A logística reversa desempenha um papel crucial na promoção da sustentabilidade ambiental

Esse processo, que envolve o retorno de produtos e materiais ao ciclo produtivo após o consumo, é essencial para a gestão eficiente dos resíduos


*Roberto Pansonato 

Será que a logística reversa tem obtido sucesso no Brasil quando o assunto é sustentabilidade ambiental e social?  

A logística reversa desempenha um papel crucial na promoção da sustentabilidade ambiental e social no Brasil. Esse processo, que envolve o retorno de produtos e materiais ao ciclo produtivo após o consumo, é essencial para a gestão eficiente dos resíduos, reduzindo o impacto ambiental e promovendo a reutilização de recursos. No contexto brasileiro, a logística reversa está diretamente associada à minimização dos impactos ambientais causados pelo descarte inadequado de produtos e ao fortalecimento da economia circular. 

No Brasil, alguns materiais se destacam pelo alto índice de reciclagem. Conforme dados da Associação Recicla Latas de 2023, o Brasil é o único país do mundo que recicla praticamente 100% das latas de alumínio, o que nos coloca como líder mundial nesse segmento. Outro exemplo positivo é o papelão, com uma taxa de reciclagem de 78%. No entanto, outros materiais apresentam índices de reciclagem significativamente menores. O plástico, por exemplo, tem um índice de reciclagem de apenas 23%, conforme dados da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina FIESC (2023). As especificidades de cada tipo de material plástico é um ponto de dificuldade ao se fazer a reciclagem. O vidro é outro material que apresenta desafios à logística reversa. 

Em comparação, países como a Alemanha, por exemplo, se destaca em rankings de sustentabilidade ambiental. De acordo com o Índice de Desempenho Ambiental (EPI) de 2022, a Alemanha está entre os líderes globais, graças a políticas eficazes de gestão de resíduos e a alta taxa de reciclagem, especialmente de embalagens plásticas, que atingem cerca de 56%. A diferença significativa entre os índices de reciclagem do Brasil e da Alemanha ilustra a necessidade de políticas públicas mais robustas e incentivos à reciclagem no contexto brasileiro. De uma forma geral, segundo a Associação Brasileira de Empresas de limpeza públicas e resíduos especiais (Abrelpe) , o índice de reciclagem no Brasil é de apenas 4%. Esse contraste evidencia a necessidade de aprimoramento nos processos de logística reversa para materiais plásticos e outros com baixas taxas de reciclagem. 

A logística reversa no Brasil enfrenta grandes desafios. Entre eles, destaca-se a falta de infraestrutura adequada para a coleta e processamento de resíduos. Além disso, a conscientização da população sobre a importância da separação e descarte correto dos resíduos ainda é insuficiente. A ausência de políticas públicas consistentes e de incentivos econômicos para empresas investirem em práticas de logística reversa também constitui um obstáculo. Outro desafio é a informalidade no setor de reciclagem, onde catadores de materiais recicláveis desempenham um papel fundamental, mas, muitas vezes, sem o devido reconhecimento e apoio institucional. 

Apesar das dificuldades, as tendências da logística reversa no Brasil e no mundo apontam para avanços significativos. No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010, estabelece diretrizes importantes para a gestão de resíduos, incluindo a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Iniciativas como acordos setoriais e termos de compromisso com a indústria têm buscado implementar sistemas de logística reversa para diversos produtos, incluindo eletrônicos, embalagens e pneus. 

Globalmente, a tendência é fortalecer a economia circular, que visa a eliminação de resíduos através do uso contínuo de recursos. Países europeus, especialmente, têm adotado políticas rigorosas para promover a reciclagem e a reutilização de materiais. A digitalização também está transformando a logística reversa, com o uso de tecnologias avançadas para monitorar e otimizar o retorno de produtos e materiais.  

A logística reversa é essencial para a sustentabilidade ambiental e social no Brasil, contribuindo para a redução de resíduos e a conservação de recursos naturais. Apesar dos desafios, as tendências são promissoras, com políticas mais efetivas (caso da PNRS), maior conscientização e o uso de tecnologias inovadoras, destacando a necessidade de avanços contínuos para que o Brasil possa melhorar sua gestão de resíduos e alcançar melhores índices de reciclagem, promovendo um futuro mais sustentável.  

* Roberto Pansonato é Mestre em Educação e Novas Tecnologias, graduado Bacharel em Desenho Industrial, com atuação em Gestão de Engenharia de Processos e Produção. É professor do Centro Universitário Internacional - Uninter, onde atua na tutoria dos cursos de Logística e Gestão do E-Commerce e Sistemas Logísticos. 

Valquiria Marchiori (valquiria@nqm.com.br)    

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