Mercado De Membranas No Brasil É Promissor
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 22 - dezembro de 2014/janeiro de 2015 - Ano 4
Mesmo com baixo crescimento da economia do país que afeta o segmento, o setor tem tudo para crescer
A maior parte das membranas no Brasil é importada. Mas os especialistas apontam que o mercado de membranas vem crescendo no país, acompanhando o crescimento do setor em todo o mundo. O que vem emperrando um crescimento maior, segundo eles, são os indicativos de baixo crescimento da economia no país e a expectativa de seguir em baixa. Mesmo assim, eles indicam que há muitas oportunidades de negócios com membranas e apontam as barreiras que o setor enfrenta no Brasil para se consolidar.
"O mercado de membranas vem crescendo não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. O país passa por muitos momentos de altas e baixas de negócios no mercado de tratamento de efluentes. Hoje, por exemplo, o mercado não está em um bom momento", adverte Daniel Paiva Pavan, gerente de vendas da Kubota Membrane Europe. "A dificuldade de crescimento do mercado é reflexo do baixo crescimento da economia do país, que não incentiva também projetos de tratamento de efluentes", explica.
Outro ponto importante que o gerente de vendas chama a atenção é que estas obras pagam altos impostos. "É um setor que, caso estivesse mais aquecido, representaria ganhos sociais, ambientais e de Saúde Pública.
Por esta razão, acreditamos que impostos reduzidos para o saneamento ajudariam a alavancar negócios tanto no setor público como no privado." Além disso, Pavan afirma que se o saneamento nas cidades fosse privatizado também auxiliaria para uma maior rapidez dos investimentos. "Isso já está ocorrendo, porém, em menor intensidade do que a necessidade do país devido a muito preconceito por alguns setores da sociedade", salienta.
"O crescimento do mercado fica muito prejudicado devido à economia não mostrar bons indicativos e seguir com expectativa de baixo crescimento", sinaliza Marcelo Bueno, gerente regional da América do Sul em tecnologia de membranas da Toray. Por outro lado, segundo ele, a crise da água em muitas regiões acaba impulsionando o reúso de efluentes ou fontes alternativas de água, como água do mar, que, em geral, demanda membranas. Além disso, Bueno vê a necessidade urgente de leis que exijam uma água de melhor qualidade.
"Independentemente do problema econômico, o que realmente provocaria um grande aumento no mercado de membranas no Brasil seria uma legislação mais restritiva quanto a qualidade de água que consumimos e que descartamos. Os níveis de poluição e os tipos de contaminantes de nossas águas hoje não são passíveis de tratamento por sistemas convencionais de clarificação e filtração", adverte.
De acordo com o gerente regional, leis mais restritivas não só beneficiariam tecnologias mais avançadas no tratamento de água, mas, principalmente, aumentariam a qualidade e segurança da água que consumimos hoje. "Atualmente, o desconhecimento técnico e a ideia de que membranas custam caro são cada vez menos empecilhos para a tecnologia, já que um bom suporte dos fornecedores e um estudo econômico mostram a viabilidade destes projetos com membranas", afirma Bueno.
"A tendência é de o mercado crescer sim e muito. Há uma demanda reprimida em relação ao uso de membranas no tratamento de água para potabilização. Nosso país ainda tem uma matriz de tratamento de água baseada em tecnologias convencionais que apresentam baixa eficiência, alto consumo de produtos químicos e geração de efluentes", avalia Joaquim Marques Filho, technical sales manager latam da Pentair. Segundo ele, as tecnologias tradicionais entregam a água com uma qualidade que dificilmente atenderá aos requisitos da Portaria 2.914, do Ministério da Saúde, quanto à contagem de bactérias e turbidez.
"O mercado de membranas ainda enfrenta alguns preconceitos no Brasil, fruto, principalmente, da falta de conhecimento da tecnologia", diz Marques Filho. Nesse sentido, a Pentair tem investido fortemente na participação em feiras, workshops e eventos em universidades e empresas. "O objetivo é levar ao conhecimento do público que há muitas oportunidades para a utilização de membranas e que elas podem superar os tratamentos convencionais em qualidade, economia e sustentabilidade", enfatiza.
"O mercado brasileiro ainda tem muito a crescer e a tendência é seguir o mesmo caminho dos países da Europa e Ásia e os Estados Unidos, onde o uso de membranas para tratamento de água e efluentes já é uma realidade", avalia a equipe técnica da Koch Membrane Systems. O fato de as membranas serem todas importadas faz com que a opção pela tecnologia de membranas ou convencional possa ter um custo diferenciado. Por isso, o custo do investimento deve ser analisado caso a caso. "O compromisso de atingir parâmetros cada vez mais exigentes, a escassez de áreas para construir estações de tratamento convencionais e a necessidade de reúso devido à escassez de fontes limpas têm sido determinantes para o uso da tecnologia de membranas, que vem mostrando-se a melhor saída para o tratamento de água e efluentes", afirmam os especialistas da empresa.
"O mercado está crescendo e a expectativa é muito boa. O uso de membranas é quase que mandatório em alguns casos. Na Portaria MS 2.914, nos capítulos IV e V, que especificam para água potável 0,5 de turbidez em 95% das amostras é um exemplo. É muito difícil atender a tal parâmetro por meio de tratamentos convencionais", analisa Demétrio Souza, gerente comercial da Mann+Hummel Fluid Brasil. De acordo com ele, por ser uma barreira física com poros de 0,04 microm de diâmetro, somente a Ultrafiltração irá garantir a baixa turbidez e ainda remover vírus, bactérias e protozoários.
Outro fator de crescimento apontado por Souza é devido à falta de água no continente, para a qual apresenta duas soluções: "Uma delas é o reúso ou, como alguns preferem, o reciclo. A tecnologia de membrana já é difundida no mundo todo para esta finalidade. O Membrane Bio Reactor (MBR) tem sido largamente utilizado para a produção de água de reúso a partir de esgoto e na recarga de mananciais. A outra solução é a dessalinização de água do mar para potabilização ou produção de água industrial." O gerente comercial explica que o custo de produção vem caindo e hoje é 100% viável, haja vista que, em 2009, mais de 150 países e 300 milhões de pessoas já eram abastecidas com este recurso. "No Brasil, nossa empresa já possui desde 2010 um sistema instalado que produz 6.000 m³/dia de água potável", ressalta.
Segundo Renato Ramos, gerente de marketing da Dow Water & Process Solutions, no mercado industrial, principalmente onde a geração de vapor é uma demanda (papel e celulose, óleo e gás, açúcar e álcool etc.), as tecnologias de membranas já são amplamente divulgadas – hoje representando mais de 50% da tecnologia aplicada. Em contrapartida, outros mercados, como abastecimento público e reúso, estão começando a usar membranas de forma crescente, ainda que abaixo do aplicado em outros países. "Atualmente, no mundo mais de 50 milhões de m³/dia de água são tratados com membranas. E isso se reflete tanto no mercado de membranas de TFC (Thin Film Composite), conhecido como Osmose e Nanofiltração, quanto no mercado de membranas de Ultrafiltração, ainda mais novo aqui no Brasil", menciona.
Em vez dos antigos sistemas convencionais, recentemente, a área de abastecimento público tem adotado o sistema de membranas para purificação de água. Ramos diz que Bertioga (SP), coberta pela Sabesp, será a primeira planta a utilizar esse sistema. Já estão sendo discutidos também projetos para a região metropolitana e outros Estados. "É possível apontar que os custos de implantação desses sistemas, chamados de Ultrafiltração outside-in, são muito similares aos dos convencionais. Em breve, assim que as plantas começarem a funcionar, serão constatadas as já previstas vantagens operacionais em custo e qualidade", afirma.
"O mercado de dessalinização de água do mar, ainda que potencialmente interessante e hoje muito mais economicamente viável que antigamente, ainda é pouco discutido." O gerente de marketing cita o Workshop da IDA International Desalination Association (IDA), que será realizado em março de 2015 no Rio de Janeiro. "Seguramente, atividades como esta vão trazer mais conhecimento para o uso dessa aplicação. Talvez, a falta de conhecimento ainda gere a expectativa de um custo maior, já que as membranas representam somente cerca de 3% a 5% do investimento em uma planta de dessalinização. Por fim, o mercado industrial, já conhecedor da tecnologia, também tem buscado membranas para reúso".
A maior dificuldade ainda, segundo Ramos, é a condição técnica das empresas e o desconhecimento do usuário final. "É importante que toda a cadeia esteja preparada para a tecnologia e tudo o que está ao seu redor para que, ao final, se tenha uma estação de tratamento que funcione de forma adequada." Ele recorda que, na década de 80, houve um boom da tecnologia de osmose que recém aterrissava no Brasil e que a falta de critérios de contratação levou vários projetos ao insucesso. "As empresas de engenharia se preocuparam em fornecer o menor preço independentemente da qualidade e os usuários finais especificaram erroneamente o que eles precisavam." Ramos dá um recado nesse momento em que a tecnologia de membranas novamente torna-se foco de discussão e aplicação: "É muito importante que nos cerquemos das corretas formas de equalização técnica e econômica na busca de uma solução duradoura".
Fatias do mercado
A diversidade de aplicações com o uso das membranas abre o mercado para novas oportunidades de negócios e faz com que as empresas do setor possam atuar em diferentes frentes e com variadas tecnologias para atender às novas demandas do segmento. O tratamento de efluentes com membranas, por exemplo, é aplicado desde grandes estações municipais ou industriais até estações muito pequenas e compactas em condomínios comerciais. "Apenas com a tecnologia de membranas Membrane Bio Reactor (MBR), calculamos ao redor de dez novas estações de tratamento de efluentes por ano", revela. Pavan faz uma análise sobre a fatia da Kubota neste mercado. "Estimamos em 30% nossa participação no mercado de MBR", afirma.
A Pentair atua, especificamente, com membranas de Ultra e Nanofiltração. "Estima-se que este mercado represente algo em torno de R$ 100 milhões nos próximos dez anos", calcula Marques Filho. No mercado brasileiro, a empresa participa no setor de refrigerantes e no tratamento de efluentes industriais. "No mundo, das dez maiores unidades de tratamento de água por membranas, cinco foram projetadas com membranas da Pentair", afirma.
"A Toray cresceu muito no mercado de membranas a partir de 2012 quando passou a atuar diretamente no mercado brasileiro. Foi uma decisão da matriz japonesa, já que antes tínhamos apenas representantes no país", conta Bueno. Em relação ao reúso de efluentes ou fontes alternativas de água por conta da crise da água, a Toray está bem posicionada no mercado, com produtos que cobrem todas as linhas de membranas, desde água ultrapura até efluentes sanitários e industriais, como Osmose Reversa (OR), Ultrafiltração (UF) e MBR. A Mann+Hummel Fluid Brasil participa do mercado com membranas de Osmose Reversa, Ultrafiltração (fabricação própria em Cingapura) e MBR (fabricação própria na Alemanha).
Ainda em 2014, conforme a equipe técnica da Koch Membrane Systems, será inaugurada a primeira estação de tratamento de água com membranas do Brasil da Sabesp do Alto da Boa Vista, em São Paulo, com membranas Puron® HF da empresa.
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Investimentos constantes
Para oferecer ao setor cada vez mais produtos inovadores com tecnologias modernas que atendam às expectativas de seus clientes, as empresas investem fortemente em pesquisas e desenvolvimento. As novas exigências e novas demandas ambientais globais, como a crise da água, por exemplo, também impulsionam o setor para o aperfeiçoamento das tecnologias existentes e a busca de novas tecnologias.
A Dow investe globalmente em pesquisa e desenvolvimento para todas as áreas, de acordo com Ramos, US$ 1,7 bilhões ao ano. Parte deste investimento está voltado ao setor de Water & Process Solutions, o que permite que a empresa desenvolva soluções inovadoras para atender às necessidades atuais do setor de tratamento de água, sempre buscando evitar o desperdício e promover o reaproveitamento.
A Koch Membrane Systems direciona também milhões de dólares por ano no aprimoramento de seus produtos e desenvolvimento de novos produtos e aplicações por meio de sua equipe de pesquisa e desenvolvimento. Lançamento recente da empresa é o Sistema de Ultrafiltração de Fibra Oca Puron® MP, para tratamento de água e efluentes, que suporta alto teor de sólidos suspensos de até 1.000 mg/l.
As membranas reforçadas e o design de cabeçote único ajudam a diminuir a inatividade com limpeza, entupimento e reparo de fibras, proporcionando maior produtividade e economia. Além disso, o sistema oferece facilidade operacional com conexões simples e otimizadas, interface inteligente e rápida instalação.
São feitos investimentos contínuos, por meio do departamento de pesquisa e desenvolvimento da Kubota, no Japão, para o desenvolvimento de produtos e ampliação da linha. "Atualmente, o foco é a ampliação do portfólio de produtos, como o desenvolvimento de membranas de Osmose Reversa, por exemplo", cita Pavan.
"Toda a nossa linha de membranas (MF, UF, NF e OR) é fruto de pesquisa e desenvolvimento interno da Toray Japão. Não somos uma empresa ‘compradora’ e, sim, desenvolvedora", destaca Marcelo Bueno. Em 2015, a empresa terá entre seus lançamentos uma membrana voltada a Óleo e Gás. "Investimos sempre em melhorias dos nossos produtos, como resistência química, performance e durabilidade", ressalta. Um exemplo citado por ele é o da membrana TM720D, que substituiu recentemente a antiga TM720, voltada para aplicações de água salobra com alta rejeição de sais.
A Mann+Hummel Fluid Brasil é outra empresa que destina recursos constantes para o desenvolvimento de novos materiais e configurações com maior resistência e capacidade, buscando melhorar as membranas existentes também.
A novidade são as membranas Mycrodin-Nadir com a Bio-Cel, união em uma só do que tinha de melhor nas duas outras. Membrana plana com backwash e foot print 70% menor que as outras. Aeração com bolha fina que otimiza o custo energético. Alta estabilidade química e mecânica com fluxo alto, baixo fouling e rejeição segura para sólidos e bactérias com poro de 0,04 µm
(~150 kD). Contralavável e quase nenhuma perda de pressão. Flexível e fácil de limpar com instalação suspensa ou na base em módulos com 10, 50, 100, 400 e 1.900 m².
A Pentair também aposta na melhoria contínua de seus produtos. Este ano, por exemplo, foi lançada uma membrana de Ultrafiltração com aumento da área de filtração que gerou economia de 20% para os clientes. "As melhorias não ficam restritas às membranas. A instalação das membranas também está na pauta de desenvolvimento da Pentair", revela Marques Filho.
O lançamento da linha X-Line, caracterizada pela interconexão dos módulos de Ultrafiltração sem a necessidade de construção de headers, pode representar até 40% de economia na fabricação dos skids. A empresa lançou ainda uma linha de membranas de Nanofiltração voltada ao tratamento de água para geração de vapor, potabilização ou reúso que remove contaminantes que sempre foram considerados desafios, como sílica coloidal, ácidos húmicos e TOC (Carbono Orgânico Total).
As mais utilizadas no Brasil
Existem vários tipos de membranas e áreas de aplicação. Entre as mais utilizadas hoje no Brasil, conforme os especialistas, estão as de Osmose Reversa. Foi citado também o alto crescimento atualmente no país do uso das membranas de Ultrafiltração (UF) e Membrane Bio Reactor (MBR).
No mercado de águas e efluentes, o gerente regional da Toray diz que a Osmose Reversa se destaca, já que tem mais tempo de utilização e grande base instalada no Brasil. Sua aplicação é para remoção dos sais dissolvidos principalmente na produção de água desmineralizada para processo. "Atualmente, vemos crescer muito as aplicações de membranas de UF e MBR. A UF substitui sistemas de clarificação e filtração convencionais. Já o MBR é um processo de tratamento de efluentes que combina tratamento biológico com membranas."
Segundo Bueno, entre as muitas vantagens da UF, destacam-se: melhor qualidade da água tratada, reduzido consumo de químicos e menor demanda de espaço para instalação. O MBR também tem grandes vantagens em relação ao processo convencional de lodos ativados. "Principalmente quanto à reduzida área de implantação – em torno de 65% menor – e à qualidade do efluente tratado pronto para reúso." De acordo com ele, a desvantagem das membranas de UF e MBR é que, atualmente, não há uma padronização entre os fabricantes destas tecnologias. "Quando o cliente decidir pela aplicação destes processos, é fundamental que procure um fornecedor de membranas de relevância mundial que lhe dará segurança para aplicação e manutenção desta tecnologia", recomenda.
A equipe técnica da Koch Membrane concorda que a maior parte de membranas instaladas hoje no Brasil é de Osmose Reversa, tecnologia que visa, principalmente, à produção de água dessalinizada. Porém, existem outras aplicações, tais como a concentração de correntes, com o objetivo da redução volumétrica de fluidos. "As vantagens e desvantagens de utilização destas ou de outras membranas são intrínsecas a cada processo e não existem regras. Se em um processo é considerado desvantagem, no outro pode ser vantagem. As aplicações de membranas devem ser analisadas caso a caso, pois a quantidade de variáveis a serem analisadas no processo é muito grande", indicam os especialistas da empresa.
Em relação aos processos de MBR, são utilizados os tipos construídos como uma placa plana, caso da Kubota, e como uma fibra oca. Segundo Pavan, o tipo placa plana tem maior durabilidade porque não há atrito entre as membranas, maior simplicidade de operação e manutenção já que demanda menos componentes periféricos, como válvulas e bombas, e maior robustez, que permite trabalhar em situações extremas com maior concentração de lodos (MLSS) dentro do tanque e, consequentemente, estações mais compactas.
De acordo com Souza, as membranas espirais para Osmose Reversa estão mais difundidas e lideram o mercado atualmente. "Isso porque as indústrias demandam necessidades de água desmineralizada ou ultrapura há mais de 20 anos. Porém, com os novos enfoques, as de Ultrafiltração deverão ter um crescimento exponencial", prevê.
"Para Ultrafiltração, temos as membranas de PES (Poliéster sulfonas) para tratamento de água. Para efluentes, membranas em PVDF (Poli vinilideno fluorado)", destaca Marques Filho, da Pentair.
Contato das empresas:
Dow: www.dow.com
Koch Membrane: www.kochmembrane.com
Kubota: www.kubota-mbr.com
Mann+Hummel Fluid Brasil: www.fluidbrasil.com.br
Pentair: www.pentair.com
Toray: www.toray.com