Escassez, reúso e melhor gestão da água
Por Cristiane Rubim Edição Nº 70 - Dezembro de 2022/Janeiro de 2023 - Ano 12 -
A escassez de água se tornou um problema crônico nos últimos anos. “A escassez de água é pressionada pelas mudanças climáticas, crescimento populacional
Adoção contínua e gradual de iniciativas e soluções digitais para água
A escassez de água se tornou um problema crônico nos últimos anos. “A escassez de água é pressionada pelas mudanças climáticas, crescimento populacional em áreas urbanas, mudanças no regime alimentar da população e poluição de corpos hídricos, entre outros fatores” – afirma Massimiliano Santavicca, diretor comercial da Veolia Water Technologies & Solutions América Latina. As soluções digitais trazem novidades que contribuem para encontrar soluções para a escassez hídrica. Os investimentos em iniciativas que aumentam a eficiência no uso da água fazem parte de uma melhor gestão da água.
Iniciativas
O cenário anos atrás sobre a crise hídrica trouxe à tona o uso de práticas de reúso da água, entre outras, para resolvê-la. Hoje, depois de todo o debate sobre a situação, para Santavicca, a solução definitiva para o problema da escassez de água passa por um conjunto de iniciativas para obter segurança hídrica no longo prazo.
Incluem ações de:
• Redução de desperdícios e perdas;
• Recuperação e despoluição de corpos hídricos;
• Uso de fontes alternativas, como a dessalinização de água do mar e o reúso de água.
A evolução é contínua e gradual na implantação das iniciativas adotadas, tanto pelo Poder Público quanto pelo setor privado. Essas medidas variam conforme as realidades regionais e os recursos econômicos disponíveis para investimentos. “Ainda que possam não ser suficientes para resolver a escassez de água e evitar a vulnerabilidade hídrica de algumas regiões, notam-se o progresso e o aumento da conscientização sobre a necessidade de mudar a utilização da água” – diz o diretor comercial da Veolia.
Potencial forte
Nesse cenário, o reúso de água desempenha papel muito importante no uso sustentável dos recursos hídricos. “O volume de investimentos para reúso cresceu muito, principalmente no setor privado, que coloca no centro de sua estratégia adotar práticas de Environment, Social & Governance (ESG), visando ao equilíbrio em suas operações para sua perenidade e longevidade ao longo do tempo. Temos participado de vários projetos e estamos convencidos de que esse será um caminho sem volta para as empresas que queiram viabilizar seus negócios e operações” – enfatiza Santavicca.
Acelerar a adoção e a utilização de reúso da água traz benefícios e impactos diretos na redução de escassez e vulnerabilidade hídrica. “O potencial de mercado para reúso no Brasil e no mundo demonstra forte crescimento que ganhará mais tração nos próximos anos. Ainda que precise aprimorar as condições regulatórias das práticas de reúso no Brasil, muitas iniciativas têm sido desenvolvidas, além da evolução contínua de tecnologias, para aumentar a eficiência e a produtividade” – pontua.
Commodity
A escassez de água não é um problema exclusivo de países emergentes ou em desenvolvimento. Afeta também fortemente os países ricos e as economias desenvolvidas. Eventos climáticos extremos se tornam cada vez mais frequentes e severos em todo o mundo. “Há estudos de que a água se tornará uma commodity, assim como outros recursos, caso do petróleo, e que terá elevado valor no mercado internacional, trazendo profundas transformações nas relações geopolíticas globais” – avalia Massimiliano Santavicca.
Eficiência hídrica
Os crescentes problemas de escassez advertem da necessidade de uma abordagem mais sustentável na gestão da água. Será preciso investir em iniciativas para aumentar a eficiência no uso da água. “Tende a crescer os investimentos em tecnologias e projetos que aumentam a eficiência hídrica. Assim como avançar com rapidez na direção de uma Economia Circular para aumentar a reciclagem e a reutilização da água em diversos fins e aplicações, com impactos diretos e positivos na redução da ameaça de escassez, principalmente em regiões mais vulneráveis” – analisa Massimiliano Santavicca.
Seguro e viável
O reúso direto ou indireto para a produção de água potável ainda é algo muito incipiente no Brasil devido à ausência de condições regulatórias. “Do ponto de vista tecnológico, é perfeitamente possível e seguro considerá-lo, ainda que os custos para a adoção de reúso da água sejam elevados comparados com tecnologias convencionais usadas para tratar água de outras fontes” – equipara Santavicca.
O cenário de escassez e vulnerabilidade hídrica em muitas regiões do Brasil e do mundo exige soluções. “Não há dúvida que a adoção de práticas e tecnologias para reúso é uma opção totalmente viável e segura para solucioná-las” – diz.
Países que não têm outras de fontes de água disponíveis têm sido obrigados a inovar e buscar fontes alternativas. A adoção de práticas e de tecnologias de reúso indireto ou direto já é realidade há muitos anos nestes países. “É perfeitamente possível superar preocupações com a Saúde Pública e de percepções negativas da população em fundamentos técnicos baseados em dados de diversas experiências bem-sucedidas ao redor do mundo” – afirma Massimiliano Santavicca.
A gestão de águas residuais gera benefícios sociais, ambientais e econômicos, segundo o Relatório “Águas residuais: o recurso inexplorado”, das Nações Unidas. A água de reúso reduz a descarga de poluentes em corpos receptores, diminuindo custos com poluição. Conserva ainda os recursos hídricos, protegendo o meio ambiente e a Saúde Pública.
• O preço da água de reúso sai 80% mais barata do que a água potável em concessionárias.
Soluções digitais
Os avanços tecnológicos propiciam a difusão e a implantação de novos processos e metodologias de tratamento de água, o que contribui para encontrar soluções para a escassez hídrica ao redor do mundo. “Os fatores qualitativos e seus impactos diretos na segurança dos processos de tratamento e a redução dos custos de aquisição e operação aumentam sua adoção nos mais diferentes tipos de aplicações e necessidades” – aponta Santavicca. As tecnologias digitais, como a Inteligência Artificial:
• Diminuem desperdícios e perdas;
• Aumentam a produtividade e os ganhos de eficiência;
• Reduzem o uso dos recursos naturais, o consumo de energia etc.
Os avanços digitais trazem novidades que contribuem no controle da crise hídrica. “As soluções digitais colaboram muito para tornar os processos de tratamento mais eficientes e serão elementos indispensáveis para um mundo mais sustentável e limpo” – conclui Massimiliano Santavicca.
Maior equilíbrio entre as regiões do Brasil evitaria escassez e pobreza
A migração cria um tipo de estrutura no Brasil que desequilibra oferta de água e outros recursos das regiões para onde as pessoas foram morar. São Paulo, por exemplo, não sei se ninguém percebeu, enfrenta há anos a seca, que antes era somente no Nordeste. As pessoas vêm com uma expectativa melhor de vida. E essas regiões que recebem todo esse fluxo de pessoas se desdobram como uma mãe, com todo o desvelo, para fornecer recursos para essa população: água, luz, moradia, escola, creches etc. Visitando o site da Prefeitura de São Paulo um dia, havia um cronograma para a construção de moradias. Como costumamos dizer quando o paulista vai para a praia no verão e acaba a água e precisa racioná-la. Porque a Baixada Santista fica lotada e o recurso fica escasso para todo mundo que está lá naquele momento.
É preciso analisar e entender todo esse fluxo de pessoas para avaliar que esse tipo de estrutura criado no Brasil não dá certo. Devido ao crescimento de favelas, pobreza, escassez de recursos, caso da água. As regiões do País mais desenvolvidas deveriam levar expertise para as regiões menos desenvolvidas para equilibrar essa balança. Numa tentativa planejada de reorganizar esse tipo de estrutura para uma melhor qualidade de vida de todos os brasileiros. E não patinarmos em criação de mais favelas.
Comparação
O Brasil é o país que possui mais água no mundo. Com a maior reserva hidrológica existente, 12% da água doce do planeta está no território brasileiro. No entanto, levantamento do Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH) alerta que 74 milhões de brasileiros podem sofrer com a falta de água até 2035.
Divisão de água doce entre as Regiões:
A Região Nordeste é a que possui menos água. Por esse motivo, o Nordeste sofre com a seca há tantos anos.
Agora, vamos olhar para o Quadro Populacional do País:
* As Regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, juntas, somam 25% da população, Sudeste 50% e Nordeste 25%.
Comparando, grosso modo, os números do Quadro de Água Doce e do Quadro Populacional do Estado de São Paulo e da Região Nordeste:
* 90 milhões de pessoas vivem na Região Sudeste, quase metade do Brasil.
Seca em São Paulo
A Região Sudeste tem metade da população do Brasil. Metade da população do Nordeste migrou para o Sudeste, principalmente São Paulo. Houve um esvaziamento dos Estados do Nordeste devido às dificuldades que a população enfrenta. A migração da população nordestina desde 1930 foram de 5 milhões e depois em 2000 mais 7 milhões.
O que tudo isso significa? Significa que São Paulo virou o Nordeste e sofre de seca também. Todos os dias passam reportagens nas TVs acompanhando o nível das represas, que estão escassas de água. Esta é a seca do Nordeste.
Veja os números:
• 90 milhões de pessoas vivem no Sudeste, metade da população do Brasil;
• O Estado de São Paulo tem mais de 45 milhões de pessoas;
• Só a cidade de São Paulo tem 13 milhões de pessoas;
• 45,5% da população da Grande São Paulo é formada por migrantes de outros Estados, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea);
• No Nordeste inteiro também vivem mais de 45 milhões de pessoas;
• O Estado de Alagoas tem 3 milhões de pessoas apenas;
• No Maranhão, moram 7 milhões de pessoas. Estado grande e o mais pobre do País;
• Bahia tem 15 milhões de pessoas.
Disparada
São Paulo tem 25% da população do Brasil, ou seja, um quarto dos brasileiros vive no Estado mais rico do País. Só que mesmo sendo o Estado mais rico do País, seus recursos também se esvaem e ficam escassos, como no caso da água, moradia. Os governos estadual e municipal de São Paulo têm que correr atrás para suprir as necessidades de toda essa população migrante, construindo moradias, mais escolas, creches, tecnologias para buscar água, entre outros.
Estamos indo buscar água cada vez mais longe. Por quê? Por que São Paulo tem menos dos 3% de água que o Nordeste inteiro tem. E a população de todos os Estados, ou seja, do Nordeste inteiro é 25%, como o Estado de São Paulo. Por isso, ocorre a seca aqui.
Corre-corre
O que fizeram as empresas? Correram para se capacitar com tecnologias para poder fazer o reúso da água e não ficarem desabastecidas com a seca de São Paulo. O que está salvando São Paulo da seca é o reúso da água. Uma das soluções, claro. Porque toda hora mostra a seca das represas na TV. Os repórteres mostram a represa sem água o tempo todo. Estamos ao ponto de ter que rezar para chover nas represas em São Paulo como os nordestinos fazem há anos: rezam, pedindo a Deus que chova um pouco para poder ter água de beber.
Atuação conjunta
Em 2021, a pobreza no País chegou a 47,3 milhões de pessoas, ou seja, 22,3% da população, de acordo com estudo do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS). No Nordeste, subiu para 22,8 milhões, 40% da população.
As energias eólica e solar chamam a atenção para um novo mercado que se abre na Região Nordeste. Com o novo governo federal e estadual, a região deveria atuar de forma conjunta para enfrentar os problemas e alavancar o desenvolvimento da região.
Os problemas da Região Nordeste são históricos: defasagem na agricultura e indústria, latifúndio, concentração e má distribuição de renda, alta mortalidade infantil, falta de saneamento, exploração social e do trabalho devido às secas. A grande oferta de empregos nos anos 60, 70 e 80 no Sudeste fez a população migrar.
Fluxo e estrutura
A migração acontece porque não há recursos hídricos no local, são somente 3%. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) ensina e orienta a população métodos de captação de água para consumo, trabalho e sustento próprio. No governo Lula, foram construídas cisternas.
Se lá as pessoas não têm meios e recursos para se desenvolver, é muito claro que a migração para Estados mais ricos e com mais oportunidades ocorra mesmo que seja para viver em condições subumanas, como numa favela sem infraestrutura. E crescem e se espalham favelas pela Região Sudeste toda.
É preciso parar e olhar que tipo de estrutura foi criada no Brasil a partir dos fluxos de pessoas e não somente pensarmos no auxílio em dinheiro. O auxílio em dinheiro tira muita gente do sufoco, mas da vida na favela para um lugar melhor, com mais infraestrutura, somente se houver urbanização na favela, que assim se tornará um bairro organizado e equipado.
Modelo
Não adianta sair e entrar governo, se não houver um Núcleo de Desenvolvimento no Nordeste que crie meios de desenvolver as localidades. As pessoas vão continuar fugindo de lá para tentar a vida em outro lugar com mais oportunidades. Se os governos não têm ainda expertise para desenvolver o Nordeste, precisam procurar uma referência para aprender com o modelo e aplicá-lo na região, que sofre também com a corrupção, que é muito alta no País. O agravante ainda é que a população desconhece seus direitos, não sabe solicitálos ou têm receio de reivindicá-los.
Um exemplo de modelo de Desenvolvimento Social Sustentável no Nordeste que está dando supercerto é o da ONG Amigos do Bem, sob o comando da fundadora e presidente Alcione Albanesi com ajuda de funcionários e voluntários. Sem cunho político, o foco do seu trabalho é desenvolver o local para que os moradores tenham como se autossustentar por meio da produção de derivados dos frutos da terra para gerar trabalho e renda, além de propiciar acesso a saúde, educação e escola, moradia, comida, remédios, água, entre outros recursos.
Contato da empresa
Veolia: www.veolia.com
Referências bibliográficas
VALE, Sérgio. Índice de miséria mostra que Norte e Nordeste precisam mudar. CNN Brasil, maio 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/indice-de-miseria-mostra-que-norte-e-nordeste-precisam-mudar/. Acesso em: 8 nov. 2022.
MASSAD, Anselmo. Migrantes são 45% da população da Grande São Paulo, mostra estudo. Rede Brasil Atual, 6 out 2011. Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/imigrantes-sao-45-da-populacao-da-grande-sao-paulo-mostra-estudo/. Acesso em: 8 nov. 2022.
CERCA DE 47 MILHÕES de brasileiros terminaram o ano passado na pobreza. O Tempo, 26 jun. 2022. Disponível em: https://www.otempo.com.br/brasil/cerca-de-47-milhoes-de-brasileiros-terminaram-o-ano-passado-na-pobreza-1.2689598. Acesso em: 8 nov. 2022.
CTB. Estudo alerta que insegurança hídrica afetará 74 milhões no Brasil até 2035. jun. 2022. Disponível em: https://ctb.org.br/sp/estudo-alerta-que-inseguranca-hidrica-afetara-74-mi-no-brasil-ate-2035/#:~:text=Levantamento%20feito%20pelo%20Plano%20Nacional,(ONU)%2C%20estar%C3%A1%20comprometido. Acesso em: 8 nov. 2022.