Água tratada no meio rural humaniza: melhora saúde, educação e traz dignidade e progresso

Nas residências rurais, dificilmente a água passa por algum tipo de tratamento. Quando realizado, é para abastecê-las. No máximo, uma sedimentação, quando for água de rio. Um agravante é que a própria população rural não aceita a cloração devido ao sabor


Água tratada no meio rural humaniza: melhora saúde, educação e traz dignidade e progresso

Nas residências rurais, dificilmente a água passa por algum tipo de tratamento. Quando realizado, é para abastecê-las. No máximo, uma sedimentação, quando for água de rio. Um agravante é que a própria população rural não aceita a cloração devido ao sabor do cloro na água. Raramente se faz algum outro tipo de tratamento de água para uso na área rural. Na produção de animais, desinfecção da água com cloração, senão, não é realizado. São situações isoladas e específicas. 
Divide-se a população rural em quatro categorias, desde pequenos aglomerados com características urbanas até residências totalmente isoladas. É preciso maior atenção às residências isoladas. Em outros cenários, o saneamento e as melhorias nas escolas rurais otimizam o rendimento escolar e a Educação. Enquanto nas crises humanitárias, o foco do uso da água é a emergência em atender à saúde das pessoas. 

Conscientização
O máximo feito nas residências rurais é a cloração para evitar infecção da água que será usada no abastecimento. “Mesmo assim, a população rural tem tendência de não aceitar muito o uso de cloração devido ao sabor que o cloro deixa na água. Muita gente não gosta de colocar cloro na água porque não gosta do sabor” – menciona o doutor em Química Analítica Wilson Tadeu Lopes da Silva, pesquisador de Química Ambiental e Saneamento Básico Rural da Embrapa Instrumentação. 
Wilson Tadeu enfatiza o trabalho de conscientização que precisa ser feito com a população da importância de desinfecção de água mesmo quando ela pareça perfeita. “Nenhuma água natural normal é perfeita para o consumo humano. Mesmo quando a água tem qualidade organoléptica, é transparente, não tem cheiro nem sabor, mesmo assim, a população tem dificuldade de aceitar o uso da cloração” – afirma o pesquisador.  

Cloração
As águas são captadas de poços artesianos ou semi-artesianos, lençol freático, de minas, protegidas ou não, e direto de rios e lagoas. O tratamento é feito como na cidade com Estação de Tratamento de Água (ETA) e sistemas convencionais, floculação, sedimentação e cloração. Dependendo da qualidade da água, podem ser estações mais compactas de filtração. 

Água tratada no meio rural humaniza: melhora saúde, educação e traz dignidade e progresso

Água tratada no meio rural humaniza: melhora saúde, educação e traz dignidade e progresso

Quando a água é de poço artesiano, água de nascente, não se faz nenhum tipo de tratamento. “Existe aquela imagem de que a água é transparente, clarinha, então, é boa. E não se leva em conta outros problemas, como microrganismos e contaminações químicas não percebidas. O que se faz é a cloração com hipoclorito de sódio na água que será bebida” – relata Wilson Tadeu. 
O Clorador desenvolvido pela Embrapa propicia clorar toda a água que será usada na residência por batelada. Segundo o pesquisador, funciona muito bem desde que a água tenha qualidade organoléptica boa, não tenha cor, nem odor, nem turbidez. Nesses casos, a cloração é indicada e os parâmetros necessários colocados na Portaria 888 do Ministério das Cidades. 
Têm sido feitos trabalhos com uso de ozônio no local. “A água passa pelo ozonizador para desinfecção, não deixa sabor, mas não tem o efeito duradouro do cloro. Desinfecta na hora, porém colocado em um frasco minimamente contaminado, a água volta a ser contaminada. Essas dificuldades ainda têm que ser resolvidas” – diz.   

Água tratada no meio rural humaniza: melhora saúde, educação e traz dignidade e progresso

Classificação rural
Existem classificações para comunidade rural de habitação e residência isolada. Dezenas ou centenas de moradores moram em um pequeno aglomerado de residências. “Na comunidade rural onde existe um aglomerado de residências são usadas as mesmas tecnologias de tratamento de água de uma cidade. Devido ao tamanho da população, pode ser uma estação mais compacta. Não existe muita diferença. Faz-se uma rede para distribuir água” – explica Wilson Tadeu. 
Dados do Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR)1, de 2019, indicam que há um desafio. É preciso maior atenção às residências isoladas. 
A população rural é distribuída em quatro categorias: 
• Desde pequenos aglomerados com características urbanas até residências totalmente isoladas. 
Classificação da área rural segundo grupos de setores censitários:
• Aglomerações próximas do urbano;
• Aglomerações mais adensadas isoladas;
• Aglomerações menos adensadas isoladas;
• Sem aglomerações, com domicílios relativamente próximos de aglomerações ou isolados.
Quando segmentados, vê-se na tabela abaixo que tanto os números de água quanto de distribuição de água e acesso à coleta e tratamento de esgoto são melhores para populações em aglomerados próximos de urbanos; e quanto mais isoladas as residências os números são piores. 

Água tratada no meio rural humaniza: melhora saúde, educação e traz dignidade e progresso

Fonte: Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR)1, 2019.
Os números do saneamento rural do Brasil ainda são muito pequenos e ruins: 30% da população possui coleta e tratamento de esgoto e 50% tem acesso à água tratada e clorada. “Não conheço uso de tecnologias digitais nem remotas de monitoramento para esse fim. As redes sociais e o WhatsApp que podem ser usadas no cotidiano para acesso e contato, mas para um trabalho mais estruturado como modelo de gestão é pouco o que está sendo feito. Precisa evoluir muito ainda no Brasil” – avalia Wilson Tadeu. 

Desafios
Desafios técnicos não só em relação à adoção de sistemas de filtração quando forem necessários, mas a gestão pós-instalação é outra grande dificuldade que existe no tratamento de água para áreas rurais isoladas no Brasil. “Não adianta só instalar tecnologias para melhoria da qualidade de vida das pessoas. Se não houver um modelo de gestão, um profissional que periodicamente vá visitar esses sistemas que forem instalados, se esta questão não for pensada, a tendência é que esses sistemas em algum momento parem de funcionar corretamente e a população simplesmente deixe de adotar porque não tem nenhum tipo de acompanhamento” – alerta Wilson Tadeu.  
O saneamento rural deve ocorrer por meio de parcerias. “O responsável pelo saneamento básico no município é a prefeitura. Mas as áreas rurais isoladas são distâncias muito grandes, não é possível pensar como modelo de gestão de área urbana com técnico que, quando tem um problema, vai até o local” – compara. 
A população atendida é uma parceira. “De vidamente capacitado no início, o morador mesmo que vai fazer a operação cotidiana do sistema que for instalado na residência dele. Se houver algum problema, é importante que ele tenha para quem ligar e desejável ser alguém da comunidade, conhecido dele” – comenta Wilson Tadeu. 
O fato do morador conhecê-lo facilita o respeito mútuo do conhecimento que as pessoas têm da área rural. É importante que alguém da comunidade seja treinado. “Além disso, dentro da comunidade sejam criadas organizações sociais para fazer a gestão cotidiana desses sistemas e, assim, desafogar o sistema público de tratamento de água e esgoto do município” – analisa.

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Sistemas
Em águas superficiais, para ribeirinhos na Amazônia, foi desenvolvida pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) a Solução Alternativa Coletiva Simplificada de Tratamento de Água, conhecida como Salta-z, de filtração com uso de zeólitas. “Este sistema funciona muito bem para eliminar materiais particulados e contaminantes. Ao final do processo, é feita a cloração da água distribuída. É muito interessante, mas requer atenção da gestão para acompanhamento, limpeza dos filtros e precisa melhorar bastante” – avalia Wilson Tadeu.
Existe estudo na Escola de Engenharia da USP de São Carlos para desenvolver filtração lenta para remover material particulado em locais onde a água tem turbidez elevada para depois fazer a cloração. Segundo o pesquisador da Embrapa, são estudos que têm sido feitos aqui no Brasil e esses tratamentos não são muito diferentes em nível mundial.

Bons projetos
Um bom exemplo de trabalho bem estruturado, segundo Wilson Tadeu, é o Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar), no Ceará, que atende mais de 1 milhão de pessoas em parceira com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), mais o governo do Estado e fontes internacionais de financiamento, caso de um banco alemão. O Sisar já expandiu para Pernambuco e Piauí e está evoluindo no Brasil, principalmente no Nordeste.
A comunidade faz a gestão cotidiana e a empresa de saneamento realiza o monitoramento e a gestão dos sistemas. “Os Estados, as prefeituras e os municípios financiam todas as obras. Diversos atores trabalham em conjunto em prol do saneamento rural que funciona muito bem e vale a pena ser replicado em todo o País. É preciso ter contrato e formalização da parceria, capacitação e sensibilizar toda a comunidade. É um processo técnico, administrativo e social que tem que ser trabalhado” – esclarece Wilson Tadeu.
Na região do baixo Tapajós, em Santarém, no Pará, Tadeu cita o Saúde e Alegria. “É um projeto muito bonito que se reverte em trabalhos bem interessantes para aquela população. Atua com gestão participativa, incluindo mutirão de sistemas de tratamento de água para essas comunidades rurais. Atividades lúdicas de conscientização com ações culturais, como o Circo Mocorongo, no qual palhaços e uma trupe sensibilizam esta população por meio da arte” – destaca. 
No Estado de São Paulo, o projeto Plantando Águas, financiado pela Petrobras Ambiental e coordenado pela Iniciativa Verde, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), sensibiliza e capacita a população sobre instalação de sistemas de tratamentos de água e esgoto, principalmente tecnologias que a Embrapa desenvolveu, e preservação ambiental. “A integração social e ambiental voltada à população rural é muito bem-feita e o trabalho meritório ganhador de prêmios que vale ser replicado também” – pontua. 
A Serra do Japi é uma grande floresta no meio de várias cidades, bem próximas da capital São Paulo. “Vale a pena conhecer o Projeto Olhos da Serra, coordenado pelo Consórcio de Municípios do PCJ, na região da Serra do Japi, em Jundiaí e entorno, que preserva aquele ambiente e realiza um trabalho de sensibilização e conscientização” – indica Wilson Tadeu.

Reúso
No caso do vaso sanitário, uso da fossa séptica biogestora, a água tem nutrientes, nitrogênio, potássio, micronutrientes, ferro, manganês, zinco, cálcio, entre outros. “No reúso, não reaproveitamos somente a água, jogamos nutrientes nas plantas, o que se reflete economicamente e valoriza o sistema de tratamento de esgoto para quem adota na sua residência” – assegura Wilson Tadeu. 
Do mesmo modo, o jardim filtrante que trata as águas cinzas, esgoto de uma residência, com exceção do vaso sanitário, é como se fosse um pequeno lago, onde microrganismos, plantas, brita e areia realizam o tratamento. “A água que sai desse líquido tem características excelentes para irrigação e limpezas de galpões e máquinas para usos menos nobres” – destaca. A Embrapa trabalha com tratamento adequado para reúso em fins agrícolas, principalmente.
A Embrapa dispõe ainda do jardim aquícola, zona de raiz alagada construída onde se trata e reusa a água da produção de peixe. “A água contaminada por fezes, microalgas, algas, restos de ração passa por este sistema de tratamento, é reoxigenada e retorna ao tanque de produção” – explica.

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Saneamento nas escolas
O Escola Saneada, programa corporativo do Grupo Aegea, por meio do Instituto Aegea, que desenvolve o projeto, antecipou a chegada do saneamento básico às escolas e trouxe qualidade de vida aos alunos: 29 escolas já foram atendidas e 14 mil alunos beneficiados. Seu objetivo é levar água potável e coleta e tratamento de esgoto às escolas públicas, urbanas e rurais e beneficiar as comunidades do entorno nos municípios onde a Aegea opera. 
• Projeto Escola Saneada: 29 escolas atendidas e 14 mil alunos beneficiados.
• Duas escolas em áreas rurais foram beneficiadas: Uma em Teresina (PI) e outra em Campo Grande (MS).
• Em Campo Grande (MS), Concessionária Águas Guariroba: 16 escolas atendidas e mais de 10 mil alunos beneficiados.
• Em Timon (MA), Concessionária Águas de Timon: 12 escolas atendidas e 4.339 alunos beneficiados.
O Projeto Escola Saneada é um marco para a Escola Municipal Raimundo Adão, em Águas de Teresina, na zona rural da Teresina, com 156 alunos beneficiados. Foi feita reforma total no banheiro, implantação de tratamento de esgoto e urbanização em toda a estrutura da escola e uma horta comunitária. 
A comunidade quilombola Tia Eva também se beneficiou. Nos fundos da escola, havia uma fossa que impedia o lazer das crianças. A questão resolvida foi uma melhoria em saúde para a comunidade escolar e os vizinhos da Emei. 
Na Escola Edgar Shalcher, bairro Parque Piauí II, a Concessionária Águas de Timon fez a ligação intradomiciliar de esgoto com o apoio dos alunos do curso de Instalador Hidráulico do Projeto Mãos e Obras. Essas mesmas adaptações propiciaram ligar mais de 10 escolas do município em locais onde a rede de esgoto já está funcionando.
Segundo Renee Chaveiro, diretor executivo da Águas de Timon, o saneamento básico melhora a saúde com a redução de doenças e o aumento do rendimento escolar. Para ele, investir em projetos sociais para Educação constrói um ambiente saudável e seguro onde as crianças conseguem aprender, brincar e se desenvolver plenamente. Na opinião de Édison Carlos, presidente do Instituto Aegea, o projeto vai além das obrigações contratuais: melhora a educação e gera dignidade.

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Água para saúde
A missão da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) é levar cuidados de saúde para pessoas afetadas pelas crises humanitárias e chamar a atenção das dificuldades enfrentadas pelos pacientes. 
O foco do MSF em relação à água é a necessidade médica. “Nossa abordagem sempre será voltada às emergências médicas em contextos de crise humanitária. Eventualmente, o MSF faz instalações ou melhorias na rede onde não há disponibilidade de água potável para a população, mas sempre direcionada à saúde” – afirma Paulo Braga, coordenador de Imprensa do MSF-Brasil. 
Durante a pandemia de Covid, por exemplo, Braga diz que o MSF aumentou os pontos de lavagem de mãos nas comunidades onde atua. “Instalações mais complexas, como uma estação de tratamento de água, podem ser feitas em situações mais difíceis onde não há água potável. Esse tipo de trabalho nunca foi feito no Brasil” – menciona. 

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Infraestrutura
A infraestrutura de água e saneamento é essencial para o acesso à água e evitar doenças. Os profissionais de saneamento atuam de diferentes formas para garantir a salubridade da água às pessoas atendidas pelo MSF e se encarregam de ajudar no abastecimento de água. Eles contam ainda com o apoio de profissionais que orientam as comunidades sobre boas práticas de higiene.
MSF alerta dos riscos à saúde devido à crise climática e à falta de água:
• Há 2 bilhões de pessoas sem acesso à água tratada no mundo e/ou que vivem em países com escassez de água, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 
Conforme a OMS, em países de baixa e média renda:
• Morrem cerca de 830 mil pessoas/ano de doenças diarreicas pela falta de água potável, saneamento precário e incorreta higiene das mãos; 
• Crianças menores de 5 anos de idade são as mais atingidas;
• Com sistemas de água e saneamento adequados, as mortes de 297 mil delas poderiam ser evitadas a cada ano.
Aumenta a necessidade de infraestrutura de água e saneamento2. Quando há pouca água, não é possível cultivar e produzir alimentos. As secas aumentam a insegurança alimentar e a desnutrição. De outro lado, o excesso de água pode gerar pragas e doenças que prejudicam as colheitas. 

Relação entre seca e doenças diarreicas

Relação entre seca e desnutrição

Inter-relação entre baixa qualidade e escassez de água e conflitos e deslocamentos de pessoas 

Fonte: A água e o impacto na saúde humana2, MSF. 
 

Contato das empresas
Aegea:
www.aegea.com.br
Embrapa Instrumentação: www.embrapa.br/instrumentacao
Médicos Sem Fronteiras: www.msf.org.br


Referências Bibliográficas 

 

1 Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR). Brasília: Funasa, 2019. 260 p.

2 Médicos sem Fronteiras. A água e o impacto na saúde humana. Disponível em: https://www.msf.org.br/noticias/a-agua-e-o-impacto-na-saude-humana/. Acesso em: fev. 2024.

 

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