São Paulo se destaca com mais reciclagem e zero queima a céu aberto

Estudo global aponta que São Paulo lidera em práticas sustentáveis, destacando-se como modelo para o Brasil na gestão de resíduos domésticos.


O relatório "Um Mundo de Resíduos: Riscos e Oportunidades na Gestão de Resíduos Domésticos” revela padrões de descarte de resíduos domésticos em São Paulo e no Brasil, destacando hábitos de consumo e impactos socioeconômicos. Desenvolvido com base em informações do World Risk Poll, o estudo foi produzido pela Lloyd’s Register Foundation em colaboração com especialistas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e Engineering X.

As pessoas em São Paulo têm uma probabilidade significativamente maior de separar seus resíduos (73% dos entrevistados em São Paulo separam seus resíduos, comparados a 59% no Brasil como um todo), o que pode sugerir níveis mais elevados de reciclagem na região em relação ao restante do país.

São Paulo também registra uma taxa de 0% de queima a céu aberto de seus resíduos, abaixo da média nacional de 6%. O que é particularmente interessante é que isso se aplica a todas as faixas de renda no estado – mesmo entre os 20% mais pobres, que, em outras partes do país, têm maior probabilidade de queimar seus resíduos. A prevalência de queima a céu aberto entre a faixa de renda mais pobre é de 12% no Brasil e na América Latina como um todo, e 18% globalmente, mas permanece em 0% em São Paulo – sugerindo que o estado eliminou com sucesso essa prática prejudicial ao oferecer alternativas viáveis para o descarte de resíduos.

Plásticos: a maior fonte de resíduos
No Brasil, 60,1% das famílias relataram que o plástico é o material mais comum no lixo doméstico, tornando-se o tipo de resíduo mais predominante no país. Em São Paulo, a proporção de lares que relataram isso é ligeiramente menor, 56,9%.

Papel, metais e o potencial de reciclagem
São Paulo apresenta proporções ligeiramente mais altas de outros materiais recicláveis em comparação com outras partes do país. Papel e papelão são o material mais comum no lixo para 7,2% das famílias do estado, comparados a 5,6% no restante do Brasil. Metais, como latas de alumínio, são o tipo mais comum de resíduo em 1,7% dos lares de São Paulo, superando a média nacional de 0,8%.

O que esses números revelam?
Os dados mostram que São Paulo está à frente em termos de sustentabilidade. A maior taxa de separação de resíduos e a ausência de queima a céu aberto podem refletir o impacto positivo das políticas públicas, da infraestrutura de coleta e da maior conscientização ambiental entre os moradores de São Paulo. No entanto, o domínio dos resíduos plásticos destaca a necessidade de estratégias nacionais para reduzir o consumo de plástico e promover alternativas sustentáveis.

Essa análise ressalta a necessidade de expandir os esforços de reciclagem e a educação ambiental em todo o Brasil, usando São Paulo como modelo de práticas que podem transformar a realidade dos resíduos domésticos no país.

Brasil no contexto geral

No Brasil, a coleta de resíduos é muito mais frequente em áreas urbanas (97%) do que em áreas rurais (59%), refletindo uma desigualdade na infraestrutura de gestão de resíduos entre as regiões. Em áreas urbanas, quase nenhuma residência (menos de 5%) afirma queimar seus resíduos, enquanto, nas áreas rurais, mais de um terço (36%) das famílias ainda recorrem à queima. Esse contraste demonstra que as áreas urbanas no país estão mais avançadas nos processos de gestão de resíduos e este modelo precisa ser estendidos às regiões rurais.

Altos níveis de queima a céu aberto são observados em estados densamente florestados no norte do país, com metade (50%) das residências no Maranhão relatando que queimam seus resíduos. O Pará exibe práticas semelhantes, com 41% dos lares adotando a queima a céu aberto para o descarte de resíduos. Ambos os estados enfrentam desafios de infraestrutura similares aos de Assam, na Índia, onde a geografia e a distribuição populacional agravam os problemas de gestão de resíduos. No entanto, a aparente ausência de queima a céu aberto em domicílios no estado do Amazonas indica que soluções eficazes são possíveis nessa região.

Nancy Hey, Diretora de Evidências e Insights da Lloyd’s Register Foundation, destacou: “O descarte seguro e sustentável de resíduos é uma infraestrutura essencial, seja para o lixo doméstico ou para a desativação de grandes projetos de engenharia. No Brasil, a maioria das famílias já tem seus resíduos coletados, o que oferece uma oportunidade para que governo e população colaborem, separando os materiais antes do descarte para aumentar a sustentabilidade.”

O relatório aponta a necessidade urgente de desenvolvimento de uma infraestrutura de coleta aprimorada, que promova o descarte controlado de resíduos. "Medidas educativas ou incentivos só podem ter sucesso se houver uma infraestrutura adequada para lidar com materiais recicláveis após a coleta", acrescenta Hey.

Évelin Sala (evelin@sherlockcomms.com)    

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