O tratamento de efluentes é a técnica mais eficaz para tornar esse líquido apto para uso, independentemente de qual seja sua aplicação: consumo humano ou reúso. Para garantir a segurança e também a diminuição do consumo desse recurso natural tão importante são realizados os processos de análise de efluentes.
Essa ação serve para verificar quanto o efluente ou a água residual está contaminada e assim realizar o melhor tratamento, ou até mesmo para dimensionar a estação de tratamento adequada. Outro motivo para fazer análise de efluentes é para verificar a eficácia da estação de tratamento, analisando a amostra bruta e em seguida, uma amostra após o tratamento.
Bruno Ansara de Abreu, engenheiro da empresa Controle Analítico explica que conhecendo esses resultados, também é possível saber quanto de impacto estará causando ao meio ambiente. "As análises são realizadas por meio de ensaios nos rejeitos líquidos de empresas e industrias com o objetivo de controlar o descarte, verificar da carga poluidora, eficiência da ETE ou até adequação em alguma classe para água de reúso" – completa.
O lançamento de efluentes industriais nos corpos receptores é um dos principais agentes de contaminação dos recursos naturais e a análise de efluentes industriais oferece dados para manter os padrões e parâmetros definidos por lei. A falta de tratamento de efluentes, além de prejudicar os ecossistemas, pode afetar a saúde da população. Apenas com os resultados essas análises é que se poderá ter uma visão geral de como proceder, e se existe a necessidade de realizar tratamentos específicos antes de lança-los ao meio ambiente.
Essas análises se baseiam em legislações federais, estaduais e/ou municipais, entre elas os Artigos 18 e 19 do Decreto no 8.468 da Companhia Ambiental Do Estado De São Paulo, CETESB e as Resoluções nº 430/2011 e nº 396/2008, do Conselho Nacional Do Meio Ambiente, CONAMA.

As análises são realizadas, de acordo com as normas brasileiras, pelo Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, o método mais utilizado para o exame de água e esgoto. De acordo com Eliane Afonso, analista ambiental da Tera Ambiental, ainda existem outros métodos igualmente reconhecidos, utilizados por diversos laboratórios: EPA ou até mesmo utilização de Kits de fabricantes de equipamentos que são adaptações do Standard, EPA e DIN.
Ela destaca ainda que é importante lembrar que a coleta e análise laboratorial devem ser realizadas por locais acreditados pela ISO 17025 para serem considerados principalmente nos processos documentais dos órgãos ambientais, tais como licenciamentos e Certificados para Movimentação de Resíduos - CADRI.
"Não realizar as análises faz com que o gerador não tenha conhecimento do resíduo gerado, dos contaminantes que ele possui e dos prejuízos que ele pode trazer aos corpos d’água, caso seja descartado de forma incorreta. De forma geral, os riscos abrangem o tripé da sustentabilidade, podendo afetar o meio ambiente, a sociedade ao entorno e a saúde financeira da empresa" – afirma Eliane.
A consciência ambiental está ganhando espaço e destaque no mercado brasileiro devido ao aumento da preocupação com a preservação do meio ambiente e devido a exigências estabelecidas em Normas e Legislações.
Richard Luciano Vailati, engenheiro ambiental da Freitag, explica que com o uso cada vez mais intenso dos recursos naturais, também se intensificam os processos antrópicos de poluição e degradação ambiental, tornado estes recursos escassos ou muitas vezes inapropriados para uso humano.
"Com o foco na preservação dos recursos hídricos, as legislações e cerificações ambientais vem intensificando suas exigências, sendo parte integrante destas exigências as análises de águas e efluentes, que vão determinar a carga de contaminantes que estes são devolvidos na natureza, ou mesmo a qualidade destes recursos ao serem extraídos dela" – destaca Vailati.

Como são realizadas
Para a realização das análises em efluentes, assim como qualquer outro tipo de matriz, uma das partes mais importantes é a amostragem. Abreu explica que uma amostragem bem executada garante que a amostra que chega ao laboratório realmente represente o objeto do ensaio, caso haja qualquer tipo de contaminação ou perda de composto na coleta ou em seu transporte o resultado estará totalmente comprometido.
Mesmo que o laboratório tenha equipamentos de última geração e toda garantia de qualidade interna, é sempre recomendado a contratação de laboratórios especialistas em coletas e análises, de preferência aos acreditados. "É um processo aparentemente muito simples, mas exige um conhecimento técnico apurada" – destaca o representante da Controle Analítico.
Esse processo parte de uma avaliação visual do local e da melhor forma a ser coletada esta amostra, podendo ser em torneiras, tanques, calhas parshal ou outro ponto melhor indicado. Após definido o ponto correto junto ao cliente, dever-se-á iniciar a amostragem, garantindo a homogeneidade da amostra e a preservação correta. Essa preservação varia de acordo com os parâmetros a serem analisados e ao final da coleta os frascos são acondicionados em caixas térmicas contendo gelo e assim são transportadas para o laboratório.
Na amostragem também existem parâmetros a serem realizados in locco, parâmetros esses que são visuais e devem ser avaliados no ponto e outros sofrem influencias externas e não podem aguardar a chegada ao laboratório. Exemplos, óleos e graxas visuais, materiais flutuantes, vazão, transparência, pH, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, potencial redox e temperatura. "Estes parâmetros são realizados de forma visual pelo coletor/técnico ou com a ajuda de equipamentos potenciométricos específicos, onde, quando calibrados e verificados é necessário apenas a inserção nas amostras para obter o seu resultado" – enfatiza Abreu.

Ele destaca ainda quais os principais ensaios de análises realizadas em laboratório, de acordo com a necessidade e o objetivo do projeto:
• DBO (Demanda Biológica de Oxigênio) - O quanto de oxigênio dissolvido é consumido por processos biológicos de degradação da matéria orgânica. A técnica mais utilizada para este ensaio baseia-se em uma medição inicial de oxigênio dissolvido, uma incubação da amostra a 20ºC por 5 dias e uma posterior leitura de oxigênio dissolvido. Diversas variáveis do método podem ser acrescentadas dependendo da condição das amostras. Exemplos: diluições, inclusão de nutrientes e sementes.
• DQO (Demanda Química de Oxigênio) - O quanto de oxigênio dissolvido é consumido por processos químicos de degradação da matéria orgânica.
• Metais - Dependendo de cada legislação a ser atendida ou o objetivo do projeto, os metais a serem ensaiados podem variar. Os métodos para ensaio baseiam-se em uma digestão ácida e posterior leitura. A digestão ácida pode ser realizada em chapas aquecedoras, bloco digestor ou em microondas, já na leitura é utilizado espectros de absorção atômica (AA) ou plasma (ICP).
• Orgânicos Voláteis e/ou Semi-voláteis - Assim como os metais, a legislação a ser atendida ou objetivo do projeto definem quais compostos serão analisados. Posteriormente a um preparo que pode ser extração com solventes ou aquecimento com agitação as amostras se apresentam prontas para a injeção em um cromatógrafo, o qual pode utilizar diversos tipos de detectores, comumente utiliza-se o detector de massas atrelado a um cromatógrafo gasoso (GC-MS).
• Cianeto - Composto altamente letal, nesta análise uma destilação prévia é realizada, posteriormente uma reação colorimétrica é finalizada em um espectrofotômetro.
• Ânions - Análises de diversos compostos tais como Fluoreto, Cloreto, Sulfato, Fosfato, Nitrato, Nitrito e etc. Existem técnicas bastante difundidas para estes compostos como a titulação, colorimetria e cromatografia iônica. As duas primeiras exigem uma reação química gerando uma coloração característica, essa coloração é analisada visualmente através do ponto de viragem (no caso da titulação) ou por um equipamento chamada espectrofotômetro (colorimetria), no caso da técnica por cromatografia iônica, a amostra é injetada em um cromatógrafo onde seus íons são separados e quantificados.

• Óleos e Graxas - Método mais tradicional de determinação é o de extração por solvente, normalmente utilizando hexano, conhecido como método de soxhlet. Após a extração o solvente é evaporado e por gravimetria (diferença entre peso inicial e peso final) obtém-se o resultado.
• Série Nitrogenada - Composta por Nitrogênio Kjeldahl, Nitrogênio Amoniacal, Nitrogênio Nitrato e Nitrogênio Nitrito. A fração kjedahl necessita de uma digestão ácida, seguida de uma destilação o qual é extraído e titulado e tem-se o seu resultado definido, a fração amoniacal são quantificadas por titulação após uma destilação. Já as frações nitrato e nitrito se enquadram nos ânions acima apresentados.
• Série de Sólidos - Composta por Sólidos Totais, Fixos, Voláteis, Dissolvidos, Suspensos, Sedimentáveis e opcionalmente por Sólidos Suspensos Voláteis e Suspensos Fixos. Ensaios gravimétricos (analisados por diferença de peso inicial e final) utiliza técnicas como filtração, evaporação, aquecimento e sedimentação para determinação de seus teores.
• Bacteriológicos - Estes ensaios determinam quais bactérias ou parasitas (e suas variáveis) estão presentes na amostra. Dependendo do objetivo do processo esses ensaios podem ser quantitativos ou qualitativos. Em geral, são encubados em um meio de cultura a temperatura ideal para o crescimento da bactéria ou parasita objetivo do ensaio. Sua determinação pode ser visual a olho nu ou através de microscópio, dependendo do analito.
Elaine destaca também que a análise se torna importante a partir do momento em que o gerador tem conhecimento da possível geração de efluentes em sua atividade. Isso porque ele precisará identificar as destinações finais para cada um dos resíduos gerados. Muitas vezes esta identificação se dá no processo de licenciamento.
"Através da análise é possível identificar características de cada resíduo gerado, apontando a concentração de cada um dos parâmetros, inclusive os contaminantes, tais como metais pesados. Além disso, sabe-se as condições de tratabilidade, indicando as melhores técnicas para tratá-lo" – completa Elaine.
Todas as análises realizadas devem seguir metodologias reconhecidas nacional ou internacionalmente, trazendo com isso uma uniformidade e qualidade nos resultados, Vailati ressalta que é possível afirmar que uma análise feita aqui no Brasil é executada da mesma forma que em qualquer outro lugar do mundo.
Também é importante salientar que os laboratórios que realizam tais análises precisam ser acreditados junto ao INMTERO, para verificar a conformidade de atendimento aos requisitos da norma, mantendo assim um escopo de parâmetros em conformidade, garantindo a qualidade e confiabilidade dos resultados emitidos e enviadas posteriormente as empresas ou órgãos ambientais interessados.

Quando realizar o procedimento e principais preocupações
De acordo com Elaine, a partir do momento em que uma empresa solicita o licenciamento ao órgão ambiental, onde descreve a geração dos resíduos, o próprio processo levará à necessidade das análises porque, por vezes, para que o técnico da CETESB libere o licenciamento, o gerador do resíduo deve indicar as possíveis destinações para os resíduos gerados.
Além disso, o gerador precisa conhecer os contaminantes presentes em seu resíduo, os parâmetros que esse segue, quais estão desenquadrados e quais precisam ser monitorados. Esse conhecimento poderá ajudá-lo a reconhecer possíveis desvios de produção, descarte incorretos realizados internamente, prevenindo assim que seja multado ou que haja perdas produtivas.
Abreu explica que no caso de residências não é necessário o controle, pois o efluente doméstico já tem um "padrão" definido, o qual a concessionária é responsável pelo tratamento e que efetuamos o pagamento em nossas contas, mas, para empresas é imprescindível o controle afim de garantir que as mesmas não estejam poluindo o meio ambiente e também de acordo com as legislações vigentes.
A crescente preocupação com as questões ambientais e os recursos naturais mantém o mercado ambiental com uma demanda em alta. As legislações ambientais cada vez mais restritivas e exigentes também contribuem muito e assim sendo o mercado está constantemente em busca de novas tecnologias.

Nesse contexto incluímos produções mais limpas, equipamentos mais eficientes, processos de remediação e tratamentos mais eficazes entre outros, tornando assim um segmento sempre em evidencia. "Os maiores riscos são relacionados a contaminação ambiental, principalmente das águas (rios, lagos e oceanos, porém, existe a fiscalização de órgãos regulamentadores, que se constatado irregularidades, aplicam multas altíssimas" – afirma Abreu.
A representante da Tera explica ainda que análises devem ser realizadas para que o gerador do efluente tenha pleno conhecimento dos contaminantes presentes no resíduo gerado. A partir desse conhecimento, ele poderá optar pelo melhor método de tratamento, evitando assim futuras multas, sanções e até a paralisação dos serviços. Os riscos estão atrelados ao descarte incorreto, às possíveis perdas produtivas e, consequentemente, as possíveis multas e sanções emitidas pelo órgão ambiental.
O número de laboratórios vem crescendo, isso porque as empresas estão mais conscientes no sentido de buscarem o monitoramento dos efluentes gerados, assim como em busca de certificações do processo industrial, que requer o pleno conhecimento dos resíduos gerados e das respectivas destinações. "A Tera, além de prestar serviços de tratamento de efluentes também oferece consultoria para empresas que precisam realizar análises de monitoramento dos efluentes através de laboratórios acreditados pelo ISO/IEC 17025"– completa Elaine.
Existe o risco de descartar o efluente com características que venham a prejudicar o meio ambiente local. De acordo com Vailati essa ação pode causar a mortandade de peixes e outros organismos aquáticos e até mesmo impedindo a utilização daquele corpo hídrico para tratamento e posterior distribuição para consumo humano, sendo que os responsáveis ainda podem responder por crime ambiental, se assim ficar evidenciado após análises no corpo receptor (rio, lago ou estuário) ou nos animais e organismos coletados, e estes apresentarem indícios de contaminação que evidenciem o crime.

Contato das empresas
Controle Analítico: www.controleanalitico.com.br
Freitag: www.freitag.com.br
Tera Ambiental: www.teraambiental.com.br