Santos: 100 Anos De Saneamento Aliando Obras Históricas E Tecnologia
Por João Moura
Edição Nº 7 - junho/julho de 2012 - Ano 2
Com 99% de coleta e 100% de tratamento, cidade lidera ranking nacional do Instituto Trata Brasil
Em paz com o passado. Essa frase demonstra como a cidade de Santos deixou para trás um situação difícil, na qual o porto da cidade – de importância vital para a balança comercial do país – chegou a ser apelidado de "porto maldito", em função das doenças associadas ao cais que dizimaram cerca da metade da população local, ocasionando a morte de 22 mil dos 45 mil moradores no auge da exportação de café.
Em 25 de abril, Santos comemorou 100 anos de uma mudança histórica comandada pelo engenheiro Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, iniciada em 1905 quando encampou a Repartição de Saneamento, sendo responsável por projetar e implantar o sistema de drenagem de águas de chuva, do lençol freático e também de esgotamento sanitário. Entre as intervenções nas quais trabalhou, estão instalações internas para recolhimento do esgoto domiciliar, inexistentes em muitos imóveis na época.
O marco que definiu o início do saneamento na cidade foi a inauguração a partir de 25 de abril de 1912, de três estações elevatórias históricas (Tomé de Souza, Porto e Conselheiro Nébias), a Usina Terminal - ao lado do orquidário, que funcionou por 98 anos - e um Prédio de Prevenção, local para manutenção de equipamentos e onde também ficavam os escritórios.
"Devemos muito do que temos aqui em Santos hoje ao projeto do Saturnino de Brito, que permitiu a ocupação da cidade drenando as águas do solo e destinando de forma correta o esgoto domiciliar, auxiliado pelo médico Guilherme Álvaro nas questões de higiene. Esses dois pontos foram fundamentais para a ocupação da cidade no início do século passado", explica o engenheiro sanitarista e superintendente da Sabesp, João Cesar Queiroz Prado.
A estação criada por Saturnino de Brito, localizada no Bairro do José Menino, funcionou normalmente até o início de 2010, quando entrou em operação uma nova estação dentro do Programa Onda Limpa, que dobrou a sua capacidade. "Foi um projeto que atendeu plenamente as necessidades do município. No entanto, com as perspectivas de crescimento da região, era necessário a construção de uma nova unidade, com capacidade maior para atender plenamente a cidade", diz Queiroz Prado.
Mentalidade visionária no Guiness
A visão de futuro de Saturnino de Brito também merece destaque, na análise de Queiroz Prado: "Para projetar a rede de esgoto, ele pensou no futuro desenvolvimento da cidade. Para isso, já criou uma cidade com avenidas grandes, que permitiam circulação de ar, arborizadas e com canteiros centrais. Um detalhe é que em uma planta de 1910, ele já colocava os jardins da orla, que foram feitos muito tempo depois", ressalta.
Além de criar a solução para o esgoto, o engenheiro projetou os canais santistas para separá-lo da água de chuva, modelo chamado "separador absoluto" e que foi adotado em todo o Brasil posteriormente. Com essa infraestrutura, Santos cresceu para além do porto, passando a ocupar a orla. O jardim na praia idealizado por Saturnino em 1910 e construído décadas depois, é hoje considerado o maior do mundo pelo Guinness Livro dos Recordes, com mais de 5 km de extensão.
Para comemorar o centenário do saneamento em Santos, foram investidos pela Sabesp R$ 4,3 milhões na restauração das estações elevatórias Tomé de Souza, Porto e Conselheiro Nébias, da Usina Terminal e do Prédio de Prevenção.
A Estação Elevatória Tomé de Souza, em São Vicente, foi cedida para a Prefeitura para a implantação de uma gibiteca pública. Trata-se da Gibiteca Mauricio de Sousa, um espaço cultural e histórico que permite a abertura constante da unidade e o conhecimento da história do saneamento. As outras duas estações elevatórias recuperadas não terão visitação interna. Uma delas segue trabalhando, cem anos depois, só com a troca das máquinas, mostrando que o planejamento feito há um século foi altamente eficiente.
O sistema de esgotamento sanitário também conta com a Ponte Pênsil, em São Vicente, que tinha como objetivo inicial a passagem dos esgotos da Ilha de São Vicente para a Ponta de Itaipu, em Praia Grande, onde os efluentes eram lançados em alto-mar. Da unidade no José Menino até o local de lançamento, eram percorridos cerca de 12 quilômetros por tubulações e canaletas.
A história da implantação do saneamento na cidade está registrada no acervo mantido pela Sabesp no Palácio Saturnino de Brito, em Santos, aberto à visitação pública como parte das comemorações do centenário. A visita é gratuita e monitorada por guias bilíngues, de terça a domingo, das 11 às 17 horas.
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Celebração
O evento que marcou o centenário e a entrega dos prédios revitalizados pela Sabesp teve a presença da diretora-presidente da Sabesp, Dilma Pena; do diretor de Sistemas Regionais da companhia, Luiz Paulo de Almeida Neto; dos superintendentes João Cesar Queiroz Prado, da Baixada Santista, e José Luiz Lorenzi, do Programa de Recuperação Ambiental da Baixada; e do secretário de Serviços Públicos de Santos, Carlos Alberto Russo.
Na solenidade, Dilma fez questão de destacar o pioneirismo do projeto de Saturnino. "Ele deixou como herança não apenas uma solução para o momento que a cidade vivia, garantindo o desenvolvimento de Santos e de todo o país, mas também um olhar no futuro", disse. "Essa é a missão da Sabesp: investir agora para garantir um futuro melhor para a população."
A presidente da Sabesp também ressaltou os investimentos realizados pela companhia em toda a Baixada Santista nos últimos 20 anos para garantir água potável e tratamento de esgoto aos moradores e turistas, onde os moradores têm importância estratégica no processo. "É preciso fazer investimentos e incentivar a participação da população para garantir mais qualidade de vida e praias limpas. Cada morador precisa armazenar o lixo corretamente e recolher as fezes de seus animais, para que não cheguem às praias."
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Abastecimento automatizado
Antigamente, o abastecimento de água em Santos era realizado através das nascentes nas encostas dos morros, como as fontes do Itororó e São Bento. A situação começou a mudar em 1846 e foi marcada pela presença de Dom Pedro II, que inaugurou o chafariz no Largo da Coroação para abastecimento público.
Muita coisa mudou e hoje a cidade possui um moderno sistema automatizado, que monitora em tempo real todo o sistema de abastecimento de água da Baixada Santista, desde a captação, tratamento, reservação até a distribuição.
Segundo a política de melhoria contínua, a Sabesp continua investindo no aprimoramento do sistema, tendo destinado recentemente verbas para a automação de mais três reservatórios - Marapé, do Colégio (no Morro José Menino) e da Vila Progresso, criando pontos de monitoramento de nível, vazão e pressão do equipamento.
As melhorias envolvem a construção de um painel com sistemas elétrico, de rádio e telecomunicação, que transmitem os dados codificados para o Centro de Controle Operacional (CCO).
"A medida torna o local um ponto de observação para os controladores, o que possibilita monitorar o sistema da região e executar manobras a longa distância", explica o gerente do Departamento de Produção de Água e Tratamento de Esgoto da Baixada Santista, engenheiro Wilson Bassotti Filho.
O CCO da Unidade de Negócio da Sabesp na Baixada Santista está localizado no Palácio Saturnino de Brito, no Centro de Santos, onde controladores trabalham em turnos, monitorando o sistema 24 horas por dia. De lá é possível ter um panorama completo da região, navegando por meio de telas, que representam cada sistema automatizado.
Na continuidade do processo de modernização, a Sabesp está aplicando cerca de
R$ 400 mil na substituição de equipamentos e programas de informática responsáveis pelo controle e monitoramento dos sistemas de saneamento da região, além da reconfiguração e otimização das telas para agilizar a navegação dos operadores do centro de controle, o que ampliará a velocidade do sistema e proporcionará um retorno mais rápido das informações.