Dessalinização Avança No Brasil
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 40 - dezembro de 2017/janeiro de 2018 - Ano 7
Ficou para trás a imagem de que a dessalinização não era uma prática muito usada no Brasil. Hoje, o Brasil disparou e a dessalinização é muito utilizada no país todo no setor da indústria, em diversas e variadas aplicações
Ficou para trás a imagem de que a dessalinização não era uma prática muito usada no Brasil. Hoje, o Brasil disparou e a dessalinização é muito utilizada no país todo no setor da indústria, em diversas e variadas aplicações, incluindo os setores de celulose e automóvel, apenas no setor público municipal ainda não está muito desenvolvida. O Brasil está à frente ainda com centenas de pequenas plantas de dessalinização da água do poço, que mobiliza a população pobre, principalmente no Nordeste, dando treinamento e responsabilidade no uso dessa água. Os custos para a implantação da dessalinização no Projeto Mais Água, do Instituto Livre Ser, por exemplo, são de cerca de R$ 50 mil. Acompanhem na matéria os itens e etapas envolvidos para fazer este investimento.
A Petrobras é uma das grandes utilizadoras da água dessalinizada. Nas plataformas da Petrobras, é necessária a dessalinização da água do mar antes de ser usada na extração do petróleo e também é utilizada para reúso nas refinarias. A ilha de Fernando de Noronha já algum tempo utiliza a água dessalinizada. Agora, a Região Metropolitana de Fortaleza (CE) está interessada em construir uma planta e, para isso, contratou duas empresas internacionais, a sul coreana GS Inima Brasil e a espanhola Acciona Água S/A, para fazer o estudo final definitivo e realizar uma licitação. A meta da planta é de 1 m³/s de água do mar para suprimento da cidade de Fortaleza.
As cidades litorâneas do Brasil estão chegando lá, caso do Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. A água dessalinizada não é viável para São Paulo, que fica a 800 m de altura, mas poderá ser usada água de reúso. "Em nível mundial, chegou-se a 100 milhões de metros cúbicos diários instalados. A capacidade é de mais de 20 vezes do caudal médio do Rio Tâmisa, ou seja, 20 deles" - destaca Dr. Emílio Gabbrielli, comptroller e chairman do Comitê de Auditoria da Associação Internacional de Dessalinização (IDA) e diretor de Desenvolvimento de Negócios da Toray, empresa japonesa que fabrica membranas, inclusive de osmose reversa, para dessalinização.
Solução mais barata e segura
A água dessalinizada é de extrema boa qualidade, livre de vírus e bactérias, em qualquer momento, independentemente do clima. "A água doce é usada mais do que se permite, é preciso deixar a natureza em paz. Já o reúso é parte da equação que permite uma situação para suprimento sustentável de água doce" - diz Dr. Gabbrielli.
Em muitos casos, a dessalinização da água é a solução mais barata e segura. "A visão de que sai muito caro e usa muita energia é falta de conhecimento, porque é uma água acessível e perfeitamente limpa" - afirma Dr. Gabbrielli, que lutou muito para que o Congresso da IDA viesse para São Paulo para difundir informação sobre as tecnologias de dessalinização. E ele conseguiu, a IDA realizou no Brasil o Congresso Mundial sobre Dessalinização e Reúso de Águas em outubro último em São Paulo. Profissionais dos setores público e privado estiveram presentes ao evento, que contou com amplo conteúdo sobre o tema e visitação a plantas.
Nas suas normas, a Agência Nacional de Águas (ANA) recomenda em todo o planejamento a dessalinização e o reúso como alternativas primárias de suprimento. "O importante é não criar elefantes brancos e, em vez disso, fazer plantas que sejam bem pensadas e bem-feitas. Para as empreiteiras, não é um bom negócio fazer dessalinização porque não tem grandes estruturas" - adverte.
O valor gasto com dessalinização em plantas grandes é de até menos que 1 dólar por metro cúbico, em muitos casos, sai mais barato que tratamentos tradicionais. "O custo do transporte e tratamento de um metro cúbico do Rio São Francisco é, com certeza, mais caro que o custo da dessalinização da água do mar" - aponta Dr. Emílio Gabbrielli.
São utilizados dois tipos de tratamentos básicos, um por evaporação e o outro por osmose reversa. A maioria dos países já faz a dessalinização com osmose reversa, que é a forma mais barata. "Existem novos processos ainda em escala de laboratório, mas demorará de 10 a 20 anos para tornar as novas invenções comercialmente viáveis" - avalia.
No setor industrial, existem empresas que constroem sua planta e produzem água dessalinizada que vendem para as indústrias. No mundo, existem empresas também que constroem e operam plantas e vendem água potável para as companhias de abastecimento. "Esse é um potencial a ser explorado para chegar ao preço e qualidade melhores para o usuário" - analisa Dr. Gabbrielli.
|
Consumo de água potável dessalinizada reduz enfermidades no sertão
O Projeto Mais Água, do Instituto Livre Ser, por meio do sistema dessalinizador produz água desmineralizada, ou seja, água potável, pura e ideal para o consumo e preparo de alimentos, atendendo à maior necessidade das comunidades beneficiadas sertanejas afetadas pela seca e água salobra. Atualmente, são mais de 5 mil pessoas que consomem a água coletada, tratada e distribuída pelo Projeto. O Mais Água também alcança comunidades que anteriormente sofriam com a seca e a água suja de barragens contaminadas e que caminhavam quilômetros para buscar água. Além disso, prevê a expansão a novas comunidades, detectada a necessidade e captando-se os recursos para aquisição e instalação do sistema.
Benefícios à população
O fato de não consumir a água salobra reduz os índices de mortalidade infantil por falta de água ou água salobra, índices de doenças renais, doenças infecciosas etc. "Algumas escolas têm utilizado a água dos sistemas para preparar os alimentos das crianças e relatam melhoria da permanência da criança na unidade escolar com redução do número de faltas ocasionadas por enfermidades" - aponta Clever Murilo Pires, CEO do Instituto Livre Ser.
|
Custos e desafios
"O investimento total para a aquisição e a instalação de um sistema por completo, com todas as fases de análises iniciais e treinamento para acompanhamento e manutenção do sistema por algum líder da comunidade local, é de cerca de R$ 50 mil" - afirma Pires.
Além da própria captação dos recursos para manutenção e expansão do Projeto, os outros desafios encontrados são: a infraestrutura da rede elétrica adequada ao funcionamento do equipamento, o compromisso dos governos locais de cuidado com o equipamento, o treinamento e empoderamento de líderes locais para cuidarem do equipamento, da distribuição da água às famílias e do acompanhamento da comunidade junto ao projeto e também os recursos para manutenção dos equipamentos, quando se faz necessária.
A solução hídrica utilizada pelo Projeto Mais Água são os dessalinizadores, equipamentos de desmineralização de água por osmose reversa, tecnologia já consagrada com alta eficácia e melhor custo-benefício de aquisição e manutenção para os casos em que o Projeto atua no sertão do Piauí. "O sistema dessalinizador é uma solução integrada para o pré-tratamento com fornecimento de filtros multimeios, carvão ativo, abrandadores e componentes para osmose reversa" - diz Pires.
Contatos:
Associação Internacional de Dessalinização (IDA): www.idadesal.org
Instituto Livre Ser (Projeto Mais Água): www.livreser.org.br