Green Bonds são tendências para empresas e investidores com olhar no futuro

Os títulos verdes são usados para financiar investimentos sustentáveis e representam a materialização de uma postura de mudança global


Por John Liu e Guilherme Farah

Os “green bonds”, ou títulos verdes, papéis de renda fixa utilizados para financiar investimentos sustentáveis, são mais que um “concept investment”. Caracterizam-se por ser a materialização de uma postura de mudança global e crescente no mindset da sociedade, que a reconhece como necessária para a manutenção e preservação de toda forma de vida no planeta.

Não é, portanto, uma bandeira apenas de ONGs e ecologistas, mas uma causa que faz parte da agenda de empresas e investidores com o olhar no futuro.

Isso porque o compromisso de fazer aportes em investimentos responsáveis beneficia a todos nós, pois culminam na anulação de centenas de milhares de emissões de CO2 na atmosfera. Assim como os aportes em títulos verdes geralmente fazem parte da integração da análise de critério ASG que, como é notório, considera questões ambientais, sociais e de governança, o objetivo dos gestores é buscar, sim, rentabilidade aos investidores, mas de forma a ter o menor impacto possível ao meio ambiente. Questão de coerência.

Os green bonds podem ser estruturados em instrumentos de dívida que vão dos Certificados de Recebimento do Agronegócio (CRAs) e Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) a Letras Financeiras e debêntures. Esses papéis, que podem ser chamados como legítimos representantes de uma tendência mundial, a dos “investimentos responsáveis”, têm potencial exponencial de crescimento.

Em nível mundial, de acordo com o Global Investment Alliance, somam US$ 31 trilhões, montante que equivale a pouco mais de um terço dos ativos totais. No Brasil, representam apenas 1% do total de fundos de investimentos, segundo levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Os números mostram que há, portanto, muito espaço de crescimento desses papéis nas carteiras dos investidores, assim como possibilidades de isto acontecer por diferentes caminhos. Olhando a curto e médio prazo, acreditamos que o país, carente de infraestrutura, apresenta oportunidades para a expansão de investimentos sustentáveis.

Um exemplo concreto é o PL 4162/2019, depois convertida na Lei 14.026, conhecida como novo Marco Legal do Saneamento, sancionada em 15 de julho. Além de esta aprovação trazer um benefício tão necessário a 35 milhões de brasileiros que ainda não dispõem de água tratada e mais de 100 milhões que não têm coleta de esgoto, ela tem outra benesse: abre margem para uma onda de investimentos no Brasil, algo mais que bem-vindo. De acordo com Ministério de Desenvolvimento Regional, o país necessita de algo entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões de aportes em dez anos nesse setor, algo que abre espaço para contratos de concessão.

Além disto, o PL 2646/2020, que tramita no Congresso e trata da criação das debêntures de infraestrutura. Estes instrumentos funcionam como verdadeiros financiadores privados aos projetos, inclusive em suas fases iniciais, algo difícil de acontecer atualmente. Além disso, elas têm maior potencial de retorno aos investidores, não só aos institucionais ou qualificados.

O ambiente atual, tanto na esfera política quanto econômica, mostra-se realmente favorável a novos investidores, sejam fundos sustentáveis ou aqueles com mandato específico para comprar títulos verdes ou com objetivos de longo prazo, desde que sejam signatários dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI), caso da Zurich. Devido a essas características, conseguem manter os papéis em carteira mesmo em tempos de crise, como a que estamos vivendo agora e que todos torcemos para que logo chegue ao final.

John Liu é diretor de investimentos da Zurich no Brasil

Guilherme Farah é gerente de investimentos da Zurich no Brasil

Publicidade