Projeto Semeando Água visa fortalecer a segurança hídrica do Sistema Cantareira
Semeando Agua -
Em 2022 o Projeto Semeando Água recuperou área equivale a 75 campos de futebol
O projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ, Instituto de Pesquisas Ecológicas, visa fortalecer a segurança hídrica do Sistema Cantareira, que abastece mais de 7 milhões de pessoas. No ano de 2022, o projeto realizou o plantio de 75 hectares, o que equivale a 75 campos de futebol. As ações de Restauração Ecológica e implantação de Sistemas Produtivos Sustentáveis são realizadas prioritariamente em Áreas de Preservação Permanente (APPs), ou seja, áreas onde a presença da vegetação é essencial para a preservação dos recursos hídricos – como nascentes, beiras de rios e corpos d’água.
A Restauração Ecológica, conceito que vem atualizando o reflorestamento, busca trazer de volta a floresta – não apenas as árvores, mas toda a diversidade de elementos e funções que uma floresta possui. Foram implantados 60 hectares, principalmente às margens da represa Atibainha, localizada no município de Nazaré Paulista, um dos 5 reservatórios que compõem o Sistema Cantareira. É plantada uma ampla diversidade de espécies, todas nativas da Mata Atlântica, com a intenção de imitar o que ocorre em um remanescente de floresta e conservar a biodiversidade local. Entre as espécies plantadas estão a aroeira-pimenteira, pau-jacaré, ingá, capixingui, pau-cigarra, angico-branco, paineira, sangra-d’água.
“O plantio de mudas é apenas uma das técnicas utilizadas na restauração. Outras metodologias vêm sendo pesquisadas e testadas ultimamente, visando a diminuição de custos e tempo, o que possibilita a ampliação da escala das áreas restauradas” explica Paulo Roberto Ferro, engenheiro florestal, responsável técnico pelas ações de restauração do projeto Semeando Água. Selecionadas de acordo com a demanda de cada área foram utilizadas técnicas como semeadura direta (plantio de sementes)?, nucleação? (simulação de ilhas de florestas, ricas em diversidade, que vão crescer e se expandir radialmente), restauração passiva? (cercamento de uma área em processo de recuperação, impedindo que intervenções possam degradá-la) e enriquecimento (aumento da diversidade de espécies)?.
Áreas de Silvicultura, ou seja, produção de madeira, como as plantações de eucalipto, também podem ser convertidas em florestas. Neste caso, uma das vantagens é a utilização da sombra proporcionada pelos eucaliptos para a aceleração do desenvolvimento de espécies que surgiriam mais tarde no processo de restauração, de crescimento mais lento, mas de maior longevidade. É o que está sendo realizado no Sítio Jacarandás, também localizado no município de Nazaré Paulista. Marcelo Haddad registrou parte da área como uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) no final de 2021 e vem realizando a conversão de eucalipto para floresta nativa. Em uma área de aproximadamente 15 hectares foram plantadas 7 mil mudas de árvores nativas, contemplando mais de 100 espécies diferentes, além da utilização de outras técnicas, como a nucleação e a regeneração natural. O corte dos eucaliptos está sendo realizado com técnica direcional, para que a derrubada das árvores preserve ao máximo as espécies nativas que estão em crescimento. Marcelo conta que transformar uma área em RPPN sempre foi um sonho e hoje é um de seus objetivos de vida.
“A decisão de cortar os eucaliptos foi realmente para a produção de água, para tentar recuperar a vegetação nativa e com isso aumentar a quantidade e qualidade da água. Aqui no sítio tem duas nascentes, que abastecem diretamente a represa do Atibainha, do Sistema Cantareira, daí a importância de se preservar os recursos hídricos. Estamos em uma área que liga um corredor ecológico, entre a Mantiqueira e Cantareira, uma área prioritária para a conservação e por isso, super importante de ser restaurada.”
Já a implantação ou transição para Sistemas Produtivos Sustentáveis visa fortalecer a produtividade rural, utilizando técnicas que mantém a fertilidade do solo a longo prazo. Dentre as técnicas utilizadas estão os Sistemas Agroflorestais (SAFs), que conciliam o plantio de árvores ao de culturas agrícolas de duração mais curta; Fruticultura e Silvicultura de espécies nativas da Mata Atlântica (produção de frutos e madeira) e os Sistemas Silvipastoris, que unem a produção de madeira a de animais. Um total de 15 hectares foi implantado em 2022, sendo 1,1? hectares de Fruticultura; 0,2 hectares de Avicultura Ecológica e 13,8? hectares de SAFs, o equivalente a 15 campos de futebol produzindo alimentos saudáveis na região. As frutas podem ser beneficiadas em forma de geléias e polpas, aumentando sua durabilidade e valor de comercialização, além de serem um item muito procurado por consumidores que buscam produtos livres de agrotóxicos. As principais espécies plantadas foram pitanga, uvaia, jabuticaba, araçás, goiabas e grumixama.
A implementação destes Sistemas tem início com o preparo do solo, realizado através da adubação verde. Essa técnica consiste no plantio de espécies leguminosas, como o feijão-guandu, crotalária e tefrósia, cujas raízes descompactam o solo e o enriquecem com nitrogênio. A adubação verde diminui a necessidade de utilização de adubos químicos, advindos de matérias primas obtidas através da mineração. A adubação verde também pode ser utilizada em áreas de Restauração Ecológica, a fim de diminuir a ocorrência de capins exóticos invasores, como por exemplo a braquiária, um das maiores “concorrentes” por nutrientes e sol nos anos iniciais dos plantios.
A compra de sementes crioulas para a adubação – sementes tradicionais de cada região, que possuem uma ampla variedade, não modificadas geneticamente e que são guardadas e compartilhadas pela agricultura familiar – também fortalece grupos e articulações locais de agricultores que coletam, beneficiam e comercializam esse produto. A poda da adubação verde cria uma cobertura de matéria orgânica que ajuda na retenção da umidade por mais tempo e cuja decomposição também nutrirá o solo. A manutenção do Sistema exige eventuais podas, que tem como função a diminuição do sombreamento, manutenção e condução de algumas espécies. Todo o material resultante das podas é picado e deixado sobre o solo, enriquecendo ainda mais o Sistema.
A definição de quais espécies e técnicas serão utilizadas em cada propriedade é realizada através de um diagnóstico participativo, uma parceria entre a equipe técnica do projeto Semeando Água e os proprietários e produtores rurais parceiros do projeto, os Semeadores de Água. A primeira etapa do planejamento tem como base a criação de um mapa confeccionado a partir de fotografias tiradas por drone e de pontos georreferenciados das áreas. Gustavo Brichi, técnico e extensionista rural da equipe do projeto explica que
“é necessário analisar alguns aspectos chave para a realização do Ordenamento e Planejamento Ecológico de uma propriedade?: a região em que ela está inserida (condições climáticas como pluviosidade e luminosidade, condições das estradas vicinais, principais produtos comercializados na região) as características da propriedade (tamanho, relevo, tipo solo, vegetação nativa e produção existentes, oferta de água) e do proprietário (experiência, disponibilidade de mão de obra). Cada propriedade é única e possui diferentes potencialidades, de acordo com suas aptidões e necessidades.”
Por esse motivo, a assistência técnica e a capacitação é outro aspecto importante para fomentar a sustentabilidade na região. O projeto Semeando Água – uma iniciativa do IPÊ, Instituto de Pesquisas Ecológicas, patrocinado pela Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental – ofereceu diversas capacitações e oficinas para produtores rurais, nos quais mais de 180 pessoas estiveram presentes no ano de 2022. Em 2023 mais 15 hectares de Sistemas Produtivos Sustentáveis e 30 hectares de Restauração Ecológica serão implementados na região do Sistema Cantareira, trazendo mais segurança hídrica para os mais de 7 milhões de habitantes que utilizam sua água diariamente.
Semeando Agua <semeandoagua-com@ipe.org.br>