Falta Intercâmbio Em Saneamento Nas Universidades
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 22 - dezembro de 2014/janeiro de 2015 - Ano 4
Não há incentivos para o setor, apesar disso, são feitas pesquisas e a escassez de água dá impulso a novos cursos de planejamento e gerenciamento hídricos
A crise da água vem mudando a forma de pensar das pessoas. Torna-se urgente a formação de profissionais especializados para a solução dos problemas ambientais com visão de sustentabilidade. Faltam incentivos para este setor. A automação, por exemplo, ainda é uma área que precisa ser explorada pelas universidades para melhorar ainda mais a eficiência das estações de tratamento de água (ETAs) e de esgoto (ETEs).
Falta também capacitação de mão de obra na operação dos sistemas, tanto para o manuseio do equipamento quanto para fazer o tratamento químico adequado. É um campo de atuação que precisa ser olhado pela demanda do mercado de trabalho e de jovens que buscam formação em alguma área. Para as empresas, treinar e moldar os profissionais exige altos investimentos devido ao despreparo dos profissionais que saem das faculdades. O mercado absorve, geralmente, profissionais de química, biologia e engenharias mecânica, elétrica ou civil.
Automação
A automação de ETAs e ETEs ainda não é um tema desenvolvido em projetos da área de saneamento em universidades, mas é abordado nas aulas. Mesmo assim,existem professores no setor desenvolvendo pesquisas (ver boxe). O que ocorre é que o assunto vem sendo mais explorado em projetos nas áreas de engenharia. O professor José Carlos Mierzwa, do departamento de engenharia hidráulica e sanitária da escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), diz que não há uma atuação específica sobre o assunto no departamento. "Somos apenas usuários dos sistemas de automação e controle. As engenharias elétrica e eletrônica estão mais associadas e fazem pesquisas porque desenvolvem sensores e elementos de controle. Nas aulas de pós-graduação, abordo apenas um pouco sobre automação em controle."
No departamento de hidráulica e saneamento da escola de engenharia da USP São Carlos, a automação é abordada em disciplinas de projeto de graduação, mas sem desenvolvimento específico. "É ressaltada a importância da inclusão da automação com o objetivo de tornar os processos mais eficientes, de menor custo operacional e controlados a distância", ressalta o professor Luiz Antonio Daniel, que ministra aulas no campus. Ele diz que, nas disciplinas de projeto de engenharia ambiental e sanitária, os alunos são incentivados a usar a tecnologia mais recente associada à automação nas ETAs e ETEs. "Entretanto, não são desenvolvidos projetos de automação por não constar na grade horária e pelo caráter da formação dos alunos", explica.
No Senac Jabaquara, estas técnicas e tecnologias são apresentadas aos alunos e observadas nas visitas técnicas realizadas. "Mostramos aos alunos que, nas novas ou modernizadas ETAs e ETEs, a automação é aplicada para a dosagem de produtos químicos. Além de serem instalados medidores automáticos para leitura de vazão e de monitoramento dos parâmetros operacionais para o bom desempenho das estações", Jorge Luiz Silva Rocco, coordenador de pós-graduação em gestão ambiental da unidade.
Enfoques
Nestas universidades, são feitas pesquisas sobre temas relativos a processos de tratamento de água, inclusive por membranas, acompanhando a tendência do mercado. Outra tendência são os temas ambientais com foco em sustentabilidade. Mas não sobre automação, assunto que fica a cargo das engenharias. "Não há pesquisa específica sobre automação no nosso departamento. Nas áreas de engenharia, existem disciplinas de graduação que abordam o tema, também objeto de pesquisa na pós-graduação, e eles se dedicam à pesquisa e desenvolvimento de processos de automação. Entretanto, essas pesquisas não estão diretamente ligadas à aplicação em ETAs e ETEs", salienta o professor Daniel, da USP São Carlos. Já nas pesquisas que o departamento de hidráulica e saneamento realiza, a automação é usada apenas para controle de vazões, aplicação de produtos químicos, controle de temperatura e coleta de dados.
"Nossas pesquisas sobre ETAs e ETEs estão mais ligadas ao desenvolvimento de processos para tratamento de água e não ao desenvolvimento de equipamentos e ou softwares para automação", afirma. Como estas: filtração, separação de partículas por sedimentação e flotação por ar dissolvido, remoção de microcontaminantes, tratamento ou condicionamento de lodo e de águas residuárias, tratamento anaeróbio e aeróbio, microbiologia do tratamento anaeróbio, reaproveitamento de resíduos do tratamento preliminar, produção de energia por biogás, hidrogênio e energia elétrica direta em células combustíveis microbianas, desenvolvimento de microssensores, remoção de parasitos e desinfecção.
"Ministro aula específica sobre tratamento de água com processos de separação por membranas. Já orientei diversas dissertações de mestrado com este tema voltado para abastecimento público, uso industrial e reúso. Atualmente, oriento três alunos de doutorado e um de mestrado neste assunto", conta o prof. Mierzwa, da USP. Ele diz que há colaboração internacional da escola de engenharia e ciências aplicadas de Harvard, onde um aluno de doutorado faz parte do trabalho. "Além disso, desenvolvo pesquisa sobre membranas, com um laboratório específico para este fim, e outra para a aplicação destas membranas em sistemas MBR", complementa. Recentemente, foi aprovado um projeto Sabesp/Fapesp, visando à utilização de separação por membranas no tratamento de águas subterrâneas para a remoção de metais.
De acordo com Rocco, do Senac Jabaquara, os cursos técnicos, de tecnólogos e de pós-graduação do Senac São Paulo exigem dos seus alunos apresentação de pesquisas e monografias sobre diversos temas ambientais, de forma prática, aplicando os princípios do desenvolvimento sustentável.