Concessionárias driblam trihalometanos (THMs) na água de consumo
Por Cristiane Rubim Edição Nº 74 - Agosto/Setembro de 2023 - Ano 13 -
As doenças transmitidas pela água só foram reduzidas quando se começou a utilizar o cloro lá no início do século 20
As doenças transmitidas pela água só foram reduzidas quando se começou a utilizar o cloro lá no início do século 20. Antes disso, naquela época, o cloro só era usado quando havia epidemias. Sua função é oxidar a matéria orgânica dos mananciais e eliminar ou barrar bactérias, vírus e protozoários que causam doenças surjam e se proliferem da estação de tratamento, pela rede de distribuição até as residências.
A demanda das concessionárias para abastecer de água nas cidades é contínua. A formação dos trihalometanos (THMs) é lenta e pode se iniciar na cloração e seguir até a água chegar ao consumidor. Para evitar que, em alguma etapa do tratamento, pequenas quantidades de THM acabem circulando na água de consumo, é preciso monitorar, controlar e avaliar desde a estação de tratamento até o final da rede de distribuição.
Motivo
“O motivo técnico para a formação de trihalometanos na água de consumo é a presença de orgânicos na água bruta, como ácidos fúvicos e húmicos, oriundos de folhas, materiais em decomposição ou poluição que reagem caso haja pré-oxidação com cloro na Estação de Tratamento de Água (ETA)” – explica Natalia Marques Teixeira, gerente de processos da engenharia corporativa da Aegea. Nestes casos, há outros produtos que podem substituir o cloro que não geram como subproduto os trihalometanos.
Os subprodutos se formam na cloração somente em dosagens muito elevadas acima de 30 ppm. A partir daí, reagem com compostos orgânicos, entre eles, os ácidos fúlvicos e húmicos, resultantes da decomposição de folhas da vegetação, formando trihalometanos (THM) na água.
Os ácidos fúlvicos atuam no metabolismo e no crescimento das plantas e influenciam na absorção e o transporte de nutrientes. O solo humífero, de cor preta, acumula 70% de matéria orgânica naqueles locais úmidos que ficam próximos de matas e florestas. Devido aos compostos orgânicos na água bruta, THMs não são o único risco, outros subprodutos da cloração, mais perigosos ainda, podem se formar.
Cloro
O cloro sempre é utilizado pela alta eficiência em inativar microrganismos, assegurar teor residual, oferecer manuseio seguro, estocagem, transporte e baixo custo. Quanto mais despejos de efluentes sem tratamento em mananciais, maiores concentrações de cloro no tratamento de água são necessárias para impedir contaminações. Exagerar no uso do cloro ou de outros produtos químicos também gera subprodutos indesejáveis na água.
Normas
As concessionárias e as indústrias investem para atender às novas exigências sobre análise, monitoramento e cloração das águas do Novo Marco Legal do Saneamento e da Portaria 888/2021, do Ministério da Saúde, normas de potabilidade da água de consumo humano.
Segundo Natalia, a Portaria em vigência hoje exige apenas a análise de trihalometanos quando são usados produtos à base de cloroamina para a desinfecção. “Atualmente, na Aegea nenhuma de nossas concessionárias utiliza produtos com esta base. Mesmo assim, a prevenção e o monitoramento são constantemente realizados por profissionais especializados” – destaca a gerente.
Controle
É preciso monitorar, controlar e avaliar a concentração de THM em águas brutas e distribuídas e sua formação durante o tratamento.
Métodos para controle da formação dos THMs:
• Reduzir a concentração dos precursores;
• Utilizar processos alternativos para desinfecção;
• Retirar THMs já formados.
Fontes: (1) MEYER apud BAZZOLI, 1993; KHORDAGUI e MANCY, 1983.
Probabilidade
A probabilidade de formação de trihalometanos (THMs) na água é maior:
• Quanto maior a dosagem de cloro, acima de 30 ppm. O cloro livre forma mais THM do que o cloro combinado;
• Quanto maior matéria orgânica, ácidos húmicos e fúlvicos;
• Quanto maior tempo de contato entre cloro e precursores.
Fonte: (2) Microambiental.
Tecnologias
Para evitar os trihalometanos (THM) na água de consumo, utilizar: Filtração de entrada com carvão ativado: absorve impurezas orgânicas, ajuda na cor, odor e gosto da água e remove subprodutos da desinfecção.
Dosagem automática: garante que o teor de cloro livre fique dentro dos limites saudáveis, entre 0,2 e 2 mg/L.
Fonte: (2) Microambiental.
Segundo a Aegea, outras tecnologias atuais usadas para solucionar os THMs:
Ultrassom
Uma tecnologia que pode ser usada para controle de algas, sem uso de químicos, é o ultrassom. Além de ser capaz de quantificar online a presença de algas, instalado na captação, o ultrassom emite ondas cuja frequência inibe que as algas venham à superfície e, desta forma, fiquem depositadas no fundo da lagoa ou do corpo hídrico. “Como as algas são organismos fotossintetizantes, elas morrem e se depositam no fundo” – menciona Natalia.
Oxidação
Hoje, a pré-oxidação nas ETAs com cloro pode ser substituída por outros químicos, como o peróxido de hidrogênio ou o dióxido de cloro, que não formam trihalometanos. “A ação do peróxido de hidrogênio/dióxido de cloro ocorre por oxidação química e reage com o carbono presente na água, ácidos húmicos, ácidos fúvicos, algas e outros, permitindo que sejam removidos sem gerar como subproduto trihalometanos” – explica Natalia.
Adsorção
Outra tendência que remove algas e orgânicos sem formar trihalometanos na água é o uso do carvão em pó para adsorção de compostos orgânicos na superfície.
Análises por ano
A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) dispõe de técnicas de tratamento e cuidados com mananciais com o objetivo de reduzir a formação de trialometanos (THM) para atender aos parâmetros estabelecidos pela Portaria 888/21, do Ministério da Saúde. A Companhia segue rigorosamente a legislação brasileira que determina os parâmetros da potabilidade da água para abastecimento público.
Desde a captação, passando pela água tratada e distribuída:
• A Sanepar realiza cerca de 6,7 milhões análises da qualidade da água por ano que asseguram cumprir todos os parâmetros de potabilidade definidos pela Portaria 888/21, do Ministério da Saúde, incluindo os de trialometanos (THM), cujos resultados encontram-se em conformidade com o exigido;
• A Sanepar garante a qualidade da água que distribui à população de 345 municípios do Paraná e de Porto União (SC).
A incidência de trihalometanos na água pode causar danos ao sistema reprodutivo humano e estudos indicam, inclusive, que a substância pode ser cancerígena. A Aegea não tem problemas com trihalometanos. “Nas concessões da Aegea, não há este problema. As análises deste parâmetro são terceirizadas” – ressalta Natalia Marques Teixeira.
Exemplo do trabalho de acompanhamento feito pela Aegea:
• Em apenas uma das regionais da Aegea, foram realizadas 442 análises de trihalometanos por ano;
• Em nenhuma dessas análises realizadas, foi encontrada a presença deste subproduto;
• Todas as análises realizadas estavam abaixo do limite de quantificação do método de análise utilizado.
Para a Aegea, uma concessão é mais do que um contrato com o poder concedente, mas, sim, um compromisso com as 178 cidades atendidas, em 13 Estados onde atua. “A Aegea entende a importância de seguir as regras vigentes, respeitando pessoas e meio ambiente e desenvolvendo iniciativas que promovam vidas mais dignas e saudáveis” – afirma Natalia Marques Teixeira.
Contato das empresas
Aegea: www.aegea.com.br
Sanepar: www.sanepar.com.br
Referências bibliografica:
1 - MEYER, S.T. O uso de cloro na desinfecção de águas, a formação de trihalometanos e os riscos potenciais à Saúde Pública. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 10 (1): 99-110, jan/mar, 1994.
2 - MICROAMBIENTAL. Os níveis inadequados de cloro na desinfecção de águas e a formação de trihalometanos. 9 fev. 2021. Disponível em: https://microambiental.com.br/analises-de-agua/os-niveis-inadequados-de-cloro-na-desinfeccao-de-aguas-e-a-formacao-de-trihalometanos/#:~:text=O%20que%20s%C3%A3o%20trihalometanos%20(THM,propor%C3%A7%C3%A3o%20na%20%C3%A1gua%20para%20consumo. Acesso em: 4 jul. 2023.
HIDROGERON. A história do cloro. Disponível em: https://hidrogeron.com/a-historia-do-cloro-2/#:~:text=1905%20%E2%80%93%20In%C3%ADcio%20da%20clora%C3%A7%C3%A3o%20da,somente%20em%20momentos%20de%20epidemia. Acesso em: 4 jul. 2023.