Avaliação de extrato natural a base de Moringa Oleífera como potencial coagulante

Os materiais utilizados como coagulantes nos processos de tratamento de água, mais especificamente nas etapas de coagulação/floculação, são à base de ferro e alumínio, tais como o cloreto férrico (FeCl3), cloreto de alumínio (AlCl3)


Os materiais utilizados como coagulantes nos processos de tratamento de água, mais especificamente nas etapas de coagulação/floculação, são à base de ferro e alumínio, tais como o cloreto férrico (FeCl3), cloreto de alumínio (AlCl3), sulfato de alumínio (Al2(SO4)3) e policloreto de alumínio (PAC). Para tanto, existem produtos naturais com propriedades semelhantes aos químicos sintéticos atualmente empregados. Um dos produtos naturais em pesquisa laboratorial há algum tempo consiste na semente da árvore Moringa oleífera. Diante dos vários estudos já realizados a nível nacional e internacional com essa semente, foi realizado um estudo através de ensaios de bancada no sistema de tratamento de água no município de Guaratinguetá, a fim de averiguar a potencialidade deste produto natural na remoção dos parâmetros Cor e Turbidez face as características da água bruta advinda do manancial superficial (Ribeirão Guaratinguetá). Os resultados obtidos demostraram eficácia no emprego do extrato da semente de Moringa oleífera como floculante, com índices máximos de remoção dos parâmetros Cor e Turbidez de 86,58 % e 90,00 % respectivamente com uso do extrato da polpa da semente, enquanto com uso da semente completa (polpa + casca) a remoção da Cor e da Turbidez foi de 78,51 % e 83,07 %. É importante a constituição nos variados sistemas de tratamento sobre a viabilidade de utilização deste produto natural, de forma a permitir alternativas no processo produtivo em prol da sustentabilidade ambiental e redução de impactos ambientais com os resíduos do processo de tratamento.

1- Introdução
Moringa oleifera é uma planta da família Moringaceae, sendo conhecida simplesmente por moringa, ainda que seja também vulgarmente denominada como acácia-branca, árvore-rabanete-de-cavalo, cedro, moringueiro e quiabo-de-quina. Cresce principalmente em áreas semiáridas tropicais e subtropicais, sendo o seu habitat preferencial o solo seco e arenoso, tolerando solos pobres como em áreas costeiras.
Devido a uma composição particular dos óleos e das proteínas contidas nas sementes, Castro e Paulino (2015) descrevem que ao serem trituradas e misturadas a uma água turva e não potável, ocorre uma reação extraordinária: a água fica clarificada. O pó das sementes de moringa possui, de acordo com Castro e Paulino (2015), a propriedade de atrair argila, sedimentos e bactérias, os quais acabam indo para o fundo do recipiente e deixando a água limpa e potável.
Tanto as sementes da espécie etíope (Moringa stenopatala) como da asiática (Moringa oleífera) possuem as mesmas características de decantar a água. Pesquisadores do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais comprovaram, em testes de laboratório, que as sementes da moringa asiática conseguem remover 99% da turbidez da água (CASTRO e PAULINO, 2015).
Os biocoagulantes surgem como produtos promissores no setor de saneamento ambiental, de acordo com Lima Júnior e Abreu (2018), destacando-se por serem solúveis em água e de alta efetividade numa ampla faixa de pH, produzindo menores volumes de lodo biodegradável e de baixo impacto ambiental. Os produtos naturais, ainda conforme os autores, não são corrosivos e constituindo-se, em sua maioria, por polímeros e proteínas vegetais de baixa toxicidade. Quando bem utilizados, esses produtos podem permitir a redução do custo operacional do tratamento de água (LIMA JÚNIOR e ABREU, 2018).
De acordo com Lima Júnior e Abreu (2018), como vantagens principais atribuídas aos coagulantes naturais, em comparação aos inorgânicos sintéticos, devem-se à alta disponibilidade da matéria-prima, amplamente renovável, a baixa corrosividade sobre o sistema de distribuição de água, a diminuição do volume de lodo gerado no processo de até cinco vezes, não apresentando riscos à saúde humana e animal e é biodegradável.
À luz da saúde e do meio ambiente, perante as preocupações com o uso dos coagulantes químicos, Choy et al. (2014) recomenda a necessidade imediata de desenvolvimento de produtos viáveis para o emprego como coagulantes naturais em alternativa aos coagulantes químicos. 
Já Yin (2010) reforça a importância da substituição dos coagulantes químicos a base de ferro e alumínio, tais como cloreto de alumínio (AlCl3), cloreto férrico (FeCl3) e policloreto de alumínio (PAC), por coagulantes à base de plantas para eliminar os impactos negativos gerados pelos coagulantes inorgânicos, tais como a ineficácia em águas com baixa temperatura, altos custos de aquisição, efeitos nocivos à saúde, produção de grandes volumes de lodo e interferência significativa no pH da água tratada.
A utilização dos coagulantes naturais, dentre eles a Moringa oleífera, representa um grande progresso no ramo da tecnologia sustentável, tendo em vista que são recursos renováveis e seu uso está diretamente ligada à melhoria da qualidade de vida para comunidades, especificamente as subdesenvolvidas (YIN, 2010).
A água aduzida para tratamento na estação de tratamento de água (ETA) no município de Guaratinguetá possui características físico-químicas intrínsecas quando comparadas a outras fontes de abastecimento de água. As características da água bruta variam temporal e espacialmente nas mais variadas bacias hidrográficas do país e do mundo.
Diante dos vários estudos já realizados e aos atuais em andamento nas várias localidades a nível nacional e internacional, mediante utilização de produtos coagulantes e floculantes orgânicos de origem vegetal no tratamento de água, é necessário ampliar cada vez mais as pesquisas de forma a averiguar a eficácia dos produtos naturais como coagulantes alternativos nos vários sistemas de tratamento de água.

2- Objetivos
O trabalho desenvolvido teve como objetivo avaliar, através de ensaios de bancada com o uso de equipamento Jar Test e acessórios, a remoção dos parâmetros físicos Cor e Turbidez com o uso do extrato aquoso da semente da árvore Moringa oleífera como coagulante químico natural no processo de tratamento de água na estação de tratamento de água (ETA) no município de Guaratinguetá em água bruta originária do Ribeirão Guaratinguetá, manancial superficial responsável pelo abastecimento de água de aproximadamente 90% da população residente na área urbana municipal. 

3- Metodologia utilizada
A metodologia de pesquisa adotada foi a quantitativa, tendo em vista a geração de resultados numéricos mediante as análises em laboratório dos parâmetros físicos (Cor e Turbidez) e químico (pH).
Os ensaios foram realizados no laboratório da ETA no município de Guaratinguetá mediante uso dos aparelhos colorímetro, turbidímetro e pHâmetro. A pesquisa realizada consistiu nas seguintes etapas:
• Obtenção da água bruta na calha Parshall da ETA com posterior determinação dos parâmetros considerados para o estudo (cenário 01);
• Realização de ensaios de coagulação/floculação (Jar Test) com a utilização do composto orgânico natural com uso apenas da polpa da semente (PS), com a posterior determinação dos parâmetros considerados para o estudo (cenários 02);
• Realização de ensaios de coagulação/floculação (Jar Test) com a utilização do composto orgânico natural com uso da semente completa (polpa + casca da semente _ PS + CS), com a posterior determinação dos parâmetros considerados para o estudo (cenários 03);
• Criação de histórico com os valores obtidos das análises dos ensaios mediante uso do software MS Excel;
• Criação de gráficos, por parâmetro de estudo, a fim de melhor avaliação do comportamento das águas consideradas no estudo.
Quanto ao preparo da solução com o coagulante a base das sementes de Moringa oleífera, segue a descrição de quantitativo de materiais utilizados, procedimento de preparo da solução aquosa e características técnicas adotadas durante o ensaio:

3.1- Equipamentos/materiais utilizados no preparo da solução:
• Balança digital eletrônica (capacidade 5,0 kg);
• Liquidificador doméstico;
• Peneira metálica com abertura 1,0 mm;
• Recipiente plástico para armazenamento do extrato obtido.

3.2- Equipamentos/materiais utilizados no ensaio/teste de bancada:
• Jar Test Floc Control III (marca Policontrol);
• Phmetro de bancada (marca Del Lab);
• Turbidímetro de bancada (marca Del Lab);
• Colorímetro Aquacolor (marca Policontrol);
• Proveta 100 mL;
• Pipeta 25 mL;
• Balão volumétrico 500 mL;
• Deonizador de água.

3.3- Obtenção da solução salina utilizada no estudo:
• Soluto 01: 40 g a base de semente de Moringa oleífera:
1- Polpa da semente (PS) como tipo 01 de coagulante;
2- Polpa + Casca da semente (PS + CS) como tipo 02 de coagulante;
• Soluto 02: 12 g de sal de cozinha (NaCl) para a obtenção de solução 1 molar (1 M);
• Solvente: 200 mL de água deonizada.
As soluções a base de semente de Moringa oleífera utilizadas como coagulante natural em dosagens no Jar Test foram obtidas mediante duas etapas:
a) Trituração em liquidificador de 40 g de soluto (PS ou PS + CS) e 12 g de sal de cozinha em 200 mL de água deonizada, a fim de obter a solução salina 1 molar (1 M);
b) Peneiramento da solução gerada da trituração para retenção de eventual material grosseiro não triturado;
c) Diluição de 150 mL do volume resultante do peneiramento em balão volumétrico 500 mL, complementado com água deonizada.

3.4- Características de tempo e velocidade considerados durante os ensaios:
• Tempo de 10 minutos para a agitação/trituração, a alta rotação do liquidificador, para a obtenção da solução composta de sementes de Moringa (PS ou PS + CS), água deonizada e sal de cozinha;
• Velocidade de agitação do equipamento Jar Test: 100 rpm, 75 rpm, 50 rpm e 20 rpm;
• Tempo de agitação no equipamento Jar Test: 2,0 minutos para cada velocidade anteriormente descrita;
• Tempo de 30 minutos considerado para a decantação/sedimentação após o término da agitação do líquido nas jarras, com a avaliação dos parâmetros Cor e Turbidez em intervalos de 10 minutos.

3.5- Fórmulas empregadas nos cálculos durante o desenvolvimento do estudo:
A fórmula para o cálculo da concentração do extrato obtido a partir das sementes de Moringa está descrita na equação (1) a seguir:

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Uma vez obtido o extrato, ocorreu a diluição em balão volumétrico, conforme a equação (2) a seguir:

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As eficiências dos parâmetros físicos Cor e Turbidez foram calculadas conforme as equações 3 e 4 a seguir:

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A figura 1 a seguir mostra a localização do município de Guaratinguetá, local da realização do estudo, no estado de São Paulo.

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A figura 2 ao lado apresenta a delimitação municipal e municípios limítrofes a Guaratinguetá na região do Vale do Paraíba.

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A empresa detentora dos serviços de saneamento no município de Guaratinguetá é a Companhia de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá, popularmente conhecida na municipalidade como SAEG, com 51 anos completados em março/2022.

4- Resultado obtidos
Vários foram os resultados obtidos com os ensaios realizados mediante o emprego do extrato da semente da árvore Moringa oleífera, desde a polpa da semente (PS) a semente completa (PS + CS), de forma a visualizar as potencialidades de utilização e interface com o material particulado da água bruta.
A figura 3 a seguir mostra a árvore Moringa oleífera vista num dos bairros da parte alta na cidade de Maceió/AL, onde foram obtidas as sementes para uso na experimentação em Guaratinguetá/SP.

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A figura 4 a seguir mostra representação das vagens de sementes da árvore Moringa oleífera retiradas e o armazenamento das sementes em sacolas plásticas para o transporte ao local dos ensaios.

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A figura 5 a seguir mostra a matéria prima semente da árvore Moringa oleífera utilizada como coagulante natural para a realização dos ensaios de teste de jarras (Jar Test).

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As figuras 6 e 7 a seguir mostra a sequência das etapas para a obtenção do extrato das sementes de Moringa oleífera, desde a pesagem, uso de equipamento triturador, peneiramento para a retenção de material grosseiro e diluição em balão volumétrico.

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A figura 8 a seguir mostra a dosagem do extrato da semente de Moringa oleífera no teste de jarra (Jar Test).

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Para dosagens grandes durante a realização dos ensaios (volume acima de 25 mL), utilizou-se a proveta graduada 100 mL em vez da pipeta 25 mL.
A figura 9 a seguir mostra a vista superior da lâmina d’água das jarras com espuma branca durante o teste de jarra (Jar Test). Essa espuma é oriunda do uso do extrato das sementes de Moringa oleífera, sendo formada durante a agitação da água (giro das palhetas) durante o ensaio.

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Durante o tempo de decantação, após o funcionamento do aparelho Jar Test, visualizou-se a presença grande de partículas suspensas. Estas partículas causam alteração de valor do parâmetro Turbidez. Desta forma, a fim de avaliar a melhoria na clarificação (redução do valor da Turbidez), utilizou-se o produto geocálcio, alcalinizante utilizado para a correção do pH no processo de tratamento de água municipal.
As figuras 10 e 11 a seguir mostram os resultados obtidos no Jar Test mediante o uso do extrato da Moringa oleífera com e sem adição do geocálcio. Em ambos os gráficos, tem-se como valores de referência comparativa os parâmetros Cor e Turbidez da água bruta, sendo visível a alta eficiência na remoção dos parâmetros da água coagulada após o tempo de 30 minutos da realização do ensaio.

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A tabela 1 abaixo apresenta os valores registrados para os parâmetros físicos Cor e Turbidez da água bruta utilizada nas análises dos ensaios Jar Test.

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De forma geral, para os ensaios Jar Test realizados com a água bruta, foram obtidos os seguintes percentuais, conforme a descrição na tabela 2 a seguir, mediante a utilização dos extratos da polpa da semente (PS) e da semente completa (PS + CS). 

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As figuras 12 e 13 a seguir mostram as curvas de valores das águas bruta e coagulada correlacionadas as eficiências obtidas para os ensaios com uso do extrato da polpa de semente (PS) de Moringa.

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Já as figuras 14 e 15 a seguir mostram as curvas de valores das águas bruta e coagulada correlacionadas as eficiências obtidas para os ensaios com uso do extrato da semente completa (PS + CS) de Moringa.

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O estudo também contemplou a criação de “águas sintéticas” mediante o uso de corante/tinta e de solo argiloso/siltoso para análise, a fim de simular um efluente de fábrica têxtil e água de rio com elevada turbidez respectivamente, de forma a avaliar o potencial de remoção dos parâmetros físicos Cor e Turbidez com o emprego dos extratos a base de Moringa.
A figura 16 a seguir mostra a água sintética “colorida” criada com uso de produto industrializado, consistindo na diluição de 50 mL de corante na cor azul em 100 L de água bruta. Em seguida, ocorreu a homogeneização mediante uso de bastão durante 5 minutos, de forma que o corante esteja presente em todo volume amostral.

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A figura 17 a seguir mostra os béqueres (2,0 L cada) com a água sintética a ser utilizada no ensaio Jar Test.

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As figuras 18 e 19 a seguir mostram respectivamente o clareamento da água “colorida” nos béqueres mediante a utilização do extrato da polpa das sementes de Moringa (PS) no ensaio Jar Test em tempo inicial (00:00 h) e final (00:30 h) de decantação.

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As figuras 20 e 21 a seguir mostram os valores obtidos para os parâmetros Cor e Turbidez, assim como as informações de dosagem empregados do extrato da semente de Moringa.
O outro tipo de água sintética analisado foi criado mediante mistura de solo argiloso/siltoso em 100 L de água. A homogeneização ocorreu mediante uso de bastão durante 5 minutos, de forma que a matéria sólida esteja presente em todo volume amostral.

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A figura 22 a seguir mostra o recipiente branco com a água sintética turva acondicionada, onde ocorreu a retirada com uso dos béqueres do aparelho Jar Test.

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A figura 23 a seguir mostra os béqueres do aparelho Jar Test com a água sintética turva para uso no ensaio.
A figura 24 a seguir mostra o clareamento da água turva durante o ensaio Jar Test. Clareamento este resultante da sedimentação do material particulado dissolvido/em suspensão em contato com o extrato de semente de Moringa (PS) utilizado. 

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A figura 25 a seguir mostra o material particulado sedimentado nos béqueres do aparelho Jar Test após o tempo de 30 minutos (00:30 hs) mediante uso do extrato da semente da Moringa (PS + CS).

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As figuras 26 e 27 a seguir mostram as curvas de valores dos parâmetros Cor e Turbidez das águas bruta e decantada no tempo de 30 minutos (00:30 h) após os ensaios no aparelho Jar Test com uso dos extratos da polpa e da semente completa da Moringa.

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Referente aos resultados obtidos para as eficiências na remoção dos parâmetros físicos Cor e Turbidez da água bruta mediante uso do extrato da semente de Moringa oleífera, as figuras 28 a 31 a seguir mostram os resultados obtidos para cada intervalo percentual de eficiência analisado. 

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5- Análise e discussão dos resultados
A análise e discursão dos resultados serão realizadas em vários tópicos, desde a metodologia de geração dos extratos a partir das sementes de Moringa, os resultados obtidos mediante o uso de cada um deles e os possíveis impactos em emprego em escala real em planta de tratamento.

5.1- Obtenção da matéria prima para uso os ensaios
A árvore Moringa oleífera não é encontrada com facilidade na região subtropical do Brasil (Sul e Sudeste), exceto em área de universidades que reservam áreas para o plantio e utilização nas pesquisas acadêmicas. Então, sendo uma árvore muito comum em áreas da região Nordeste do país, foi obtido um quantitativo significativo para uso nos ensaios.
A remessa de 7,0 kg de sementes de Moringa foi obtida em 2 locais na cidade de Maceió (capital alagoana), mediante a atuação do colaborador Msc. e Engº Agrônomo Ruy Falcão, evidenciando que não apenas no semiárido nordestino existe a árvore conhecida como acácia branca ou a “árvore da vida”.

5.2- Metodologia adotada para a obtenção dos extratos PS e PS+CS
Mesmo diante da existência de procedimento para a geração do extrato das sementes de Moringa oleífera, segundo a profª Rosângela Bergamasco (Universidade Estadual de Maringá / UEM), adotou-se um procedimento alternativo considerando os equipamentos básicos e de fácil acesso por qualquer empresa e/ou pessoa física para a realização dos ensaios.
Foi pensado na real possibilidade de geração de insumo base para a realização dos ensaios diante do uso de equipamento diverso ao utilizado em laboratórios de pesquisa acadêmica em universidades.

5.3- Diferentes extratos da semente empregados nos ensaios
Quanto ao uso das soluções a base da polpa da semente (PS) e a semente completa (PS+ CS) nos ensaios Jar Test, houve equivalência na redução dos parâmetros Cor e Turbidez em grande parte dos ensaios. Para alguns ensaios, houve diferença mediante a aplicação dos dois extratos, sendo mais eficiente a utilização do extrato da semente completa (PS+ CS).
Durante o uso das soluções dos extratos de Moringa nos ensaios, ocorreu sempre a agitação do balão volumétrico para a homogeneização dos componentes antes da utilização da pipeta/proveta nas dosagens. Observou-se durante a realização de vários ensaios que o volume no balão apresentava sedimentação de material particulado, gerando a separação de componentes (solução bifásica).

5.4- Tempo de decantação da água coagulada nos ensaios 
Uma vez ocorrida a agitação da água com extrato de Moringa no aparelho Jar Test, foram avaliados os valores dos parâmetros físicos Cor e Turbidez para os tempos de 00:10 h, 00:20 h e 00:30 h (10 min., 20 min. e 30 min. respectivamente). Para tanto, foram considerados apenas os resultados do último tempo como resultado final da água coagulada para comparação com a água bruta ou água sintética.
Para o tempo de 00:10 h, os parâmetros físicos Cor e Turbidez já apresentavam redução de valor da ordem de 20 a 25% respectivamente para boa parte dos ensaios Jar Test.

5.5- Interface do extrato diante das características da água bruta do manancial superficial utilizado
Foi observado que, para as águas com elevada turbidez, o extrato da semente de Moringa oleífera mostrou-se bastante eficaz durante a realização dos ensaios Jar Test (remoção de Cor e Turbidez). Já com as águas de baixa turbidez, houve a necessidade de redução da concentração da semente no preparo do extrato (40 g para 20 g) ou reduzir o volume do extrato na diluição em balão volumétrico para a posterior dosagem nos ensaios Jar Test e obtenção da dosagem ótima (maior eficiência na remoção dos parâmetros Cor e Turbidez).

5.6- Interface dos extratos diante das características das águas sintéticas produzidas para o estudo
Para a água sintética “colorida” produzida e estudada, observou-se que a dosagem ótima para a remoção de Turbidez (Figura 21) diferiu da melhor dosagem de remoção do parâmetro Cor (Figura 20). Para o mesmo efluente colorido, o uso do extrato da semente completa (PS + CS) removeu melhor a Turbidez em relação a polpa da semente (PS). Já para a remoção do parâmetro Cor, o comportamento foi o contrário.
Observou-se que, para a remoção dos parâmetros Cor e Turbidez da água sintética “colorida” (valor da Cor bem mais elevado em comparação a Turbidez), precisou empregar mais volume de extrato de Moringa em comparação à água sintética com solo argiloso/siltoso, que apresentou valor da Turbidez mais elevado em relação a Cor.
As curvas de valores obtidos para os parâmetros Cor e Turbidez da água sintética turva (Figuras 26 e 27) apresentaram-se próximas ao longo das várias dosagens empregadas nos ensaios com o uso dos extratos da polpa (PS) e da semente completa (PS + CS) da Moringa.

5.7- Adição de alcalinizante para melhoramento da decantação
Para vários ensaios realizados com aparelho Jar Test, visualizou-se material particulado suspenso nas jarras, sem qualquer tendência de movimentação (subida ou descida). Então pensou-se em adicionar material de forma a reduzir a quantidade de particulado suspenso, a fim de melhorar a eficiência de remoção dos parâmetros Cor e Turbidez.
Para tal, foi adicionado o produto geocálcio (alcalinizante), ocorrendo a elevação acentuada do pH da jarra de melhor eficiência na remoção dos parâmetros físicos de estudo. Alguns valores nos ensaios ultrapassaram o limite de 9,0 para a água tratada, conforme a Portaria GM/MS 888/2021. Dessa forma, foram realizados novos ensaios com o uso de menor volume do alcalinizante (redução de 3 mL para 2 mL ou de 2 mL para 1,5 mL etc), de modo a ter nova constatação da remoção de parâmetros físicos e averiguação do valor de pH (valor máximo entre 8,0 e 8,5).
Através da análise das curvas representadas nas figuras 10 e 11, mediante o emprego do extrato da polpa da semente (PS), ficou visível a melhor eficiência na remoção dos parâmetros Cor e Turbidez com a aplicação do alcalinizante geocálcio em comparação ao ensaio em que não ocorreu a aplicação.

5.8- Quantidade de ensaios Jar Test realizados com a mesma água
Diante do desconhecimento do produto natural em estudo com a água bruta do manancial, foi adotado em cada jarra volume de extrato diluído similar ao empregado do coagulante químico policloreto de alumínio (PAC). Mediante a realização do ensaio Jar Test, viu-se a ineficiência total ou parcial na remoção dos parâmetros físicos. Então, ocorreu a realização adicional de um a dois ensaios com dosagens intercaladas e/ou crescentes ao(s) ensaio(s) anterior(es). Como evidência da realização de mais de um ensaio, as figuras 26 e 27 mostram as 18 dosagens empregadas e constituintes das curvas de avaliação dos parâmetros Cor e Turbidez. As figuras 10 e 11 mostram as curvas com 12 dosagens, evidenciando a realização de dois ensaios Jar Test.
Com o avanço dos estudos, de acordo com a característica da água bruta, as dosagens empregadas nos ensaios foram mais assertivas e com resultados bem significativos. 

5.9- Aparelhagem empregada na dosagem dos volumes do extrato diluído empregado nos ensaios
Durante parte dos ensaios, as dosagens foram realizadas mediante uso de pipetas (volume de 25 mL) e provetas (volume de 100 mL). Este último equipamento foi empregado quando demandava dosagem elevada (águas sintéticas colorida e turva), a fim de evitar usos sucessivos com a pipeta para a dosagem na mesma jarra.
Através da análise das figuras 20 e 21, percebe-se o emprego de dosagens altas para a geração de curvas com a melhor eficiência (máxima remoção dos parâmetros físicos). Então, utilizar pipeta para dosar volume de 150 mL e 200 mL tornar-se-ia muito moroso o ensaio, além do tempo demandado para os dois a três ensaios adicionais ocorridos. 

5.10- Volume de lodo gerado durante os ensaios
Diante dos usos dos extratos de Moringa (PS e PS+CS) nos variados ensaios, visualizou-se volume maior de material no fundo das jarras (corpo de fundo ou lodo), principalmente com o uso do extrato com a semente completa (PS+CS).
As figuras 19 e 25 evidenciam o elevado volume de lodo no fundo das jarras, vindo a gerar um entrave para o dimensionamento do dispositivo de tratamento de sólidos em caso de uso do produto natural como coagulante em escala real. Fazendo uma ampliação (zoom) na figura 25, percebe-se que o corpo de fundo é composto por duas camadas (branco leitoso e marrom), sendo o material de cor clara típico do coagulante empregado e o marrom, o solo argiloso/siltoso utilizado na produção da água sintética.

6- Conclusões/recomendações
Diante dos vários trabalhos realizados a nível nacional e internacional, obtendo resultados expressivos na redução de variados parâmetros (físicos, químicos e bacteriológicos), é visível a potencialidade da utilização do extrato da semente da árvore Moringa oleífera ou acácia branca como coagulante natural no processo de tratamento de água nas ETAs.
Para o trabalho desenvolvido em Guaratinguetá/SP, que consistiu na avaliação apenas dos parâmetros físico (Cor e Turbidez) e químico (pH) mediante a aparelhagem laboratorial existente, foi constatada a elevada remoção das partículas suspensas e dissolvidas em percentuais consideráveis, conforme os gráficos apresentados no campo resultados. A fim de maior complementação do estudo, faz-se necessária a realização dos ensaios para os parâmetros químico (Ferro e Manganês), bacteriológico (Escherichia coli etc) e propriedades organolépticas (sabor e odor) a fim de atestar a utilização do produto natural.
As águas oriundas dos processos industriais, especificamente o têxtil, poderia utilizar esse produto natural como coagulante no tratamento do efluente colorido gerado na redução da turbidez e principalmente cor em substituição a alguma etapa no processo industrial (eletrocoagulação e fotoeletrocatálise).
Uma vez sendo viável a utilização da semente da árvore Moringa oleífera no tratamento de água, alguns desafios para a obtenção da matéria prima (extrato) para uso em escala real precisam ser considerados, tais como: 1- avaliação da área necessária (km² e ha) para o plantio da árvore, de forma que produza a quantidade necessária de sementes de acordo com a vazão e as características da água bruta a ser tratada; 2- a produção industrializada ou mecanizada do extrato com as sementes da árvore para posterior uso como coagulante natural, sem a perda das propriedades naturais da semente.
Como benefício da utilização deste produto natural como coagulante em escala real, o resíduo gerado no processo de tratamento de água (lodo de ETA) poderia ser usado como adubo natural em plantações variadas ou na recomposição de solo em áreas sujeitas a processo erosivo no próprio município, reduzindo custos com transporte e destinação a aterros específicos em recebimento de lodo de ETA.

 

Ailton César Teles de Barros
Engenheiro Civil na Companhia de Serviços de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG), Pós-graduação Lato Sensu em Engenharia Ambiental e Saneamento Básico pela Universidade Estácio de Sá, Graduação em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo/Campus Santo Amaro e em Tecnologia em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal do Espírito Santo/Campus Colatina.

Paulo Ricardo Amador Mendes
Técnico em Saneamento na Companhia de Serviços de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG), Pós-graduando Stricto Sensu (Doutorado), Mestre em Engenharia Química e Graduação em Engenharia Industrial Química pela Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo (USP).

Caio Cesar Lino Menezes 
Engenheiro Químico na Companhia de Serviços de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG), Graduação em Engenharia Química pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

Tatiane do Nascimento Lopes
Técnica em Saneamento na Companhia de Serviços de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG), Pós-graduação Stricto Sensu (Mestrado) em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Especialização em Gestão de Projetos pela ETEC e em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental pela Faculdade Oswaldo Cruz; Graduação em Tecnologia em Hidráulica e Saneamento pela FATEC São Paulo e em Engenharia Ambiental pela Faculdade Oswaldo Cruz e Técnica em Química pela ETEC Júlio de Mesquita (Santo André/SP).

Evaldo Peixoto de Oliveira Júnior
Técnico em Saneamento na Companhia de Serviços de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG), Técnico em Química pela ETEC Rubens de Faria e Souza (Sorocaba/SP).

Luiz Rodrigo Gomes de Jesus 
Técnico em Saneamento na Companhia de Serviços de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG), graduando em Engenharia de Produção pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP), Operador de Processos Químicos pelo SENAI Mário Amato (São Bernardo do Campo/SP).

 
Referências bibliográficas

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