14º Seminário Nacional de Resíduos Sólidos promovido pela ABES

Heliana Kátia Campos, coordenadora da Câmara Temática de Resíduos Sólidos da ABES, dá uma prévia do que esperar do evento


Por Murillo Campos

Dez anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, mudanças no novo marco legal do saneamento e gerenciamento de resíduos. Estes serão alguns dos focos de debate do 14º Seminário Nacional de Resíduos Sólidos, promovido pela ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, por meio de sua Câmara Temática de Resíduos Sólidos.

Em virtude da pandemia do coronavírus, o encontro será realizado de forma virtual, entre os dias 16 a 18 de março de 2021. O seminário reunirá diversos especialistas para compartilhar conhecimentos e experiências sobre questões, como manejo de resíduos sólidos, tecnologias, rotas de tratamento, logística reversa e coleta seletiva, entre outros pontos.

“O público pode esperar um rico e transparente debate sobre os temas que serão discutidos nos painéis, nas apresentações dos convidados nacionais e internacionais e dos trabalhos técnicos”, afirma Heliana Kátia Campos, coordenadora da Câmara Temática de Resíduos Sólidos da ABES.

Em entrevista à ABES Notícias, a especialista comenta as novidades do seminário, os avanços e desafios do Brasil em relação à gestão de resíduos e a contribuição dos trabalhos técnicos do evento para o desenvolvimento do setor no país.

Leia a entrevista, a seguir:

ABES Notícias – Agora realizado no formato online, quais serão as novidades para a 14ª edição do Seminário Nacional de Resíduos Sólidos?

Heliana Kátia Campos – Esta XIV edição do Seminário de Resíduos Sólidos da ABES inova na abrangência que passa a ser internacional e na realização online até das visitas técnicas. Será, portanto, o seminário da democratização da participação, pois de onde você estiver, do Oiapoque ao Chuí, vai acompanhar tudo, participando deste aperfeiçoamento profissional.

ABES Notícias – Qual a importância do seminário e de que forma ele pode agregar nas discussões acerca do tema?

Heliana Kátia Campos – O evento abordará um leque de abordagens desde a educação ambiental até a disposição final dos resíduos passando pelos diversos tipos de tratamento, recuperação de materiais, de energia e da economicidade da gestão regionalizada.

ABES Notícias – Quais pontos serão discutidos no encontro em relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em vigor há 10 anos no Brasil? O que mudou desde a implantação da lei e o precisa ser feito para avançarmos nesta questão no País?

Heliana Kátia Campos – A lei da PNRS foi uma grande evolução para a conceituação, diretrizes e metas para a gestão dos resíduos no Brasil. Evoluiu operacionalmente na relação com as organizações de catadores, que passaram a poder ser contratadas como prestadoras de serviços públicos, mas deixou ainda muito a desejar no cumprimento dos seus objetivos.

A coleta seletiva ainda continua a ser realizada de forma incipiente. Temos um passivo de cerca de 3.000 lixões e a compostagem não evoluiu praticamente nada. Estamos devendo muito tanto no processo de responsabilidade do cidadão e cuidado com a preservação da limpeza urbana de nossas cidades, quanto no consumo consciente e na separação dos resíduos para a coleta seletiva, assim como também com as empresas que ainda não se envolveram de maneira geral na produção limpa.

No que diz respeito à Logística Reversa de Embalagens em Geral foi um fiasco, porque os municípios que realizam a coleta seletiva de embalagens usadas não são ressarcidos pela prestação destes serviços, ficando aí uma pendência grave inclusive judicial.

ABES Notícias – Quais os efeitos da sanção do novo Marco Legal do Saneamento na gestão de resíduos sólidos? O que o seminário agregará a esta discussão?

Heliana Kátia Campos – No meu ponto de vista, especificamente para o setor de resíduos sólidos, houve uma importante perda com a proibição da realização dos Contratos de Programas entre entes públicos em algumas situações.

Hoje, o Brasil já conta com 199 Consórcios Públicos de resíduos atuando em 1.603 municípios que fazem uso frequente desta modalidade de contrato. Esta foi uma perda muito significativa e não vai ser simples fazer as adaptações previstas na lei. No entanto, pelo menos dois pontos definidos devem favorecer a boa gestão dos resíduos sólidos no Brasil.

O primeiro é o incentivo por meio de financiamento à prestação regionalizada dos serviços. Considerando que 70% dos municípios brasileiros possuem menos de 20 mil habitantes e destes a maioria possui menos de 10 mil habitantes torna-se necessário prestar o serviço regionalmente visando o ganho de escopo, de escala e, obviamente, de custos.

Outro aspecto muito importante na sustentabilidade da prestação dos serviços foi a obrigatoriedade de cobrança de taxa e de tarifa para as despesas do manejo dos resíduos. Quando os recursos empregados são do tesouro municipal, toda a população paga por meio de impostos, sendo a mais pobre a maior penalizada proporcionalmente. Com esta obrigatoriedade, há de se dar transparência aos custos dos serviços, incluindo o tratamento dos resíduos, o que permite melhor controle social.

Os valores da taxa e da tarifa devem ser explicitados com transparência e clareza e deve ser composta de tal forma que as populações com maior poder aquisitivo paguem mais e as que não podem pagar fiquem isentas ou, em alguns casos, são subsidiadas.

Esta é, pois, a forma mais democrática de viabilizar a gestão dos resíduos sólidos e sem esta cobrança não se consegue promover serviços com a qualidade, regularidade e sustentabilidade necessária. Estes temas serão debatidos em diversas oportunidades durante o seminário.

ABES Notícias – Qual o impacto da pandemia do coronavírus em relação a todos estes processos?

Heliana Kátia Campos – A ABES, por meio de sua Câmara Temática de Resíduos Sólidos, vem realizando uma série de pesquisas de interesse do setor desde o início da pandemia ocasionada pelo Covid-19 no Brasil, configurada como calamidade pública em 20 de março de 2020.

A primeira Pesquisa 1.0 foi realizada nas 10 maiores capitais do Brasil e abordou a variação das massas da coleta de resíduos sólidos urbanos e assemelhados, logo no primeiro mês após a decretação do isolamento social na maior parte do Brasil.

Uma segunda Pesquisa 2.0 foi realizada entre 6 e 29 de maio, nas 27 capitais brasileiras com um retorno de 23 inquéritos de dados, correspondendo a 85% das capitais e 93% da sua população.

Além de estender para mais do dobro das capitais em relação a Pesquisa 1.0, a grande novidade foi incluir a investigação sobre a coleta seletiva e o impacto da pandemia na saúde dos trabalhadores do setor.

Na terceira Pesquisa 2.1, foram avaliados os mesmos tipos de dados abordados na Pesquisa 2.0, incluindo as informações até o mês de maio 2020. A quarta está em andamento.

Em várias capitais, é notória a ocorrência de índice de contaminação de trabalhadores bem mais alto do que o índice de contaminação de sua respectiva população, fato que corrobora a necessidade urgente de implantação de sistemas de observação, informação, testagem, divulgação e a regulação de protocolos e medidas para a prevenção contra o coronavírus a serem adotadas nos serviços de limpeza urbana.

Logo no início da pandemia, nos meses de março e abril, houve uma significativa redução das quantidades de resíduos coletados, enquanto no mês de maio já se notou o início da recuperação do valor anterior. A pesquisa atual está avaliando o comportamento em junho e julho tanto em relação ao quantitativo de resíduos coletados como ao impacto na saúde dos trabalhadores.

ABES Notícias – Com relação à apresentação de trabalhos técnicos no seminário, como você avalia a importância desta iniciativa para o desenvolvimento de novas soluções para a área?

Heliana Kátia Campos – Tem sido extraordinária a participação dos estudantes em diversos estágios do ensino superior e professores na elaboração de trabalhos técnicos com muito bom nível acadêmico, o que tem sido um dos pontos altos dos seminários de resíduos sólidos da ABES.

ABES Notícias – O que se espera dos trabalhos a serem apresentados nesta 14ª edição do encontro?

Heliana Kátia Campos – A organização do seminário espera que continue proliferando muito bons trabalhos e, no meu ponto de vista, esse é o maior desafio do setor, a formação de pessoal técnico especializado. Portanto, este seminário cumpre importante papel no sentido de incentivo à produção acadêmica na área de resíduos sólidos em todas as suas abordagens.

ABES Notícias – O que o público pode esperar das discussões, painéis e especialistas convidados?

Heliana Kátia Campos – O público pode esperar um rico e transparente debate sobre os temas que serão discutidos nos painéis, nas apresentações dos convidados nacionais e internacionais e dos trabalhos técnicos.

Acredito que com a realização online se alcançará uma participação bem maior do que a usual, pois a despesa com transporte e hospedagem que, em geral, inviabiliza a participação de muitos interessados estará superada. Assim, acredito que o debate de opiniões originárias de todos os recantos do país explicitando a realidade local será um grande diferencial desta edição.

ABES Notícias – Qual será o legado do Seminário Nacional de Resíduos Sólidos diante do atual cenário brasileiro?

Heliana Kátia Campos – O primeiro acredito a abrangência que passa a ser internacional, o segundo a facilidade de participação, e esse sim é o maior objetivo de todos, apoiar na formação e na qualificação dos profissionais da área de resíduos de tal forma a poderem contribuir na alavancagem do setor, para o maior aproveitamento dos resíduos e no encerramento dos famigerados lixões que tanto nos envergonham tanto como profissionais quanto cidadãos.

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