As cidades no mundo inteiro estão crescendo. Esse processo de urbanização, combinado com as mudanças climáticas, tem se tornado um problema que exige novas abordagens e soluções urgentes. Ao mesmo tempo em que cidades sustentáveis e resilientes são cruciais para garantir a inclusão social e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, elas também estão na linha de frente para as necessárias transformações globais.

Seguindo esse preceito, 56 pesquisadores se reuniram para lançar o livro Water-Energy-Food Nexus and Climate (Springer, 2022) que, por meio de 17 estudos de caso, mostra como a abordagem integrada da gestão da água, da energia e dos alimentos em áreas urbanas pode ajudar as cidades a lidar com as mudanças climáticas.

O livro é resultado de estudos apoiados pela FAPESP e pelo Belmont Forum por meio de três projetos (17/50425-9, 17/17796-3 e 15/50132-6), iniciativa internacional de financiamento estabelecida em 2009 como uma parceria entre organizações, conselhos internacionais e consórcios regionais de fomento à pesquisa comprometidos com o avanço da ciência interdisciplinar e transdisciplinar.

“Desde sempre, os aglomerados urbanos têm sido impulsionadores do desenvolvimento econômico. Mas existe uma condição para as cidades: só há vida se existirem os chamados serviços ecossistêmicos, que garantem insumos tão básicos como água, energia e alimentos. Portanto, governar as cidades sob os preceitos do nexo água-energia-alimentos é um dos maiores desafios do nosso tempo, pois as cidades consomem grandes quantidades desses insumos, ao mesmo tempo que podem gerar alternativas relevantes para enfrentar as mudanças climáticas”, afirma Leandro Giatti, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e um dos editores do livro.

Nos 17 capítulos, que abordam projetos e problemáticas em países da América, Ásia e África, especialistas destacam questões de nexo urbano e propõem soluções aos tomadores de decisão para lidar com as questões sociais, econômicas, as consequências ambientais da governança isolada de água, energia, alimentos e as implicações para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) na Agenda 2030.

“O objetivo do livro é fazer um chamado para novas maneiras de olhar as tomadas de decisão nas políticas públicas e no setor empresarial. É preciso um olhar mais abrangente. Porque uma solução aparentemente interessante para o setor de energia, por exemplo, pode acarretar em novos problemas para a produção alimentar ou os recursos hídricos”, afirma Lira Luz Benites Lazaro, pesquisadora da FSP-USP e uma das editoras do livro.

Lazaro ressalta que as mudanças climáticas já estão afetando as cidades, tornando os conglomerados urbanos armadilhas mortais para muitas pessoas. Além de desastres ambientais, como desmoronamentos, secas e inundações, há o problema da escassez de água, alimentos e energia.

“Assim, identificar, planejar, implementar e monitorar as medidas de resposta é um dos desafios mais cruciais dos tempos modernos com maior ênfase na integração de respostas, políticas e governança entre diversos setores como água, energia e alimentos nos sistemas de produção e consumo”, diz.

“Essas questões foram muito palpáveis durante a pandemia. Mas as cidades continuam a entregar abordagens tradicionais para problemas de desastres naturais e crises sanitárias. É preciso novas maneiras de pensar as soluções e o livro traz justamente isso, apresenta projetos-piloto que abordam o nexo água-alimentos-energia de maneira integrada”, conta a pesquisadora.

Os pesquisadores explicam que a abordagem é baseada em uma estrutura científica multidimensional que busca entender as inter-relações e interdependências complexas e não lineares entre água-energia-alimentos em um cenário de mudança climática. Com isso, a ideia é gerar soluções para reduzir os trade-offs (escolha de uma opção em detrimento da outra) entre os ODSs e gerar cobenefícios que possam incentivar o desenvolvimento sustentável e contribuir para o alcance das 17 metas da Agenda 2030 – sobretudo tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis (ODS 11) e tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos (o ODS 13).

“A parte teórica do nexo água-alimento-energia avançou muito nos últimos anos, mas ainda é preciso colocar em prática, por isso a importância do livro, que traz projetos realizados em todo o mundo”, afirma Lazaro.

O livro Water-Energy-Food Nexus and Climate Change in Cities pode ser adquirido por US$ 129 no site da editora Springer: https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-031-05472-3.