Centro de Pesquisa para Inovação em Gás focará pesquisas e tecnologias para o tema das mudanças climáticas
Agência FAPESP -
Grupo é formado pela FAPESP e pela Shell na Poli-USP e trará também estudo e o desenvolvimento de ações para promover o desenvolvimento sustentável
Agência FAPESP* – Pesquisas e tecnologias relacionadas ao tema das mudanças climáticas deverão ganhar ainda mais espaço nos próximos cinco anos de funcionamento do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e pela Shell na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
O assunto foi um dos destaques do workshop on-line “RCGI in Review – 5 years of gas innovation”, realizado em ambiente on-line nos dias 30 de setembro e 1o de outubro. O evento fez um balanço das principais conquistas alcançadas durante os primeiros anos de atuação do centro, que desenvolve estudos avançados no uso sustentável de gás natural, biogás, hidrogênio, gestão, transporte, armazenamento e uso do dióxido de carbono (CO2), e conta com mais de 370 pesquisadores atuando em 46 projetos distribuídos em cinco grandes programas de pesquisa, com forte colaboração internacional.
"O RCGI não é apenas um centro de pesquisa, mas um centro de pesquisa, inovação e disseminação do conhecimento", ressaltou o professor Julio Meneghini, diretor científico do RCGI, acrescentando que nas próximas semanas o grupo deverá anunciar novos programas que terão início em 2021 e serão relacionados ao tema da mudança climática.
De acordo com ele, o modelo de funcionamento do RCGI, com o investimento privado (em especial da Shell) complementando o investimento público (da FAPESP e da USP), é uma das razões para o sucesso e a consolidação do centro.
"Uma das nossas principais tarefas para essa segunda fase é encontrar novas formas de financiamento. Planejamos trabalhar na disseminação do conhecimento em um nível ainda mais alto, para ir além do que alcançamos nestes primeiros anos", disse Meneghini.
Segundo o pesquisador, entre os desafios que o RCGI continuará a enfrentar está o de evitar o excesso de controle e governança para que não se iniba a criatividade e a possibilidade de inovação. "Ter uma abordagem de mente aberta, ou inovação aberta, em todas os nossos projetos é algo extremamente importante."
“Concordamos com a importância de fazer não apenas boa pesquisa, mas de promover impacto na sociedade e de transformá-la, pressionando as fronteiras do conhecimento”, disse o engenheiro e professor Gustavo Assi, diretor de Inovação e Difusão do Conhecimento do RCGI. “Todos sabemos que a mudança climática é um tópico que já está aí, mas ele vai ganhar importância. Pode ser pensado como a nova pandemia ou a próxima tragédia que teremos de enfrentar.”
O coordenador técnico-científico da Shell Brasil, Alexandre Breda, afirmou que o RCGI tem um papel importante a desempenhar no combate à mudança no clima, assim como outros centros do mundo que lidam com a questão nas áreas tecnológicas e de políticas públicas. “Não há uma bala de prata para isso, mas acho que podemos colocar vários tijolos nessa parede”, citando como exemplo a pesquisa que otimizou juntas para vedação capazes de evitar o vazamento de gás metano em máquinas pneumáticas. O metano é um dos principais gases de efeito estufa.
Desenvolvimento sustentável
Os participantes do workshop também se mostraram preocupados em como o RCGI pode fazer a diferença para que sejam cumpridos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030. São 17 objetivos e 169 metas, que pedem ação para a erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, água e saneamento, energia, crescimento econômico sustentável, entre outros temas.
Para o engenheiro mecatrônico Bruno Carmo, coordenador do programa de Geofísica, pelo fato de o RCGI ser um centro grande, ligado a mais de 400 pesquisadores, ele ocupa uma posição de destaque para tornar as questões ligadas aos ODS relevantes para o ambiente acadêmico como um todo no país.
Assi ressaltou a importância da comunicação para transformar a percepção pública em relação às mudanças climáticas. “Estamos em uma época em que a ciência tem sido muitas vezes negada, inclusive em relação ao clima. Nós podemos aumentar a percepção pública dos tópicos dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Somos uma voz na sociedade, com a capacidade não apenas de lançar novos conhecimentos, mas também de influenciar as mentes da próxima geração de profissionais. Estamos em uma posição de privilégio e de responsabilidade.”
Salientando o peso da difusão do conhecimento entre os pilares principais do RCGI, Assi expôs as principais conquistas nessa área, entre elas a organização de workshops e eventos científicos e o estabelecimento de uma identidade própria do centro. Também enfatizou a necessidade de comunicar os resultados das pesquisas de forma apropriada nas diferentes esferas, para atingir desde o público interno da instituição até o público geral.
Em sua exposição, a diretora de Recursos Humanos e Liderança do RCGI, Karen Mascarenhas, contou a história do início do RCGI, cuja ideia surgiu a partir de uma chamada de propostas da FAPESP de 2013, e explicou como funciona o modelo de inovação aberta, de hélice tripla, com apoio da USP, da agência de fomento e da Shell. Criado em dezembro de 2015 reunindo uma equipe multidisciplinar de excelência, cinco anos depois o RCGI já publicou 283 artigos em revistas científicas, 19 livros, 71 capítulos de livros, conta com 18 laboratórios, recebeu quatro prêmios e registrou três patentes. Foram estabelecidas 57 parcerias internacionais e 37 nacionais. “Temos as pessoas certas, os recursos e, agora, um terreno apropriado”, disse Breda. “Esse foi só o começo.”
No dia anterior, participaram do evento Emílio Carlos Nelli Silva, diretor do programa de Engenharia, Reinaldo Giudici, diretor do programa de Físico-Química, Edmilson Santos, diretor do programa de Políticas de Energia e Economia, e Guenther Carlos Krieger Filho, vice-diretor do programa de Engenharia.
Silva e Krieger Filho destacaram a importância da construção de uma infraestrutura de laboratórios e instrumentos para a realização de pesquisas e das colaborações internacionais, entre outros, com o Imperial College de Londres e com a Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Giudici apresentou os avanços obtidos com o desenvolvimento de catalisadores, células combustíveis e pesquisas sobre o uso de energia solar, entre eles um sistema híbrido que utiliza energia solar e gás, até uma pesquisa na qual se desenvolveu um biopolímero biodegradável, o polihidroxibutirato (PHB), a partir de metano, usando bactérias. Ao todo, 78 artigos foram publicados em revistas científicas como resultado das pesquisas apenas desse programa, apontou o pesquisador.
O professor Santos, docente do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, ressaltou o caráter interdisciplinar dos projetos do programa, que contam com a colaboração de parceiros dentro da universidade, como a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e os departamentos de Economia e Geografia. Os projetos do programa abordam a questão legal e regulatória sobre o gás natural, questões urbanas, a dimensão econômica e logística, entre outras. Ele afirmou que as colaborações internacionais foram muito importantes para o programa. "Até a chegada do gás natural da Bolívia, no fim dos anos 90, o papel do gás era em boa parte desconhecido dos brasileiros", afirmou. Um dos projetos teve como objetivo melhorar o canal para disseminar o conhecimento sobre as questões jurídicas e regulatórias. Para isso, foram produzidos, entre outros materiais, um dicionário jurídico sobre o gás e sete livros sobre o assunto.
Assista a íntegra do workshop em www.youtube.com/watch?v=KbxP4_mlZM0.
* Com informações da Acadêmica Agência de Comunicação.