Mercado de ETAs e ETEs: cenário atual e perspectivas para 2021
Por Carla Legner
Edição Nº 58 - Dezembro de 2020/Janeiro de 2021 - Ano 10
Segundo dados do Instituto Trata Brasil, no país, 35 milhões de pessoas não têm acesso a abastecimento de água tratada. São 47% dos brasileiros, ou 100 milhões de cidadãos sem acesso à coleta de esgoto
Segundo dados do Instituto Trata Brasil, no país, 35 milhões de pessoas não têm acesso a abastecimento de água tratada. São 47% dos brasileiros, ou 100 milhões de cidadãos sem acesso à coleta de esgoto. Apesar desse cenário, o saneamento é considerado essencial e, por isso, é possível dizer que esse setor sofreu pouco impacto durante a pandemia do Corona vírus.
De acordo com Mario Ramacciotti, diretor da Xylem Brasil, a pandemia provocou sim alguns efeitos, mas menos do que se previa. Ao contrário das empresas voltadas ao comércio que tiveram de fechar as portas por vários meses, no saneamento, houve impacto na receita, mas as empresas conseguiram passar pelas dificuldades e continuaram com investimentos, principalmente em manutenção e concorrências que estavam com verba alocada.
O fato é, que as pessoas que ficaram em suas residências de quarentena continuaram demandando serviços de saneamento, talvez até mais que antes. Nesse contexto, as empresas do setor, mesmo com dificuldades e, algumas vezes, com indisponibilidade de mão de obra, tiveram que atender a esta demanda.
Emílio Bellini, representante da Alphenz explica que o mercado de saneamento no Brasil possui muitas oportunidades. A coleta e tratamento de esgoto ainda está com um cenário precoce, com muita demanda para o segmento, e há muita oportunidade para abastecimento de água para os municípios e regiões isoladas.
“Vários setores da indústria e comércio foram afetados pela pandemia sim, porém abriu-se precedentes para nos preocupar com o saneamento básico, consequência disto foi a aprovação do marco do saneamento, tornando este o mercado mais promissor em projetos com rápidas aprovações e conclusões a curto prazo, o que aqueceu a economia das empresas que trabalham com projetos de saneamento”, completa Carlos Damião de Souza, engenheiro e gerente de vendas da Aerzen.
O novo Marco Legal do Saneamento Básico, sancionado recentemente pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, tem como objetivo universalizar e qualificar a prestação dos serviços no setor. A meta do Governo Federal é alcançar a universalização até 2033, garantindo que 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e a coleta de esgoto. “As empresas continuam investindo, pois agora, precisam atingir a universalização em 2033 e isto gera investimentos. Tanto as que continuaram com os contratos atuais que não venceram, quanto as que ganharam as concessões ou PPP’s investirão para atender a nova lei” – afirma Bellini.
Ele destaca ainda que a pandemia diminuiu o ritmo de algumas obras e investimento, inclusive a empresa teve que suspender algumas, entretanto todas já retomaram. “Percebemos que alguns investimentos foram adiados para o próximo ano, em decorrência dos efeitos que a pandemia causou no mundo como um todo, mas o mercado não está parado e há bastante demanda para o setor de saneamento” – completa Emílio Bellini.
Desafios e expectativas
A pandemia trouxe muitas dificuldades e desafios para a maioria das empresas, desde medidas internas de segurança para equipe e colaboradores, quanto alternativas de mercado. Álvaro Hakas, gerente comercial da América do Sul, da Kemira, conta que a maioria das empresas, inclusive a Kemira, manteve as operações, porém seguindo as recomendações da OMS para evitar a disseminação do vírus, bem como o afastamento de todos os funcionários do grupo de risco.
“Implementamos medição de temperatura na entrada da empresa, uso de todos as proteções necessárias anti-Covid-19, tais como o uso de máscaras para todos, luvas onde aplicável, álcool gel, distanciamento, restrições de viagens e visitas, afastamentos, quando necessário, home office, enfim, um pouco de tudo que hoje é conhecido, mas sempre visando uma disciplina rígida no seguimento do protocolo contra o Covid-19 para proteger o ambiente de trabalho” – completa Ramacciotti.
A Alphenz adotou jornadas reduzidas e home office para algumas funções. De acordo com Bellini a produção não parou e tanto na fábrica como nas obras foram adotadas ações de conscientização e de prevenção ao Covid-19. “Acreditamos que com o fim da pandemia e com o Novo Marco Regulatório, haverá uma demanda grande para o setor a partir de 2021, e sendo assim, investimentos em novas tecnologias para atender a demanda reprimida” - ressalta.
Já pensando no próximo ano, Bellini define as mudanças para o setor por duas óticas.
“No que tange nossos colaboradores e parceiros, as precauções deverão se manter, ou seja, atendendo as recomendações governamentais e ao nosso manual de Plano de Ação e Prevenção Contra a Pandemia do COVID-19. No que tange o mercado, perspectivas são muito boas, sensação e a percepção junto aos nossos clientes são positivas, lógico, que com a cautela usual. Mas perspectiva muito positiva” – afirma.
Segundo ele, o Brasil já vinha enfrentando crises domésticas postas por questões políticas e de outras naturezas e há uma demanda de infraestrutura muito atrasada, principalmente no setor de saneamento. “Um ponto notório e que o atual governo está atento seria o equilíbrio das contas públicas, além da reforma administrativa e a tributária. São matérias que se passarem, com certeza, acelerarão ainda mais o ritmo de investimentos no Brasil, inclusive estrangeiros” – completa o representante da Alphenz.
Mario Ramacciotti afirma ainda que próximo ano está repleto de novidades com as 15 ou 16 licitações referentes às concessões/PPP’s. Para ele, somente este fator já dará uma dinâmica impressionante no setor. “A estabilidade econômica, do câmbio e política serão muito requisitadas para que os investimentos possam vir de maneira massiva e tranquila ao Brasil. Investidores precisam de cenários estáveis para investir seus recursos e podemos proporcionar um período de forte e contínuo crescimento, se a estabilidade mencionada puder imperar”, afirma.
Outra questão que também será crítica e deve trazer mudanças é em como o governo gerenciará e resolverá o enorme déficit público que a pandemia fez aumentar. “Este gerenciamento e medidas para não ultrapassar o teto das despesas serão fatores de sinalização positiva ao mercado e aos investidores que estão ávidos pelas oportunidades em infraestrutura que o Brasil pode proporcionar” – completa o diretor da Xylem.
Além do saneamento, a Aerzen tem forte atuação na indústria de alimentos, e por ser um setor essencial criou formas de trabalho especiais, a fim de proteger os funcionários, manter a atividade ativa e atender os clientes da melhor forma possível. “Notamos que o mercado reagiu de uma forma diferente neste ano de 2020, com maior incidência de trabalhos de assistência técnica, os projetos ficaram por um tempo indefinido e acabaram postergados para o ano de 2021”, afirma Souza.
Tecnologias e novidades do setor
Esse é um setor que gera muita expectativa de retomada do mercado e de investimentos, principalmente por causa do Novo Marco Legal do Saneamento. Hakas acredita que não haverá maiores ou novas tecnologias, porém destaca que há um movimento paras processos de dessalinização, osmose reversa e reúso de água.
“Muitos analistas indicam que a retomada da economia será principalmente na área de saneamento. A Kemira está observando com atenção o Novo Marco Legal no Saneamento, a fim de tomar as ações necessárias para poder aproveitar esse boom de investimentos, que vai demandar muitos químicos para tratamento de água e efluentes” – afirma Hakas.
Por outro lado, Ramacciotti, destaca que a única constante no tratamento de efluentes é a mudança. Seja por causa da variação diária do efluente ou crescimento de longo prazo da população, o fato é, que as demandas no processo de tratamento de efluentes mudam constantemente. Desta forma, considera duas tendências muito interessantes, o Mixer (Misturador) Inteligente e as Estações Compactas Pré-frabricadas. Com um misturador tradicional de velocidade constante é possível operar a 100% da capacidade o tempo todo, independentemente da força que o processo atual realmente necessite para colocar o efluente em movimento. Sem a capacidade de controlar e ajustar a velocidade desse misturador, perde-se muita energia e tempo.
“Uma vez que os processos de tratamento são variáveis, o misturador também deveria ser. Com um drive integrado e controle de recursos avançados, incluindo automação completa, é possível ter controle sobre sua mixagem ou até mesmo deixar o mixer controlar a si mesmo. Sem falar que você pode ter Mixers Adaptáveis da Flygt para mistura altamente eficiente e otimizada, em qualquer condição” – explica.
As Estações Compactas Pré-frabricadas, por sua vez, são consideradas soluções práticas, fáceis e rápidas de instalar, passando a funcionar em pouquíssimo tempo. “Estas características são notórias necessidades das empresas atuais de saneamento que, devido a grande expansão que terão de realizar em curto espaço de tempo, precisam acelerar a instalação de estações de esgoto” – enfatiza Mario Ramacciotti, diretor da Xylem.
Além da rapidez na instalação e funcionamento, é possível agregar ainda a bomba submersível Flygt e um pequeno painel de controle. Com isto, é possível ter uma estação que permite fornecimento a uma residência unifamiliar, a um prédio de apartamentos ou a uma comunidade inteira apenas com uma estação compacta para águas residuais.
“A Flygt Compit vem completa na entrega, pronta para instalação e conexão imediata. Alojada em polietileno rotomoldado, este sistema integrado é fácil de manusear e pesa, dependendo da configuração, entre 181 e 244 kg, excluindo-se a bomba. Um eixo de extensão conveniente torna mais fácil instalar a estação de bombeamento Flygt Compit em profundidades entre 1,9 e 3 metros. Cada estação de bombeamento pode estar equipado com uma ou duas bombas. Além disso, o fundo em formato especial de tigela e interior com superfície lisa da estação de bombeamento a faz ser autolimpante” – completa.
A tendência para equipamentos com maior grau de eficiência energética e menor incidência de manutenções é a aposta da Aerzen. Segundo Souza, a empresa está cada vez mais oferecendo soluções de Performance³. Trata-se da integração das três tecnologias para sopradores, trabalhando em seus melhores pontos de operação.
“Nosso equipamento Turbo de Mancal pneumático é a promessa para o mercado de águas residuais, com grau de eficiência de até 40% comparado a outras tecnologias, conta com tendência de manutenção zero. Vem com a ideia de mudar o conceito de tecnologias de sopro para as estações de tratamento de água e esgoto” – explica. O próximo ano, com certeza, será desafiador e o objetivo da Aerzen é propagar o conceito de integração de tecnologias.
Ele destaca ainda que a empresa acredita no trabalho que está sendo desenvolvido junto as engenharias e projetistas, enfatizando a preocupação com a causa de responsabilidade social do mercado de águas e absorvendo as novas tecnologias em busca do desenvolvimento tecnológico do mercado. “Nós do setor de máquinas e equipamentos nos reinventamos trazendo para o mercado nacional, equipamentos mais eficientes e com baixos custos de operação e manutenção” – completa.
Contato das empresas
Aerzen: www.aerzen.com.br
Alphenz: www.alphenz.com.br
Kemira: www.kemira.com
Xylem Brasil: www.xyleminc.com