Produção de hidrogênio verde pode ultrapassar a do hidrogênio intensivo em carbono em menos de dez anos
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A descarbonização de indústrias como siderúrgica, química, de aviação e naval – intensivas em uso de carbono – deve multiplicar uso global de hidrogênio
Conforme o hidrogênio conquistar mais e mais confiança do mercado como fonte de energia sustentável, espera-se que sua cadeia de comercialização supere a de gás natural líquido até 2030 e gere um mercado de US$ 1,4 trilhão anual até 2050. O hidrogênio verde – produzido a partir da divisão de moléculas de água, separando seus átomos de hidrogênio do átomo de oxigênio por meio da eletricidade gerada por fontes renováveis – está prestes a ajudar a impulsionar parte importante do crescimento global, de acordo com o estudo da Deloitte “Perspectivas globais para o hidrogênio verde 2023: Energizando o caminho para a descarbonização”. Trata-se de uma oportunidade para lideranças globais acelerarem suas jornadas de descarbonização investindo em crescimento sustentável.
O hidrogênio verde traz uma grande oportunidade de crescimento sustentável para países em desenvolvimento, que, a partir de investimentos direcionados e significativos, podem passar a responder por quase 70% do US$ 1,4 trilhão previsto para 2050 – e, ao mesmo tempo, fomentar até 2 milhões de empregos ao ano globalmente, entre 2030 e 2050. “Ainda que a demanda pelo hidrogênio verde dispare nas economias mais avançadas, será o estabelecimento bem-sucedido desse mercado nos países em desenvolvimento que permitirá a estruturação de uma cadeia verdadeiramente global”, diz Maria Emília Peres, líder das Ofertas Integradas da Deloitte Brasil para Clima, Sustentabilidade & Equidade. “Para isso, temos à frente um desafio sem precedentes: converter essa indústria de nascente a gigante global em menos de três décadas.”
Essas projeções vêm do “Hydrogen Pathway Explorer (HyPE)”, ferramenta de simulação da Deloitte que oferece uma das análises mais abrangentes sobre fornecimento global de hidrogênio. A pesquisa mostra que o hidrogênio verde pode fornecer até 85 gigatoneladas em reduções nas emissões cumulativas de CO2 até 2050, mais que o dobro das emissões globais de CO2 em 2021. O estudo apresenta detalhes sobre o custo, a produção e o mercado de hidrogênio, e analisa os desafios de negócios para a implementação bem-sucedida do hidrogênio verde, além de trazer informações sobre diversas dinâmicas de mercado, como dimensionamento ideal da infraestrutura, necessidades de investimento e opções de tecnologia.
“A análise revela uma oportunidade atrativa para lideranças públicas e privadas acelerarem a transição energética”, diz Joe Ucuzoglu, CEO global da Deloitte. “Embora energias eólica e solar e de outras fontes renováveis mais tradicionais sejam essenciais para um futuro net zero, nossa pesquisa demonstra que o hidrogênio verde pode ajudar a descarbonizar parte dos setores mais intensivos do mundo em emissões, mitigando os efeitos da mudança climática e ao mesmo tempo estimulando o crescimento econômico, particularmente nos países em desenvolvimento”.
O comércio inter-regional é fundamental para a realização do potencial de mercado do hidrogênio verde, assim como a diversificação da infraestrutura logística. Regiões atualmente capazes de produzir hidrogênio a preços competitivos e em quantidades que excedam necessidades domésticas já se posicionam como futuros exportadores – abastecendo regiões menos competitivas nesse mercado e facilitando a transição energética. A previsão é que o comércio global de hidrogênio gere mais de US$ 280 bilhões em receitas anuais de exportação até 2050. O norte da África deve ser a maior beneficiada (US$ 110 bilhões por ano), devido ao seu elevado potencial de exportação.
“Se governos e empresas se comprometerem a apoiar o hidrogênio verde de forma decisiva, esse mercado poderá superar a produção de hidrogênio intensivo em carbono em menos de dez anos”, disse Jennifer Steinmann, líder global da Prática de Sustentabilidade e Clima da Deloitte. “Reduzir emissões de carbono e os danos físicos e econômicos da mudança climática será uma grande vitória para nações e empresas. É um caminho fundamental para países em desenvolvimento conquistarem segurança e a independência energética, reforçando o crescimento de seus mercados com novos fluxos de investimento e ajudando a consolidar a expansão e resiliência da economia global de forma coletiva”.
De acordo com o estudo da Deloitte, serão necessários grandes investimentos na cadeia de suprimentos para ajudar a otimizar a cadeia de valor global do hidrogênio verde, Mais de US$ 9 trilhões deverá ser investidos na cadeia global de abastecimento de hidrogênio limpo para ajudar no alcance do net zero até 2050, incluindo US$ 3,1 trilhões de investimento em economias em desenvolvimento.
O estudo mostra que o suprimento de hidrogênio verde precisa crescer para aproximadamente 600 MtH2eq em 2050 para ajudar a alcançar a neutralidade climática até meados do século. No entanto, considerando os anúncios atuais de projetos de hidrogênio limpo no mundo, só haveria capacidade de produção coletiva para atender a um quarto da demanda projetada em 2030.
Para ajudar a ampliar um mercado de hidrogênio limpo justo e robusto, que atenda à demanda projetada, o relatório da Deloitte recomenda três fatores aos responsáveis por definir políticas públicas:
- Lançar as bases do mercado. Elaborar estratégias nacionais e regionais para dar credibilidade ao mercado de hidrogênio verde; desenvolver um processo aberto e robusto de certificação, de forma a gerar transparência; e estabelecer interlocutores para uma coordenação internacional, para mitigar riscos de atrito político e promover condições equitativas.
- Estimular a ação. Estabelecer metas claras e formar mercados bem definidos para produtos à base de hidrogênio verde. Além disso, oferecer instrumentos pontuais, como incentivos fiscais e subsídios, voltados à redução da diferença dos custos entre tecnologias limpas e as baseadas em recursos fósseis à integração do hidrogênio limpo nas cadeias de valor.
- Garantir resiliência. Diversificar cadeias de valor – de parceiros comerciais a fornecedores de matéria-prima – para evitar gargalos e seus impactos em termos de custo durante a transição, concentrando-se especificamente na melhoria da infraestrutura de transporte (oleodutos e rotas marítimas) e de armazenamento (reservas estratégicas) de commodities limpas de hidrogênio.
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Bruno Nunes
Nathália Silva
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Renan Schuindt