Bacias hidrográficas localizadas no Cerrado brasileiro perderam água continuamente entre 2000 e 2019

Fenômeno é resultado da diminuição do volume de chuvas e do aumento da perda de água no solo por evaporação e pela transpiração das plantas


O Fenomeno estaria associado a mudanças na cobertura vegetal e ao crescimento das lavouras em grandes áreas de monocultura

As bacias hidrográficas do Cerrado estão secando e perdendo sua capacidade de abastecer alguns dos principais rios brasileiros, como o Madeira, o Paraná, o Araguaia, o Tocantins, o Xingu e o São Francisco. O fenômeno resulta de uma combinação de fatores, relacionados à diminuição do volume de chuvas e ao aumento da perda de água no solo por evaporação e pela transpiração das plantas, combinação conhecida como evapotranspiração.

A conclusão consta de um artigo publicado no início de novembro por pesquisadores brasileiros na revista científica Regional Environmental Change.

Sob coordenação do engenheiro agrônomo Rodrigo Lilla Manzione, docente da Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação da Unesp, câmpus de Ourinhos, a equipe de estudiosos analisou dados de satélites coletados ao longo das últimas duas décadas sobre os regimes de chuva, as perdas de água pela evapotranspiração e as variações na temperatura do solo nas regiões onde estão localizadas 13 bacias hidrográficas do bioma Cerrado. O objetivo era estimar quanto de água está entrando nessas regiões com as chuvas, e quanto está saindo devido à evapotranspiração.

Os autores também se debruçaram sobre dados do Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas), que acompanha as mudanças da cobertura da vegetação nativa e do uso da terra no país, e do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que fornece taxas anuais de desmatamento no bioma.

As análises constataram uma redução nas chuvas em todas as regiões do Cerrado nos últimos 20 anos. E foi uma queda bastante expressiva; só para comparar, enquanto o acumulado médio de chuva geral em 2001 foi de aproximadamente 1.400 milímetros (mm), em 2019 o índice estava em cerca de 1.000 mm.

Por sua vez, o índice médio de evapotranspiração, que até 2001 era de pouco mais de 600 mm por ano, subiu para quase 1.000 mm em 2019. “Ou seja, cada vez mais está saindo mais água e entrando menos no Cerrado”, destaca Manzione, um dos autores do artigo publicado na Regional Environmental Change.

Segundo maior bioma brasileiro, com uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados (km2) que abrange quase 24% do território nacional, o Cerrado funciona como um grande coletor de água. A predominância de paisagens abertas, que ocupam quase 40% de seu território, permite que as águas das chuvas sejam absorvidas pelo solo com mais facilidade, abastecendo o lençol freático, as bacias hidrográficas e os rios.

Nos últimos 36 anos, o Cerrado perdeu quase 20% do que restava de sua vegetação original. De 1985 a 2020, cerca de 26,5 milhões de hectares contendo os três principais tipos de formação nativa — campos, savanas e florestas — deram lugar a novas áreas de criação de gado e produção em larga escala de algumas das principais commodities agrícolas brasileiras, segundo dados de 2021 do MapBiomas.

No estudo publicado na Regional Environmental Change, Manzione e seus colaboradores, entre eles o economista Marcellus Caldas, da Universidade Estadual do Kansas, nos Estados Unidos, verificaram que a área convertida em lavoura no Cerrado saiu de 10,27 milhões de hectares em 2000 para 22,7 milhões de hectares em 2019, um crescimento de mais de 120%.

A transformação da vegetação nativa em amplos pastos e grandes áreas de monocultura tende a contribuir para o aumento dos índices de evapotranspiração. Manzione explica que as plantas dessas culturas são de crescimento rápido, de modo que seu metabolismo é mais acelerado do que o das florestas nativas. “Isso significa que elas consomem mais água armazenada no subsolo, impactando a quantidade de água que chega aos rios por meio do escoamento superficial ou infiltração”, explica o pesquisador.

Leia a reportagem completa no Jornal da Unesp.

Bacias hidrográficas localizadas no Cerrado brasileiro perderam água continuamente entre 2000 e 2019

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