Caixa Separadora de água e óleo
Por Carla Legner
Edição Nº 62 - Agosto/Setembro de 2021 - Ano 11
A água e o óleo são elementos que tendem a se separar naturalmente devido as características do óleo, por ser hidrofóbico e não se misturar com a água, como também, devido as diferenças de densidade, sendo este mais leve e tendendo a flutuar na água
A água e o óleo são elementos que tendem a se separar naturalmente devido as características do óleo, por ser hidrofóbico e não se misturar com a água, como também, devido as diferenças de densidade, sendo este mais leve e tendendo a flutuar na água. De acordo com Mauricio Lopes Neto, representante da Puro Diesel, a mistura água-
óleo pode ser classificada de cinco formas:
Óleo livre: composto por gotículas de óleo. Tem o diâmetro igual ou superior a 20 micrômetros. Em sua composição possuem pouca ou nenhuma água associada, portanto, acabam flutuando na superfície, uma vez que seu peso especifico é inferior ao peso da água. Nesta condição, pode ser facilmente separado pelo método de separação gravitacional.
Óleo fisicamente emulsionado: é formado pela emulsão de gotículas de óleo. Seu diâmetro varia entre 5 e 20 micrômetros. Nesse caso, quando o óleo é disperso na água está sob uma forma estável. A emulsão mecânica é formada pela ação de agitação, causada pelo bombeamento, como a operação de abrir ou fechar uma válvula ou outra situação que restrinja o fluxo.
“Há também a possibilidade de se formar por incidência direta, seja por causa da chuva ou de jateamento de água diretamente na câmara de separação do separador água-óleo. São instáveis e podem ser quebradas de maneira mecânica ou química, sendo separadas na fase oleosa” – destaca Neto.
Óleo quimicamente emulsificado: segundo o Arizona Departamento of Environmental Quality (1996), são emulsões formadas por gotículas de óleo onde o diâmetro é inferior a 5 micrômetros. Se formam, normalmente, a partir do uso de detergentes, desengraxantes, solventes, etc.
Óleo dissolvido: são pequenas gotículas de óleo e seu diâmetro é inferior a 0,01 micrômetro, que solubilizam na água.
Óleo absorvido por partículas sólidas: este tipo de óleo adere ao material particulado e se sedimenta devido a ação da força gravitacional. Nesse sentido, Solange Zeppini, gerente comercial da Zeppini, explica que o óleo é um elemento com grande capacidade poluidora, que acaba gerando demanda de tratamento e processos específicos se misturado com outros tipos de efluentes. O uso de um equipamento separador é fundamental, pois além de garantir que estão sendo atendidas normas e regulamentações, permite descentralizar o tratamento e reduzir a demanda para a rede pública de coleta.
“Uma Caixa Separadora de água e óleo, comumente utilizada a sua abreviação SAO ou CSAO, é um sistema de tratamento físico de água que favorece e auxilia a separação natural em um ambiente controlado, onde se possa realizar a coleta de maneira separada, realizando a sua destinação ambientalmente correta” – enfatiza Guilherme Machado Marangon, analista ambiental na Sinergia Engenharia de Meio Ambiente.
Esse equipamento é utilizado para receber efluentes e águas contaminadas com óleos e seus componentes de áreas de manutenção, como no ambiente de lavagem de veículos, oficinas mecânicas, postos de combustíveis veiculares (serviço), condomínios, concessionárias, estacionamentos, dentre outros.
Segundo Evandro Zanin, engenheiro químico da Fibratec, trata-se de uma ferramenta desenvolvida para combater os problemas ambientais causados pelo despejo incorreto de água poluída misturada a óleo diretamente nos corpos receptores. “O efluente sai do sistema praticamente isento da fração oleosa, podendo ser descartado na rede coletora indicada pelos órgãos ambientais” – enfatiza.
Características e funcionamento
Uma Caixa Separadora é composta por um conjunto de equipamentos aplicáveis para a remoção de óleo em estado livre: área de contribuição, canaletas, tubulações, caixa de areia, sistema de retenção de resíduos flutuantes, separador de água e óleo, reservatório de óleo separado, caixa de amostragem de efluente e compartimento de contenção. O princípio de funcionamento é baseado na separação da fase oleosa e aquosa em virtude da diferença de densidade existente entre elas.
Pode ser confeccionado em polipropileno de alta densidade, o que proporciona maior resistência e durabilidade. Além disso, Marangon explica que pode ser fabricada em alvenaria, ou pré-moldados, devendo ser dimensionado por profissional devidamente habilitado e carece da apresentação de memorial de cálculo e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), além de atender as exigências constantes na ABNT NBR 14605-7 Armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis — Sistema de drenagem oleosa.
Existe também SAO com placa coalescente, a qual tem a função de aumentar a eficiência do sistema. A placa coalescente realiza a aglutinação de gotículas menores de óleos, formando gotas maiores, devido ao contato com as placas, resultando em uma velocidade maior na separação do óleo na água.
“São utilizadas em sistemas que possuem um alto fluxo de água com óleo e necessita que o tratamento seja realizado mais rapidamente. A placa coalescente aumenta a eficiência do sistema tratando uma vazão maior de água e óleo com dimensões menores que as caixas separadoras sem o dispositivo” – detalha o representante da Sinergia.
O diferencial deste tipo de separador, em relação aos outros modelos disponíveis, se dá justamente pela presença da placa utilizando a técnica do meio coalescente oleofílico, que facilita a retenção ou adesão da placa ao óleo. Este meio coalescente é colocado de maneira inclinada, aumentando assim, seu tempo de subida e permitindo que mais gotas se juntem para formar uma gota maior. Por outro lado, os sólidos sedimentam com maior facilidade, aumentando assim o tempo de retenção, para após separar da água.
As misturas consistem em combinações de duas ou mais substâncias em sua forma pura, sem que ocorra uma reação química entre elas. Podem ser utilizados no tratamento preliminar de uma estação de efluentes ou de esgotos, visando minimizar os impactos do óleo nas etapas que seguem no processo, como por exemplo, no tratamento biológico.
Neto explica que no processo, o equipamento recebe a água com os resíduos de óleo, porém este resíduo não pode ser lançado diretamente na rede de esgoto, deve receber um tratamento prévio, ou seja, realiza-se a separação destes resíduos para só então, dispensar a água.
De maneira geral, a instalação dos separadores de água-óleo é feita de forma simples, tanto na superfície do solo como enterrados, bastando seguir o manual de instrução. Estes tipos de separadores também possuem operação simples, sendo caracterizada por limpezas periódicas nas câmaras de decantação, separação e depósito de óleo.
O sistema é composto por quatro etapas tratamento. A primeira delas é com Caixa de areia, que retém os sólidos grosseiros, como areia e terra. Em seguida, na Caixa separadora de óleo, o efluente perde energia e o óleo e, por diferença de densidade, tende a flutuar. Podem ser projetadas uma ou mais caixas dependendo das características do efluente e da vazão.
O processo segue com a Caixa coletora de óleo, que recebe o óleo separado da água, onde deverá ser de material de fácil limpeza e acesso para as devidas manutenções. Por fim, a Caixa de inspeção valida com visibilidade por onde o efluente, já separado, pode ser visualizado.
Zanin destaca que o equipamento deve ficar em um nível mais baixo do que todos os pontos de coleta de líquido. Caso não seja possível, recomenda-se fazer um sistema de bombeamento do líquido até a entrada do produto. Deve-se deixar um espaço para a retirada da tampa de inspeção, além de um espaço frontal para o acionamento e coleta da calha de óleo e sangramento da caixa.
“Em termos operacionais, podemos destacar como vantagem a praticidade de instalação, que pode ser realizada diretamente no solo, sem necessidade de construção de estruturas adicionais, e também fácil limpeza nos momentos de manutenção. Outra vantagem é que por se tratar de um sistema pré-fabricado, os resultados de tratamento são previsíveis e a qualidade está garantida, desde que aplicado de forma correta” – completa Solange.
Manutenção, normas e principais cuidados
De acordo com Marangon, algumas vezes, apenas o tratamento por sistema SAO (físico), pode não ser o suficiente para a retirada do óleo na água, por exemplo, quando há óleo emulsionado na água, sendo necessário um tratamento químico. A emulsão pode ser formada de duas formas.
A mecânica é gerada por uma agitação rápida e violenta, formando micropartículas de óleo e dificultando que haja a separação que ocorre naturalmente do óleo na água. Já a emulsão química, ocorre em caso de utilização de produtos de limpeza alcalinos que contêm surfactantes (sabões e detergentes). Nestes casos é necessário o tratamento por meio de coagulantes, floculantes ou então alteração de pH.
Nesse sentido, é muito importante realizar análises e monitoramento físico químico da água tratada pelo sistema SAO, pois se houver emulsão na água é necessário estudar um tratamento químico adequado para a retirada desse componente.
A legislação brasileira estabelece que todo óleo lubrificante usado deve passar pelo processo de rerrefino. Descartá-lo de qualquer outra forma é um crime ambiental. As normas de descarte são regidas pelas leis do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) respeitando a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Quando o assunto é cuidado e manutenção, Marangon explica que o processo mais comum do sistema é a destinação do óleo que fica retido no reservatório separado, e este deve ser coletado por uma empresa devidamente licenciada a qual realiza a coleta e o rerrefino. “Para auxiliar no procedimento de destinação do óleo retido é interessante colocar uma fita ou pintar uma marca, quando o óleo chegar é o momento de solicitar a empresa para a coleta”- destaca.
É necessário realizar também uma análise da estanqueidade do sistema, se não há rachaduras nas caixas de armazenamento ou na tubulação, verificar se não há sinais de vazamentos do sistema e marcas de óleo ou água no entorno, assim como realizar limpeza periódica na caixa de areia.
É importante destacar ainda, que a caixa separadora de água e óleo no caso de postos de combustíveis é uma exigência antiga, desde a Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº 273/2000, a qual versa que toda instalação e sistema de armazenamento de derivados do petróleo devem possuir o sistema separador.
Além disso, o efluente do sistema de separação água e óleo deve atender aos parâmetros de lançamento, estabelecidos pela legislação federal, Resolução CONAMA 357/2005 e Resolução CONAMA Nº 430/2011. “Podemos citar, também a Norma ABNT NBR 14605-2 Armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis — Sistema de drenagem oleosa, e Resolução CONAMA nº 362 de 23/06/2005 - Dispõe sobre as regras de recolhimento, coleta e destinação final do óleo lubrificante usado ou contaminado” - enfatiza Marangon.
O fato é que, a utilização de óleos e graxas é uma prática muito comum em diversas empresas que precisam deste lubrificante em suas tarefas do dia a dia. O fluido é fundamental no funcionamento de qualquer tipo de motor e é utilizado em diversas máquinas e em muitas outras atividades. Sendo assim, o separador de água e óleo é de suma importância para o meio ambiente.
Sem falar que a utilização desse equipamento traz benefícios de extrema importância para a saúde humana, uma vez que a água é descontaminada ao passar pelo sistema e pode voltar a ser consumida, seja para a lavagem do local ou então ser destinada para corpos hídricos.
O óleo lubrificante usado descartado no solo pode contaminar os mananciais de abastecimento água, recurso natural essencial ao ser humano. Segundo a SABESP (2021) 1 litro de óleo pode contaminar até 25 mil litros de água. Isso porque suas substâncias não se dissolvem na água e, quando despejadas nos cursos d’água, causam descontrole do oxigênio e a morte de peixes e outras espécies.
“Caso a caixa separadora de água e óleo não seja utilizada, todas as impurezas são descartadas de maneira inadequada. Isso gera a contaminação acarretando em grande prejuízo financeiro e ambiental, ocasionando a demora na recuperação da área afetada” – finaliza Neto.
Contato das empresas
Fibratec: www.fibratec.com.br
Puro Diesel: www.purodiesel.com.br
Sinergia Engenharia: www.sinergiaengenharia.com.br
Zeppini: www.zeppini.com.br