequência de amostragem.
As amostras devem ser coletadas em diversos períodos de tempo, ano, mês ou semanas para observação da variação dos parâmetros conforme a época de chuvas. Depois de coletadas, são identificadas com data, hora, tipo de amostra, local e dispostas em vials de vidros ou frascos de vidro âmbar, acondicionados em caixa térmica longe de luz solar em baixa temperatura até chegar ao laboratório.
Para melhor caracterizar a qualidade da água, as amostras devem ser coletadas sob variadas condições durante longo período de tempo. "Quando o número de amostras é limitado, seja por tempo, custo ou processo operacional, é usada a amostragem composta, na qual quantidades iguais de amostras coletadas em diferentes locais são combinadas e analisadas como uma amostra simples. O uso de replicatas também é recomendável para melhor caracterização da água" – diz Ana Paula, da Ecológica Engenharia.
Após decidir a metodologia de amostragem, são estabelecidos os métodos e procedimentos analíticos, assim como os volumes de amostra e métodos de preservação e transporte.
"Definidas as etapas anteriores, inicia-se a fase de execução das análises, onde são feitas: a amostragem, a coleta de dados de campo, as análises laboratoriais, os controles de qualidade e, ao final, a avaliação e a interpretação dos resultados" – salienta Ana Paula.
Todo o ensaio a ser realizado em uma amostra avalia se a água está apta para consumo ou qualquer outro uso primário. "O primeiro passo é ter clareza do objetivo do uso da água. Com isso, tem-se a informação de qual legislação será empregada para comparativo dos resultados analisados. A amostra precisa ser a mais representativa possível do local da coleta" – esclarece Lauren, da Acquaplant.
Alguns ensaios precisam ser feitos em campo, logo após a coleta da amostra, por possuírem curto prazo de ensaio. Nestes casos, não há tempo hábil para que a análise seja realizada em laboratório. Exemplos: ensaio de cloro, pH e oxigênio dissolvido. Segundo Lauren, dependendo do objetivo do uso da água, analisa-se, no mínimo, 50 parâmetros. Cada grupo de ensaio a ser analisado no laboratório segue métodos específicos.
No Estado de São Paulo, a Cetesb exige que as análises sejam feitas por laboratórios acreditados pela ABNT NBR ISO/IEC 17.025. Cada legislação exige uma periodicidade das análises, mas o órgão regulador pode pedir análises com frequência diferente, dependendo do tipo de indústria, de consumo de água, local de operação etc. e/ou licença de operação.
Bellotti, do Laboratório Bachema, orienta sempre realizar a amostragem com pessoas treinadas, qualificadas e laboratórios e/ou empresas acreditadas pela 17.025 para a correta amostragem e evitar contaminações da amostra.
Todas as etapas de coleta, transporte/armazenamento e análises são complexas e precisam de diversos cuidados para rastreabilidade e confiabilidade dos resultados. Para tanto, Thomé recomenda que sejam contratados laboratórios que tenham rigorosos Sistemas de Qualidade e certificação pelo Inmetro, Anvisa etc. "Por fim, após as análises, é importante fazer uma avaliação crítica dos dados extraídos, analisando se água está nos padrões legais para sua utilização e gerar laudos adequados" – instrui o diretor técnico da Microambiental.
Para atender à Portaria de Consolidação
nº 5/2017, do Ministério da Saúde, Borim, da Samar, explica que a cada duas horas são realizadas análises da água bruta para o controle de qualidade da água e para definir se é preciso fazer ajustes no processo de tratamento. Quando a água captada é subterrânea, além da Portaria nº 5/2017, é obedecida a Resolução Conama nº 396, que exige o acompanhamento semestral da água de poço, cuja turbidez é controlada diariamente. Todos os dados do monitoramento, segundo ele, são enviados ao Ministério da Saúde por meio do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua).
Passo a passo
Independentemente da natureza do corpo d’água, de acordo com Thomé, da
Microambiental, o processo de análise pode ser resumido em quatro etapas: coleta, transporte/armazenamento, análise laboratorial e interpretação dos resultados.
Coleta
Esta etapa requer cuidados para evitar contaminações e perdas e garantir a integridade da amostra. Para a coleta, são usados diversos frascos e cada frasco é específico para cada tipo de análise. Eles devem estar limpos e estéreis e só poderão ser abertos na hora do uso, devendo ser fechados imediatamente após a coleta. As análises de cloro livre e de pH devem ser feitas no momento da coleta.
Transporte/Armazenamento
As amostras coletadas são acondicionadas em caixa térmica com gelo para mantê-las refrigeradas entre 3 ºC e 10 ºC para seu transporte. Essa temperatura deve ser mantida até o momento do ensaio laboratorial. As amostras microbiológicas precisam ser analisadas, no máximo, em 24 horas, a partir da coleta.
A temperatura dos equipamentos deve ser controlada por termômetros calibrados e registrados para fins de rastreabilidade.
Análises de água
O escopo de análise varia de acordo com o objetivo de uso para a água. São dois tipos de análises: microbiológicas e físico-químicas.
Análises físico-químicas:
Validam parâmetros tanto físicos, como temperatura, sabor, odor, cor, turbidez e condutividade elétrica, quanto os químicos, pH, alcalinidade e a dureza.
Análises microbiológicas:
Para potabilidade da água, os processos de análise bacteriológica consistem:
• Contagem-padrão em placa:
O ensaio da contagem de microrganismos é elaborado em placas de Petri – frasco usado nas análises – com meio de cultura rico em nutrientes e feito em ambiente estéril e controlado, com incubação de 24 horas em estufa. Após esse período, faz-se a contagem das colônias microbianas. Este ensaio quantifica as células vivas presentes, o que permite avaliar a eficiência das etapas do tratamento de água.
• Técnica membrana filtrante:
Método para isolar e identificar colônias de bactérias que filtra a vácuo a amostra por membrana filtrante que retém as células de bactérias contaminantes. Depois, coloca-se assepticamente a membrana sobre meio de cultura seletivo para detectar grupo específico de microrganismos. Por fim, incubam-se as placas de Petri a temperaturas adequadas ao desenvolvimento dos microrganismos.
• Avaliação coliformes totais e termotolerantes:
Inicia-se com análise presuntiva e transfere-se a amostra em ambiente estéril e controlado para três tubos com caldo lauril e tubo de Duran invertido. O tubo Duran retém os gases formados no crescimento microbiano e indica a positividade no teste para grupos coliformes. O outro teste confirma a presença de coliformes fecais (Escherichia coli). Transfere-se o crescimento dos tubos para um tubo com caldo lactosado (verde brilhante bile), o qual inibe o crescimento de bactérias fermentadoras de lactose que não fazem parte dos coliformes fecais. A formação de gás no tubo Duran invertido confirma a presença de coliformes fecais na amostra.
Já o Substrato Cromogênico-Fluorogênico aponta tanto coliformes totais quanto fecais (Escherichia coli). O método ocorre devido às atividades enzimáticas da E. coli sob a ß glucoronidase. O meio de cultura contém substrato cromogênico como indicador que, quando hidrolisado pelas enzimas, muda a cor. Se o meio fica amarelo, existem coliformes no meio; se há fluorescência azul sob ultravioleta (UV) 365 nm, é o E. coli que está presente.
Técnicas analíticas
Existem diversas técnicas analíticas para análise de água. "Os métodos cromatográficos são grandes aliados na rotina, porque permitem determinar diversos parâmetros simultaneamente, avaliando tanto sua composição físico-química, como cátions e ânions, pela cromatografia de íons quanto contaminantes orgânicos, caso dos resíduos de agrotóxicos e pesticidas, por cromatografia a gás" – explica Jackeline, do Tecpar.
Já os métodos espectrométricos são usados para avaliar os contaminantes inorgânicos, por exemplo, os metais pesados. "Cada uma destas técnicas analíticas requer procedimentos específicos de pré-tratamentos das amostras, como a digestão ácida, filtração, pré-concentração, extração, derivatização, entre outros, além do controle da qualidade do processo, o que torna o processo analítico complexo" – conclui Jackeline.
Contato das empresas
Acquaplant: www.acquaplant.com.br
Allonda Ambiental: www.allonda.com.br
Ecológica Engenharia: www.ecologicaengenharia.com.br
Laboratório Bachema: www.bachema.com.br
Microambiental: www.microambiental.com.br
Samar: www.samar.eco.br
Tecpar: www.tecpar.br