Estudos apontam que 83% da água de torneira do mundo inteiro está contaminada com microplásticos
EDB Comunicação -
Além da poluição dos oceanos e do solo, o material pode ser difícil de ser reciclado ou reutilizado: o melhor é reduzir seu uso
Embora o tempo de decomposição possa variar de acordo com as características do produto, estimativas apontam que uma embalagem plástica pode permanecer no ambiente entre 400 e 500 anos durante sua lenta degeneração. A poluição é apenas um dos problemas. A ingestão de resíduos por animais marinhos e o sufoco do enroscamento em sacolas ou outros dejetos prejudicam não somente a vida animal, mas a humana também: os microplásticos estão presentes no ar que respiramos, em alimentos como o sal ou a cerveja e até na água que bebemos. Estudos apontam que 83% da água de torneira do mundo inteiro está contaminada com microplásticos.
"Quem cria marcas e produtos também tem responsabilidade. O papel de quem cria é conscientizar o cliente em relação ao futuro do seu produto no planeta", destaca Renata Alcantara, fundadora do estúdio de design gráfico especializado em embalagens Nata Design. "Acredito que poucas marcas nascem hoje sem se importar com seu impacto no mundo. Mesmo porque, a cobrança vem do consumidor. Muitas vezes falta informação para o cliente, então é importante que quem está ao lado – a agência ou o estúdio – tenha preocupação com a pegada de carbono e ofereça alternativas, idéias e caminhos."
Para a profissional, qualquer ação que pareça greenwashing – ou seja, uma publicidade que anuncie a sustentabilidade em seus produtos ou serviços sem que isso seja um compromisso – pode causar sérios prejuízos à reputação institucional e os danos podem ser irreversíveis. Por isso, é importante haver coerência entre ações e discursos nos diversos pontos de contato com o público. "Eu costumo recomendar a busca de certificações sérias, como EU RECICLO. Em alguns casos, ajudo empresas na organização dos seus processos, indico a obtenção do selo EMPRESA B. Além disso, é importante que as empresas encorajem seus consumidores a descartarem e reciclarem corretamente seus produtos."
Grande vilão
Quanto mais matérias-primas diferentes houver em uma embalagem, mais difícil será a reciclagem. O saquinho de batata frita, que mistura alumínio por dentro e plástico por fora, por exemplo, é um dos grandes vilões. “Se eu fosse começar um projeto desse agora, já deixaria claro para o cliente que isso não faz sentido”, afirma a designer.
Renata observa que para grandes marcas, já consolidadas no mercado, mudar toda a estrutura de suas embalagens pode ser um esforço grande e caro. “Começar do zero da forma errada é um grande equívoco. Vejo alimentos veganos em pouches plásticos. É incoerente: o plástico da embalagem volta para o alimento em forma de microplástico e o consumidor desse nicho sabe disso. É importante pensar na cadeia toda. Meu papel é aconselhar sobre isso, porque tudo é construção de imagem, embora a decisão final seja do cliente.”
De acordo com levantamento da WWF com base nos dados do Banco Mundial, o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas por ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Índia. Desse total, apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas, ou seja, reprocessadas na cadeia como produto secundário. Este é um dos menores índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, que é de 9%. Além da insuficiência, existe ainda o problema de que nem todo tipo de plástico pode ser reciclado. "Já não há sentido em falar de sustentabilidade. As empresas realmente preocupadas devem ser transparentes na comunicação em relação a seus objetivos e suas metas. Hoje se fala em regeneração. A intenção não é mais sustentar, porque já destruímos muito", reflete Renata Alcantara, ganhadora do prêmio iF Design Awards 2023.
“Eu sempre levo em conta os 3 Rs: reduzir, reciclar e reutilizar. No caso do design de embalagens, reutilizar é o último recurso, porque as pessoas têm limites sobre isso. Quantos potes de vidro se pode ter em casa?” Renata lembra ainda que a sofisticação da marca e de seus recipientes deve refletir a elaboração das prioridades da empresa e a elegância de sua cultura. “Encontrar alternativas biodegradáveis ou recicláveis, pensar em toda a cadeia e informar o cliente é papel de quem cria. É a missão do designer.”
Camila Caringe
EDB Comunicação
camila.caringe@edbcomunicacao.com.br
Eduardo Cosomano
EDB Comunicação
eduardo@edbcomunicacao.com.br