Rogério Tavares foi eleito como novo presidente do Conselho de Administração da Abcon

Tavares é vice-presidente de relações institucionais da Aegea e acumula vasta experiência no setor de saneamento


Na última assembleia, Rogério Tavares foi eleito como nosso novo presidente do Conselho de Administração. Formado em Engenharia Civil pela PUC-RJ, Tavares é vice-presidente de relações institucionais da Aegea e acumula vasta experiência no setor de saneamento. Foi diretor-executivo de infraestrutura e saneamento da Caixa Econômica Federal. É também membro do Conselho Consultivo e coordenador do Comitê de Recursos Hídricos e Saneamento Básico da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

Na entrevista a seguir, conheça mais sobre o perfil do novo líder, sua visão e suas expectativas para o futuro do saneamento no Brasil.

AS News: Quais serão os desafios da ABCON SINDCON em 2025?

Rogério Tavares: A trajetória da ABCON SINDCON tem sido exemplar pelo papel fundamental na aprovação do Marco Legal do Saneamento em julho de 2020 e ao estímulo às parcerias privadas em serviços de água e esgoto com evidente impacto alcançado: de 290 municípios com operação privada em 2019 para mais de 1.600 municípios ao final de 2024.

Assim, a associação tem o desafio de dar continuidade ao que desempenhou até aqui, alinhando suas ações ao planejamento estratégico aprovado na Assembleia Geral realizada em dezembro do ano passado.

Para 2025, o planejamento estabelece como prioridades o aprimoramento do setor de saneamento com foco em ampliar a participação privada, promovendo maior eficiência e inovação.

Outro objetivo estratégico é a atração de investimentos, considerando que a universalização dos serviços exige aportes significativos – e a contribuição para viabilizar esses recursos será fundamental.

Além disso, a ABCON trabalhará ao longo do ano para reforçar a imagem e a relevância da atuação dos entes privados em saneamento, consolidando sua importância para o desenvolvimento do setor.

AS News: A entidade vem assumindo protagonismo em discussões do setor. Como o senhor vê o papel da associação nos debates sobre modelagem e regulação para o saneamento com participação privada?

Rogério: A ABCON desempenha um papel fundamental ao participar ativamente dos processos de consultas públicas e da formulação de Normas de Referência da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico). Essa contribuição permite incorporar a visão e a experiência de seus associados, garantindo que as normas sejam, sobretudo, eficientes – especialmente no que diz respeito à regulação econômica do setor. Quanto às modelagens para a participação privada, o foco deve continuar sendo acompanhar de perto as discussões promovidas pelo BNDES, dado o impacto significativo de sua atuação, que envolve uma grande escala de municípios e altos volumes de investimento.

Além disso, a ABCON pode contribuir para ampliar o entendimento dos associados em relação às consultas públicas realizadas pelo banco, fortalecendo a representatividade do setor nesse contexto.

AS News: Este ano vamos completar 5 anos do Marco Legal do Saneamento e a lei está consolidada. Como o senhor analisa essa conquista e quais são os próximos desafios?

Rogério: O Marco Legal do Saneamento representou a maior resposta legislativa para enfrentar a enorme dívida social que o Brasil enfrenta no acesso a serviços de água e esgoto, principalmente porque, entre os mais de 90 milhões de pessoas sem acesso ao esgotamento sanitário e os mais de 30 milhões sem acesso à rede de água tratada, cerca de 75% possuem renda mensal de até um salário-mínimo. Isso evidencia que o déficit está concentrado na população mais vulnerável, o que traz mais dificuldade na viabilização econômico-financeira dos investimentos.

Os principais desafios para a consolidação do Novo Marco Legal incluem a implementação de uma regulação eficiente, que garanta segurança-jurídica aos contratos, especialmente nos modelos de Concessão e PPPs. Além disso, é fundamental manter a atratividade econômica do setor e adaptar os sistemas de operação aos eventos climáticos extremos, com atenção especial à segurança hídrica, que se apresenta como um dos grandes desafios para o próximo período.

AS News: A evolução do percentual de participação das concessões privadas e PPPs entre os municípios do Brasil tem crescido exponencialmente. Como a ABCON SINDCON pode influir para que essa expansão prossiga em ritmo acelerado?

Rogério: A principal contribuição da ABCON é fortalecer a imagem do setor privado como um agente essencial para a universalização do atendimento de água e esgoto no Brasil. Este trabalho tem sido alcançado por meio da divulgação de matérias que destacam os resultados obtidos nos diversos municípios atendidos pelos associados, através das publicações que a associação possui.

AS News: Quais experiências nós podemos citar como significativas que aconteceram em 2024 e que merecem figurar como exemplos a serem replicados na relação das operadoras privadas com seus diferentes públicos? 

Rogério: Em 2024, os eventos climáticos desafiaram as operações de serviços básicos de água e esgoto. Em maio, a Corsan, concessionária Aegea no Rio Grande do Sul, enfrentou as severas enchentes que atingiram o Estado, causando graves danos à infraestrutura de abastecimento de água de diversos municípios. Um plano de emergência foi implementado, juntamente ao Gabinete de Crise do Governo do Estado, que incluiu reforço de equipe e equipamentos, vindos de outras unidades da companhia Brasil afora. A Corsan também lançou um Programa de Apoio às famílias atingidas, com isenção de pagamento para beneficiários da Tarifa Social. Para o futuro, a busca por estruturas e sistemas mais resilientes será um grande pilar de sustentação para cenários semelhantes.

Em Manaus, com a estiagem histórica que atingiu a capital em 2024, a Águas de Manaus realizou intervenções inovadoras nos sistemas de captação de água para enfrentar este cenário de escassez hídrica do Rio Negro. Das 16 bombas verticais utilizadas, 13 foram rebaixadas para captar água de pontos mais profundos, garantindo o abastecimento da população independentemente do nível do rio. Três bombas anfíbias também foram adquiridas para reforçar a captação de água, produzindo até 120 milhões de litros por dia, suficientes para abastecer 240 mil caixas d’água. Além disso, a Águas de Manaus doou mais de 8 mil garrafões de água potável (cerca de 160 mil litros) para famílias de zonas rurais e comunidades ribeirinhas, em parceria com a Prefeitura de Manaus e o Ministério da Saúde. Essas medidas fazem parte da continuidade do plano de contingência da estiagem que atingiu a capital manauara em 2023, em que a concessionária monitorou os sistemas de captação 24 horas por dia e implementou um plano operacional que considerou diversos cenários e reforçou a estrutura de bombas de captação de água com balsas flutuantes.

Se adaptar a este tipo de cenário, impulsionado pelos efeitos das mudanças climáticas, não é mais um plano para o futuro. O futuro chegou, e as ações, em resposta, precisam vir ao seu encontro.

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