A adoção de energia renovável para um mundo mais verde
Por Carla Legner
Edição Nº 83 - Fevereiro/Março de 2025 - Ano 14
A adoção de novas fontes de energia é um passo fundamental para reduzir a pegada de carbono global e criar um mundo mais sustentável. Com o crescimento populacional e o aumento do consumo energético, torna-se urgente implementar soluções de energia limpa
A adoção de novas fontes de energia é um passo fundamental para reduzir a pegada de carbono global e criar um mundo mais sustentável. Com o crescimento populacional e o aumento do consumo energético, torna-se urgente implementar soluções de energia limpa que possam substituir gradativamente os combustíveis fósseis.
Desta forma, é possível dizer que as fontes de energia renovável são essenciais para a sustentabilidade ambiental, pois reduzem a emissão de gases de efeito estufa, diminuem a pressão sobre os recursos naturais finitos e contribuem para o combate às mudanças climáticas. A combinação de fontes como hidrelétrica, solar e eólica oferece uma matriz energética diversificada e resiliente, capaz de fornecer energia limpa em grande escala.
“A adoção dessas fontes também fortalece a segurança energética, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis importados e fomentando a economia local, com a criação de empregos em setores como a construção e operação de usinas” - destaca Leonardo Lopes, sócio e diretor da comercializadora Simple Energy.
Quando tratamos de energia renovável os destaques brasileiros são a energia solar, energia eólica e a geração de energia a partir da biomassa. Segundo Ricardo Fujii, especialista de conservação, doutor em planejamento energético pela POLI-USP e líder de transição energética do WWF-Brasil, todas são formas de geração com excelentes alternativas para a substituição das fontes fósseis.
Para se ter uma ideia, dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), mostram que depois da geração hídrica, com 53,16%, a geração eólica (15,65%), biomassa (8,26%) e solar (7,69%) estão em uma crescente no país e já correspondem a 31% da geração elétrica. O fato é que, essas alternativas contribuem diretamente para diminuir os efeitos e emissões dos gases de efeito estufa (GEE).
“No Brasil, apoiamos as cidades e as indústrias a introduzirem ou usarem mais biocombustíveis no seu mix energético, recuperando e valorizando diferentes tipos de biomassa, estimulando respostas sustentáveis, competitivas e eficazes para os desafios da transição energética que enfrentam os municípios e as indústrias” - conta Luiz Felipe Cerceau Guimarães, gerente de desenvolvimento de negócios da Veolia Brasil.
Energia Solar Fotovoltaica
A Energia Solar é uma das fontes com maior potencial de expansão no Brasil, devido à abundância de luz solar durante o ano todo. É captada por painéis fotovoltaicos que convertem a luz solar em eletricidade. Esta tecnologia tem avançado muito e se popularizado devido à redução nos custos de instalação e ao aumento da eficiência dos painéis.
Vale mencionar que, recentes avanços tecnológicos, como painéis bifaciais e armazenamento de energia com baterias, têm aumentado a eficiência e viabilidade econômica dessa fonte, possibilitando sua integração em sistemas de grande e pequena escala.
“A energia solar é o aproveitamento da incidência solar para geração de energia elétrica a partir de módulos solares, conhecidos como painéis solares. Esses painéis são distribuídos no dimensionamento de sistemas de energia, a partir da necessidade a qual estão sendo aplicados - complementa Ricardo Fujii do WWF-Brasil.
Ainda segundo ele, esse sistema possui destaque em residências, prédios comerciais e públicos, impactando diretamente na redução da conta de energia elétrica. Sendo assim, pela sua flexibilidade, essa forma de geração de energia é a opção mais atraente para sistemas de pequeno e médio porte.
Energia Eólica
A energia eólica é gerada por turbinas que convertem a força do vento em eletricidade. É amplamente utilizada em países com altos índices de ventos e já ocupa uma posição importante na matriz energética global.
O Brasil possui condições climáticas muito favoráveis, especialmente no Nordeste, onde os ventos são constantes e estáveis. Além disso, estão sendo desenvolvidas tecnologias de parques eólicos offshore (no mar), que podem aumentar ainda mais a capacidade instalada.
Segundo Fujji, no país, as eólicas onshore, que consistem em aerogeradores instalados em terra, já possuem uma parcela significativa na matriz elétrica brasileira, com 29,95 GW em operação.
Energia Hidrelétrica
A Energia Hidrelétrica é gerada pelo movimento da água em rios e represas, sendo uma das fontes renováveis mais antigas e amplamente utilizadas. Utiliza a energia cinética da água para movimentar turbinas que geram eletricidade.
Ela ainda representa uma grande parte da matriz energética de muitos países, e apesar de sua relevância no Brasil, a construção de novas usinas enfrenta críticas devido ao impacto ambiental e social em áreas sensíveis, como florestas e comunidades indígenas. Contudo, hidrelétricas com reservatórios têm a vantagem de armazenar água e garantir a geração de energia em momentos de escassez hídrica.
Biomassa
A Biomassa inclui o uso de resíduos orgânicos, como resíduos agrícolas, florestais e de animais, para produzir eletricidade ou biocombustíveis, como é o caso do etanol, biodiesel, bioquerosene e biometano, os quais são produzidos a partir da cana-de-açúcar, sebo bovino, óleo de soja e outras matérias vegetais, reduzindo o desperdício de materiais que, de outra forma, seriam descartados ou queimados sem controle.
A utilização da bioenergia, seja por meio da eletricidade ou dos combustíveis produzidos, contribui diretamente para redução de emissões de dióxido de carbono provenientes da geração de eletricidade e combustíveis produzidos a partir de fontes fósseis, além de contribuir para a economia circular.
Biogás
Essa fonte é produzida pela decomposição anaeróbica de resíduos orgânicos em aterros sanitários, estações de tratamento de esgoto e dejetos agrícolas. Embora ainda seja uma tecnologia emergente no Brasil, o biogás tem o potencial de oferecer uma solução sustentável para a gestão de resíduos e a geração de energia, além de gerar créditos de carbono.
“O Biogás hoje é realidade no Brasil e temos grande potencial de produção. No segmento de usinas de açúcar e etanol, a vinhaça passa a ser de rejeito para matéria prima na produção de biometano. Através de biodigestores, desde rejeitos de animais até o próprio lixo urbano fazem parte da cadeia de insumos para produção de biogás e biometano”, enfatiza Valdeir Ribeiro Soares, head de desenvolvimento de negócios para a indústria da Siemens.
Energia Geotérmica
A Energia Geotérmica é uma forma de energia renovável que aproveita o calor do interior da Terra para gerar eletricidade, aquecer edifícios e fornecer energia para processos industriais. Este calor vem de fenômenos naturais, como a decomposição de materiais radioativos, e é especialmente acessível em locais com alta atividade geotérmica, ou seja, em regiões com atividade vulcânica ou tectônica, como a Islândia e partes dos Estados Unidos.
Como a fonte de calor da Terra é inesgotável a longo prazo, a Energia Geotérmica é considerada uma fonte renovável e de baixo impacto ambiental. Vale ressaltar que as usinas geotérmicas podem operar continuamente, 24 horas por dia, 7 dias por semana, ao contrário de fontes variáveis como a solar e a eólica.
Energia Oceânica (Maremotriz e das Ondas)
A Energia Oceânica, também chamada de energia marinha, é uma fonte de energia renovável que aproveita o movimento das águas oceânicas para gerar eletricidade. Esse tipo de alternativa utiliza tecnologias que convertem o poder das ondas, das marés, das correntes marítimas e até da diferença de temperatura das águas em eletricidade.
Com aproximadamente 70% da superfície terrestre coberta por água, há grande potencial para geração em áreas costeiras ao redor do mundo, especialmente para países com grandes extensões de litoral, e contribui para a descarbonização do setor energético. Sem falar que não emite gases de efeito estufa durante a geração de eletricidade, o que contribui para a redução das emissões globais.
Nesse contexto, é importante destacar que ela pode desempenhar um papel importante na diversificação da matriz energética e na descarbonização global. Com investimentos contínuos em pesquisa e inovação, espera-se que os custos diminuam e que a eficiência dos dispositivos aumente. Em paralelo, tecnologias de monitoramento e mitigação de impacto ambiental ajudarão a garantir que o seu desenvolvimento seja sustentável.
Por outro lado, a Energia Oceânica ainda enfrenta desafios significativos, mas sua capacidade de fornecer uma fonte limpa e constante de eletricidade a longo prazo a torna uma opção promissora para a transição energética global e para a construção de um futuro mais verde.
Hidrogênio Verde
O Hidrogênio Verde é produzido por meio de eletrólise da água, utilizando energia renovável para separar as moléculas de hidrogênio e oxigênio. Esse combustível pode ser utilizado em células de combustível para gerar eletricidade ou em processos industriais.
Uso eficiente
Além das aplicações tradicionais em geração centralizada de eletricidade (ou seja, para atender a demanda do país), as energias renováveis podem ser empregadas de forma descentralizada, como na Geração Distribuída (GD), onde consumidores produzem sua própria energia por meio de painéis solares instalados em telhados ou pequenas usinas.
“A autoprodução de energia permite que grandes consumidores, como indústrias, invistam em usinas próprias para suprir suas necessidades. Isso proporciona maior autonomia energética e previsibilidade de custos, além de permitir a comercialização do excedente no Mercado Livre de Energia” - complementa Lopes.
Essas tecnologias também são fundamentais para a eletrificação de áreas remotas e isoladas, proporcionando desenvolvimento econômico em regiões onde a rede elétrica convencional não chega. Outra aplicação relevante é a mobilidade elétrica, que pode se beneficiar diretamente da geração de energia renovável para alimentar veículos elétricos.
“Todas estas fontes de energia podem ser utilizadas em substituição às energias produzidas com combustível fóssil tanto para energia elétrica, como para acionamentos e energia térmica” – explica Guimarães. Na Veolia, por exemplo, é trabalhado para a descarbonização das operações, com a captura e valorização energética do biogás, geradas na destinação final de resíduos nos Centros de Gerenciamento de Resíduos (CGRs).
Três deles, no Brasil, contam com termelétricas abastecidas pelo biogás proveniente da decomposição de resíduos orgânicos dos aterros sanitários que operamos. Nestas usinas, o biogás é transformado em energia elétrica e comercializado no mercado livre de energia. Com a iniciativa, 1,4 milhão de toneladas de CO2 foram evitadas por ano no Brasil.
“Além da produção de energia, reduzimos o efeito causado por gases como metano (27 vezes mais poluente do que o CO2, no aquecimento global) e geramos 2.633.636 de créditos de carbono de 2013 a 2023. Desta forma, promovemos eficiência energética e descarbonização não apenas a empresa como aos nossos clientes e ao mercado” - destaca o gerente da Veolia.
Assim, a transição para fontes de energia renováveis e limpas é um pilar fundamental para a sustentabilidade global. Essa transição exige não apenas investimentos em tecnologias renováveis, mas também políticas públicas e incentivos para fomentar a inovação e a adoção dessas fontes.
Com as escolhas certas, é possível criar um mundo mais verde, com um sistema energético sustentável e resiliente que preserve o meio ambiente para as gerações futuras. “O fato de conseguirmos gerar energia renovável com um dos melhores preços do mundo nos torna um competidor de grande potencial no mercado internacional e com possibilidade também de atender a demanda local” - afirma Soares.
Ele destaca ainda que o aproveitamento dos recursos naturais e também o reaproveitamento de rejeitos, seja no segmento industrial ou urbano, faz com que se tenha uma economia circular pujante no Brasil. Cabe salientar que, o biogás hoje já ocupa uma parcela significativa na geração de energia no Brasil, representando 8.9%.
Potencial de mercado
As energias renováveis já são uma realidade consolidada no Brasil, que tem uma matriz energética amplamente sustentável, com cerca de 90% das fontes de energia sendo renováveis. A Energia Solar, em especial, experimenta uma expansão acelerada devido ao seu custo competitivo e à flexibilidade proporcionada pelo Mercado Livre de Energia.
A Geração Distribuída (GD) também cresce rapidamente, com mais de 4,2 milhões de unidades consumidoras beneficiadas até outubro de 2024, a maioria por meio de sistemas solares fotovoltaicos individuais. No entanto, o Biogás ainda está em fase de crescimento, com oportunidades significativas em áreas rurais e no aproveitamento de resíduos de grandes centros urbanos.
“As Energias Solar e Eólica são destaque no crescimento da produção de energia no Brasil. A geração solar tem seu crescimento atrelado à geração distribuída, forma de geração de pequeno e médio porte, que ocorre no local de uso ou em pontos próximos. De acordo com o Boletim Mensal de Energia do Ministério de Minas e Energia, de junho de 2024, essa fonte registrou um crescimento de 35% em comparação com o mesmo período de 2023” - complementa o especialista da WWF-Brasil.
Enquanto isso, 2.327 MW de potência de usinas eólicas entraram em operação. Esse crescimento é reflexo de políticas públicas que foram implementadas ao longo dos últimos anos e estão sendo reforçadas.
Um exemplo disso foi Medida Provisória das Energias Renováveis e de Redução de Impactos Tarifários (MP 1212/2024), assinada em maio deste ano, onde se estima acrescentar até 34 GW de potência elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) por meio de R$ 165 bilhões de investimentos privados para estimular a oferta de energia solar, eólica e de biomassa.
“A transição energética das fontes fósseis para as fontes renováveis é fundamental para limitar o aquecimento global e os danos à sociedade das mudanças climáticas. Nesse sentido, é preciso que o setor privado mude os investimentos hoje realizados em fontes fósseis para as fontes renováveis, mesmo que isso implique mudanças de estratégia nas organizações” - enfatiza Fujii.
Também é importante que os governos implementem políticas públicas que estimulem esse processo, seja criando condições facilitantes para a adoção das renováveis, seja cessando os subsídios aos fósseis e proibindo sua utilização em larga escala
Pensando em futuro, segundo Lopes, além do avanço das tecnologias de Waste-to-Energy, que convertem resíduos sólidos urbanos em eletricidade, há outras inovações em andamento. As baterias de longa duração e os sistemas de armazenamento de energia estão se tornando mais acessíveis, possibilitando o armazenamento de energia renovável para uso em períodos de baixa geração, como à noite no caso da solar.
O Hidrogênio Verde também é uma tecnologia em ascensão. Ele pode ser produzido a partir de energias renováveis, como a solar e a eólica, e utilizado como combustível limpo, sendo uma alternativa promissora para descarbonizar setores que são difíceis de eletrificar, como a indústria pesada e o transporte de longa distância.
O fato é que, as fontes de energia renovável são essenciais para a sustentabilidade ambiental, pois reduzem a emissão de gases de efeito estufa, diminuem a pressão sobre os recursos naturais finitos e contribuem para o combate às mudanças climáticas. No contexto brasileiro, a combinação de fontes como hidrelétrica, solar e eólica oferece uma matriz energética diversificada e resiliente, capaz de fornecer energia limpa em grande escala.
Contatos
Siemens: www.siemens.com
Simple Energy: www.simpleenergy.com.br
Veolia Brasil: www.veolia.com.br
WWF-Brasil: www.wwf.org.br