Medidas inteligentes para hotéis com princípios de tecnologias mais limpas
Por Me. Luciano Peske Ceron Edição Nº 3 - outubro/novembro de 2011 - Ano 1 -
Os hóspedes, sejam estes turistas ou pessoas que estão viajando a negócios, já começam a exigir dos hotéis um novo tipo de requisito
Os hóspedes, sejam estes turistas ou pessoas que estão viajando a negócios, já começam a exigir dos hotéis um novo tipo de requisito que não está apenas atrelado à qualidade dos serviços a eles prestados, mas, fundamentalmente, associado à qualidade ambiental. É o chamado turismo sustentável, destinado a atrair os viajantes "verdes" de todas as partes do mundo.
Há vinte anos as grandes redes de hotelaria norte-americanas e europeias adotaram práticas de valorização dos recursos ambientais, demonstrando que o conceito de consumo responsável chegou ao turismo. Alemanha, Japão e EUA são os países com o maior número de turistas com esta preocupação. Na Europa já existem grupos de operadoras voltadas para o turismo sustentável. As pessoas saem por aí, viajam, se hospedam, observam e exige uma prática mais responsável, fazendo com que o segmento hoteleiro, em particular, seja cada vez mais pressionado a demonstrar um bom desempenho em relação às suas questões ambientais. Neste contexto, a posição do Brasil vem evoluindo de forma gradativa no concorrido ranking da OMT, Organização Mundial de Turismo, acerca dos destinos turísticos mais demandados no mundo. Porém, muito ainda tem a ser feito para contribuir com a minimização dos impactos ambientais decorrentes do processo de operação do setor de hospedagem.
O turismo como um todo, considerando-se sua cadeia produtiva envolvida (agentes de viagens, meios de transportes, meios de hospedagem, restauração, entretenimento, compras, etc.) contribui com mais de U$ 5 trilhões, valor equivalente a 11% do produto interno mundial. Também é responsável pela geração direta e indireta de mais de 260 milhões de postos de trabalho, o equivalente a 10% da força de trabalho mundial, representando uma em cada dez pessoas empregadas no mundo, com perspectiva de serem criados mais de 200 milhões de empregos até 2020.
Assim, o objetivo deste artigo é descrever e caracterizar os principais impactos ambientais causados pela operação da Indústria hoteleira sobre o meio ambiente e apresentar um conjunto de algumas tecnologias mais limpas, disponíveis no mercado atual, economicamente viável, que possam ser aplicadas na operação de um hotel para a minimização dos principais impactos ambientais diagnosticados. Portanto, promover e contribuir para o desenvolvimento de um turismo sustentável e disseminar a prática da responsabilidade social empresarial no setor de hospedagem.
Aspectos e impactos ambientais
A princípio podemos pensar que o segmento hoteleiro não repercute de modo significativo sobre o meio ambiente, principalmente, quando comparamos com o setor da indústria química, petroquímica, metalúrgica, entre outros, porém, quando levantamos e analisamos os principais aspectos e impactos ambientais gerados na operação de um hotel, tais como: recepção, administração, governança, cozinha, restaurante e manutenção, verificamos que os resultados negativos gerados pelo setor de hospedagem são extremamente relevantes em relação a água e efluentes.
Segundo o conceito legal, a Resolução Conama nº001 de 23 de janeiro de 1986, define impacto ambiental como sendo:
"Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causado por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem – estar da população;
II – as atividades sociais econômicas;
III – à biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais".
Conforme as definições de aspectos ambientais, podemos dizer que os aspectos são as causas e os impactos os seus efeitos sobre o meio ambiente.
Para descrever e caracterizar os principais aspectos e impactos ambientais, associados à operação de um hotel, é necessário aplicar a metodologia da norma ISO-14001 para classificação dos mesmos. No quadro a seguir, analisamos as causas e efeitos de cada atividade, produto ou serviço oferecido pelo hotel.
Produção mais limpa
Para introduzirmos técnicas de produção mais limpa (P+L) ou tecnologias mais limpas (T+L) em um processo produtivo é necessário o comprometimento dos seus profissionais e de uma política gerencial que inclua a responsabilidade ambiental. Assim, dependendo do caso, poderemos ter fatores econômicos como ponto de sensibilização para a avaliação, alteração e adaptação de um processo produtivo ou serviço em hotelaria, onde os resultados de minimização dos impactos ambientais passam a ser uma consequência. A figura abaixo representa o fluxo para qualquer processo produtivo de produtos e serviços.
No sentido de contribuir para a implantação de uma produção mais limpa nas atividades diárias de um hotel, foram pesquisadas no mercado nacional as várias empresas e órgãos de consultoria ambiental que oferecem aos setores produtivos alternativas viáveis para a identificação de tecnologias para uma produção mais limpa. Quando implantadas nos processos diários, estas permitem a minimização dos principais impactos ambientais, tais como, a redução do esgoto doméstico, efluentes orgânicos, eficiência no uso de energia e racionalização no emprego da água.
Implantação de projetos
Segue um modelo proposto para um hotel com 100 apartamentos, com uma taxa de ocupação de 100%, com dois hóspedes por apartamento.
1. Aplicação de sistemas solares para aquecimento de água em um hotel
Para atender um consumo máximo diário de 13.000 litros de água quente e consumo mensal de 390.000 litros, para o modelo proposto, o custo de instalação de projeto de aquecimento solar fica próximo a R$ 55.620,00.
Relativo a esse investimento inicial, quando comparado a um sistema convencional elétrico, o ganho real será de R$ 2.380,00 por mês, com retorno de investimento em 24 meses e, quando comparado com um sistema convencional a gás, o ganho real é de R$ 1.130,00, com um retorno do investimento em menos de 48 meses.
2. Aplicação de um sistema de reúso de água
Esta aplicação refere-se para o tratamento e reúso de uma parte do esgoto doméstico gerado de chuveiros e lavatórios e avaliar a sua viabilidade econômica. A água a ser tratada deverá ser coletada e transportada, através de tubulação específica segregada das águas de bacias sanitárias, cozinhas ou outra atividade não especificada. Complementado a captação de água podemos incluir a água da chuva.
Para este sistema de ETE (estação de tratamento de esgoto) biológica proposta apresenta as seguintes etapas:
• Sistema de gradeamento para a retirada de sólidos;
• Caixa de gordura e areia para retirada da parte oleosa;
• Tanque de aeração para tratamento biológico;
• Decantador para deposição do lodo e retorno para tanque de aeração;
• Tanque de contato de cloro para efetuar a desinfecção residual;
• Estação de recuperação composta de filtro de areia e antracito de desinfecção final, por irradiação de luz ultravioleta para eliminação de bactérias presentes na água para reúso.
A proposta de uma ETE biológica, descrita acima, utiliza a técnica por lodos ativados com um sistema de recuperação do material clarificado, por ultravioleta, para reúso como água de descarga em bacias sanitárias dos apartamentos, irrigação de jardins e lavagem de pátios e garagem do hotel. O custo de instalação para estação de tratamento é de R$ 45.000,00. O ganho real por mês será de R$ 2.030,00 e uma economia de água e esgoto por mês de 2.506,00, menos o custo operacional mensal de R$ 420,00. Portanto, para o ganho mensal de R$ 2.030,00, o sistema se pagará em menos de dois anos, aproximadamente em 22 meses.
3. Aplicação de produtos economizadores de água
Esta aplicação tem por objetivo de avaliar o potencial de economia de água em banheiro dos apartamentos de um hotel, com a instalação de novos dispositivos ou produtos economizadores para todos os campos de utilização de água: chuveiros, torneiras e bacias sanitárias.
Os custos de instalação dos produtos e dispositivos economizadores para banheiros de um hotel são de R$ 51,00 por apartamento e um total de R$ 5.100,00. A minimização deste impacto ambiental quando aplicarmos os dispositivos de redução de consumo de água em peças sanitárias, sem alterar a qualidade dos serviços oferecidos aos hóspedes é apresentado na tabela acima.
Efetuando o cálculo do consumo médio para os 100 apartamentos com os dispositivos economizadores de água, consegue-se uma economia total de R$ 3.930,00 por mês. Desta forma, o retorno do investimento acontece num prazo de um mês e meio. Com bases nos valores apresentados, podemos concluir que a utilização de dispositivos economizadores de água, somadas ao uso racional da água geram excelentes resultados.
4. Experiência de responsabilidade ambiental
Esta aplicação tem por objetivo de avaliar o potencial de economia em ações internas com seus hóspedes e colaboradores, que, além de beneficiar o meio ambiente, representa para a empresa uma redução do desperdício e, em consequência, a economia de recursos naturais, financeiros e o aumento da consciência dos hóspedes e das comunidades interna e externa do hotel, listadas:
• Dormir nos mesmos lençóis, por mais de um dia;
• Usar mais de uma vez as toalhas;
• Separar o lixo no banheiro para a reciclagem;
• Substituir sabonetes individuais por sabão líquido.
Comentários finais
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) divulga essa preocupação de alguns hotéis que vivem do turismo ecológico, introduzindo no Brasil o programa internacional de Hóspede da Natureza, um selo ambiental criado pela ONG Internacional Hotels Environment. Para obter o selo, o hotel ou pousada tem que colocar em prática um programa de preservação ambiental que envolva medidas de uso racional dos recursos naturais (água, energia e gás), medidas de reciclagem de lixo e até a conscientização ecológica de funcionários e hóspedes.
As expectativas de crescimento da demanda hoteleira e as condições da oferta existente, principalmente com os eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil, demonstram o grande potencial para o desenvolvimento de hotéis com essa preocupação de tecnologias limpas. Embora seja uma modelo estrutural viável, constata-se que o público em geral desconhece ou menospreza o valor de cada pequena ação voltada para a eficácia dos programas ambientais. Em geral, prepondera ainda o pensamento individualista e imediatista dos hóspedes, onde o fato de serem clientes e estarem pagando desobriga-os da responsabilidade ecológica.
Me. Luciano Peske Ceron
Engenheiro Químico (PUCRS), Doutorando Engenharia de Materiais (PUCRS), Mestre Engenharia de Materiais (polímeros/não-tecidos - PUCRS), Especializações em Gestão Ambiental (GAMA FILHO) e Gestão Empresarial (UFRGS). Tem experiência nas áreas: petroquímica (polipropileno, polipropileno aditivado, PET, borracha sintética, etil-benzeno), têxtil (fabricação de não tecidos, mangas filtrantes, palmilhas, persianas de não tecidos e plásticas em PVC), papel e celulose, tratamento de água e efluentes, tecnologia da informação, logística por software e professor.
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