Irrigação na hora certa: água é o termômetro para uma boa safra
Por Cristiane Rubim
Edição Nº 69 - Outubro/Novembro de 2022 - Ano 12
A água tem um papel importantíssimo no plantio, crescimento e colheita de uma safra saudável de diferentes tipos de alimentos para sustentar toda a população. Esses alimentos cheios de nutrientes, por incrível que pareça
A água tem um papel importantíssimo no plantio, crescimento e colheita de uma safra saudável de diferentes tipos de alimentos para sustentar toda a população. Esses alimentos cheios de nutrientes, por incrível que pareça, vêm faltando no prato de mais de 33 milhões de pessoas que passam fome no Brasil. Chegou a esse número todo depois da pandemia.
No mundo, são 828 milhões de pessoas, 10% da população global e com outras formas de insegurança alimentar chega a 30%, segundo Relatório Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022, da Organização das Nações Unidas (ONU). Na África, são servidos sachês de alimentos terapêuticos para as crianças, que conseguem se recuperar da desnutrição. Mas é preciso ir além. O plantio e a colheita de alimentos no Brasil e no mundo são urgentes. E a irrigação simplesmente ajuda a triplicar a produtividade (ver matéria “Produto fruto da irrigação, hoje gerenciada em tempo real, é mais valorizado”).
O Brasil alimenta hoje 10% da população mundial, ou 800 milhões de pessoas, contando os brasileiros. Assume o terceiro posto como maior produtor de alimentos do mundo. A China está em primeiro, com 25%. Em segundo lugar, Estados Unidos; Índia, em quarto; e Rússia, em quinto. Para garantir-se no agronegócio internacional, o Brasil utiliza 71 milhões de hectares para a agricultura.
Na opinião de José Luiz Gonzaga, diretor comercial da Hidrosolution Equipamentos Agrícolas, o Estado não gera riqueza. “Quem gera riqueza é o povo, e todos nós pagamos impostos. O ‘povo’ elege políticos para administrar o dinheiro arrecadado e distribuí-lo de forma justa. O Estado arrecada muito e aplica de forma injusta. O Agronegócio é uma cadeia complexa e o agricultor convive com riscos, seca, praga, preços baixos, que, muitas vezes, não remuneram os investimentos. O Agro gera muita riqueza para o País. Parte dessa riqueza, por intermédio do Estado, poderia ser distribuída para os que passam fome” – afirma.
Para Kiko Afonso, da ONG Ação da Cidadania, em recente entrevista à Folha de S.Paulo(1), a fome no Brasil tem relação com o fim de políticas sociais pelo governo federal, que antes comprava alimentos dos produtores rurais. Segundo ele, os pequenos e médios sofrem sem financiamento e sem assistência técnica.
Da manual para digital
“Para melhorar a produtividade na agricultura, são necessárias práticas melhores, adubos e herbicidas, mas a água é o principal insumo” – afirma Gonzaga. No caso da cana-de-açúcar, sua especialidade, ele diz que é impossível irrigar 100% dos canaviais.
Antigamente, a colheita manual da cana-de-açúcar no Brasil era muito trabalhosa e perigosa para os trabalhadores. “Como a folha da cana é muito resistente, pode cortar a pele” – comenta Gonzaga. Além disso, era feita queima para poder replantar a cana-de-açúcar, prática que trouxe muitos inconvenientes. “Foram séculos para conseguir parar de trabalhar com a cana queimada e começar a colhê-la de forma mecanizada. Em terrenos onde a máquina não chega, ainda é feita colheita manual, mas não é possível mais queimar” – relata.
Com a chegada dos equipamentos, até os meios de lidar com as pragas mudaram. “A prática de queima trouxe inconvenientes e uma série de problemas, compactação do solo e impactos etc. Com as máquinas, houve mais avanço e desenvolvimento. Surgiram novos adubos e técnicas” – conta Gonzaga.
Safras e colheitas
Existem safras durante todos os períodos do ano. A safra começa em março, abril, maio e vai até outubro, novembro. “Cada um dos diferentes períodos das safras durante o ano tem suas características. O agricultor fica atento a essas nuanças do clima, do terreno, para poder tirar o melhor da sua colheita daquela safra do período” – relata Gonzaga.
“A água é o termômetro para uma boa safra. Os períodos precoces, com mais ou menos volume de água, necessitam de irrigação para poder fazer uma colheita melhor” – garante Gonzaga. Por exemplo, no período chuvoso, a plantação já chega madura pronta para a colheita. Em maio, está no fim das chuvas. Neste caso, é preciso mais irrigação.
Em junho, julho e agosto, a cana terminou de se formar no meio da safra, perde peso e é colhida mesmo assim. “No final de safra, a cana sofre mais, porque ficou sem chuva. Sem água, ficou seca. Para cada fase da cana, há uma forma de recuperá-la. Pode-se fazer manejos onde dá mais resultado: no início, no meio e no final da produção” – orienta.
Segundo Gonzaga e Braulino Bonatto, da B. Bonatto Jr. Equipamentos Agrícolas, não existem técnicas que dominem este mercado. Faltam mecânicos, eletricistas, entre outros profissionais. “É preciso conhecer o tipo de solo, a planta, o vento, a temperatura, porque a planta vai refletir em produtividade, pragas” – ensinam.
Os pequenos produtores fazem tudo manual. “São de 4 a 6 ciclos em áreas de solo pobre. A média de produtividade é 65 toneladas de cana por hectare. Irrigando, chega de 10 a 12 ciclos, 125 toneladas de cana por hectare. O que se traduz em longevidade e produtividade + produtividade em área e benefício” – relaciona Gonzaga.