Cada vez mais a agenda ESG faz parte do plano estratégico das empresas
Contextual Comunicação -
Especialista alerta para a importância de uma análise minuciosa para a avaliação de uma organização e aponta o conceito de cadeia de valor como um caminho
Cada vez mais a agenda ESG faz parte do plano estratégico das empresas. Paralelamente, os consumidores em geral esperam que elas façam algo efetivo, considerando até que as companhias têm obrigação de fazer algo dentro das questões de governança ambiental, social e corporativa. Mas será que todas estão fazendo seu dever de casa?
De acordo com o professor de finanças e de sustentabilidade corporativa do COPPEAD, da UFRJ, Celso Lemme, não são poucos os casos que uma empresa alinha os diversos temas da agenda socioambiental, como eficiência energética, tratamento de resíduos e relações trabalhistas às exigências ESG, porém não dão a atenção necessária ao conjunto da sua cadeia produtiva, envolvendo fornecedores, consumidores etc.
O professor diz que é preciso incorporar à análise ESG o conceito de cadeia de valor, voltando a atenção para etapas que ocorrem antes e depois das operações que estão sob controle total da empresa. Segundo Celso, um exemplo é considerarmos um dos temas mais importantes da agenda socioambiental internacional, que são as mudanças climáticas. Ele lembra que no Brasil, algo em torno de 50% das emissões de gases de efeito-estufa (GEE) são relacionados ao uso da terra e ao desmatamento, em parte associados à pecuária. “Ao fazer um inventário de emissões de GEE, por exemplo, grandes frigoríficos constatam que grande parte está associada ao escopo 3, mais especificamente à cadeia de fornecedores. Isto traz um desafio para os seus programas de redução de emissões, exigindo esforço de rastreamento de origem do gado, bem como seleção e qualificação de fornecedores”, diz Celso, acrescentando que outros setores têm seus principais desafios de escopo 3 na outra ponta da cadeia de valor, após a etapa de venda, como a indústria automobilística, com a preocupação dos impactos ambientais e sociais dos automóveis nos centros urbanos, assim como pensar na destinação do lixo eletrônico gerado pela indústria de tecnologia e comunicação.
De acordo com dados de relatório do CDP de 2023, as emissões de gases de efeito-estufa das cadeias de fornecimento são, em média, 11,4 vezes maiores do que as geradas diretamente pelas empresas nas suas operações internas. O CDP observa, também, que apenas 15% das empresas que têm planos de reduções de emissões possuem metas claras para o escopo 3.
Enfim, Celso Lemme ressalta a importância de entender as características das cadeias de valor, respeitando as culturas empresariais e os diferentes estágios da gestão para a sustentabilidade corporativa. “Precisamos ver o todo para maior segurança na avaliação da estratégia corporativa”, alerta, finalizando que ESG não é um modismo e, sim, uma mudança de comportamento da sociedade.
Gabriel Maia <gabriel@contextualcomunicacao.com.br>