Efluente industrial tratado é sinônimo de vida e saúde
Por Cristiane Rubim Edição Nº 73 - Junho/Julho de 2023 - Ano 13 -
O setor industrial utiliza água nas suas principais atividades. Os efluentes industriais gerados na cadeia produtiva de seus produtos e seus processos
O setor industrial utiliza água nas suas principais atividades. Os efluentes industriais gerados na cadeia produtiva de seus produtos e seus processos, como manutenções, limpezas de maquinários e do pátio fabril, têm variados tipos de contaminantes. Esses contaminantes são perigosos por conter substâncias tóxicas. “O descarte incorreto de efluentes sem tratamento traz sérios danos ambientais e impacta negativo para as empresas, como prejuízos institucionais, mercadológicos e financeiros, se as leis ambientais sobre o correto descarte forem descumpridas” – pontua Paulo Paschoal, diretor de operações no grupo Opersan. As indústrias devem tratar seus efluentes antes de descartá-los para evitar riscos à Saúde Pública e à natureza.
Os efluentes devem seguir para Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) por rede de esgoto ou caminhão para empresas de tratamento off-site. Porém, ainda há empresas que realizam o descarte direto no meio ambiente sem tratamento algum. “O descarte incorreto é um problema muito grave. Para evitá-lo, os efluentes só podem ser lançados nos corpos receptores após tratamento, segundo padrões e exigências da Resolução 430/2011 do Conama” – aponta Lívia Baldo, gerente da Tera Ambiental. No Estado de São Paulo, o Decreto nº 8.468 dispõe sobre prevenção e controle da poluição do meio ambiente.
Entre os efluentes industriais, estão: águas de lavagem de pisos, peças, máquinas, tanques e reatores; emulsões com altas concentrações de óleos e graxas; soluções aquosas com metais pesados de revestimento de peças, metal-mecânica etc.; efluentes com traços de fármacos, hormônios e pesticidas; e efluentes com elevada carga orgânica: alimentícios, cosméticos, farmacêuticos e têxteis, entre outros.
Cada efluente gerado de processos industriais tem diferentes perigos à saúde humana e o meio ambiente e são prejudiciais à vida aquática e às plantas:
• Os efluentes ácidos da produção de baterias e produtos químicos podem conter ácido sulfúrico, ácido clorídrico, ácido fluorídrico, entre outros ácidos tóxicos e corrosivos que causam queimaduras na pele e irritação nos olhos;
• Os efluentes alcalinos que envolvem bases, como a fabricação de sabões e detergentes, podem conter hidróxido de sódio, hidróxido de potássio e outros compostos alcalinos tóxicos;
• Os efluentes tóxicos causam danos irreversíveis à saúde humana. Abrangem produtos químicos, pesticidas, tintas e solventes que podem conter metais pesados, compostos clorados e outros poluentes tóxicos;
• Os efluentes químicos contêm metais pesados, ácidos, solventes e produtos químicos usados para produzir plásticos e produtos farmacêuticos. Quando descartados em corpos d’água ou no solo, podem contaminar a água potável, matar plantas e animais e causar males à saúde humana;
• Os efluentes orgânicos da fabricação de alimentos, bebidas e papel podem conter açúcares, óleos e gorduras, proteínas e outros compostos orgânicos prejudiciais e causar problemas respiratórios e alergias. Quando despejados em corpos d’água, podem provocar a morte de organismos aquáticos devido à falta de oxigênio da decomposição desses materiais;
• Os efluentes térmicos são águas com elevada temperatura liberadas por processos industriais, como usinas de energia. As águas de sistemas de refrigeração causam poluição térmica e aumentam a temperatura da água do rio, reduzindo o oxigênio e impactando os organismos que não suportam grandes variações térmicas;
• Efluentes de processos industriais da produção podem conter substâncias tóxicas, metais pesados e outros contaminantes;
• Efluentes de limpeza de equipamentos e instalações industriais podem conter detergentes e outros produtos químicos;
• Efluentes sanitários dos banheiros e cozinhas industriais podem conter matéria orgânica e microorganismos patogênicos.
Fontes: Alphenz, Tera Ambiental e Opersan.
Poluição hídrica
Ao lançar efluentes não tratados em rios, lagos e córregos, as indústrias provocam grave poluição hídrica e sério desequilíbrio no ecossistema aquático. Os poluentes químicos dos agrotóxicos e metais têm efeito tóxico em animais e plantas aquáticas, acumulando-se em seus organismos. As águas contaminadas dos efluentes não tratados transmitem doenças. Os efluentes industriais que poluem os rios podem contaminar por metais pesados, provocando tumores hepáticos e de tireoide, rinites alérgicas, dermatoses e alterações neurológicas.
Atmosfera
O efeito estufa, a destruição da camada de ozônio e as chuvas ácidas são exemplos de efluentes gasosos industriais com emissão excessiva. Efluentes gasosos não tratados na atmosfera causam ou agravam doenças, como asma, enfisema, doença pulmonar obstrutiva crônica e até câncer pulmonar. A concentração dessas substâncias no ar, sua deposição no solo e nos vegetais prejudica as florestas e reduz a produção agrícola.
Mais fácil e ágil
“As tecnologias digitais facilitam e agilizam os tratamentos dos diferentes tipos de efluentes industriais. As empresas controlam e monitoram seus sistemas de tratamento de forma mais eficiente e precisa” – afirma Emílio Bellini, diretor da Alphenz.
Tecnologias digitais comuns usadas no tratamento de efluentes:
• Automação de processos: os sistemas medem e controlam o pH, a temperatura, o nível de água e outros parâmetros do tratamento, garantindo execução segura e eficaz;
• Internet das Coisas (IoT): as empresas monitoram e controlam remotas seus sistemas de tratamento. Sensores conectados à Internet enviam dados em tempo real para que os operadores monitorem a qualidade da água e identifiquem problemas de imediato, o que reduz tempo de resposta e previne problemas maiores;
• Inteligência Artificial (IA): as empresas preveem e previnem problemas nos sistemas. Algoritmos de aprendizado de máquina analisam dados históricos e em tempo real para identificar tendências e padrões que indicam problemas iminentes para que as empresas tomem medidas preventivas antes de se tornarem críticos.
• Realidade Aumentada (AR): os operadores visualizam e monitoram o sistema de tratamento de efluentes e a qualidade da água em tempo real e identificam rápido problemas e pontos de falha no sistema.
“O monitoramento digital quantitativo e qualitativo dos efluentes industriais é feito com medição de volume, redução no tempo analítico em laboratórios e até sondas que permitem rápida avaliação e definição da melhor rota de tratamento” – menciona Lívia, da Tera Ambiental. Com o processo ambiental online, é possível tanto emitir Certificado de Movimentação de Resíduos de Interesse Ambiental (Cadri) pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) quanto para gestão e acompanhamento dos descartes recebidos do MTR (Manifesto de Transporte de Resíduos) eletrônico.
Monitorar online parâmetros de controle resultou em melhor performance, custos otimizados e maior segurança operacional das ETEs, que ficam mais eficientes e confiáveis. “São geradas linhas de tendência, antecipação de problemas ou atuação imediata em anomalias, falhas ou quebras de equipamentos” – ressalta Paschoal, da Opersan.
Os diversos tipos de sensores e instrumentos geram sinais digitais que transmitem informações em tempo real sobre a qualidade do efluente, pH, temperatura, nível dos tanques, pressão da rede, entre outros parâmetros. “É possível controlar a qualidade do efluente tratado e otimizar o consumo de insumos usados no tratamento, como produtos químicos e energia elétrica” – diz.
Gerenciamento
O manejo correto de efluentes é orientado por normas e leis que estabelecem regras e limites para seu adequado tratamento e disposição final. Além das tecnologias de tratamento, o gerenciamento do tratamento para os diferentes tipos de efluentes industriais no Brasil envolve uma série de leis e regulamentos ambientais: Lei de Política Nacional do Meio Ambiente nº 6.938/1981 e a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) nº 430/2011, que definem diretrizes e critérios para controle e prevenção da poluição hídrica.
O gerenciamento monitora contínuo efluentes desde sua geração até o descarte final, incluindo o tratamento adequado antes do lançamento no meio ambiente. “As empresas precisam garantir que os efluentes lançados no meio ambiente atendam aos padrões de qualidade definidos pelas autoridades ambientais. Devem obter licenças ambientais nos órgãos competentes e submeter relatórios regulares sobre a qualidade dos efluentes e o tratamento” – alerta Bellini, da Alphenz.
A ausência de tratamento adequado implica riscos à saúde humana e degrada o meio ambiente. Dependendo do setor, os resíduos líquidos contêm Cádmio, Cromo, Zinco e Níquel, metais pesados extremamente danosos em alta concentração. É crime ambiental todo prejuízo ao ambiente, flora e fauna, e recursos naturais, solo, água e ar. “Cabe à indústria elaborar Plano de Gerenciamento de Resíduos para adequado tratamento e destinação final dada a cada tipo de resíduo de seu processo produtivo. Ao efluente líquido, tratamento que remova os contaminantes em níveis de concentração que atendam aos limites legais” – adverte Paschoal, da Opersan.
Na opinião de Juan Carlos Escobar Bello, gerente de negócios do Grupo Allonda, as indústrias precisam ter um Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes Líquidos embasado na legislação e enquadrado no Conama e nas Normas Brasileiras (NBRs). “O programa consiste no diagnóstico, classificação e quantificação para depois definir os procedimentos operacionais para o correto gerenciamento desses resíduos. Algumas indústrias primarizam essa gestão, com equipe e recursos dedicados, e outras já terceirizam toda a gestão” – aponta.
Normas sobre o tema:
Lei nº 9.433/1997 - Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei das Águas): define toda a gestão dos recursos hídricos brasileiros. O marco dessa lei foi criar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que administra os usos dos recursos hídricos de forma democrática e participativa, coordena a gestão integrada das águas, media conflitos, planeja e controla a utilização, recupera corpos d’água e cobra pelo seu uso.
Conama nº 430/2011 - Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente: dispõe sobre as condições, padrões, parâmetros e diretrizes para a gestão do lançamento de efluentes em corpos de águas. Estabelece que os efluentes industriais somente poderão ser lançados nos corpos receptores após devido tratamento que elimina ou neutraliza substâncias que alteram as características dos canais aquáticos.
Lei 11.445/2007 – Política Nacional de Saneamento Básico - Regulamenta todos os setores do saneamento: drenagem urbana, abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos. Atualizada pelo Novo Marco do Saneamento, 14.026/2020, para cumprir os critérios de universalização com novas metas.
Lei 9.605/1998 - Lei dos Crimes Ambientais - Concede à sociedade, aos órgãos ambientais e ao Ministério Público mecanismos de punições aos infratores do meio ambiente. Penaliza pessoas jurídicas por crimes ambientais. Autuação criminal pelos danos causados por suas operações e multas, suspensão de atividades, interdição, proibição de subsídios e subvenções do Poder Público. A punição só será extinta quando a empresa comprovar recuperar o dano ambiental, o que pode ter altos custos.
Lei 6.938/1981 – Política Nacional do Meio Ambiente: estabelece para as empresas diretrizes e melhores práticas no gerenciamento de atividades que interfiram no meio ambiente. Seu objetivo é preservar e recuperar a qualidade ambiental, diante do aumento do uso de recursos naturais e de resíduos do avanço industrial. Fiscalização e autuação de empresas que explorem o meio ambiente em desrespeito aos parâmetros adequados. Define que o poluidor é obrigado a indenizar pelos danos ambientais que causar.
Descarte ou reúso
Para escolher o tratamento para cada efluente industrial, deve-se conhecer os contaminantes e dimensionar o sistema para reduzi-los até atingir os níveis definidos pela legislação ambiental ou reúso do efluente tratado. O tratamento varia conforme o tipo de contaminante no efluente industrial. O descarte ou o reúso dos efluentes tratados depende das características do efluente.
Deve-se conhecer a aplicação desejada ao reúso, os limites de concentrações e as normas técnicas cabíveis para que o sistema de tratamento seja dimensionado correto. Para reúso dos efluentes, são utilizadas membranas de ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa, além de processos oxidativos avançados, como reações de fenton, oxigenação singlete e ozonização. Os efluentes tratados podem ser reutilizados para lavar equipamentos e pisos, sanitários, torres de resfriamento ou irrigar áreas verdes. Em outros casos, o efluente tratado é lançado em corpos d’água ou no solo, desde que atenda aos padrões de qualidade definidos pelas autoridades ambientais.
“Cada método de tratamento visa reduzir a concentração dos contaminantes e deve ser definido pela caracterização do efluente com análises conduzidas por laboratórios com alto controle de qualidade para decisões de projeto assertivas” – explica Paschoal, da Opersan. São indicados laboratórios com acreditação no Inmetro, ISO 17.025.
O tratamento físico remove contaminantes sólidos e misturas coloidais em suspensão por gradeamento, peneiramento, caixas separadoras de óleos e gorduras, desarenadores, sedimentação, filtração, flotação, membranas etc.
No tratamento químico, os poluentes são removidos por reações químicas que alteram a composição molecular do efluente para separar os contaminantes: coagulação, floculação, ajuste de pH, oxidação e redução química.
O tratamento biológico com bactérias e outros microrganismos que consomem a matéria orgânica, reduzindo seus níveis de contaminação, por processos aeróbios ou anaeróbios, lodos ativados, biodigestores e wetlands construídos. Os resíduos devem ser biodegradáveis de alimentos e bebidas, papel e celulose, têxteis e cosméticos.
Efluentes validados
A Tera Ambiental atua no tratamento de resíduos orgânicos, industriais e biológicos e lodo em adubo para agricultura. Os efluentes são testados em laboratório e devem atender às legislações estaduais e federais e não causar impacto negativo na Estação de Tratamento de Esgoto de Jundiaí (ETEJ), onde são processados, e no esgoto tratado lançado no Rio Jundiaí.
A empresa monitora e valida os efluentes dos clientes. Os efluentes chegam por caminhão-tanque na ETEJ, construída e operada pela Companhia Saneamento de Jundiaí (CSJ). A cor, o odor e o pH da carga são avaliados. Após análise dos resultados e check-list, os efluentes são liberados e passam por longo processo até serem descartados na natureza. “O lodo é aproveitado na compostagem, onde se transforma em fertilizante orgânico agrícola. Antes, enviados a aterros sanitários, sem utilidade e gerando passivo ambiental, se tornam novos produtos de valor agregado” – relaciona Lívia.
Etapas que os efluentes passam:
A primeira etapa é o gradeamento, que retira grandes e pequenos sólidos para proteger as demais etapas, bombas e tubulações. As grades impedem que passem pedaços de madeira, plásticos, trapos e papéis. A caixa de areia retém os sólidos menores que passaram pelas grades. Com baixo fluxo, deposita areia e partículas no fundo, constantemente raspado e limpo. Os resíduos retirados são enviados para aterro sanitário licenciado pela Cetesb, porque não se consegue reaproveitá-los.
A principal e mais delicada etapa, de três dias, ocorre nas lagoas aeradas. O ar é soprado através dos difusores com vazão regulada. O nível de oxigênio dissolvido é mantido para permitir existir bactérias e outros microrganismos aeróbios (biota) que vão digerir a matéria orgânica poluente. Variações na biota podem afetar a eficiência na digestão do esgoto.
Os microrganismos e bactérias da etapa anterior formam pequenos flocos e seguem, junto com o esgoto, para as lagoas de decantação, por um dia. Durante este tempo, os flocos, que?são mais densos, decantam e formam o lodo. O esgoto tratado segue para o Rio Jundiaí. As lagoas de decantação passam por dragagem para evitar que o lodo em excesso seja carregado junto com a água tratada.
Na secagem e tratamento, no lodo dragado ainda líquido, com 3% de sólidos, é somado polímero para que os flocos fiquem maiores e mais firmes, facilitando separar do líquido por grandes centrífugas. Após passar pelas centrífugas, o lodo fica pastoso, com 20% de sólidos, e rico em matéria orgânica e macro e micronutrientes. A Tera implantou e opera compostagem termofílica em escala industrial. Ao final, o composto orgânico é comercializado para agricultores do Estado de São Paulo e Sul de Minas Gerais e pode ser utilizado nas plantações.
Contato das empresas
Allonda: www.allonda.com
Alphenz: www.alphenz.com.br
Opersan: www.opersan.com.br
Tera Ambiental: www.teraambiental.com.br