Promover a economia circular pode ser a solução para os lixões

Com mais de 1.500 lixões a céu aberto, país enfrenta dificuldades para se adequar a Política Nacional de Resíduos Sólidos; Garantir a circularidade


O mês de agosto marcou o fim do prazo previsto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) para que o Brasil erradicasse seus lixões a céu aberto, mas a meta está longe de ser alcançada. Em 2022 o país tinha mais de 1.500 locais desse tipo, sem proteção adequada para o meio ambiente e a sociedade, em operação, segundo o Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS). Neste mesmo ano, segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), 33 milhões de toneladas foram destinadas a lixões, colocando em risco solo, lençol freático e saúde humana.

“O Brasil recicla apenas 4% de seus resíduos, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), uma marca que permanece estável há muitos anos. Esses locais são grandes emissores de gases do efeito estufa e contribuem diretamente para as mudanças climáticas”, conta Alexandre Galana Jr., CEO e fundador da Yattó, startup de economia circular que promove a reciclagem de materiais complexos, desviando grandes volumes dos locais inadequados.

Ele enfatiza que, além dos riscos ambientais e sanitários, os lixões também são um problema econômico para o país. Segundo um estudo exclusivo para a série Além do Lixo, da Folha, da consultoria S2F Partners, com cálculos do grupo GMWO2024, o Brasil gastou cerca de R$97 bilhões, em 2020, como impacto de falhas na gestão de resíduos, considerando custos ambientais e climáticos da poluição e os danos à biodiversidade e à saúde humana.

aspecto econômico também impacta no cumprimento da meta da PNRS. Uma matéria da Folha de S.Paulo mostra que “levantamento feito pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) junto a 287 municípios apontou que 79% dessas gestões afirmam não ter disponibilidade de recursos financeiros para encerrar lixões”.

Circularidade é a solução

Para o CEO da Yattó, Alexandre Galana Jr., a economia circular é a principal aliada para garantir uma gestão mais eficiente desse problema. “Precisamos estruturar cadeias de reciclagem eficientes, com investimento financeiro robusto, para que o reaproveitamento de qualquer matéria-prima- mesmo as mais desafiadoras - seja incentivado, minimizando desperdícios e a necessidade de explorar novamente o meio ambiente em busca de insumos”, diz Alexandre.

Alexandre explica que encontrar meios de melhorar a remuneração de um material complexo ou promover a capacitação de cooperativas para trabalharem com resíduos de baixa reciclabilidade, por exemplo, são saídas que a Yattó encontrou. “Ampliando ações que ajudem a cadeia de reciclagem, é possível não apenas acelerar a erradicação dos lixões, mas, também, reduzir os custos que a administração pública dedica para gerir os resíduos.

Já conseguimos desviar mais 1.000 toneladas de materiais de lixões ou aterros sanitários, um volume que ocuparia mais de 625 milhões de m³. Sabemos que esse número ainda é uma pequena fração do montante, especialmente porque estamos falando de um país de dimensões continentais, tanto em densidade populacional, como em dificuldades logísticas. É preciso unir forças. Por aqui, por exemplo, fazemos encontros periódicos com diversas empresas para contar sobre o que fazemos e inspirar que outras marcas também desenvolvam ou integrem essas soluções. De fato, não vamos resolver o desafio dos lixões se cada um preferir atuar sozinho, procurando protagonismo”.


Vicente Pardo (vicentepardo@agenciaecomunica.com.br)    
 

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