Da Conscientização À Prática: Pequenos Progressos, Grandes Desafios
Por Me. Tárcia Rita Davoglio
Edição Nº 2 - agosto/setembro de 2011 - Ano 1
Estamos avançando na direção das questões ambientais. Talvez menos do que o necessário, mas mais do que fizemos no passado.
Estamos avançando na direção das questões ambientais. Talvez menos do que o necessário, mas mais do que fizemos no passado. Prova disto é que em uma busca por produção de trabalhos científicos sobre a temática já se pode encontrar materiais interessantes. Entre eles, dois voltados à conservação da água e produzidos nas ciências humanas merecem ser citados. Embora sejam estudos incipientes e pontuais, com amostras reduzidas, indicam um caminho que já não parece tão desconhecido e inacessível a estratégias metodológicas que produzam informações confiáveis e fomentadoras de debates.
Com o objetivo de conhecer as representações sociais das pessoas a respeito da água e suas variações, um estudo (Polli et al.,2009) entrevistou 104 moradores de Santa Catarina, com idade entre 21 e 70 anos. Mais de 70% eram homens e a maioria tinha educação superior completa. O método era simples: as pessoas foram convidadas a associar a palavra água livremente, dando significados léxicos ao que lhes fazia pensar ou sentir. Após, análises estatísticas foram realizadas com os dados e seis palavras traduziram o significado central da água para os participantes: preservação, saúde, sobrevivência, vida, natureza e sustentabilidade.
Outro estudo (Kuhnen & Becker, 2010) entrevistou 295 moradores de cinco cidades do estado de Santa Catarina e de três cidades de São Paulo, que responderam a um questionário, com o objetivo de compreender como os usuários dos recursos hídricos, provenientes de serviços de abastecimento, representavam a água que consomem. Da amostra, 25,5% tinham até 25 anos; 35,6% entre 26 e 45 anos; 36,9% mais de 45 anos. O que chama a atenção nos resultados é o peso da idade nas diferentes respostas. Ao se questionar sobre a responsabilidade pela falta de água, 54% a atribuiu às pessoas e 39% considerou a empresa de abastecimento ou o Governo como responsável. Para esta questão 70,4 % dos jovens (até 25 anos) indicaram as pessoas como responsáveis, mas quase metade da amostra dos entrevistados com mais de 45 anos (49,1%) responsabiliza as empresas de abastecimento ou o governo. Com relação a responsabilidade pela contaminação da água, 71% do total indicou as pessoas como responsáveis e 34% a empresa de abastecimento ou o governo, sendo que o maior percentual dessa constatação foi entre os jovens de até 25 anos (84%).
Há outros dados interessantes nesses estudos para quem quiser conferir, mas o que é mais relevante é que a percepção das pessoas mais jovens demonstra uma consciência ambiental muito maior e mais realista sobre os recursos hídricos. O que serve para evidenciar que a educação muda as concepções sim. As gerações mais novas vêm aprendendo desde cedo na escola as consequências do desmatamento, da poluição ambiental, da responsabilidade individual nesse processo que pode resultar em uma herança ecológica nada abundante. Os mais velhos que tiveram muitas e maiores oportunidades de conviver com a fartura de recursos naturais, parecem demorar mais para perceber o impacto de suas ações e omissões nas perdas que se acumulam ao longo dos anos.
Do mesmo modo que as crianças nas últimas décadas, a partir da conscientização que lhes foi sendo proposta, foram educando os pais quanto ao uso de cinto de segurança, da importância da travessia na faixa de pedestres (que o diga quem tem filhos!), é comum vê-las preocupadas e chamando a atenção quando um adulto joga lixo pela janela do carro (o que por sinal, é uma infração de trânsito sujeita a multa, senhores pais!) ou não faz a seleção para a coleta seletiva. Nós, adultos maduros, costumamos sorrir amarelo, ora envergonhados ora afrontados com a censura dos mais novos. Mas, verdade é que falar no assunto nos toca, se não pela razão, que seja pela emoção.
As autoras do segundo artigo citado apontam como a psicologia poderia contribuir nesse processo, fomentando o conhecimento científico dos aspectos psicológicos subjacentes à relação pessoa-ambiente; contribuindo para a formação de profissionais capacitados que possam atuar nessa área; qualificando os psicólogos para desenvolverem atividades junto a equipes multidisciplinares e promovendo o desenvolvimento do pensamento interdisciplinar.
Como era de se esperar, os jovens também se articulam rapidamente, fazendo uso de ferramentas tecnológicas e redes sociais em prol da ecologia. Há, por exemplo, grupos bem estruturados como a REJUMA (Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade) já espalhados pelo País. Sem esquecer os blogs que se proliferam a cada dia. Isso é passatempo de quem tem pouco o que fazer da vida? Se você acredita nisso é porque anda um tantinho mal informado. Por exemplo, aprendi transitando por esses sites que no Brasil a agricultura consome 70% da água disponível, enquanto as indústrias consomem 20% e o uso doméstico representa somente 10%. Não sei se os dados são muito precisos, mas já servem para fazer pensar. A falta de água, portanto, está muito longe de ser um probleminha doméstico, atingindo em cheio a economia, a política, as finanças, sem falar das questões sanitárias e epidemiológicas. Na Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei Federal nº 9433/97), é permitido "distribuir o custo socioambiental pelo uso indiscriminado e degradador da água". Significa: todos nós pagarmos a conta! Inclusive em moeda corrente, visando com os recursos arrecadados "a racionalização do uso e geração de recursos para investimentos em recuperação, preservação e conservação dos mananciais das bacias hidrográficas" (depredadas e contaminadas pelas nossas ações inocentemente corriqueiras ou explicitamente capitalista).
O problema é que conscientizar e educar demora! É um projeto que demanda por investimentos continuados e pelo acúmulo do conhecimento adquirido que irá então se transformar em aprendizagem. Pois, só a aprendizagem promove mudança de comportamento. Saber apenas, conhecer apenas, não resolve muito. Saber e não fazer é o mesmo que não saber: ignorância que brota da negação dos fatos! É preciso assimilar, processar as informações junto com as nossas experiências, introjetá-las, dar-lhes um sentido pessoal. Daí funciona: por exemplo, apagamos a luz ou abrimos menos o refrigerador quando descobrimos que vai haver um sermão de repreensões de gente que amamos ou quando vemos os dígitos se acumulando na fatura mensal.
É verdade também que em uma sociedade em que aparentar é mais valorizado do que ser não é de se estranhar que muitas pessoas e organizações que se intitulam "ecologicamente corretas" não o são tanto assim. O que está faltando para abrirmos menos a torneira, fechá-la enquanto escovamos os dentes, nos barbeamos ou lavamos os pratos? Parece pouco para o planeta? Tente fazer a sua parte, o todo é sempre feito de partes...
Me. Tárcia Rita Davoglio
Psicóloga; Psicoterapeuta; Consultora em Gestão de Pessoas; Doutoranda em Psicologia/PUCRS; Mestre em Psicologia Clínica/PUCRS; Especialista em Gestão Empresarial/FGV; Especialista em Psicoterapia Psicanalítica/UNISINOS; Especialista em Psicopatologia do Bebê/Universidade Paris XIII-França; Perita em Avaliação Psicológica e Gestão de Equipes. Empresa Perfil – Gestão e Avaliações.
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