Tratamento De Efluentes Em Frigoríficos
Por Carla Legner
Edição Nº 51 - outubro/novembro de 2019 - Ano 9
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), o Brasil é um dos maiores produtores de carnes. Dados de 2019, apontam que o faturamento da indústria alimentícia brasileira em 2018 foi de R$ 656 bilhões, sendo R$ 145,3 bilhões oriun
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), o Brasil é um dos maiores produtores de carnes. Dados de 2019, apontam que o faturamento da indústria alimentícia brasileira em 2018 foi de R$ 656 bilhões, sendo R$ 145,3 bilhões oriundos da indústria de produtos alimentares derivados de carne.
Devido ao elevado consumo de água nos seus processos, a indústria alimentícia de frigoríficos é responsável por uma grande geração de efluentes com alta carga orgânica, provocado graves impactos ambientais. Devido a sua composição, esses efluentes podem ser classificados como agentes de poluição das águas e grande ameaça à saúde pública.
Produtos derivados desse processo como esterco, gorduras, vísceras, fragmentos de carne e sangue, levam o efluente a elevados níveis de matéria orgânica, altos valores de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio), que são parâmetros utilizados para quantificar a carga poluidora orgânica nos efluentes, sendo o sangue o principal contribuinte da carga orgânica.
Também são encontrados altos valores para os sólidos em suspensão, graxas e materiais flotáveis. A presença de operações de limpeza e sanitização, que são atividades que geram alto volume de efluente, acrescentam substâncias derivadas de detergentes e sanitizantes na sua composição. Além disso, existe a presença de microrganismos patogênicos, como as bactérias Salmonella e Shiguella, ovos de parasita e cistos de ameba, e os resíduos de pesticidas, provenientes do tratamento e alimentação dos animais.
A maioria dos resíduos presentes apresenta como principal característica ser altamente putrescível, causadores de odores, que podem se disseminar pela vizinhança ou repercutir na própria indústria, causando além dos problemas ambientais, problemas sociais. Se não removidos dos efluentes, há risco de disseminação de doenças e infecções.
De acordo com Rafael Kupper, representante da Pacha Ambiental, se não tratado, certo volume de efluente frigorífico pode tornar as águas receptoras impróprias à vida aquática e a qualquer tipo de abastecimento, agrícola, comercial, industrial ou recreativo, devido a desoxigenação ocasionada no corpo d’água, propiciada pelos altos níveis de matéria orgânica.
De forma resumida, os efluentes gerados em frigoríficos podem ser segregados em duas principais linhas, com características específicas. A primeira é a Linha Vermelha com efluentes originados no processo industrial com conteúdo proteico e gorduroso (vísceras, ossos e sangue) representando cerca de 80 a 85% da vazão total da fábrica. A Linha Verde, por sua vez, são de efluentes dos estabelecimentos hidrossanitários, lavanderia, refeitório, purga de caldeiras, compressores e torres evaporativas que possuem baixo valor nutritivo e alto grau de contaminação biológica.
O tratamento
O tratamento dos efluentes das indústrias frigoríficas é importante para a preservação da saúde, segurança e bem-estar da população, preservando e controlando doenças, além de proporcionar boas condições entre as relações sociais e econômicas e as condições estéticas e sanitárias do ambiente, protegendo a qualidade dos recursos naturais.
Kupper explica que a importância do tratamento também está ligada a escassez de água potável, que se apresenta como um recurso limitado. Dessa forma, o tratamento também se torna uma medida de preservação do recurso, uma vez que o efluente tratado possui condições adequadas para ser reutilizado, diminuindo assim, impactos socioambientais.
Para a indústria, que em muitas atividades não necessita de água potável, há a alternativa de reciclagem do efluente tratado. Se a indústria reutiliza a água vai captar menos, pois já possui parte para o consumo produtivo, colaborando para a manutenção das reservas naturais, gerando redução na captação. Outro fator positivo dessa reciclagem é aumento da parcela do recurso para o consumo humano. Com uma parte menor destinada à indústria, cresce a porcentagem que é reservada para o uso doméstico.
Os processos de tratamento que costumam ser mais utilizados em tratamento de efluentes frigoríficos são: Processos Anaeróbios, Sistema de Lagoas Aeróbias, Lodos Ativados e Filtros Biológicos de Alta Taxa. "A maioria dos processos podem ser divididos em etapas, divididas nos seguintes níveis: tratamento preliminar, tratamento primário, tratamento secundário e tratamento terciário ou polimento, sendo aplicado processos de tratamento químicos, físicos e/ou biológicos" – destaca Kupper.
Processos anaeróbios: O tratamento por via anaeróbia é facilitado pelo caráter de biodegradabilidade do efluente. A digestão anaeróbica ocorre por meio de processos biológicos realizados por microrganismos, onde há ausência de oxigênio. No processo, compostos orgânicos complexos, como lipídios, carboidratos e proteínas, são transformados em compostos mais simples, como gás carbônico e metano.
São criadas condições favoráveis para que ocorra o processo de digestão, ajustando condições operacionais que influenciam na eficiência do sistema, como o pH, temperatura e nutrientes. Uma das principais vantagens do sistema é a grande quantidade de matéria orgânica que pode ser removida sem que ocorra consumo de energia, em comparação com sistemas aeróbios, onde são usados aeradores.
Além disso, há baixa produção de sólidos, tolerância a elevadas cargas orgânicas, baixo consumo de nutrientes e a produção de metano, que é um gás combustível de elevado poder calorífico. Como desvantagens, em muitos dos casos é necessário a adição de pós tratamento para que o efluente atenda aos padrões estabelecidos pela legislação brasileira.
Sistema de lagoas aeróbias: Em condições naturais, a decomposição aeróbia necessita três vezes menos tempo que a anaeróbia e dela resultam gás carbônico, água, nitratos e sulfatos, podendo ser úteis a vida vegetal.
Nas lagoas aeróbias, são utilizados aeradores para garantia de oxigênio no meio também para manter os sólidos em suspensão. O efluente descartado da lagoa normalmente ainda possui grande quantidade de sólidos, por isso, na maioria das vezes se faz necessário a utilização de um tratamento complementar, normalmente uma lagoa de decantação.
As vantagens são a boa resistência a variações de cargas, boa eficiência na remoção de matéria orgânica e chances menores de ocorrência de odores, se comparado com o tratamento anaeróbio.
Lodos ativados: É um dos tratamentos mais utilizados em frigoríficos, por sua alta eficiência. Nesse processo, ocorre a ação de agentes biológicos como bactérias, protozoários e algas. Essa degradação pode ocorrer por meio do tratamento biológico aeróbio e/ou anaeróbio.
Durante o tratamento, o efluente precisa ser submetido a temperaturas específicas, apresentar pH e oxigênio dissolvido (OD) controlado, além de obedecer a relação da massa de efluentes com os nutrientes de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que variam de acordo com a biota de cada estação.
As bactérias responsáveis por este processo de eliminação da matéria orgânica são, em sua maioria, heterótrofas aeróbias e/ou facultativas. O sistema de lodos ativados é muito utilizado em situações em que há necessidade de elevada qualidade do efluente e reduzidos requisitos de área. Por outro lado, o sistema de lodos ativados necessita de um maior índice de mecanização que os demais processos, implicando em maior dificuldade de operação e maior consumo de energia elétrica.
Filtros biológicos de alta taxa: Os filtros biológicos possuem um leito onde o efluente é depositado, ocorrendo sua percolação até uma camada de bactérias e posteriormente se direcionando ao dreno de fundo. Parte da matéria orgânica fica retida na camada de bactérias, onde é realizada a sua digestão. Kupper explica que os filtros geralmente são classificados em função da carga hidráulica e da carga orgânica a que são submetidos.
Nos filtros de alta taxa, são aplicadas taxas muito superiores, até 10 vezes a mais das cargas aplicadas nos filtros de baixa taxa, resultando em menor requisito de área superficial. Nesta modalidade de tratamento, não se obtém nitrificação e estabilização do lodo.
Os filtros de alta taxa são capazes de suportar a aplicação de elevadas cargas e ainda assim propiciar eficiências de remoção similares às dos filtros de baixa taxa, sendo assim, uma das opções de tratamento para efluentes frigoríficos.
O tratamento preliminar pode ser realizado por meio de gradeamento, peneiramento, caixa de areia e caixa de gordura. Em frigoríficos, o sistema de gradeamento e caixa de areia é utilizado para os efluentes que apresentam excrementos, areia e penas, por exemplo. O peneiramento é muito utilizado para segregação de penas, vísceras, ossos e demais sólidos.
Na sequência, os sistemas mais utilizados para tratamento primário são os de decantação e flotação, que se baseiam no processo de coagulação/floculação, por ser eficiente e de baixo custo. O principal objetivo nesta etapa é remover os sólidos suspensos do efluente, incluindo os sólidos flutuantes e sedimentáveis.
Após o procedimento do tratamento primário, o efluente frigorífico é encaminhado ao tratamento secundário, sendo possível verificar prevalência na utilização do tratamento biológico. Esse momento costuma ter seu início por meio de uma etapa anaeróbia, seguida por uma etapa aeróbia. No tratamento terciário, são utilizados métodos como filtro, membranas, carvão ativado, ozônio, entre outros para a remoção de poluentes específicos não removíveis pelos métodos biológicos convencionais.
Contato da empresa
Pacha Ambiental: www.pachaambiental.com.br