Economia brasileira cresce 3,2% em 2023 e previsão é de desaceleração para 2024

Agronegócio, bolsa família e queda na inflação motivaram crescimento, no entanto, em 2024, estas variáveis perderão um pouco o fôlego


O PIB brasileiro cresceu 0,1% no terceiro trimestre de 2023, mas já acumulou no ano 3,2%, provavelmente ficará 0 a 0 no quarto trimestre, mostrando que este ano acabou. “Crescimento alcançado graças ao agronegócio que subiu 20%, a bolsa família que a PEC da transição colocou 145 bilhões de reais e à queda da inflação que colocou dinheiro no bolso do trabalhador, mas há um ponto a ser considerado, em 2024, estas variáveis não estarão presentes. O agronegócio vai bem, mas não vai crescer 20%, o consumo das famílias pode aumentar, mas pouco, porque não teremos nenhuma PEC de transição que vai aumentar 200 reais no bolsa família”, afirmou Prof. Roberto Dumas, mestre em Economia, quando abordou o tema “Perspectivas econômicas para 2024: Brasil e Mundo”, na palestra promovida, no dia 20 de dezembro, pela ABRAFILTROS – Associação Brasileira das Empresas de Filtros Automotivos, Industriais e para Estações de Tratamento de Água, Efluentes e Reúso. Para ele, 2023 foi maravilhoso, mas 2024 não terá mais estas joias. Mas, mesmo assim, a possibilidade de crescimento será de 1,7% a 2%, o que está bom.

Segundo Dumas, o governo não fará outra PEC para não gastar demais, lembrou-se de 2014. “Quem financia a dívida pública somos nós. Se o governo está com leniência com dívida pública, eu que financio, fundo de investimento, fundo de garantia, INSS, seguro de vida, tudo que depositamos nos bancos, compramos título público. Por isso, não dá para fazer política expansionista”, alertou.

Comentou também sobre o endividamento das famílias, disse que o comprometimento da renda bate quase 30%. Os juros são muito altos, principalmente, cartão de crédito, com o maior nível de inadimplência, come a renda do trabalhador. “Crescer via crédito pode dar problema para bancos, não vai quebrar, mas pode aumentar o spread bancário ou ele emprestar menos”, comentou. Em vários outros países, as famílias estão endividadas, mas o comprometimento da renda é baixo. “Neste ano, os grandes bancos já apanharam das lojas Americanas, CVC,  Tok&Stok, Azul, 123Milhas, Marisa, Grupo Petrópolis, estão lambendo feridas, pois ganharam menos e estão menos interessados em emprestar, especialmente, para pessoas jurídicas”, disse. Oportunidade para as cooperativas de crédito, que não apanharam das grandes empresas, tiveram dificuldades apenas com o cartão de crédito. “Consultem as cooperativas, além dos grandes bancos”, disse.

Sobre a Reforma Tributária (IVA dual), disse que juntaram PIS/COFINS e IPI e chamam de Contribuição de Bens e Serviços (CBS), agruparam ICMS e ISS e deram o nome de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e terá o Conselho Federativo para administrar. “A vantagem que melhorará a competitividade das indústrias é a não cumulatividade de imposto”, ressaltou. Falou que o período de transição será de 2026 a 2033. Explicou que o problema está nas isenções. “Não seria melhor você cobrar a alíquota inteira do maior e dar o cash back para o mais pobre? Está cheio de lobby, que conseguiu reduzir a alíquota, como concessão de rodovias, saneamento, advogados. Quanto mais isenção eu dou, a alíquota do IVA que era estimada em 25% já está em 27,5%. Cesta básica é isenta, tem lobby para enfiar qualquer produto na cesta básica, até iogurte grego entrou. Podemos ter o maior IVA do mundo”, disse.

Depois falou da âncora fiscal e o teto de gasto. “Haddad entrou e fez o arcabouço fiscal. Para 2024, a meta de superávit primário será de 0, incluindo juros da dívida pública, mas não entra gasto com educação (18% da corrente líquida), e da saúde (15% da corrente líquida) e investimentos de 68 bilhões de reais, mais inflação e tem os gatilhos”, afirmou. Segundo Dumas, não vão atingir a meta e o governo já está falando em déficit de 0,5 ou 1%. “Aí que mora o perigo. Nem começou o arcabouço fiscal e o governo já está falando que não funciona”, advertiu.

Sobre os juros no Brasil, disse que são altos devido à política fiscal expansionista, discussão sobre a autonomia do BACEN, aumento expressivo da dívida pública, recuperação de crédito 18%, com média mundial de 37% e herança histórica de preços administrados.

Sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, disse que nada mudou, continua e vai ter volatilidade nos preços de grãos e fertilizantes.

Na palestra, Dumas falou também sobre os indicadores macroeconômicos para auxiliar na preparação do plano de negócios para 2024 e 2025.

Argentina – Dumas falou sobre a expectativa dos argentinos, citando várias situações, como a de 2001, quando o país teve 5 presidentes em duas semanas – Domingo Cavallo; De La Rúa; Ramón Puerta; Adolfo Rodríguez Saá, que anunciou a moratória da dívida externa de US$ 50 bilhões e lançou nova moeda “argentino”; assume o presidente da Câmara Eduardo Camano, e, por fim, é eleito Eduardo Duhalde, o início do fim, que fez a pesificação assimétrica, pegou os ativos e converteu pelo câmbio 1:1 e os passivos, 1:1.4 e a claro a conta não fechou. Fez o corralon, proibiu de tirar o dinheiro do banco por um ano. “Praticamente 100% do patrimônio líquido do sistema bancário desapareceu com a pesificação assimétrica, quebrou 100% do sistema financeiro, e agora, quer congelar o câmbio, fazer a mesma coisa?”, questionou. Sai Duhalde e entra Néstor Kirchner, depois Cristina Kirchner, Mauricio Macri, Alberto Fernández. “Olha o que ele faz com a emissão de base monetária, eles emitem 24,600% de base monetária, de 2003 a 2023, imagine a inflação, 12,000%”, destacou. Sobre Javier Milei, citou que implementou que o contrato de trabalho com o Estado com menos de 1 ano não será renovado, novas obras não serão licitadas, os Ministérios serão reduzidos de 18 para 9 e secretarias de 106 para 54, subsídios de energia serão diminuídos, câmbio oficial foi depreciado para 800 pesos que vai bater na inflação e pobreza vai piorar, regime de importações será eliminado, benefício social por filho será duplicado e dolarização foi aparentemente suspensa. “O que ele está querendo fazer é nota 10 numa prova de macroeconomia, mas numa de psicologia é complicado. Ele não mentiu quando falou que apanharão muito para talvez daqui dois anos melhorar”, disse Dumas, lembrando que poderemos ser prejudicados porque a Argentina é um grande parceiro comercial do Brasil.

EUA – Nos Estados Unidos, no primeiro e segundo trimestre de 2022, o PIB estava caindo, falavam que a queda era motivada pela subida da taxa de juros, no entanto, foi devido à elevação das importações, muito mais que o esperado, mostrando que a renda do trabalhador chinês estava bombando. Por isso, o crescimento do PIB chegou a 3,2% no terceiro trimestre de 2022, e, no terceiro de 2023, 5,2%. Já o consumo das famílias evolui 4% no terceiro trimestre de 2023. “Nos Estados Unidos, 74% do crescimento norte-americano é consumo, a economia é voltada para consumo, ao contrário, dos chineses que 40% do consumo impacta no PIB”, disse. Com relação ao desemprego, apesar de subir a taxa de juros no começo da guerra da Ucrânia para 5,25%, o número de desempregados continua baixo, em 3,5%. “Mas, não vamos esperar esta taxa no Brasil, pois não temos mão de obra qualificada. Se cai demais, ocorrerá apagão de mão de obra e salários mais altos, pressionará a inflação”, explicou. Sobre a taxa de juros nos Estados Unidos, disse que saiu de zero para 5,5% em janeiro de 2023. “Os bancos sobem a taxa de duas maneiras quando a demanda sobe mais que a oferta, então sobe juros para derrubá-la ou a oferta cai mais que a demanda, sobe juros para cair a demanda e teve choque de oferta, com a guerra da Rússia e Ucrânia”, afirmou. O US CPI/IPC está em 3,1%, com meta de chegar a 2%, notícia positiva para o câmbio. Segundo Dumas, há a possibilidade de reduzir a taxa de juros norte-americana para 4,75% para abril/maio e o Brasil tende a se beneficiar com taxas de juros menores ao redor do mundo, com economia mundial crescendo, exportará mais. Sobre o dólar, disse que a tendência é de apreciação. “Brasil não está mal, mas o melhor é o México porque continua ocorrendo fragmentação na geopolítica mundial”, disse Dumas, explicando que, com a pandemia e as guerras da Rússia e da Ucrânia, países finalmente começaram a diversificar seus fornecedores, e, ao invés de fazer offshore, muitos países preferiram fazer um pouco onshore em casa ou nearshore, mais próximo do seu destino, assim o Brasil também pode se beneficiar.

Comentou que a subida de juros nos Estados Unidos fez as bolsas norte-americanas caírem, começou a guerra da Rússia com a Ucrânia, então os gringos vieram para cá e continuam ganhando em 2023. “O Brasil tem seus problemas, mas não está com inflação de 150%, não está pensando em dolarizar a economia, não está em guerra, ou seja, possibilidade para investimentos, como o México e a Índia”, disse Dumas, acrescentando: “A grana entra e o câmbio vai para R$ 4,80”. Lembrou que há a reforma tributária, déficit fiscal, mas situações que o País carrega há tempos. “Comparativamente, os gringos estão muito felizes com o Brasil. Tanto que a agência de classificação de risco elevou a nota de crédito do Brasil de BB- para BB”, afirmou.

China – Destacou que o PIB chinês é majoritariamente impactado por investimento. “Nosso é 16%, eles 45%, chegou bater 51%, o consumo é só 38%”, disse. Explicou que para aumentar o consumo, é preciso elevar o salário da mão de obra, além da produtividade; aumentar a urbanização, assim, a economia alavanca, bate 350% do PIB. Citou que a população está é preocupada da maneira como o partido comunista chinês intervindo ou deixando de intervir no setor privado. “Estão comprando cada vez menos coisas mais caras, por isso queda da bolha de ativos imobiliários”, disse. Falou também sobre o passaporte houkou. “Na zona rural não tem assistência social, então dá passaporte de urbanização, fica mais dinheiro na mão”, afirmou Dumas, acrescentando: “Salário aumentou, urbanização aumentou”. Ressaltou que as importações chinesas do Brasil cresceram de janeiro a julho de 2022 para o mesmo período de 2023 nos setores de petróleo, aves, suínos, minério de ferro, milho, em alguns setores, inclusive, é recorde.

Falou também sobre o Yuan  em transação. “Muito cuidado, reservas internacionais ao redor do mundo, cerca de US$ 12 tri, 2,6% estão em Yuans e transações internacionais swift, 300 bilhões por mês mais ou menos, 2,4% em Yuans”, comentou. Explicou que a conta capital da China é praticamente fechada. “Na China, não é possível investir livremente”, alertou.

De acordo com o economista, a China quer trazer cada vez mais dinheiro para o Brasil, zona de influência dela, e os Estados Unidos sabem que o País é a principal porta de entrada para a América do Sul. “Devemos aproveitar isto daí, inclusive na concessão”, alertou.

Europa – Durante sua apresentação, disse que, com a guerra, vários países da Europa precisam de gás natural de Putin então passaram a dar subsídios para a compra de eletricidade. “A dívida pública de diversos países europeus subiu, a curva de juros também. O que esperar de crescimento econômico?”, questionou.

“Estou mais animado com China, para agronegócio; Estados Unidos como um todo; Europa, nem tanto; Argentina, será pesado; e Brasil tem a expectativa de crescimento de 2%”, afirmou.

Finalizando, ressaltou que o PIB do Brasil deve chegar a 3,1% em 2023 e 2% em 2024; o câmbio deve ficar em 5 a 5.1 em 2024; SELIC, 11,75% em 2023 e 10% em 2024; IPCA a 4,5% em 2023 e 3,95% em 2024, enquanto Estados Unidos terão crescimento de 2,1% em 2023 e também em 2024; com inflação ainda alta (IPCA 3%); e a China contará com mudança de modelo econômico, maior renda das famílias, proteína animal e grãos serão beneficiados e será menos competitiva.

Para João Moura, presidente executivo da Abrafiltros “a palestra do Prof. Dumas nos trouxe informações importantes, sobretudo alertas de futuro que irão nos preparar de forma estratégica e planejada para possíveis ajustes de rota. Esperamos que o conteúdo tenha contribuído com este processo”.

O evento faz parte do Ciclo de Palestras Abrafiltros 2023 e está disponível no canal do youtube: https://youtu.be/uC9_Y5nLy8s ou pelo Spotify da entidade.

 Sobre a Abrafiltros:

Criada em 2006, a Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros Automotivos, Industriais e para Estações de Tratamento de Água, Efluentes e Reúso – tem a missão de promover a integração entre as empresas de filtros e sistemas de filtração para os segmentos automotivo, industrial, tratamento de água, efluentes e reúso, representando e defendendo de forma ética os interesses comuns e consensuais dos associados.

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