Produto fruto da irrigação, hoje gerenciada em tempo real, é mais valorizado
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 69 - Outubro/Novembro de 2022 - Ano 12
A irrigação é um mercado gigante e tem grandes oportunidades de expansão. Com o crescimento do setor agrícola, então, os sistemas de irrigação se tornam cada vez mais importantes. A agricultura irrigada cresce contínuo nas últimas décadas
A irrigação é um mercado gigante e tem grandes oportunidades de expansão. Com o crescimento do setor agrícola, então, os sistemas de irrigação se tornam cada vez mais importantes. A agricultura irrigada cresce contínuo nas últimas décadas e está ligada direto ao agronegócio. O produto fruto da irrigação é mais valorizado. “Onde se irriga se produz mais, e um produto com maior valor agregado. O agricultor colhe no momento em que não há ninguém colhendo e um produto de maior qualidade, porque a planta recebeu, no momento certo, a quantidade de água que precisava” – explica Vinicius Melo, diretor comercial da Valmont Industries.
De acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em 2021, o Brasil possuía 8,2 milhões de hectares equipados com irrigação. Estima-se que o País chegue a 13,7 milhões de hectares até 2040, um crescimento de 250 mil/ha/ano. “A perspectiva é que a área de irrigação continue crescendo e conquistando mais hectares. Para que esta façanha se realize, é preciso mostrar aos agricultores os benefícios que o sistema irrigado traz aos seus cultivos” – afirma Alexsandro Castro, gerente comercial de irrigação da Amanco Wavin Brasil.
Devido às vantagens que a tecnologia entrega, é notório que os agricultores precisam investir. Todas essas mudanças tecnológicas no setor têm um objetivo comum: “Aumentar a produtividade do cultivo e realizar uma gestão inteligente da água, diminuindo custos e desperdício do recurso hídrico” – assegura.
Produz três vezes mais
O setor busca se tornar catalisador da produtividade e menor consumo hídrico no campo. No final de 2021, foi criada a Rede Nacional de Irrigantes (RNAI) para ampliar a irrigação no País. “Por meio da coleta de dados do solo, condições climáticas e cultivo, é possível aumentar a eficiência no uso da água, auxiliar na produtividade e economizar recurso hídrico. A busca constante por inovação nos produtos e serviços do setor é indispensável” – pontua Castro.
Segundo a ANA, a irrigação utiliza 49% das águas brasileiras para uso em reservatório. “Graças a ela, os cultivos não dependem das chuvas e atingem até três vezes mais produtividade. Com o auxílio de tecnologias inovadoras, o desperdício tende a ser mínimo” – destaca.
A Internet das Coisas (IoT) na irrigação é um dos grandes avanços do setor. “A Inteligência Virtual integra diferentes equipamentos que coletam dados agronômicos e de umidade do solo para avaliar se é preciso irrigar ou não a lavoura – diz Castro.
Perfil
No ranking dos 10 países com maior área equipada para irrigação do mundo, o Brasil está em sexto lugar, segundo a Organização de Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A perspectiva do setor é que até 2040 a irrigação no Brasil cresça 75%.
• O Brasil ocupa hoje a sexta posição em área irrigada no mundo;
• São cerca de 8 milhões de hectares irrigados e 28 mil pivôs centrais instalados no Brasil;
• O Brasil pode irrigar até 74 milhões de hectares.
Em comparação com os Estados Unidos, pequena parte do Canadá, que seria o Cinturão Verde, tem, hoje, perto de 320 mil pivôs centrais instalados;
• 48% da produção de alimentos do mundo é oriunda das áreas irrigadas;
• As áreas irrigadas correspondem a 18% do total das áreas cultivadas;
• As áreas cultivadas são responsáveis por 48% da produção;
• 48% da produção equivalem a 51% do valor de produção. Fonte: Valmont.
Melo cita que os números oficiais de irrigação no Brasil, segundo a Câmara Setorial de Irrigação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), mostram o crescimento por todo o tipo de irrigação: irrigação localizada, mecanizada, pivô central, carretel etc.
Incentivo
O Programa de Financiamento à Agricultura Irrigada e ao Cultivo Protegido (Proirriga) impulsiona o setor. Para a safra 2021/2022, o Proirriga aumentou os recursos para linhas de investimento, atingindo R$ 1,35 bilhão para o fomento da irrigação. Para a safra 2022/2023, o Governo Federal destinou R$ 1,95 bilhão ao Proirriga, que tem juros similares ao antigo Fundo de Financiamento para Aquisição de Máquinas e Equipamentos Industriais (Finame), criado em 1964.
Os agricultores são classificados pelos bancos, que submetem esse cadastro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O BNDES libera o dinheiro para o banco, que disponibiliza ao agricultor. “Dentro desse processo de financiamento, o Governo se torna agente incentivador. Os incentivos à irrigação podem vir do Governo, mas o investimento é do produtor rural” – salienta Vinicius Melo, da Valmont.
Consumo e fontes
Segundo a ANA, cerca de 70% das outorgas concedidas são para irrigação “Isso não quer dizer que a irrigação consuma 70% da água outorgada no Brasil. Diferente dos outros usos, a irrigação não consome a água, mas usa a água e devolve a água ao sistema” – esclarece o diretor comercial da Valmont.
No Brasil, utiliza-se a água superficial. “A água está sendo captada nos rios, de onde volta à terra e vai direto para o lençol freático ou evapora e vira chuva em algum outro lugar. Esse é o ciclo da água” – explica.
A água subterrânea começa a ser trabalhada, principalmente, no Oeste da Bahia. “O Guarani; o Parecis, no Mato Grosso; e o Urucuia, na Bahia, são três aquíferos do Brasil gigantescos que podem aumentar ainda mais o potencial de irrigação no Brasil se forem manejados e utilizados da maneira correta” – afirma Melo.
Existem vários estudos, inclusive na Região do Oeste baiano, para monitorar o aquífero, do lençol freático, para que não tenha impacto muito grande. “Afinal, a água é o insumo do agricultor. O agricultor não quer fazer nada que impacte na natureza e possa fazer com que ele fique sem esse insumo valioso que é a água” – enfatiza o diretor comercial.
Grande parte da água usada no Brasil é superficial, mas começa-se a perfurar poços, já no Oeste da Bahia. Segundo Melo, existem alguns projetos no Piauí, outros no Mato Grosso e iniciando no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais. “As pessoas tiram água de poço para abastecer seus equipamentos de irrigação e fornecê-la às plantas” – diz.
Tendências
A irrigação inteligente é uma das tendências. “A irrigação, por si só, já é uma técnica que aplica água na quantidade certa, no momento certo, para a planta. Mas há ainda como melhorar, fazendo manejo de irrigação, consegue-se minimizar perdas” – aponta Melo, da Valmont.
Melo diz que o produtor não tem espaço para erro. Precisa ser o mais eficiente possível e poupar recursos. “O produtor não joga mais água ou é o vilão. Há um custo para jogar água e para energia elétrica. O produtor sempre joga água na medida certa” – defende.
Outra grande tendência, segundo Melo, é aumentar ainda mais o manejo e otimizar equipamentos de irrigação para aplicar insumos na lavoura. Trabalhar com fertirrigação, que aduba e irriga, aplicando fertilizantes e defensivos, fazer quimigação, com solução de agroquímicos: inseticidas, fungicidas e herbicidas.
Mais uma tendência forte são a telemetria, a gestão e o controle. “Quem não mede não gerencia. O produtor precisa ter todas as informações da sua lavoura em tempo real. Uma empresa tem procedimentos para funcionar, a lavoura também tem. O agricultor precisa monitorá-los e, para isso, é muito importante ter a gestão da informação em tempo real” – avalia Melo.
Irrigação tecnológica
O período de pandemia acelerou a aceitação e a implantação das tecnologias entre os agricultores. “O filho do agricultor, conforme sua geração, tem grande afinidade com tecnologia e aprende novas técnicas na universidade e quer apresentá-las aos pais, chegando até a impô-las: ‘Se quer que eu venha trabalhar com você, preciso de tecnologia na linguagem que conheço’” – relata Melo.
Várias fazendas procuram por telemetria e fala-se também em Inteligência Artificial. “No pivô central, por exemplo, instalamos câmeras infravermelho, térmicas, que identificam a incidência de pragas, doenças e características que se destaquem na cultura” – menciona.
Melo diz que eles ensinam ao software o que ele precisa identificar dentro de um pivô. “Por exemplo, um tipo de lagarta que é prejudicial para a cultura da soja. O aplicativo deve identificar não só a presença daquela lagarta, mas se aquela lagarta é a espécie prejudicial e qual é o nível de incidência dela para que seja tomada uma decisão” – diz.
“O software é como uma criança. É preciso ensiná-lo para aprender o que fazer e quais são os pontos que o agricultor pode utilizar dessa informação para tomar sua decisão. Há muita evolução neste processo” – ressalta Melo. Segundo ele, esse projeto, chamado Valley Insights, está dentro do Valley 365.
A ideia deles foi transformar o pivô em um scanner, que é o olho do agricultor 365 dias por ano na lavoura. “O agricultor não precisa estar lá para ver o que está acontecendo. Essa tecnologia propicia manejo cada vez mais sustentável por gerar informação bem rápido para tomada de decisão mais ágil e aplicação total direcionada” – destaca.
O agricultor consegue bons resultados e tem lucro com sua lavoura de forma sustentável. “A par de onde foi vista a praga ou a planta invasora, cabe ao agricultor tomar a decisão. A Inteligência Artificial trabalha junto da telemetria no monitoramento e fornece informação ao agricultor para que a tomada de decisão seja a melhor e mais assertiva possível” – garante Melo.
De vaso até campo de golfe
A indústria internacional está presente no País com acesso às técnicas mais avançadas para sistemas de paisagismo e agrícolas, que possuem maiores áreas. A Regatec é especialista em irrigação automática para jardins e áreas verdes e distribuidora da Rain Bird, empresa mundial de irrigação. “Nossa atuação é focada em sistemas automáticos em todos os níveis. Desde um vaso e floreira de apartamento até um complexo campo de golfe com 2 mil aspersores de comando individual” – menciona Danny Braz, diretor técnico de engenharia da empresa.
Nos últimos dez anos, de acordo com o diretor técnico, a tecnologia e a automação da irrigação cresceram mais do que na parte física hidráulica dos equipamentos. O controle da irrigação por aplicativos de celular ficou mais acessível e popular até para sistemas residenciais. “Os aplicativos vinculam o CEP da residência a informações climáticas da região e alteram diariamente os tempos de rega para acompanhar a Evapotranspiração das plantas” – ressalta Braz. Além disso, hoje monitora-se a vazão para detectar vazamentos e problemas que possam ocorrer.
“Os sistemas mais complexos otimizam a rede hidráulica e irrigam vários setores ao mesmo tempo, aperfeiçoando o tempo da bomba ligada” – diz Braz. Bombeamentos com vazão variável VFD têm sido muito usados. “Porque não é apenas o consumo de água que se quer reduzir, mas também a energia para aplicá-la” – enfatiza.
Nos sistemas urbanos prediais, utiliza-se cada vez mais água de reúso. “O que traz grandes economias no consumo. Basta haver nível maior de filtragem” – aponta Braz.
Diferentes segmentos
O Brasil tem hoje o que há de mais moderno em sistemas de irrigação nos diferentes segmentos:
Para paisagismo: usa-se muito gotejamento para canteiros e até o moderno gotejamento com escudo de cobre, que permite ser enterrado em gramados sem que a raiz da grama entupa a saída do gotejador. Este tipo de irrigação tem eficiência de 90% a 95% ou homogeneidade da rega.
Para gramados e canteiros baixos: usam-se aspersores escamoteáveis de bocal rotativo com padrão de distribuição de 75%.
Em áreas mais estreitas: utilizam-se bocais spray. Porém, seu padrão de distribuição não passa de 65%.
Para áreas mais abertas: utilizam-se rotores que podem ir de 10 m de raio a 24 m de raio e o padrão chega a 70% de eficiência.
Grandes complexos prediais: em edifícios de alto padrão modernos, há forte tendência da fachada toda com floreiras. Existem enormes jardins verticais ao lado de avenidas de São Paulo com mais de 1.000 m2. Todos estes sistemas de irrigação são controlados a distância com as novas tecnologias.
Campos de golfe: lançam-se as mais modernas tecnologias neste segmento. São grandes áreas, até 1 milhão de m2, com aspersores de 20 m a 29 m de raio. Para maior controle, o comando de cada aspersor é individual. Fazendo uma analogia, imagine um prédio de 20 andares – 18 buracos do campo mais acessórios – com 2 mil pessoas (aspersores) morando, cada um com uma sede diferente. Neste prédio, a água vem por um único elevador – bomba e rede hidráulica. Como este prédio faz a logística para distribuir esta água?
Para atender à demanda no menor tempo possível, existem os softwares de Controle Central que gerenciam a rede hidráulica, a rede elétrica e o manejo de cada aspersor. O sistema lê as informações climáticas de uma estação meteorológica no campo e diariamente recalcula o tempo de rega de acordo com a Evapotranspiração das últimas 24 horas.
Fonte: Regatec.
Irrigações mais usadas
As irrigações são as mesmas presentes em qualquer outro lugar do mundo, com diferentes tipos e especificidades.
Modelos de irrigação mais utilizados no Brasil:
A Irrigação por Aspersão simula chuva artificial, aplicando a água nas folhagens do cultivo e no solo.
A Irrigação por Inundação se concentra fortemente na Região Sul do País, com destaque para o arroz como a maior cultura irrigada.
A Irrigação Localizada é voltada às plantas e/ou raízes. Aplica-se água direto nas raízes das plantas, com baixa pressão e vazão, além de alta frequência. Pode ser subterrânea ou aplicada em área próxima ao caule das plantas, utilizada, principalmente, em frutíferas, cafés e outras culturas.
A Irrigação Mecanizada é a que mais cresce em área irrigada por ano, com destaque para os Pivôs Centrais, usados em quase todas as culturas, e os carreteis irrigadores, muito utilizados para a cultura da cana.
O Pivô Central é uma linha lateral suspensa por torres de sustentação em aço com rodas e motores que gira em torno de um eixo central, abastecido por adutoras de PVC no ponto de captação de água e energia.
Os Carreteis Irrigadores são carreteis enrolados de mangueiras com vários diâmetros e o aspersor na ponta.
Os Microaspersores são pequenas tubulações de polietileno que consomem menos água e gera menos desperdício porque irriga de forma localizada.
Fontes: Amanco Wavin, Hidrosolution e Valmont.
Contato das empresas
Amanco Wavin Brasil: www.wavin.com
Regatec: www.regatec.com.br
Valmont Industries: www.valmont.com