O que muitos não percebem é que, por trás do simples ato de abrir a torneira e se refrescar, há um sistema complexo que precisa funcionar sem falhas
Por André Ricardo Telles*
O Brasil tem vivido ondas de calor cada vez mais intensas, batendo recordes de temperatura e alterando drasticamente a rotina da população. Em algumas cidades, os termômetros ultrapassam os 40°C e, com isso, o consumo de água dispara. O que muitos não percebem é que, por trás do simples ato de abrir a torneira e se refrescar, há um sistema complexo que precisa funcionar sem falhas para garantir que essa água continue chegando às casas, hospitais, escolas e indústrias.
No entanto, os desafios são grandes. Em diversas regiões, o aumento da demanda, combinado com longos períodos de seca, tem levado a crises de abastecimento. Famílias precisam racionar água, caminhões-pipa são enviados para áreas mais afetadas e as autoridades entram em estado de alerta. Mas até que ponto estamos preparados para enfrentar essa realidade que se tornará cada vez mais comum?
A crise hídrica não afeta apenas o presente. Ela coloca em risco o futuro. As mudanças climáticas continuarão impactando os padrões de chuva, tornando eventos extremos mais frequentes.
Além disso, o desperdício de água no Brasil agrava ainda mais o problema: cerca de 40% da água tratada é perdida devido a vazamentos e sistemas ineficientes. Esse número é alarmante e precisa ser reduzido com urgência.
Diante desse cenário, as empresas de saneamento têm um papel importante na mitigação desses problemas. Investir em infraestrutura robusta, modernizar sistemas de distribuição e reduzir perdas de água são algumas das medidas necessárias para garantir que o abastecimento não seja interrompido nos momentos críticos.
No entanto, essas ações precisam estar acompanhadas de uma abordagem estratégica e inovadora.
Possuímos grandes tecnologias que oferecem soluções promissoras. A dessalinização da água do mar, amplamente utilizada em países como Israel, e o reuso de efluentes tratados para abastecimento industrial e irrigação são exemplos de alternativas viáveis que podem aliviar a pressão sobre os mananciais.
Também é fundamental o fortalecimento da regulação e a ampliação de parcerias estratégicas entre setor público e privado e o investimento em inovação. O enfrentamento da crise hídrica passa pela modernização do saneamento e pelo compromisso de todos os atores envolvidos com um futuro mais seguro e sustentável.
Precisamos sair do discurso e adotar uma postura mais proativa. Empresas, governo e sociedade devem agir juntos para garantir que a água, um recurso vital à vida, seja protegida e utilizada de forma sustentável.
Se queremos um futuro onde a escassez de água não seja uma realidade constante, precisamos encarar essa questão com seriedade e agir agora. A adaptação é inevitável, mas a inovação e o compromisso podem fazer toda a diferença.
*André Ricardo Telles é CEO da Ecosan, empresa de soluções sustentáveis para o tratamento de água e recuperação de efluentes. Pós-Graduado em Inovação na Universidade CUOA na Itália, com MBA pela FGV, Telles já publicou livros no Vale do Silício pela IBM-USA e está à frente de inovações que transformam desafios ambientais em soluções de engenharia eficientes e sustentáveis.
Luiz Antonio - Vervi Assessoria (imprensa02@grupovervi.com.br)