Estiagem no sul da França faz com que seja distribuídas garrafas de água

Franceses sofrem queda de 14% das reservas de água potável e ONU afirma que essa porcentagem deverá chegar em 40% até 2030


A prefeitura de Corbère-les-Cabanes, uma comuna francesa na região administrativa da Occitânia, no departamento dos Pirenéus Orientais, passou a distribuir diariamente uma garrafa de 1,5 litro de água por habitante -- 1.250 por dia no total. Isto porque a pequena cidade, e outras vilas vizinhas, sofrem com a falta de água potável em consequência do esvaziamento de seus reservatórios.

O problema ocorre devido à estiagem anormal que assola a região fronteiriça à Espanha, que presencia ondas de calor muito acima da média para uma temporada anterior ao verão. Em dez anos, os franceses presenciaram a queda de 14% de seus recursos hídricos. Além disso, oito nações europeias -- como Espanha, Dinamarca e Holanda -- já puderam apontar o dia mais quente do ano. Os recordes são tão graves que diversas estações de esqui do continente tiveram que encerrar a temporada mais cedo em 2023.

Para Fernando Silva, CEO da PWTech, startup escolhida pela ONU como uma referência no acesso à água potável em crises humanitárias, situações como essa requerem a construção de um plano de ação efetivo que priorize o acesso à água potável em regiões que sofrem com a escassez hídrica.

“A água não está ligada apenas ao consumo interno, mas também a alimentação e higiene pessoal da população. Segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), 100 pessoas devem consumir em média de 50 litros por dia. Quando analisamos o envio de uma garrafa de 1,5 litros por habitante, estamos negligenciando parte das necessidades básicas desses indivíduos”, diz o especialista.

Esta estiagem europeia é apenas reflexo de um problema estruturado em nível internacional. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), desde 1993 até 2019, os glaciares perderam espessura equivalente ao volume de 75 Lagos Leman, o maior lago do ocidente europeu. Em 2015, as Nações Unidas anunciaram dados indicando que as reservas hídricas do mundo encolherão 40% até 2030.

O Brasil, por exemplo, segundo análise do MapBiomas, está perdendo 15% de sua água doce desde 1990. Vale ressaltar que, em relação ao planeta, o país detém 12% desta água. O motivo dessa seca, além das mudanças climáticas, são problemas como o sobreuso dos recursos e o mal uso de terras.

Silva ainda reforça que quando há investimento no combate ao aquecimento global e na preservação das reservas hídricas, há melhorias na saúde e no meio ambiente, impactando positivamente na economia e na qualidade de vida da população. Logo, há um aumento no Índice de Desenvolvimento Humano.

Infelizmente, o país não avança nesse sentido. No final de março, seguiu para o Senado Federal a medida provisória 1.150/2022. A MP, em caso de aprovação, representa retrocesso da preservação ambiental no país ao permitir ações como suprimir a vegetação secundária em estágio médio de regeneração em “caso de utilidade pública e de interesse social”, o que promove, sem a garantia de compensação dos danos à natureza, a derrubada de áreas da mata atlântica. Esta, por sua vez, é a principal fornecedora de água potável do Brasil, representando 75% do consumo da população.

Conforme apurado pelo Instituto Trata Brasil, 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada. Caso o desperdício do volume de água produzido (40%) não ocorresse, 66 milhões de habitantes poderiam ser beneficiados com a quantidade gasta.

“É uma situação complicada. Hoje, em determinadas regiões do país, principalmente no norte, se investe muito pouco em saneamento. O ideal era que fosse investido R$ 200 por habitante, mas algumas regiões o investimento não chegam nem a R$ 36. A falta de políticas públicas bem desenvolvidas e a ausência de consciência ambiental por parte da população, são um dos grandes fatores para a escassez hídrica”, finaliza Silva.

 

Giovanna Montagner Fernandes <giovanna@pressfc.com.br>

Publicidade