Nos Tempos De Crise Hídrica Sobe Pedido De Socorro Às Empresas Especializadas
Por Vicente De Aquino
Edição Nº 22 - dezembro de 2014/janeiro de 2015 - Ano 4
Atualmente, cerca de 770 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma fonte de água, e 2,5 bilhões não têm acesso a saneamento básico
Atualmente, cerca de 770 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma fonte de água, e 2,5 bilhões não têm acesso a saneamento básico. Como parte de seus esforços para combater esses problemas, a ONU declarou 2013 como o Ano Internacional de Cooperação pela Água, reconhecendo que a cooperação é essencial para encontrar um equilíbrio entre as diferentes necessidades e prioridades, e compartilhar o precioso recurso de forma equitativa, usando a água como um instrumento de paz.
No final de outubro, a administradora adjunta do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) Rebeca Grynspan, disse na Conferência de Alto Nível sobre Cooperação pela Água, realizada em Dushanbe no Tadjiquistão, que a cooperação pela água em âmbito nacional e global é essencial para alcançar o desenvolvimento sustentável e assegurar que milhões de pessoas tenham acesso a esse recurso precioso.
Além do fato de que o mundo experimenta um crescimento explosivo na demanda por recursos hídricos, existe também o desperdício de água e a poluição, que ameaçam cada vez mais a integridade dos ecossistemas aquáticos e agrícolas, vitais para a vida e para o combate à fome.
A mudança climática também não está ajudando, aumentando a variabilidade do ciclo da água, além de agravar eventos extremos como inundações e secas que complicam ainda mais o já grande desafio da gestão e governança da água. Se esta tendência continuar, em 2025, até 3 bilhões de pessoas poderão viver em zonas com escassez de recursos hídricos. É um número impressionante e catastrófico.
Por isso, urge que novas políticas em relação ao desperdício da água sejam adotadas. E de forma dura, contundente. Todas essas advertências que possuem um cunho científico, e não alarmista, e foram feitas pela ONU (Organização das Nações Unidas). E como anda o mercado brasileiro de ETA e ETE? Leia abaixo o que esperam empresários sobre o ano de 2015 e também a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Perspectiva promissora
Para Mário Ramacciotti, diretor da Xylem, "a perspectiva do mercado de ETA e ETE para 2015 parece promissora. Vemos os planos Plansab do governo federal e o 300% do Estado de São Paulo em franco progresso. Na parte de ETEs, para atingirmos a universalização temos um caminho de grandes proporções a percorrer, passando dos cerca de 40% de esgoto coletado e tratado para patamares mais próximos de 100% até 2033. Somente com estes números podemos ver a magnitude do trabalho que está por vir", disse.
Ramacciotti acredita que existe um outro ponto interessante a ser considerado em todo esse universo: "É a crise hídrica que estamos passando. Os extremos estão mais predominantes no clima e vemos muita chuva em determinadas regiões e secas prolongadas em outras. Com isto, novas ideias e tecnologias deverão ser empregadas para enfrentar esta realidade climática difícil. Veremos soluções técnicas diferenciadas como Sistema de Ultra Filtração por membranas, podendo produzir água com menor espaço físico e de tempo. A Xylem instalou um sistema como este de 500 l/s na ETA Sabesp Rio Grande com sucesso, explica.
Também o reúso ocupará posição importante," pois na escassez de água, reutilizar passa a ser uma necessidade que manterá os mananciais em níveis mais satisfatórios e atenuará o problema existente, trazendo uma solução que deve ser duradoura para o fornecimento de água aos polos industriais, grandes cidades e outras localidades que não dispõem de fontes permanentes de água para seu uso", afirma.
E finaliza: "O equilíbrio entre o que foi utilizado de água e o que retorna aos mananciais ou fontes de origem será uma máxima ao longo do tempo, ou seja, o uso sustentável de um bem muito precioso: a água."
Tempos de seca
Nestes tempos de seca e reservatórios em baixa, shoppings, hospitais, indústrias, hotéis, clubes e outros estabelecimentos pedem socorro à empresas especializadas em implantar e operar sistemas de captação de água de reúso e de tratamento de efluentes. A Ecopolo viu a procura por novos projetos aumentar 40% neste ano em relação a 2013. Na General Water, o crescimento foi da ordem de 150%.
"Atualmente, temos cerca de 40 contratos em andamento", revela Ricardo Vasconcelos Freire, diretor técnico da Ecopolo. A situação mudou - e muito. Até 2013, os representantes da empresa suavam para conseguir uma brecha na agenda dos possíveis clientes para falar sobre tratamento de água. "Agora, os executivos se esforçam e arranjam um horário para se informar sobre as vantagens da água reusada", diz Freire.
Max Santavicca, diretor comercial da GE Water & Process Technologies, endossa a opinião de Ricardo: "A escassez de chuvas em diferentes regiões do país tem criado novas necessidades quando pensamos em sistemas de tratamento de águas e efluentes. Em função da seca, a água utilizada na indústria apresenta qualidade inferior à necessária para que possa ser utilizada nos mais diferentes processos realizados. Essa realidade vem gerando uma nova demanda por diferentes sistemas de tratamento e recondicionamento, incluindo uma importante discussão sobre o aumento das práticas de reúso e reciclo de água. Em função disso, há uma expectativa de que haja um aumento na demanda por novos projetos de reúso de água e também pelo uso de sistemas móveis de tratamento, capazes de atender a demanda industrial em caráter temporário ou emergencial", explica.
E Santavicca prossegue: "Levando isso em consideração, espera-se uma quantidade maior de investimentos em redes de tratamento de efluente para a produção de água de reúso (água não potável utilizada em processos industriais). No atual contexto, faz todo o sentido investir em tecnologias que permitam essa prática, de modo que a utilização de recursos hídricos ocorra de forma muito mais racional e alinhada ao momento vivido no país", afirma.
As duas empresas desenvolvem projetos de sistemas de tratamento de água e efluentes, realizam os investimentos para a implantação, operam a estação de tratamento e se responsabilizam por qualquer risco operacional. O consumidor paga pelo volume de água tratada consumida. O litro da água de reúso pode custar 50% a menos do que a água potável fornecida pela concessionária pública. Os contratos têm um prazo mínimo de dez anos. Quando acabam, o projeto é transferido para o cliente.
Um alerta: como estes sistemas são muito caros, a despesa só se justifica quando o consumo mensal é de no mínimo 2 milhões de litros de água por mês. Também é preciso levar em conta que a água de reúso, por lei, só pode ser utilizada para fins não potáveis - abastecimento de torres de resfriamento, caldeiras de pressão, vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagens de áreas externas.
Poço artesiano
Um dos projetos da General Water foi realizado no World Trade Center (WTC), em São Paulo, um complexo de torre de escritórios, hotel, sala para eventos e o D&D Shopping. Desde 2001, o World Trade Center tem um poço artesiano e sistema de tratamento de água de reúso e de efluentes.
No Santana Parque Shopping, a Ecopolo implementou um projeto completo, com água potável de dois poços artesianos e estação de tratamento de água de reúso. Dificilmente o shopping utiliza a água da concessionária pública. A economia chega a R$ 30 mil reais por mês, garante Ricardo Gonçalves Omar, gerente de operações do Santana Parque.
É comum as empresas se interessarem pelo projeto completo, com um sistema de abastecimento de água potável, por meio de poços artesianos, além da estação de tratamento de água e de efluentes. "No curto prazo, os pequenos e médios comerciantes e prestadores de serviços deixarão de se importar com o custo do projeto. A preocupação com o meio ambiente e com a sustentabilidade para a atividade empresarial deverão prevalecer", explica Pereira.
A Ecopolo e a General Water também fazem o estudo geológico da área onde o cliente está instalado para a perfuração de poços artesianos com boa vazão de água potável - na Grande São Paulo, dificilmente, se consegue poços de grande vazão. Dependendo do estudo e do risco, é calculado o preço do metro cúbico a ser cobrado do cliente pelo fornecimento da água. Feita a perfuração, o poço pode durar décadas, se explorado com sustentabilidade.
A presidente da Sabesp, Dilma Pena, disse para a Revista TAE "que não é possível falar em civilização sem que haja saneamento básico. Trata-se de direito fundamental do ser humano e condição necessária para que o meio ambiente e os recursos naturais de que dispomos não caminhem para a exaustão. Neste sentido, levar água, coletar e tratar esgotos é atividade intrinsecamente associada à sustentabilidade. Uma não existe sem a outra", disse.
E prosseguiu: "Uma empresa como a Sabesp lida cotidianamente com a sustentabilidade, em todas as suas dimensões. Somos socialmente responsáveis por fornecer um serviço cujas implicações sobre a qualidade de vida e as condições de saúde de quem o recebe são diretas e imediatas. Somos ambientalmente envolvidos na preservação de mananciais, na recuperação de recursos hídricos e na despoluição de rios, córregos e mares", explicou.
Dilma Pena afirmou que "somos comprometidos com a solidez financeira de um negócio cuja maturação é naturalmente longa e os custos precisam ser imperativamente baixos. A dedicação da companhia aos preceitos da sustentabilidade já goza de reconhecimento na sociedade. É fruto de uma cultura que se entranha, dia após dia, em nossos colaboradores, no trabalho cotidiano dos que nos prestam serviços, na qualidade de fornecedores de quem exigimos cada vez mais qualidade. Mas sustentabilidade não é porto de chegada. É caminho que se constrói no caminhar. É travessia rumo a um futuro necessariamente melhor do que o presente", esclareceu.
Para prosseguir em tom firme: "Por isso, nos preocupamos, também em ampliar os limites do possível. Aumentamos o universo de informações divulgadas, buscamos aprimorar a qualidade das que já vinham sendo feitas, reconhecemos nossas fraquezas quando e onde elas se fazem notar. Temos compromisso convicto com a transparência, o bem comum e o respeito as nossas partes interessadas. Entendo que a missão de levar saneamento a mais de 27,6 milhões de pessoas, como é a nossa, só é bem sucedida se ancorada em princípios básicos fundamentais: transparência, boa gestão e tecnologia", afirmou.
E finalizou: "A Sabesp tem se mostrado em condições de executá-la, com eficiência, de maneira sólida, dinâmica, inovadora e sustentável em termos financeiros, ambientais e sociais. Não há melhor tradução do que possa ser desenvolvimento sustentável do que uma estação de tratamento de esgoto capaz de operar com eficiência ao longo de seus 50 anos de vida útil, ao menor custo, com maior amplitude de atendimento."
Projeções em xeque
Para o engenheiro e professor de hidrologia da Universidade de Mogi das Cruzes, José Roberto Kachel, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê e que conhece como poucos a área, o balanço de outubro põe em xeque as projeções usadas pela Sabesp em seu plano de contingência, que prevê manter o abastecimento de água para a Região Metropolitana até março de 2015.
"É desejável que o planejamento de operação do Cantareira use as previsões mais conservadoras. Mas o que temos visto é que as vazões de outubro são 3,8 vezes menores do que as usadas no pior cenário do estudo apresentado pela Sabesp", disse
No plano da empresa, o cenário mais pessimista apontava que chegariam ao Cantareira 41,3 bilhões de litros, volume igual ao da seca de 1953, a pior da história até então, mas 285% superior ao que realmente chegou às represas. Para Kachel, se mantido o cenário atual, o segundo volume morto acaba no início de março.
A Sabesp ainda acredita que a volta das chuvas prevista para novembro pelos institutos, aliada às ações de contingência, podem elevar o nível do Cantareira para cerca de 40% da capacidade em abril.
Desde 1930, os rios que alimentam os reservatórios não registravam uma vazão tão baixa, de quatro mil litros por segundo, apenas 14,8% da média histórica mensal - que passou a ser registrada naquela década.
Entraram nos reservatórios somente 10,7 bilhões de litros em outubro, quando a média é de 72,5 bilhões. Em contrapartida, 60,5 bilhões de litros deixaram as represas neste mês para abastecer 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo que ainda dependem do Cantareira e mais 5,5 milhões na região de Campinas, no interior paulista. Isso significa que o déficit de água alcançou 49,8 bilhões de litros, ou 5% da capacidade do sistema.
Contatos:
Ecopolo: www.ecopolo.com.br
General Water: www.generalwater.com.br
GE Water: www.gewater.com
José Roberto Kachel: Universidade de Mogi das Cruzes
Sabesp: www.sabesp.com.br
Xylem: www.xyleminc.com