Year In Infrastructure 2019 Expôs Avanços Das Tecnologias Bentley
Por Stephanie Manchado
Edição Nº 52 - dezembro de 2019/janeiro de 2020 - Ano 9
A Conferência Year in Infrastructure de 2019, realizada pela Bentley Systems, ocorreu entre os dias 21 e 24 de outubro em Singapura. O evento reúne os principais executivos do setor de projetos, construção e infraestrutura mundiais. Com o propósito de div
Conferência Year in Infrastructure de 2019, realizada pela Bentley Systems, ocorreu entre os dias 21 e 24 de outubro em Singapura. O evento reúne os principais executivos do setor de projetos, construção e infraestrutura mundiais. Com o propósito de divulgar e discutir novas formas de utilizar a tecnologia da Bentley nas operações de infraestrutura, a Year in Infrastructure 2019 conta com palestras, em que é possível ter insights sobre avanços tecnológicos e como os softwares e diferentes dispositivos estão contribuindo para mudanças mundiais no setor.
Este ano, o tema da conferência foi "Promover o BIM por meio de Digital Twins". O BIM, Building Information Modeling é uma metodologia, suportada por soluções da Bentley, que está sendo amplamente aplicada no setor de infraestrutura.
A Bentley Systems é líder global em soluções de softwares para engenheiros, arquitetos e construtores. Os aplicativos BIM de engenharia e seus serviços de nuvem dupla digital proporcionam o desenvolvimento de projetos eficientes para obras públicas, utilidades, instalações industriais e comerciais.
No dia 23 de outubro, o palco principal da conferência recebeu a apresentação de Greg Bentley, CEO da Bentley Systems, que descreveu a visão estratégica da empresa. Em seu discurso corporativo, ele comentou algumas maneiras de tornar Digital Twins de engenharia de infraestrutura em benefício comercial e destacou projetos indicados ao Year Infrastructure Awards 2019 (YII Awards).
Tecnologias Bentley
Em entrevista à Revista TAE, Greg Herrin, diretor sênior e vice-presidente de infraestrutura da Bentley Systems, comentou sobre as principais inovações da empresa para o setor neste ano e as tendências para os próximos anos.
"No ano passado, nossa preocupação foi com a área de prevenção. Hoje nós temos novos produtos, chamados Open Flow Water e Open Flow Sewerage, que têm como objetivo permitir que o operador consiga acompanhar em tempo real os sistemas de água e esgoto e, desta forma, prever potenciais problemas e tomar as decisões necessárias" – explica Herrin.
Estas tecnologias da Bentley permitem "seguir" a água a partir da chuva, dos sistemas de água até o processo de tratamento. Apesar de não fazerem o tratamento em si, como o uso de químicos, a empresa possui softwares para design e construção das plantas.
O acompanhamento do ciclo de vida da água não inclui apenas as redes da água. É possível analisar também a costa e as praias em relação à qualidade da água após uma tempestade, por exemplo. Dessa maneira, pode-se, inclusive, analisar a necessidade de fechar ou não as praias por causa de contaminações, pois o software permite fazer uma previsão de condições.
Já em relação a enchentes, Herrin explica que a escala de análise ultrapassa as fronteiras de uma cidade. As ferramentas disponíveis através do sistema Open Flow Flood, da Bentley, têm a capacidade de cobrir uma área maior de análise, o que ajuda as cidades a se gerenciar de acordo com a necessidade, mas também contribui para que autoridades da área sanitária, por exemplo, ou governos em maiores escalas possam observar quais são os possíveis impactos.
Quando questionado sobre o 4D (quatro dimensões) aplicado no software, o diretor sênior explica que o "tempo" é um fator importante para a análise, mas que eles tendem a olhar o tempo em diferentes escalas, conforme o caso a ser observado.
"Para o gerenciamento de água, águas residuais e água da chuva, quando olhamos para o tempo, nós estamos olhando, em termos de propostas de planejamento em que o tempo é futuro, daqui cerca de 10 ou 20 anos, nós podemos pensar em planejamento orçamentário e linhas de tempo de design. Por exemplo, podemos pensar o que iremos construir no próximo ano, como isso vai mudar minhas redes de operação? Ou se um incêndio começar, quanta água eu consigo e por quanto tempo para lutar contra o fogo? Então, dependendo do contexto a quarta dimensão do tempo ainda é muito importante" – complementa Herrin.
Pensando no crescimento das cidades, o software da Bentley também é muito importante. Possíveis previsões para as cidades podem ser feitas a partir de um olhar mais profundo. Pode-se pensar em diferentes situações para o futuro, como "e se eu tiver 100 mil pessoas a mais em uma cidade, mais 100 mil na outra. Como minha infraestrutura existente será capaz de suportar essa demanda? Eu terei água e tratamento de esgoto suficientes para essa população?" – exemplifica o diretor sênior. As ferramentas da Bentley ajudam a analisar estas possibilidades e entender quais são as possíveis soluções.
Herrin também aproveitou a entrevista para contar um pouco sobre sua visão do Brasil. O diretor sênior afirma que sabe das dificuldades no ambiente econômico e político do país, o que faz com que as coisas não ocorram como o esperado, mas explica que espera que o Brasil tenha forças para continuar investindo neste setor, que é tão importante para a sociedade, como acesso a água limpa e serviços de saneamento.
Uma nova forma de fazer projetos
Os prêmios YII Awards são destinados aos projetos inovadores de engenharia, construção, operações e desenvolvimento, voltados para infraestrutura. Pessoas de todo o mundo podem ser concorrentes na cerimônia da Bentley. Desde 2004, os YII Awards já reconheceram mais de 3.400 projetos.
Em 2019, houve um recorde de inscritos para concorrer ao Prêmio. Foram selecionados 54 finalistas, dentre as 571 indicações enviadas por mais de 440 empresas, em mais de 60 países.
Um dos projetos finalistas do prêmio é do brasileiro Gustavo Vasconcelos, da FG
Consultoria. A inovação desenvolvida por Vasconcelos é um projeto estrutural totalmente digital para arquitetos e construtores.
A tecnologia Bentley permitiu o desenvolvimento de um aplicativo que possibilita a integração do projeto arquitetônico e estrutural em uma plataforma digital, de modo que as pessoas possam ver o projeto em três dimensões.
"A grande vantagem é que você consegue fazer sua obra virtual antes de executá-la de fato. Você consegue visualizar todas as interferências possíveis com arquitetônicos, instalações e tudo o que quiser ver antes de executar a obra" – explica Vasconcelos. Atualmente, sem esta tecnologia, o processo convencional para um engenheiro calculista analisar a obra e sua execução é transformar o projeto arquitetônico realizado pelo arquiteto, mesmo que esteja em três dimensões, em duas pranchas de duas dimensões. Após este processo, o engenheiro irá adicionar a parte estrutural nas pranchas e enviar para o arquiteto.
Com a tecnologia desenvolvida pela FG
Consultoria, o engenheiro calculista pode modelar o estrutural diretamente no projeto arquitetônico do cliente. Desta maneira, o processo de planejamento se torna mais eficiente e evita possíveis erros. A tecnologia permite que o arquiteto, engenheiro ou cliente possa visualizar tudo ao mesmo tempo.
Além disso, Vasconcelos também afirma que as ferramentas da Bentley possibilitaram um avanço ainda maior na tecnologia. "Conseguimos colocar inclusive a armação em três dimensões. Então, quando o engenheiro recebe o projeto, ele visualiza tudo de uma forma muito mais natural. Também é possível ver se tem algum pilar interferindo, por exemplo" – acrescenta.
Engenheiro civil formado pela UFMG e com MBA nos Estados Unidos, Vasconcelos trabalhou durante muitos anos na área automobilística, de onde surgiu sua ideia de utilizar o 3D para infraestrutura. "Uma coisa que sempre me chamou atenção na indústria automobilística é que tudo é em três dimensões. Você não faz uma peça de carro em duas dimensões para encaixar em um carro pronto. Tudo é feito em 3D" – completa o engenheiro.
Com esta ideia, Vasconcelos resolveu investir na área de infraestrutura pensando a partir do 3D. A primeira ferramenta que utilizou era de arquitetura, o Archicad, onde ele calculava e modelava tudo em três dimensões, adicionando pilares e vigas ao projeto.
Depois de realizar alguns modelos, Vasconcelos teve a oportunidade de trabalhar com um arquiteto famoso de Belo Horizonte, cidade onde estava morando. O arquiteto era Gustavo
Penna, que já trabalhava com 3D. Juntos, realizaram um projeto relativamente pequeno, mas com grandes ganhos, pois foi possível entender melhor a aplicação da plataforma digital para infraestrutura, como pontes, aeroportos, sistemas de água e outros. O projeto arquitetônico de Penna era arrojado e Vasconcelos conseguiu colocá-lo em forma digital. É neste processo que entra a linha de produtos da Bentley, que desenvolveu um plug-in para utilizar nos softwares. Concretizar projetos arrojados como o realizado com Penna, segundo Vasconcelos, não seria possível sem a ferramenta de três dimensões.
A plataforma digital utilizada pelo engenheiro segue o propósito de ser como uma espécie de realidade virtual. É possível visualizar se algum pilar está interferindo na construção, por exemplo, tornando mais simples perceber o que pode estar errado e deslocar algum elemento para corrigir.
O engenheiro faz os ajustes e envia para o arquiteto que, após análise, volta a enviar as informações para o engenheiro, que irá calcular o projeto novamente. A vantagem de o projeto já estar em três dimensões é que o processo de cálculo é mais rápido do que quando realizado com metodologias convencionais.
Além disso, o software também permite que o engenheiro calculista faça simulações. "Por exemplo, apesar de não termos que considerar sismos no Brasil, pois a norma não exige, eu fiz simulações com o vento duas vezes maior do que a norma considera. Assim, é possível ver onde está mexendo mais que o esperado e o que deve ser melhorado" – exemplifica Vasconcelos. O engenheiro ainda afirma que tudo isso só é viável com os aplicativos da Bentley.
Outro ponto interessante em relação à plataforma desenvolvida é que o prazo de execução de uma obra acaba sendo reduzido. Ao facilitar a etapa inicial do projeto, onde arquiteto e engenheiro pensam e calculam todos os aspectos da construção, o tempo que a obra leva para ser construída é menor. Segundo Vasconcelos, pode haver uma perda de 60% do prazo estimado. No caso da obra realizada em Belo Horizonte com Penna, "o padrão ia levar 60 dias, mas, neste projeto, levou 25 dias" – comenta Vasconcelos. Em uma escala maior, um grande projeto ganha muito com a redução do prazo, pois disponibiliza mais tempo para apresentar diferentes opções de laje, por exemplo.
Devido às características eficientes da plataforma, o modelo é chamado de "free errors" (em português, livre de erros). O projeto disponível para visualização no digital é exatamente o que vai ser executado. É uma construção em pequena escala, com o arquitetônico e o estrutural integrados.
Para ter acesso à versão 3D digital em que é possível ver a armação de forma separada do restante do projeto, é possível colocar um QR Code na folha do projeto. Segundo Vasconcelos, esta tecnologia fornece uma nova maneira de fazer projetos. Com o desenvolvimento dessa inovação, pode-se integrar 100% do projeto estrutural na plataforma de tecnologia BIM.
Duas grandes construtoras brasileiras hoje são a MRV e a Direcional. Ambas estão em Belo Horizonte e trabalham com o programa Minha Casa, Minha Vida. Segundo Vasconcelos, estas empresas também estão partindo para o BIM, pois sabem que é um caminho sem volta.
Vasconcelos explica que está tentando desenvolver ainda esta tecnologia para investir no Brasil "O que eu estou fazendo hoje na edificação também pode ser aplicado em áreas de maior impacto para o nosso país, como a infraestrutura. Por que não podemos reproduzir esse pequeno projeto em um sistema de tratamento de água no Brasil?" – reflete o engenheiro.
"O bem mais valioso na Terra é a água.
O potencial de água potável no mundo é muito baixo. Nosso país é uma bênção em relação a isso, mas nós temos que saber aproveitar, aprimorando o tratamento de água e esgoto" – acrescenta Vasconcelos.
Energia Eólica otimizada por BIM
Um projeto de otimização para energia eólica está em processo na China. O Shanghai
Investigation Design and Research Institute desenvolveu tecnologias para tornar possível a construção de centrais de energia no offshore (ao longo da costa chinesa). Esta ideia surge a partir da limitação de espaço continental para construir novas usinas, devido à falta de terrenos espaçosos onde o vento pudesse circular e gerar muita energia. Portanto, o Instituto de Shanghai está desenvolvendo tecnologias para criar centrais de energia no alto mar.
A tecnologia da Bentley está sendo fundamental para o gerenciamento das centrais de energia. Softwares desenvolvidos pela empresa foram empregados em uma plataforma de gerenciamento digital. Esta plataforma é baseada no ProjectWise e utiliza-se de tipos específicos de softwares da Bentley para cada parte do projeto de gerenciamento da central elétrica. Esta tecnologia facilita os cálculos e as análises necessárias para o bom funcionamento do projeto.
Com um investimento de cerca de 6,5 bilhões de dólares, o objetivo é implantar diversas centrais de energia ao longo da costa e captar 714 milhões de quilowatts/hora por ano. Esta energia será transferida para uma central elétrica nacional que, por sua vez, distribuirá para diversas cidades.
Além de questões econômicas, o desenvolvimento deste projeto também levou em consideração questões ambientais. A energia eólica é considerada limpa para o meio ambiente. Segundo Jin Fei, engenheiro estrutural do projeto de energia eólica em offshore, uma das principais razões do Instituto querer construir estas usinas no offshore deve-se ao fato delas reduzirem a poluição e as consequências do aquecimento global. Este projeto é muito desafiador e os softwares da Bentley estão sendo fundamentais para o desenvolvimento.
Tendências para os próximos anos
Uma das tendências indicadas por Herrin é a aplicação de serviços de consumidor para os Digital Twins. Isso irá acelerar os projetos de infraestrutura. A ideia é trazer para este setor o que já ocorre com os painéis de energia solar, por exemplo. "Eles recebem requisições a todo tempo de pessoas que querem saber se podem utilizar junto à rede de energia.
Os funcionários dos serviços ao consumidor são aptos para responder a estas solicitações e, quando há algum problema, a requisição é passada para o departamento de engenharia. Assim, não é necessário que todos os atendimentos sejam realizados por engenheiros, o que torna a aprovação do projeto mais veloz. É isso que imaginamos para os próximos anos no nosso setor" – afirma o diretor sênior.
Além disso, a Bentley está sempre buscando inovações e soluções para os clientes. Segundo Herrin, a empresa pensa em quem está com um problema e como podem resolvê-lo de forma tecnológica. As histórias de clientes que utilizaram ferramentas Bentley e melhoraram o processo são inspiradoras.
"O sucesso é quando as pessoas usam o nosso software e resolvem seus problemas. Por isso eu adoro eventos como o Year in Infrastructure (YII), porque nós podemos ver todos os projetos que estão fazendo coisas incríveis com a tecnologia Bentley. Eu volto energizado do evento e tento passar essa energia para o restante da equipe" – conta Herrin.
No ano de 2020, a conferência YII irá ter lugar em Vancouver, Canadá, entre os dias 12 e 15 de outubro. Podem ser esperadas novidades para o setor e projetos incríveis com a utilização de ferramentas e softwares da Bentley no próximo ano.
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