Poluição das águas: causas, riscos e consequências
Por Carla Legner
Edição Nº 84 - Abril/Maio de 2025 - Ano 14
A poluição da água ocorre quando substâncias nocivas, como compostos orgânicos sintéticos, micróbios patogênicos ou macronutrientes excessivos (nitrogênio, fósforo), são introduzidas nos ecossistemas aquáticos. Esses poluentes degradam sua qualidade
A poluição da água ocorre quando substâncias nocivas, como compostos orgânicos sintéticos, micróbios patogênicos ou macronutrientes excessivos (nitrogênio, fósforo), são introduzidas nos ecossistemas aquáticos. Esses poluentes degradam sua qualidade, perturbam o equilíbrio ecológico e representam riscos à saúde humana e à biodiversidade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a água contaminada é aquela que sofre alterações em sua composição até ficar inutilizável. Em outras palavras, trata-se da contaminação de corpos d’água, como rios, lagos, oceanos e aquíferos, por substâncias nocivas, ou seja, é água tóxica que não pode ser consumida e nem usada em atividades essenciais como a agricultura.
“Uma água poluída pode apresentar alterações visíveis, como cor escura, mau cheiro e presença de espuma ou resíduos sólidos. Além disso, pode conter substâncias invisíveis, como bactérias, metais pesados e produtos químicos tóxicos, que afetam sua qualidade e segurança” - explica Thalita Flávio da Silva, representante da Gmar Ambiental.
Essa poluição pode ocorrer de forma natural, mas geralmente é causada por atividades humanas, como desperdício de resíduos industriais, esgoto doméstico sem tratamento, uso excessivo de fertilizantes e pesticidas na agricultura, e descarte inadequado de lixo em corpos hídricos. Resíduos orgânicos: Compostos de carbono facilmente degradáveis aumentam a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), levando ao esgotamento do oxigênio por meio da respiração microbiana, criando condições anóxicas que são letais para os organismos aeróbicos. Nutrientes (N/P): O excesso de nitratos e fosfatos provenientes do escoamento agrícola estimula excessivamente a produtividade primária, desencadeando a eutrofização. Esse processo não só promove o crescimento excessivo de algas, mas também leva ao esgotamento do oxigênio quando a biomassa de algas se decompõe.
Produtos químicos sintéticos: Poluentes persistentes, como bifenilos policlorados (PCBs), metais pesados e pesticidas, são bioacumulados em organismos aquáticos, contaminando as cadeias alimentares. Esses poluentes geralmente excedem os limites permitidos pela Resolução CONAMA 357/2005, representando riscos de longo prazo para os ecossistemas e para a saúde humana. Patógenos: As bactérias coliformes e os vírus entéricos da contaminação fecal excedem os padrões de segurança microbiológica e aumentam o risco de doenças. Águas contaminadas podem carregar esses patógenos para o abastecimento de água potável, levando a surtos de doenças gastrointestinais e outras doenças infecciosas.
Poluentes biológicos: São microrganismos que podem causar doenças e se originam, principalmente, de bactérias patogênicas, vírus, protozoários, fungos e algas tóxicas.
Poluentes físicos: São materiais sólidos que alteram a transparência, temperatura e outras propriedades da água, entre eles temos os sedimentos e partículas, resíduos plásticos, óleo e graxas Poluentes térmicos: Ocorre por meio da queda e/ou do aumento brusco da temperatura da água. É derivado do despejo inadequado de rejeitos, principalmente oriundos de plantas industriais que alteram o equilíbrio térmico. Ademais, desmatamento e assoreamento reduzem a somb ra da vegetação sobre corpos d’água, aumentando a temperatura.
Principais características da água poluída
Uma água poluída é facilmente identificada, pois apresenta alterações em suas propriedades físicas, químicas e biológicas, tornando-se prejudiciais para o consumo humano, a vida aquática e outros usos. As Alterações físicas englobam cor anormal, odor desagradável, sabor estranho e turbidez elevada.
Já as alterações químicas se caracterizam pelo pH fora do normal, baixo teor de oxigênio dissolvido, presença de metais pesados e o excesso de nutrientes. No caso das alterações biológicas, citamos a presença de microrganismos patogênicos, como bactérias, e a proliferação excessiva de algas.
“Altas concentrações de fósforo inorgânico dissolvido e nitratos indicam eutrofização, um processo que promove o crescimento excessivo de algas, esgota o oxigênio e prejudica os ecossistemas aquáticos. Em casos graves, a eutrofização pode levar à formação de zonas hipóxicas, conhecidas como “zonas mortas”, onde a maior parte da vida aquática não sobrevive” - destaca Lucas Cordeiro, account manager da LG Sonic.
É importante sempre enfatizar que essa água poluída pode trazer riscos graves. De acordo com David O. Faria, representante da Quimiwater, a poluição compromete não apenas o consumo humano, mas também a vida aquática e diversas atividades econômicas. Nesse sentido, o cuidado e o tratamento adequado são essenciais para garantir a qualidade dos recursos hídricos.
Vale lembrar que é possível saber se a água está poluída de forma simples e eficaz. Como já mencionado, a observação direta da água (cor, cheiro e resíduos visíveis) é o primeiro passo. Além disso, é possível realizar o monitoramento ambiental em rios, lagos e reservatórios, e testes laboratoriais, que podem identificar contaminações químicas e biológicas.
Fatores de risco
A água é essencial para a sobrevivência e desempenha um papel vital em diversas atividades humanas, como consumo, agricultura, indústria e recreação. No entanto, diversos fatores podem influenciar a qualidade da água, tornando-a inadequada para o consumo. Faria explica que a poluição da água tem origem em várias fontes.
A primeira delas é a poluição em si, que pode ocorrer de diversas formas, como a introdução de substâncias químicas tóxicas, resíduos industriais, esgoto doméstico não tratado, pesticidas agrícolas e fertilizantes. Depois temos a erosão do solo, quando ocorre o desmatamento ou a remoção da vegetação natural, o solo fica exposto à ação da chuva e do vento, o que pode levar à sua erosão.
O descarte incorreto de lixo, tanto sólido quanto líquido, pode contaminar os corpos d’água e comprometer a sua qualidade. O uso excessivo de fertilizantes e pesticidas nas lavouras pode levar à contaminação dos corpos d’água. Ainda podemos mencionar o despejo de resíduos industriais, como produtos químicos, metais pesados e substâncias tóxicas, pode contaminar os corpos d’água e comprometer a sua qualidade.
“A ingestão de água contaminada pode causar alguns sintomas, como febre e calafrios, dor abdominal, perda do apetite, dor de barriga, vômitos, dentre outros. Nesses casos, é importante que vá ao posto de saúde ou hospital para que seja identificado o que está acontecendo e, assim, iniciar o tratamento adequado. É importante evitar a automedicação.” - ressalta o especialista da Quimiwater.
Além disso, a água contaminada por esgoto, fezes ou resíduos hospitalares pode conter bactérias, vírus e protozoários causadores de diversos problemas, como Diarréia infecciosa; Cólera, Hepatite A, Giardíase, Criptosporidíase e Leptospirose. A desidratação também é um risco, então é importante sempre estar hidratado.
E não podemos esquecer a intoxicação por substâncias químicas, uma vez que a presença desses elementos pode ter efeitos tóxicos no organismo, especialmente em exposições prolongadas. Entre eles temos os Metais pesados (chumbo, mercúrio, cádmio e arsênio), Pesticidas e herbicidas, Nitratos e nitritose Substâncias químicas industriais (solventes, detergentes, derivados do petróleo).
Alternativas para minimizar o problema
Se a poluição da água continuar aumentando, os impactos podem se tornar irreversíveis. Segundo Thalita, se não controlada, pode levar à escassez de água potável, perda da biodiversidade, aumento de doenças e impactos econômicos, dificultando o abastecimento e elevando os custos de tratamento da água.
Uma das alternativas é criar uma estratégia abrangente para tratar a poluição da água de forma eficaz e criar medidas para mitigar o problema. Para Cordeiro o primeiro passo é reforçar a aplicação da lei (por exemplo, CONAMA 430/2011) para regular a descarga de efluentes industriais e municipais, impedir o lançamento direto de esgoto não tratado em corpos d’água, implementar zonas de amortecimento obrigatórias e práticas agroecológicas para minimizar o escoamento de nutrientes das atividades agrícolas.
Além disso, é necessário aprimorar a legislação, como a revisão da Lei 9.433/97 do Brasil, para impor controles mais rígidos sobre a poluição de fontes não pontuais, melhorar a eficiência do tratamento de águas residuais, e investir em sistemas avançados de biorremediação, como o tratamento de lodo ativado com processos de nitrificação-desnitrificação.
“A poluição da água impacta tanto o meio ambiente quanto a qualidade de vida da população, por isso, priorizar o tratamento adequado de esgoto e efluentes industriais e a proteção de nascentes e áreas de preservação ambiental são fundamentais. Além disso, deve-se investir no saneamento básico e reduzir o uso de plásticos e produtos químicos poluentes” - complementa Thalita.
Tecnologias emergentes, como o MPC-Buoy da LG Sonic, também aparecem como alternativas promissoras. Esse equipamento realiza o monitoramento da água permitindo o controle, em tempo real, da dinâmica da proliferação de algas sem perturbação ecológica. Seu uso possibilita o monitoramento contínuo dos principais parâmetros de qualidade da água a cada 10 minutos, incluindo: Clorofila-a (indicativo de algas verdes); Ficocianina (específica para cianobactérias); e pH, turbidez, oxigênio dissolvido e temperatura.
Por outro lado, Faria destaca ainda alternativas simples, como o incentivo para caminhadas, uso de bicicletas e de transporte público para chegar ao trabalho, a restauração de ecossistemas urbanos, a revitalização de espaços públicos, a coleta e descarte de resíduos com segurança, incentivando a redução de substâncias maléficas ao meio ambiente e a reciclagem por cidadãos e empresas.
Para ele, na busca por garantir um futuro sustentável para as próximas gerações, é necessário que governos, empresas, pesquisadores e cidadãos atuem em conjunto na adoção de medidas concretas de combate à poluição.
“As ações de combate à contaminação ambiental devem ser uma ação coletiva da sociedade, por isso, deve-se iniciar nas escolas por meio da educação ambiental junto às crianças. Quanto maior o conhecimento desde pequeno as causas serão menores no futuro. É como plantar árvores. Devemos primeiro semear o solo para depois colher os frutos” - finaliza o representante da Quimiwater.