Sistemas biológicos para tratamento de efluentes
Por Carla Legner Edição Nº 74 - Agosto/Setembro de 2023 - Ano 13 -
Os efluentes agrícolas são líquidos residuais resultantes de atividades relacionadas à agricultura. Eles podem conter uma variedade de substâncias
Os efluentes agrícolas são líquidos residuais resultantes de atividades relacionadas à agricultura. Eles podem conter uma variedade de substâncias, incluindo nutrientes, pesticidas, sedimentos, organismos patogênicos e resíduos orgânicos. Suas características podem variar dependendo das práticas agrícolas, dos tipos de culturas cultivadas, dos métodos de irrigação utilizados e de outros fatores ambientais.
“Os efluentes agrícolas são provenientes do processo produtivo das atividades do agronegócio, ou seja, são oriundos de todas as atividades econômicas relacionadas ao comércio de produtos agrícolas” – complementa Francisco de Goeye – CEO da Okena. Alguns exemplos incluem, irrigação, resíduos de alimentos, gado, aves, entre outros.
Na irrigação, os efluentes agrícolas podem surgir da água que é aplicada nas plantações para fornecer a umidade necessária ao crescimento das culturas. Além disso, quando a água da chuva ou de irrigação não é completamente absorvida pelo solo, ela pode se tornar drenagem agrícola.
Há ainda as operações agrícolas que envolvem a criação de animais, estas produzem grandes quantidades de esterco, que quando armazenado ou aplicado nas terras agrícolas como fertilizante, pode resultar em efluentes ricos em nutrientes.
Porém, ao mesmo tempo, podem representar riscos ambientais e à saúde humana se não forem gerenciados adequadamente. “Alguns dos principais riscos associados aos efluentes agrícolas incluem poluição da água, contaminação química por pesticidas, problemas de saúde humana pela presença de organismos patogênicos” - enfatiza Emílio Bellini, diretor da Alphenz.
Ainda segundo ele também existe impacto nos ecossistemas, causando perturbações nos habitats e nas cadeias alimentares afetando a diversidade biológica, reduzindo a população de espécies aquáticas e causando desequilíbrios ecológicos. São diversos tipos e, como já mencionado, cada um com características específicas.
Efluentes com nutrientes: Os efluentes agrícolas podem conter altos níveis de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, provenientes de fertilizantes aplicados nas culturas. Esses nutrientes podem ser transportados para os corpos d’água por meio da drenagem agrícola, causando problemas de qualidade da água, como a eutrofização.
Efluentes com pesticidas: Os pesticidas usados nas operações agrícolas podem ser carregados pela água de irrigação ou pela drenagem agrícola, resultando em efluentes contaminados com esses produtos químicos. Isso pode representar um risco para a saúde humana e a vida aquática.
Efluentes com sedimentos: A erosão do solo nas áreas agrícolas pode levar ao transporte de sedimentos para corpos d’água próximos. Esses sedimentos podem reduzir a qualidade da água, afetar a vida aquática e prejudicar os ecossistemas naturais.
Efluentes com resíduos orgânicos: O esterco animal utilizado como fertilizante nas terras agrícolas pode ser transportado pela água da chuva ou da irrigação, resultando em efluentes contendo resíduos orgânicos. Isso pode causar problemas de odor, poluição da água e riscos à saúde se não for gerenciado adequadamente.
Tratamento
O tratamento dos efluentes podem variar de acordo com as leis e regulamentações vigentes locais, dependendo da prática agrícola na qual é gerada. Goeye explica que antes de qualquer destinação ou tratamento é necessário uma caracterização do efluente para saber quais são os principais contaminantes e qual a melhor rota/ processo de tratamento o efluente se enquadra.
Lagoas de estabilização: As lagoas de estabilização são sistemas de tratamento que utilizam a ação conjunta de processos físicos, químicos e biológicos para remover os contaminantes. Nesse método, os efluentes são armazenados em lagoas rasas e submetidos a processos de decomposição biológica, sedimentação e oxidação. As lagoas podem ser aeróbias, anaeróbias ou facultativas, dependendo das condições de oxigênio presentes.
Wetlands construídos: Os wetlands construídos, ou áreas alagadas construídas, são sistemas de tratamento que simulam os processos naturais de purificação da água em pântanos e áreas úmidas. Os efluentes agrícolas são direcionados para essas áreas, onde plantas aquáticas e microrganismos ajudam a remover nutrientes e poluentes por meio de processos biológicos, adsorção e filtração física.
Biorreatores: Os biorreatores são sistemas que envolvem a utilização de microrganismos para degradar e remover contaminantes. Existem diferentes tipos de biorreatores, como os reatores de leito fixo, os reatores de lodo ativado e os reatores anaeróbios, cada um com suas vantagens e capacidades de remoção de diferentes poluentes.
Separação sólido-líquido: Esse método visa separar os sólidos presentes nos efluentes agrícolas, reduzindo a carga orgânica e os nutrientes. Pode envolver processos como sedimentação, flotação, filtração e centrifugação para separar os sólidos do líquido.
Tratamentos químicos: Em alguns casos, podem ser utilizados tratamentos químicos para remover contaminantes específicos. Isso pode incluir o uso de coagulantes, floculantes ou oxidantes para precipitar, aglomerar ou destruir substâncias indesejáveis.
“É importante ressaltar que a escolha do método de tratamento dependerá das características dos efluentes, dos requisitos de qualidade da água e das restrições ambientais específicas de cada região. O tratamento adequado dos efluentes agrícolas pode ajudar a minimizar os riscos ambientais, proteger a saúde pública e contribuir para a sustentabilidade das atividades” – destaca Emílio Bellini.
Alternativas para reúso
Após o tratamento adequado, os efluentes agrícolas podem ser reaproveitados de diversas maneiras, trazendo benefícios econômicos, ambientais e sociais, contribuindo para a gestão sustentável dos recursos hídricos.
Uma das alternativas é como fonte de água para irrigação de culturas agrícolas. No entanto, é importante garantir que os efluentes atendam aos padrões de qualidade exigidos para essa finalidade, a fim de evitar riscos para a saúde pública e a contaminação de alimentos.
Também podem ser direcionados para recarregar aquíferos subterrâneos em algumas regiões. Esse processo ajuda a repor a reserva de água subterrânea, promovendo a sustentabilidade hídrica a longo prazo.
No paisagismo e áreas verdes são utilizados na irrigação de parques, jardins, campos de golfe e outras áreas não destinadas à produção de alimentos. Isso reduz a demanda por água potável e minimiza o uso de recursos hídricos escassos.
Há ainda o reúso industrial. Dependendo da qualidade, podem ser reutilizados em processos industriais que exigem água de qualidade inferior, como resfriamento de equipamentos ou lavagem de maquinário. Isso pode contribuir para a conservação dos recursos hídricos e reduzir os custos de operação das indústrias.
Por fim, em alguns casos, os efluentes tratados podem servir como substrato para a produção de biogás por meio da digestão anaeróbica. O biogás gerado pode ser convertido em energia, como eletricidade ou calor, fornecendo uma fonte de energia renovável.
É importante ressaltar que esse reaproveitamento requer um planejamento cuidadoso, considerando a qualidade da água tratada, a conformidade com as regulamentações locais e a garantia da proteção da saúde pública e do meio ambiente. As práticas de gerenciamento de risco e os controles de qualidade adequados devem ser implementados para garantir a segurança e a eficácia do reaproveitamento dos efluentes agrícolas tratados.
“A ideia de sustentabilidade no tratamento e destinação correta de efluentes se encaixa perfeitamente na perspectiva das ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estabelecidos pelas Nações Unidas. Trata-se de conjunto de metas globais para promover o desenvolvimento sustentável em diferentes áreas, incluindo a proteção do meio ambiente, a redução da pobreza, a igualdade de gênero, a saúde e o bem-estar, entre outros. Vários desses objetivos estão diretamente relacionados ao tratamento de efluentes e ao manejo sustentável dos recursos hídricos” – explica Francisco de Goeye.
A importância da destinação correta
A destinação correta dos efluente e lodos visa minimizar os impactos causados ao meio ambiente e a população local, bem como, atender as legislações vigentes. Nesse sentido, o tratamento adequado desses resíduos é fundamental para proteger o meio ambiente e a saúde pública.
Os efluentes industriais se lançados em rios, lagos ou corpos d’água sem o cuidado adequado podem contaminar as fontes de água potável. Isso pode comprometer a sua qualidade e afetar a vida aquática, tornando-a imprópria para consumo humano e prejudicando os ecossistemas.
A disposição inadequada de lodos industriais, por sua vez, pode levar à contaminação do solo. Os componentes químicos presentes nesses resíduos podem infiltrar-se na terra, afetando sua fertilidade e prejudicando a agricultura e a produção de alimentos.
Nesse sentido, a exposição a efluentes e lodos industriais não tratados pode representar riscos à saúde humana. Isso porque, alguns produtos químicos presentes nesses resíduos podem ser tóxicos e causar danos ao sistema nervoso, ao fígado, aos rins e a outros órgãos, além de poderem ser carcinogênicos.
“Alguns tipos de lodos industriais podem produzir gases nocivos e odores desagradáveis. Esses gases podem contribuir para a poluição atmosférica e prejudicar a qualidade do ar, causando problemas respiratórios e afetando a saúde da população” – enfatiza Goeye.
No Estado de São Paulo, onde existe uma concentração significativa de atividades industriais, a preocupação com o tratamento e destino adequados de efluentes e lodos é ainda maior. A falta de tratamento adequado pode agravar os problemas ambientais já existentes, como a poluição da água e a degradação do solo. Além disso, pode impactar diretamente a sociedade, afetando a disponibilidade de água potável, prejudicando a saúde pública e comprometendo a qualidade de vida das pessoas.
Para evitar esses impactos negativos, é essencial que as indústrias cumpram as regulamentações ambientais e adotem medidas eficazes de tratamento de efluentes e lodos. Isso inclui a implementação de sistemas de tratamento adequados, a adoção de boas práticas de gestão ambiental e a busca por alternativas sustentáveis de disposição final, como a reciclagem ou a reutilização dos resíduos.
Segundo Goeye, o monitoramento e a fiscalização por parte dos órgãos ambientais também são fundamentais para garantir o cumprimento das normas e mitigar os impactos negativos no meio ambiente e na sociedade.
Certificação como Empresa B e Pesquisa Humanizadas
Em um mercado cada vez mais competitivo e empenhado no viés sustentável, ter um diferenciai traz benefícios imensuráveis para as empresas.
A certificação como Empresa B (B-Corp) e a Pesquisa Humanizadas são exemplos disso. Ambas refletem a sustentabilidade, responsabilidade social e ética empresarial.
A certificação como Empresa B é concedida a empresas que atendem a altos padrões de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade. São negócios que buscam gerar impacto positivo na sociedade e no meio ambiente, além de buscar o sucesso financeiro. Essas empresas são avaliadas por uma organização independente que mede seu desempenho em diversas áreas, como governança corporativa, impacto social, gestão ambiental e relação com os stakeholders.
A Pesquisa Humanizadas no Brasil, por sua vez, é uma iniciativa que busca promover a humanização das relações nas organizações, incentivando a prática de valores éticos e ações voltadas para o bem-estar das pessoas.
A associação a essa pesquisa sugere que a empresa está comprometida em adotar práticas humanizadas, considerando o respeito aos direitos humanos, a promoção da diversidade, a valorização dos colaboradores e a busca por relações justas e equilibradas com todos os envolvidos, como funcionários, clientes, fornecedores e comunidade.
A Okena é um exemplo de organização que alcançou as duas certificações, comprovando que a mesma está alinhada com uma abordagem empresarial sustentável. Ela foi a 4ª empresa a ser certificada no Brasil em 2014. Hoje são 300 empresas que possuem essa certificação no Brasil e 7.000 empresas no Mundo.
Em resumo, a certificação indica o compromisso com uma abordagem empresarial sustentável, equilibrando responsabilidade social e ambiental com sucesso financeiro. De acordo com Goeye, ambas as certificações refletem a visão e os valores da empresa em relação ao papel e o potencial das empresas na sociedade brasileira.
“A certificação como Empresa B e a participação na Pesquisa Humanizadas ajudam a impulsionar a mudança positiva no mercado como um todo. Ao demonstrar que é possível combinar sucesso empresarial com responsabilidade social e ambiental, servimos de exemplo e incentiva outras empresas a seguirem o mesmo caminho. Somos parte de um movimento que quer redefinir o significado de sucesso no mundo dos negócios” – finaliza o CEO da Okema.
Contato das empresas
Alphenz: www.alphenz.com.br
Okena: www.okena.eco.br